segunda-feira, maio 30, 2005

Afogo

Seguro está quem nunca ouviu;
Seguro está quem nunca soube;
Seguro está quem nunca viu
Palavra que na língua soube
A fel e amargura no teu peito;
A palavra sobre a qual deito
A cabeça cansada da ternura
Falsa que não enjeito.
Segura na mão a pedra
Impenetrável que não sonho.
Desejo o momento de repouso
No teu ventre vazio que não ouso
Pensar na voz que ouço,
Dormir e morrer neste sono,
Pois que a noite era uma menina
E vivia só a uma esquina;
Metia drogas e vaselina
E desaparecia com a manhã
Tal qual sol e noite
E lua e dia,
E depois, como sempre,
Simplesmente desaparecia
Desencontrada e esguia,
Oferecida e fugidia,
Conselheira e matricida,
Pois seguro é quem não duvida
De algo que não se suspeita;
Quem não tenha sonhado
Ultimamente a vida
E lhe suceda criatura seca e fria,
como a pedra que não sonho
na tua mão;
Como quem a vida morra dia-a-dia
Num sono mais profundo que a aparência,
E a mim, parece tudo quinta-essência
De um momento breve e aturdido
Após quinta destilação...
E de tão terrível disposição
Não distingo agora a Terra de um estéril promontório...
Maldita a insustentável reinação
Daquilo que é o falso sentimento de mim mesmo e o contrário.
Faz assim a consciência cobardes de todos nós,
E todos nós unidos por sermos cobardes solitários,
Avaliando o bem e o mal,
Atentamente observando a ponderação nervosa e imprecisa
Do fiel da balança antiga,
Daquelas que ainda se vêem numa ou noutra mercearia.
E depositamos toda a nossa certeza e ciência numa lingueta
Indecisa ou pervertidamente manipulada.
Que tempos estes, de profetas armados...
Em parvos!
Que tempos! de avassaladora confusão.
Pois que acabemos guiados por astros
Se não se der maior revolução;
Revolução de cabeça e coração,
Pois todos sabemos distinguir o homem bom do homem mau,
Independentemente do uso prático da razão;
De ritos de passagem sustendados na crendice vegetativa da multidão,
Em tempos da palavra esquecida,
Por mais que reproduzida, por mais que repetida.
Por quem juram aqueles homens?
Em nome de Quem matam eles?

Etiquetas:

1 Comments:

Blogger Carrie said...

Comentário ao início do poema, ainda que correndo o risco de ser redutora: a ignorância é feliz...

sexta-feira, março 10, 2006 6:48:00 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home