quinta-feira, julho 20, 2006

'Té já

Como nunca até hoje visto, o Caderno de Corda verá pausada a publicação pelo período mínimo de 15 dias, por ventura – e não "porventura" – de merecidas férias do autor, que partirá amanhã, dia 21, à aventura, para Norte, eventualmente até ao País Basco, com escala na Galiza e nas Astúrias, e por via terrestre. Um amor, uma tenda, um carro e um fogão a gás, numa versão evoluída de "um amor e uma cabana"; numa aproximação tão palpável da felicidade que se afigura mentira. Não obstante, deixei aos estimados leitores dois fresquíssimos poemas ("Epígrafe" e "Estrelas Carentes"), escritos esta semana, para que assim se sacie vossa sede poética. 'Té já.

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Constelação de Gemini (gémeos) e área circundante, fotografada por Stuart Robbins a 4 de Março de 2006. 32 % de lua cheia. Tempo de exposição: 1600 segundos

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Estrelas Carentes

Rasante ao abismo marejado de sonhos abertos estou
pela noite que as estrelas tem, a teu lado nu.
Mais alta noite que as estrelas creio
por provento de dias memoráveis
que guardo saudosos de não sei quê,
vindos não sei donde, dolentes não sei porquê,
que nem campos em flor,
no céu refulgindo as estrelas,
que nem assim me parecem tão belas
quanto ali, rasante ao abismo, nua, o meu amor,
que me tem cativo
num gesto íntimo
em que me reavivo
e subo à tona do sono indolente.
Sob a pista cósmica de um deus maior,
um mundo composto de mudança;
mudados os tempos e as vontades;
o ser e a confiança,
mas são minhas as tuas qualidades,
tenhas tu pé bem firme em leve dança,
que restam do mal mágoas na lembrança
e do bem as saudades.
Dizia pois Camões, supremo poeta a quem roubo palavras,
segundo o céu lhe tinha mostrado
no seu buscar de ventura,
que os bons sempre vira passar no mundo tormentos,
e para mais se espantar,
os maus sempre vira nadar
em mares de contentamentos.
Alimentou de astros o magnífico Camões
pensamentos admiráveis e ilusões,
elevado ao deslumbrante firmamento,
encontrada estrela-guia
que despoletasse fantasia
e quimeras pairantes vindas com o vento,
que a pele naquele anoitecido abismo estiolado acaricia.
São estrelas carentes as que pedem desejos,
e brilham, longínquas, sem iluminar;
tão belas sem se poderem alcançar,
ténues esperanças, volúveis ensejos.

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Simplesmente António, foto de telemóvel, Monumento aos Combatentes do Ultramar, Belém, Lisboa

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terça-feira, julho 18, 2006

Epígrafe

O passado outonal transfigurado,
memorado como um livro que sei de cor
e de que levas o título apenas;
O meu passado, livro pouco estudado,
que há livros escritos para a estante compor
- e inúmeros volumes inúteis que não merecem a pena...

Os úteis, bons livros, são mais reais do que a realidade,
abrem-se com avidez, fecham-se com proveito
e são mestres que discursam sem retorquir.
De sucesso imediato, tantos são afinidade
de medíocres ideias de escritor e leitor estreito,
mas feliz do ignorante que abre um livro para rir.

Livro que não mereça segunda leitura
não é digno de primeira sequer;
Livros de ciência devem ler-se com frescura,
mas eminente literatura madura se quer.

Mais livros do que nunca circulam.
Vede o que lemos, na ânsia de não saber.

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segunda-feira, julho 17, 2006

Parabéns atrasados, Miniscente

Pelo segundo ano consecutivo não consigo congratular o Miniscente pelo dia do seu aniversário (15 de Julho). Mas um sábado de campismo rasante ao abismo marejado de sonhos abertos enleados pelo pipilo relaxante da passarada no pinhal e uma tarde de praia afastaram-me definitiva e deliberadamente das obrigações auto-inflectidas da blogosfera. Serve portanto este post para remeter um abraço fraterno ao professor Luís Carmelo pelo seu admirável Miniscente, que, tendo perfeito três anos, semeia já a terra arável e profícua das ideias e das palavras do seu ano IV. Quem semeia, colhe. Um abraço, professor.

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Quis custodiet ipsos custodes?

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sexta-feira, julho 14, 2006

Quis (Jeremias Cabrita da Silva)

Quis eu deixar abertos todos os caminhos e, em todos eles, todas as pistas das minhas entranhas volúveis e místicas. Quis eu encontrar-me a cada dia latente, a cada domingo que termina e mata um sonho irrecuperável. Quis eu ver digladiarem-se deuses extrínsecos no papel. Quis também eu oferecer toda a criação ao futuro – não mais que a nascença do desejo e não da necessidade. Quis eu ser livre onde não precisasse de aprovação, e escrevi nas paredes, nos páteos, no chão, não saber o que escrever. Parei de querer e fui livre então.
Jeremias Cabrita da Silva

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segunda-feira, julho 10, 2006

It's just a football game, but I like it

Chiça!, era assim, Pauleta!
(foto AP, Nicolas Asfouri)

O Mundial de futebol tomou o Caderno de Corda durante o último mês, reclamando a prestação honrosa dos nossos conterrâneos quase todas as atenções. Ao não deixar de comentar - ainda que pela rama - os sucessivos e crescentes sucessos da Selecção, vi-me enredado numa toada futebolística dominante que, depois, não consegui travar. Como li hoje algures (por acaso, numa t-shirt do Rui Unas), "It´s just a football game, but I like it".
Como é sabido, perdemos o jogo da atribuição do terceiro lugar com a Alemanha (3-1). Lamento que o Nuno Golos não tenha jogado mais, tal como lamento que o Pauleta apenas marque, predominantemente, a selecções de terceira categoria. O Nuno, mais uma vez, entrou e marcou, e, na minha opinião, dadas as suas características de ponta-de-lança de apoio que joga muito bem de costas para a baliza, que segura o jogo na linha defensiva do adversário esperando os alas e que tabela como poucos, seria o homem certo para o lugar de Pauleta - ou poderia jogar no apoio a Pauleta, se este, por carolice de Scolari, tivesse mesmo de jogar... Faltam, como sempre, avançados a Portugal.
Resumindo e concluindo, Portugal superou as expectativas, sendo certo que mostrou poder almejar, para a próxima (sempre para a próxima), novas finais e, quem sabe, títulos a valer; Ricardo redimiu-se da fama de frangueiro e conquistou definitivamente um lugar ao sol no coração dos portugueses; Scolari, com o seu "4x5x1 cagarolas" - subscrevendo a ideia de que o ataque ganha jogos, mas a defesa campeonatos -, conseguiu elevar a nossa Selecção, por pragmatismo pouco espectacular mas eficaz, aos mais altos patamares do universo futebolístico, conquistando também o apreço do povo; Figo e Pauleta despediram-se da Selecção humildemente sem alarido; Maniche fez-se um médio fenomenal, tendo sido um dos homens de mais garra e vontade de vencer; Simãozinho mostrou ser mais útil à equipa do que o bem-me-quer-mal-me-quer Cristiano Ronaldo (que, depois do incidente da expulsão de Rooney, passou a ser odiado em Inglaterra e agora quer sair de Manchester); Ricardo Carvalho é inigualável no centro da defesa, sem dúvida dos melhores do mundo; Miguel, afinal, está mesmo a anos-luz de Paulo Ferreira (foi preciso sair do Benfica para que se percebesse?!); Nuno Valente, apesar de muito esforçado e tacticamente culto, foi o elo mais fraco entre titulares, pelo que Scolari, a permanecer o líder por mais dois anos, terá de encontrar um defesa esquerdo à altura das circunstâncias e da restante equipa; o sofrimento (estranhamente, nas vitórias) foi a nota dominante, dada a disposição táctica e a escassez de golos, bem como de quem, na área, os marcasse; assistiu-se à confirmação de um tipo de futebol de alto nível extremamente cerebral, calculista e chato que busca meramente a vitória, em detrimento do golo e do espectáculo. Uma final de um Mundial não deveria ser decidida pela marcação de grandes penalidades... Quanto a Deco, é... brasileiro.
Hoje (ontem, à hora a que escrevo), a Itália sagrou-se tetracampeã mundial, nos penalties, sobre a França, depois da expulsão resultante da cabeçada do bem comportado Zidane (aos 109 minutos) no peito de Materazzi, cujo primeiro realizou o derradeiro jogo da sua carreira, e, destroçado, não subiu sequer ao relvado, no final, para recolher a medalha de vice-campeão.
Uma coisa é certa: Podíamos mesmo ter sido campeões do mundo, e que ninguém se escandalizasse... De certo modo até fomos. "The show must go on"...

(fotos AFP)

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quarta-feira, julho 05, 2006

Incrível: chegou uma equipa africana à final do Mundial de futebol...

Portugal 0 - 1 França (penalty de Zidane)

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terça-feira, julho 04, 2006

"O egoísmo e o ódio têm uma só pátria. A fraternidade não a tem"

Alphonse de Lamartine in "A Marselhesa da Paz"
n.b. - A um dia do Portugal-França, meia-final do Campeonato do Mundo de futebol 2006 (belisquem-me!, é mesmo verdade?), não desenvolvo mais do que isto. Prefiro guardar silêncio - e, em boa verdade, visto o Caderno de Corda não se ocupar, em regra, dos fait divers quotidianos e noticiosos (não restando, portanto, hipótese de comentário sequer para o anúncio planeado do abandono de Diogo Freitas do Amaral do MNE na véspera do Portugal-Inglaterra, notícia assim intencionalmente nada-morta). Eu, sinceramente, acredito, e não me lembro de alguma vez nós, portugueses, ansiarmos tão temerariamente um jogo com um adversário como o de amanhã. Tenho descurado os comentários aos jogos das eliminatórias propositadamente. Que posso eu acrescentar ao que todos, por certo, também viram sofregamente e sentiram com intensidade luminosa e radiante? A aventura pode findar antes do desejado, mas sentir-nos-emos campeões independentemente do resultado. Enquanto escrevo e não escrevo algo de novo, relanço a atenção do estimado leitor para o último poema publicado - "Foi Chico Quem Disse?" -, que agora serve também de homenagem aos irmãos brasileiros, cuja torcida, do nosso lado, torna a vibração positiva em redor do seleccionado luso imbatível. A Marselhesa, sim!, mas da Paz e da Fraternidade. Se tal contar para alguma coisa, a vitória portuguesa está assegurada amanhã.

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sábado, julho 01, 2006

Retiro tudo o que de menos positivo disse neste blogue acerca do Ricardo, esse benfiquista de coração

Portugal 0 - 0 Inglaterra, quartos-de-final do Mundial (vitória lusa por 3-1 nas grandes penalidades, tendo Ricardo sido o herói do jogo ao defender três penalties, dando origem a um recorde de defesas inédito em Mundiais). Foto de Ricardo no jogo Portugal - Holanda

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