quarta-feira, agosto 31, 2005

Parabéns à outra metade do meu coração

terça-feira, agosto 30, 2005

"Can't buy what I want because it's free..." (Pearl Jam)

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"Can´t buy me love..." (The Beatles)

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sábado, agosto 27, 2005

Três dias de descanso e abandono blogosférico

Até segunda-feira. Os necessários reforços do Benfica chegam, seguramente, segundo o emigrante Veiga, até quarta. Não hão-de, por isso, apesar da ausência temporária do Caderno de Corda, faltar novidades. Destino: Costa Vicentina.

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sexta-feira, agosto 26, 2005

À carga!

Hoje, nada de novo. Vou atacar o teclado sim, mas com outros propósitos, noutra frente de batalha.

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quinta-feira, agosto 25, 2005

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Poemas da adolescência 20

Vossas duas almas vazias,
deslumbradas almas
pelas maravilhas do novo mundo,
tristes, como bonecos de papel
em prédios de cartão...
As vossas amigáveis vozes
e o verbo tonitruante
que em farpas vos disparo,
encerrando-vos o semblante.

(...)

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quarta-feira, agosto 24, 2005

Quadras de Agostinho da Silva 5

Mais que a teu deus sê fiel
ao que tu sejas de fé.
Talvez o deus que te crias
oculte o deus que deus é.

Agostinho da Silva

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terça-feira, agosto 23, 2005

1984 - Recorte Fílmico

Nos últimos dois dias aproveitei para rever um filme cujo livro em que se baseia está entre as obras-primas da minha eleição. O filme é, como o título deste post desvela, "1984", obra homónima em ambos os formatos. Acabei de o rever com o meu pai, que o adquiriu em DVD. Vi-o duas vezes nestes dois dias. O livro, creio tê-lo lido incansavelmente quatro vezes.
Winston Smith (John Hurt) lê, deitado ao lado de Julia, que dorme o seu beauty sleep com a cabeça poisada no peito dele. Estavam no quarto alugado a quatro dólares por semana ao velho e embusteiro Charrington, depois de O' Brien (Richard Burton) ter facultado a Winston o "Livro" proibido do traidor Goldstein, disfarçado em 10.ª edição do dicionário de Newspeak (Novilíngua). Neste recorte do excelente filme, embora insuficiente e redutor quanto à obra literária de George Orwell, Winston lê o "Livro". Não sendo este o texto escrito pela pena de Orwell, e recomendando eu a leitura do livro, sem a qual o filme pode ser erroneamente apelidado de intelectualóide ou psicadélico, passo a lançar o meu Recorte Fílmico textual, que se reporta à leitura interior de Winston, reprodução reflexiva silenciosa das palavras ilícitas e reveladoras do "Livro" de Goldstein:
(...)
In accordance with the principles of doublethink, it does not matter if the war is not real, or, when it is, that victory is not possible. The war is not meant to be won; it is meant to be continuous. The essencial act of modern warfare is the destruction of the produce of human labour. A hierarchical society is only possible on the basis of poverty and ignorance. In principle, the war effort is planned to keep society on the brink of starvation. The war is waged by the ruling group against its own subjects. Its object is not victory over Eurasia or Eastasia, but to keep the very structure of society intact.
(...)
Julia acorda suavemente, olha para Winston, trocam poucas palavras. Sente-se entre ambos uma atmosfera apaziguadora de felicidade e liberdade, coisas para eles desconhecidas. Winston, ainda pensando no que lia, diz a Julia:
(...) To be in a minority of one doesn´t make you mad.

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segunda-feira, agosto 22, 2005

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Estórias 2

Por debaixo da inexpressividade do seu rosto, Benvinda felicitava pela última vez a paisagem, despertados que estavam seus sentidos últimos e finos. Sorvendo a ilha de Manuel pela estreiteza dos lábios e ouvidos, pelas protuberâncias infinitesimais dos poros, a cabeça inclinada para trás demonstrava a atenção com que contemplava as propriedades de uma realidade apenas para si evidente, para Manuel oculta e paradoxalmente familiar. Benvinda abraçou-se violentamente ao marido, escorrendo lágrimas de incondicionalismo afogueado, amor cego na partida. Manuel realizara-se mais uma vez em Benvinda. Ambos se haviam plantado um no outro; raízes profundas e enlaçadas. Novamente, o marido deixou-a absorver a maresia, o troar das ondas do mar, a benção finita do sol da última tarde atlântica. Apesar do adiantar da hora, Benvinda deteve-se apenas por um instante, antes de entrar apressadamente no carro, rumo ao aeroporto, parecendo antes pairar junto ao som libertário das gaivotas, que lhe ficou gravado no imo do coração. Benvinda trazia consigo uma imagem nítida da ilha e, em essência, não tirara uma fotografia sequer, coisa obsoleta para uma mulher cega.

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domingo, agosto 21, 2005

Académica 0 - 0 Benfica

Tanta expectativa para ver uma equipa mais fraca e debilitada do que a da época passada...

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Resposta à questão de Saulo Mendes, ontem, no Mensagem na Botelha: "Quem somos?"

Não somos os mesmos a cada segundo que passa, a cada gota de suor vertido, a cada repetido esgar vaidoso na vidraça de um carro brilhante que já fora outro antes de ter batido. Éramos outros antes do cão ter morrido e deixado a casa vazia de um olhar ternurento; antes de, dia após dia, termos visto tanta gente ter perdido e ganho um sorriso de contente. Eles eram outros - são outros! - sempre que agora deixa de ser presente. Meu amigo de sempre!, nossa amizade é constante! Mas nós somos outros.
"Je est un autre", Arthur Rimbaud

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sábado, agosto 20, 2005

"O Pensador" de Auguste Rodin

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Poemas da adolescência 19

Porquê as palavras que não podem ser desfeitas?
Porquê do vento ter levado o único barco da ilha?
Porquê a recusa de para mim as coisas perfeitas?
Porquê do quilómetro; porquê da milha?
Porquê teres o meu coração no bolso de um casaco de Inverno?
Porquê da minha alma a soldo entre céu e inferno?

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sexta-feira, agosto 19, 2005

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Quadras de Agostinho da Silva 4

O que ardeu era o passado
e lá reviveu morrendo.
Ao logo se deu inteiro
e ao novo se deu ardendo.

Agostinho da Silva

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quinta-feira, agosto 18, 2005

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3000 visitas!

O Caderno de Corda atingiu finalmente as 3000 visitas, apesar da recaída nos últimos dois meses, que acredito relacionada com o tradicional período de férias de Verão e consequente afastamento das maravilhas da tecnologia de informação e comunicação. Aos poucos, o Caderno de Corda lá chegou. Ah!, e obviamente recordo: ninguém escreve só para si, ou melhor: ninguém escreve para não ser lido. E mais uma coisa: os seis pontos, em três pares, foram propositados e estão contemplados no meu livro de estilo. Felizmente!

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Se sou assim tão louco por querer estar contigo, mais louco sou se to digo (Jeremias Cabrita da Silva)

quarta-feira, agosto 17, 2005

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Anamnésias 8

Como se um vaso grego - espécie de cânfora - se entrevisse, se recortasse por entre as duas silhuetas que pareciam prestes a beijar-se, um outro cenário se afigurava real. Duas cabeças posavam estáticas num frente a frente desafiante, esperando o flash da máquina fotográfica. Dos seus olhos, quase se podiam ver farpas de ódio disparado e de rancor por consumar em golpes violentos dentro do ringue. A sala, repleta de suores embrulhados em perfume, chapéus desabados e lantejoulas, estava em polvorosa para a sessão fotográfica de propaganda do grande embate - “o combate do século”, ler-se-ia nos cartazes sobre a fotografia dos dois pugilistas. As cabeças, similares na majestosa forma craniana, sem pêlo que as cobrisse, assentavam directamente sobre os ombros, fazendo esquecer os pescoços, ocultados pela massa muscular dos troncos. Os homens eram negros. De perfil, os narizes achatados revelavam-se por defeito profissional. As frontes protuberantes ganhavam um efeito dramático adicional pelo franzir das sobrancelhas. Parecia não haver medo nos olhares, apenas raiva gratuita. Talvez o medo se condensasse na pressão exercida pelos maxilares inferiores. As bocas, cerradas. Um beijo de Judas.

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terça-feira, agosto 16, 2005

Foto de Declan McCullagh

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Quadras de Agostinho da Silva 3

Muito acima da razão,
o mundo coeso e vário.
Só amor descobre o uno
no par que em si é contrário.

Agostinho da Silva

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Imagem ultravioleta do supermassivo buraco negro na galáxia M81, captada pelo telescópio a bordo do satélite XMM-Newton

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Poemas da adolescência 18

Caí para dentro das horas,
para onde todos os agoras são agora.
E elas não escoam nem vão embora,
mesmo que deite o relógio fora.
Caí para onde caíram todos os planos,
para depois da descoberta reinventada;
um gato no poço dos desenganos,
escasseia água - serve-se racionada.
Não há que poupar esta vida.
O tempo dá-nos imortalidade;
o espaço, guarida.
Para onde quer que possamos ir,
encontrar-nos-emos por fim,
nem a chorar nem a rir:
sendo.

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domingo, agosto 14, 2005

Este ano há que continuar a festa, dar alegrias aos milhões de adeptos e contribuir para a retoma...

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A primeira taça já está no papo! - O "post deletado" de ontem e o rescaldo frustrado de hoje

Ontem, em antevisão do jogo de hoje entre o Benfica e o Vitória de Setúbal, a contar para a conquista da Supertaça Cândido de Oliveira, redigi um texto para mim bastante satisfatório. Para mais, a RTP Memória transmitia um jogo a que assisti no estádio, que me ficou na memória desde 1993. Na Luz, a contar para a Liga dos Campeões, o Barão Vermelho defrontou a Velha Senhora Juventus, que o Glorioso bateu por 2-1 com dois golos do místico e hoje estranhamente desaparecido Vítor Paneira, esse sim, um jogador à Benfica. Acontece que, como me distraí com a reminiscência desse embate em 93 em que o Benfica deu um banho de bola aos italianos, tendo sido, nesse ano, a única equipa europeia a bater os craques de Turim, excedi o tempo de publicação estipulado pelo Blogger sem me aperceber e, quando cliquei em "Publish Post", a página relatou um erro e a impossibilidade de recuperar aquela prosa, que, além de extensa, tinha muita substância e sentimento, pelo menos, a meu ver. Foi essa a grande frustração de que falo de entrada, no título deste post. Hoje, portanto, e para muita pena minha, não vou sequer procurar igualar a verbosidade prolixa de ontem. Limito-me a constatar a vitória do Benfica por 1-0, no Estádio Algarve, conquistando o primeiro troféu da temporada, "bom tónico em vésperas do arranque da SuperLiga", como diz A BOLA online. Valeu o golo de Nuno Gomes aos 51 minutos para que o Benfica conquistasse uma taça que já lhe fugia desde 1990 e que já foi conquistada 14 vezes pelos nossos arqui-rivais do Norte. Nada mais por hoje. Por muito que escreva não chegarei à iluminação desfeita de ontem.

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sábado, agosto 13, 2005

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Anamnésias 7

Premi o botão. Debaixo da gordura e de uma camada escura de sujidade se entrevia o relevo de uma seta ascendente que indicava a subida. Chamara o elevador haviam 11 segundos. No hall da cave que me apeava, o ar rarefeito, rico em monóxido de carbono, carregava a atmosfera. Nisto, abrem-se as portas. A limpeza antiséptica, desinfecta, do interior do elevador, contrastava com a cinzentez poluta das paredes onde, embutidas, as portas automáticas performam a sua mecânica labuta. No interior do elevador, um jogo de espelhos deliciosamente paradoxal reflectia a minha imagem sonolenta, prolongada longinquamente, fazendo quebrar o espaço e o tempo, fazendo-me pensar que, para lá daquele momento, para lá daquele lugar, muitos outros se propagam e se sustentam. Foram 5 segundos pré-programados de limbo levitante até que as portas se fecharam novamente, comigo do lado de fora. Sem ar puro nem luz, perdera a lucidez irreflexiva do automático. Perdera a oportunidade luminosa e fresca da superfície.

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sexta-feira, agosto 12, 2005

Foto de Nélson Silva

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Poemas da adolescência 17

No ancestral Torel,
enquanto pedalas,
me cortam carícias de fel,
dissolvo no corpo balas,
ventos que me beijam e atraiçoam,
'és tu', pensei, à distância que nos aparta.
Estás sempre presente,
estás em todo o lado...
Queria desinventar a rima e o que se sente
e ser eu o iluminado.
Queria tirar-te do pensamento,
ou ter-te aqui, do meu lado.
Que astro és tu? Fotossíntese!,
que todas as manhãs nasço para ti virado!
Que noite e dia!, antítese!
Que planta, eu, sozinha neste prado...

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quinta-feira, agosto 11, 2005

O Mestre Agostinho

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Quadras de Agostinho da Silva 2

Se lançaste a tua rota
à constelação do ser,
cuidado com o teu corpo,
porta aberta para o ter.

Agostinho da Silva

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quarta-feira, agosto 10, 2005

Ataque de um Kamikaze, piloto suicida japonês, a um porta-aviões norte-americano. Num último e desesperado esforço para vencer a guerra, os Kamikazes colidiam com tudo o que tinham nos navios aliados. Kami-kaze são duas palavas que significam "tempestade divina" ou "ventos divinos". A história por detrás desse facto, que relata e se reporta a um muito antigo tempo de conflito entre a China e o Japão, que quase custava a independência aos nipónicos, é muito curiosa...

n.b. - Talvez não devesse ter editado a imagem ao colocar o fundo negro com a palavra Kamikaze escrita por trás da foto. Para mais, com a legenda mais extensa até hoje... Por esta passa. Pode ser que venha a publicar mais fotos de ataques Kamikaze... Esperamos é que não sejam escritos em árabe... Capisce?

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Poemas da adolescência 16

(...) Ventos divinos e suicidas!,
levanto voo em mil pedaços
de me ter alvo dos meus poetas irados.
Minha querida dos ventos divinos,
que me fizeste para me destruir,
que não inventaste modo de ejectar,
que me deixaste planar para me deixar ir
e me deixar nunca mais deixar...
Suspiro pelos teus lábios cerrados,
fruto silvestre...
Como te eternamente perdoo
de braços abertos e vestidos de linho.
Mentira!, seres a má aluna deste delegado mestre!
Não faças do meu tempo o do assassino...
E se eu visse nada do que vês,
as palavras que ficavam por escrever...
Que se traduza tudo em japonês
para mais se entender.

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terça-feira, agosto 09, 2005

"De nada serve ao homem conquistar a Lua se acaba por perder a Terra" (François Mauriac)

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O pôr da lua... e tudo começou com uma quadra do profeta Agostinho da Silva

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"Cada um de nós é uma lua e tem um lado escuro que nunca mostra a ninguém" (Mark Twain)

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The Whole of the Moon - Waterboys (Mike Scott)

I pictured a rainbow
You held it in your hands
I had flashes
But you saw the plans
I wondered out in the world for years
While you just stayed in your room
I saw the crescent
You saw the whole of the moon!
The whole of the moon!
You were there at the turnstiles
With the wind at your heels
You stretched for the stars
And you know how it feels
To reach too high
Too far
Too soon
You saw the whole of the moon!
I was grounded
While you filled the skies
I was dumbfounded by truth
You cut through lies
I saw the rain-dirty valley
You saw brigadoon
I saw the crescent
You saw the whole of the moon!
I spoke about wings
You just flew
I wondered, I guessed, and I tried
You just knew
I sighed
But you swooned
I saw the crescent
You saw the whole of the moon!
The whole of the moon!
With a torch in your pocket
And the wind at your heels
You climbed on the ladder
And you know how it feels
To reach too high
Too far
Too soon
You saw the whole of the moon!
The whole of the moon!
Unicorns and cannonballs,
Palaces and piers,
Trumpets, towers, and tenements,
Wide oceans full of tears,
Flags, rags, ferry boats,
Scimitars and scarves,
Every precious dream and vision
Underneath the stars
You climbed on the ladder
With the wind in your sails
You came like a comet
Blazing your trail
Too high
Too far
Too soon
You saw the whole of the moon!

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Quadras de Agostinho da Silva 1

A face oculta da lua
só banha de seu luar
aqueles que não o vendo
o sabem imaginar.

Agostinho da Silva

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segunda-feira, agosto 08, 2005

Anamnésias 6

... e aos meus olhos, imagens fugazes das correrias, abraços e encontrões explodindo em gargalhadas nos transportes públicos. Eu e a forçosa cidade, exalando odores cinzentos que embaciam as fachadas e enegrecem a abóbada azul dos céus. Perfumes que me viciam, onde confluem interesses mundanos, e o sangue que me inunda o coração. Lisboa, cidade melodiosa de encantos ancestrais, vai perdendo a sua virgindade, levada sem carrego pela máquina invisível dos compromissos inadiáveis, dos relógios que ditam a lei do trabalho. Do desassossego, vidrado como fotografia na minha retina, amparo os cotovelos resignados na ombreira da janela, que é a minha.
n.b. - Numa frequência de Literatura Portuguesa, creio que no ano de 1999, a professora Maria Cavaco Silva lançava, no grupo II do exame, a seguinte questão: 1) Escreva um pequeno texto sobre Lisboa, à maneira de Cesário Verde.
Confesso ainda hoje ter de lê-lo com mais dedicação.

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domingo, agosto 07, 2005

Foto de Eduarda Neto

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sábado, agosto 06, 2005

Estórias 1 - A insustentável consistência do puré

Rita deixara tudo o que lhe recordava o passado. A casa, as mobílias, até os naperons que, suponho, poderiam ter sido tricotados pela avó. Os tachos, as panelas, as colheres, os electrodomésticos, o corta-unhas, as caixinhas forradas a flores primaveris. Levara apenas a roupa e objectos pessoais absolutamente imprescindíveis. Viveu nesta casa durante talvez uma semana depois de regressar do hospital. Foi para longe do Largo de Santo Antoninho, longe da memória de discussões, da submissão aos maus tratos, do peso do tempo respirado entre ar enfermo de ódios e rancores amontoados como corpos fétidos na vala comum. Alugou-me a casa até não precisar mais do dinheiro. Encontrei o seu diário, que não imagino porque terá ficado. Estava debaixo do colchão. Na última página, escrevia:
(...) Num rasgo de fúria, agarrei na maldita tesoura e brandi-a no ar, pronta a desferir um golpe no inimigo, que se aproximava de colher de pau na mão. Ele, tresandando a whisky, um tanto entorpecido, não esperava o contra-ataque colérico e desesperado. Tropeçou no fio do telefone e, em desequilíbrio, tentando apoiar-se no sofá, caiu sobre mim. Tantas vezes quis ele estar em cima de mim, tantas vezes sem eu querer, tantas vezes me magoando. Seria a última vez. Dentro de mim, a tesoura, cravada no abdómen. Ele levantou-se, viu nos meus olhos o fim de tudo, o fim de nós. Não podíamos continuar a esconder a loucura, silenciar os gritos. Ainda tinha a colher na mão. Perplexo, rosto disforme, deixou-a cair no chão. Limpou-me o puré que tinha no pescoço e no peito. Lavou-me em lágrimas até que agisse; até que eu lho dissesse. Conseguiu ligar para o 112 e reportar o incidente, transmitir a morada. Inexpressivo, abraçou-se ao meu corpo inerte, exangue, até que ouviu a ambulância chegar. Deixou-me só e um rasto de sangue e puré; a porta aberta. Acordei no dia seguinte, no hospital. Ele não me visitou durante dois dias. A família poupou-me da notícia. Ao terceiro dia, a minha mãe, prenunciando-o no semblante carregado, transmitiu-me mudamente o suicídio. A visita terminou quando mo verbalizou. Vacilei. As costuras precisavam de cuidados. Parece mentira, mas o que desencadeou a morte dele foi a consistência do puré de batata, que não estava sólido como gostava. O puré do jantar que estava junto ao microondas, pronto para ele, que nem me cumprimentou ao chegar. Suicidou-se na linha de Cascais. Não devia ser capaz de suportar a realidade.

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sexta-feira, agosto 05, 2005

Manchas no sol

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Poemas da adolescência 15

Amor e corredores de areia fina.
Tracejados ambivalentes separam um percurso familiar.
Algumas pétalas pérola.
Franzem-se jovens rugas de caras felizes.
Numa dança clássica e fresca,
passeiam-se matinalmente as crianças
com os pés mais belos
junto à espuma salgada.
A cabana, convidativa,
espanta toda a luz que parece arder
e aparenta-se cuidada.
E tudo, saudável, chega a ser maligno,
funesto e mortal
como o sol do meio-dia.
Tudo é nada.

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quinta-feira, agosto 04, 2005

Conspirar é preciso

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quarta-feira, agosto 03, 2005

Teoria da Suspiração

Apenas para assinalar a descoberta de um blog recente em franca e boníssima expansão. Congratulações ao suspirador. Ao estimado leitor, a recomendação da Teoria da Suspiração.

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O que estará por detrás desta vontade de escrever?

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terça-feira, agosto 02, 2005

Foto de Luís Carvalhal

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Anamnésias 5 - Continuação

Jim, Sofia e a insustentável leveza do ser, Parte 2

A tensão que os aproximava na exiguidade sufocante do elevador, tão sedutora e impossível, tornava os corpos complementares de saciedade; opostos que se atraem inevitavelmente, sem agravo da razão. Jim agarrou na coxa de Sofia e levantou-a à altura da cintura, para que ela pudesse sentir a sua excitação. Quando a mão de Jim, percorrendo as pernas de Sofia, lhe puxou as cuecas, o elevador entra em movimento. Sofia caiu em desequilíbrio. Inesperadamente, haviam estacado no piso de cima. Sofia, no chão do elevador, de cuecas pelos joelhos, vê a expressão incrédula e envergonhada de Jim. Este, com os olhos postos no rosto perplexo do vizinho do andar de cima, que via apenas Jim pela janela da porta do elevador, nu da cintura para baixo e ainda em estado de majestuosidade indecorosa não constrangida, tem tempo apenas para soltar um desesperado “Não abra!”.

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Foto de Marco Sádio

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segunda-feira, agosto 01, 2005

Fim de semana quase alucinante

Entre Leiria, Santarém, Coruche, Lisboa, Sesimbra e Meco, o fim de semana deu para tudo menos para descansar. Fosse eu um trabalhólico e teria alcançado a felicidade.

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O mito forma-se; a História deforma-se

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