segunda-feira, janeiro 11, 2016

Para onde Foi a Segunda-Feira?

Não é de olhos felinos que se faz o teu poema,
nem de banalidades misóginas,
obviamente camaleónicas.
Ascende, por fim, uma estrela negra de morte
quando, no centro de tudo, refulge o brilho
de uma vela solitária, incidente
sobre as pálpebras da incógnita.
Quantas vezes caíram anjos desajeitados,
entorpecidos a sedativos…
Algo sucedeu no dia em que morreste
- um espírito elevou-se um metro e pôs-se de parte;
alguém lhe tomou o lugar e chorou com bravura.
“Mas eu amo-te”, disse a faca à ferida.
Querias ainda águias reais em sonhos diurnos,
diamantes nos teus olhos,
e na vila de Ormen acende-se uma vela solitária.
Avisaste as cicatrizes e o drama,
disseste ao mundo estar em perigo,
sabias nada ter a perder,
e todos te conhecem agora
nu e livre – pássaro azul despojado.
Telúrico, lúgubre e desditoso,
adereças por fim as amantes em Nadsat e calão,
e olhas para a maravilhosa boca vermelha
dessa pega que não te viu sequer por trás do dinheiro.
Parecias desiludido agora.
Para onde foi a segunda-feira?

Poema escrito na manhã de dia 11 de Janeiro de 2016, à notícia da morte de David Bowie, no decorrer da primeira audição completa do seu último disco, "Blackstar", editado dias antes.

Dedicado a David Bowie
(8 de Janeiro de 1947 - 10 de Janeiro de 2016)

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