segunda-feira, maio 01, 2023

Professor Luís Carmelo (1954-2023)

Soube agora, combalido pela violência da notícia inesperada, do falecimento do profícuo e genial Luís Carmelo (1954-2023), meu eterno professor de Escrita Criativa e mentor da Semiótica que me foi possível. Foi por influência e sugestão dele que criei o Caderno de Corda, em 2005, na plataforma Blogspot, onde pouco antes, no dealbar da blogosfera, havíamos mantido um blogue criado no âmbito da sua cadeira para conduzirmos a análise e a avaliação dos textos discutidos e criados em contexto de sala de aula. Foi com ele que pela primeira vez, há mais de 20 anos, escrevi para o ciberespaço… 
O professor, escritor e intelectual Luís Carmelo foi um dos homens que, cedo, me fez crer sem reservas que também eu podia ensaiar obra literária. Atribuiu-me a melhor nota na cadeira de Escrita Criativa, ajudou-me a navegar pelas águas tortuosas da semiologia, convidou-me para introduzir a sua cadeira na primeira aula que leccionou no ano seguinte àquele de que desfrutámos juntos. Deu-me a mão e acreditou em mim. Não podemos esquecer quem em nós creu e nos deu a mão.
Há demasiado tempo que não falávamos. Na verdade, guardava o telefonema para oportunamente lhe pedir conselhos quando terminasse o livro que, também há demasiado tempo, ando a escrever… Não o quis importunar. Talvez tenhamos estado juntos pela última vez na presença de Joaquim Letria e Urbano Tavares Rodrigues, na recepção da Universidade Autónoma de Lisboa, no pólo da Boavista. Foi um raro privilégio ter podido aprender com tão excepcional académico, mas também pensador e intelectual deambulante, visionário, romancista, poeta e leitor ebuliente.
A escrita do Professor Luís Carmelo é muitas vezes intrincada, de leitura morosa, aplicada; muitas vezes melodiosa e rica, poética, deslizante numa “lagoa invisível”. Os seus textos são quase sempre dotados de complexidades multidimensionais que nos põem em bicos dos pés, espreitando para lá da cerca de texto, subtexto; significado, significante. Como li algures há pouco, numa nota póstuma de alguém que, como eu, se manifestou em memória de Luís Carmelo, nos próximos cem anos estaremos a decifrar os sentidos dos seus sentidos, e sabe quem com ele aprendeu que se deve escrever com os cinco sentidos. Mas Luís Carmelo tinha mais e escrevia mais ainda. Mais do que sempre me pareceu ser humanamente possível. Li também por aí que, nos últimos dois meses, publicou três livros.
Que o devir do seu longo futuro ecluda já e atenue o sentido da sua perda. Obrigado, Professor.

Bibliografia:

• Entre o Eco do Espelho (1986, Peregrinação, Baden-Lisboa; tradução inglesa parcial, Revista New Wave, 20, Universidade do Colorado, Boulder, USA);
• Cortejo do Litoral Esquecido (1988, Vega, Lisboa);
• No princípio era Veneza (1990, Vega; 2ª edição, 1997, Vega, Lisboa);
• Sempre Noiva (1996, Vega, Lisboa);
• A Falha (1998, Editorial Notícias, Lisboa; 2ª edição, 2001, Planeta Agostini, Lisboa; 3ª edição, Editorial Notícias, Lisboa; tradução espanhola, La Grieta, 2002, Hiru Argitaletxea, Hondarribia, Espanha; romance adaptado ao cinema por João Mário Grilo em 2002);
• As Saudades do Mundo (1999, Editorial Notícias, Lisboa);
• O Trevo de Abel (2001, Editorial Notícias, Lisboa);
• Máscaras de Amesterdão (2002, Editorial Notícias, Lisboa);
• O Inventor de Lágrimas (2004, Editorial Notícias, Lisboa);
• E Deus Pegou-me pela Cintura (2007, Editora Guerra e Paz, Lisboa);
• A Dobra do Crioulinho (2013, Quidnovi, Lisboa/ 2022, Jaguatirica, Rio de Janeiro);
• Gnaisse (2015, Abysmo, Lisboa; 2017, Editora Jaguatirica, Rio de Janeiro; Ediciones Uniandes, Bogotá, 2022);
• Por Mão Própria (2016, Abysmo, Lisboa; Ediciones Uniandes, Bogotá, 2022);
• Sísifo (2017, Abysmo, Lisboa; Ediciones Uniandes, Bogotá, 2022);
• Cálice (2020, Abysmo, Lisboa. Romance finalista do prémio PEN/2021);
• Visão Aproximada (2022, Abysmo, Lisboa);
• Trílogia de Sísifo (2023, Ediciones Uniandes, Bogotá).

Ensaios:

• A Tetralogia Lusitana de Almeida Faria (1989, Universidade de Utreque, Holanda; Prémio da Ensaio da Associação Portuguesa de Escritores, 1988);
• La Représentation du Réel dans des Textes Prophétiques (1995 - Tese de Doutoramento -, Universidade de Utreque, Holanda);
• Sob o Rosto da Europa (1996, Pendor, Évora-Lisboa; 2ª edição e tradução inglesa, Ontology Of The South, Sul, Edição dos Encontros de fotografia de Coimbra, 1996);
• Anjos e Meteoros. Ensaio Sobre a Instantaneidade (1999, Editorial Notícias, Lisboa);
• Os jardins da Voyance - tradução inglesa, The Gardens of vision and the bright Ofélias of the Douro (álbum-encomenda Os Jardins de Cristal, edição da Porto-2001 e Roterdão-2001, com o fotógrafo José M. Rodrigues);
• Islão e Mundo Cristão (2001, Editora Hugin, Lisboa);
• Água de Prata (sobre a obra do Prémio Pessoa, José M. Rodrigues; 2002, Casa do Sul, Évora);
• Músicas da Consciência (com prefácio de António Damásio; 2002, Publicações Europa-América, Mem Martins);
• Órbitas da Modernidade (2003, Editorial Mareantes, Lisboa);
• Semiótica - Uma Introdução (2003, Publicações Europa-América, Mem Martins);
• Viragem Profética Contemporânea (2005, Publicações Europa-América, Mem Martins);
• A Comunicação na Rede: o Caso dos Blogues (2008, Magna Editora, Lisboa);
• A luz da intensidade. Figuração e estesia na literatura contemporânea. O caso de José Luís Peixoto (2012, Quetzal, Lisboa);
• Genealogias da Cultura (2013, Arranha Céus, Lisboa);
• Uma Infinita Voz Sobre Exercícios de Humano de Paulo José Miranda (2016, Abysmo, Lisboa);
• Ficcionalidades de Prata (2019, Nova Mymosa, Lisboa);
• Respiração Pensada (2022, Abysmo, Lisboa);
• A Grande Imersão. Pensar o Amor. Pensar a Intimidade (2023, Exclamação, Porto);
• Ourique. O Mito e o Legado das Fake News (2023, Tempus Art, Porto);
• O Encoberto e o Sorriso dos Mitos (2023, Tempus Art, Porto).

Poesia:

• Fio de Prumo (1981, Terramar, Torres Vedras);
• Vão Interior do Rio (1982, Amesterdão, Atelier 18);
• Ângulo Raso (1983, Amesterdão, Atelier 18);
• Mymosidades (2015, Nova Mymosa, Lisboa);
• As Mialgias de Agosto (2015, Nova Mymosa, Lisboa);
• Extintor de Achados (2017, Lisboa, Douda Correria);
• Tratado (2018, Lisboa, Abysmo. Obra Finalista do Prémio Casino da Póvoa/ Correntes d'Escritas 2019);
• Ofertório (2018, Nova Mymosa, Lisboa);
• Anatomia (2019, Nova Mymosa, Lisboa);
• O Pássaro Transparente (2019, Nova Mymosa, Lisboa);
• Lucílio (2022, Nova Mymosa, Lisboa);
• Biografia do Mundo (2022, Abysmo, Lisboa);
• El Asombro Irrealizado (Antologia; 2023, Textofilia, Ciudad de México).

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segunda-feira, março 27, 2023

18 anos de Caderno de Corda

O Caderno de Corda perfaz hoje 18 anos. O Jantar da maioridade realizou-se anteontem, a 25 de março, como sempre no restaurante A Valenciana. Contámo-nos 30 confrades cordianos no total, mas "apenas" 25 comensais à mesa para um repasto cuja adjectivação diminuiria o sentimento de privilégio por dele sermos parte e pretexto. 
Sendo a nossa matriz primariamente qualitativa, importa dizer que o Caderno de Corda entrará agora em modo de processamento da noite de ontem e que, em prazo indefinido, desejavelmente breve, publicará aqui o registo anual d'O Jantar. Mas foi maravilhoso! 

'Té já. 

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segunda-feira, março 20, 2023

Três anos

O meu pai, Orlando de Brito Simões, aos 18 anos

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sexta-feira, março 03, 2023

Anno XVIII - O Jantar (convocatória)

E é chegada a hora d'O Jantar da Maioridade. Ao 18.º ano, eis a convocatória para o nosso encontro, que seguramente marcará muito mais do que apenas a celebração da "adultez" do Caderno de Corda. A maturidade não se exerce, no entanto, sem o uso de responsabilidade, autodeterminação, independência... Liberdade. E tomando uso pleno de autodeterminada e responsável Liberdade, está este ano apontada a data de 25 de Março para realização d'O Jantar, que, é sabido, deveria realizar-se na data tradicional de 26 de Março, véspera da celebração do aniversário do blogue (27 de Março). Com o passar dos anos adequa-se a data em função dos dias de semana mais favoráveis, mas o local mantém-se no restaurante A Valenciana, sendo a participação livre e especialmente dedicada aos indefectíveis Irmãos cordianos e estimados leitores. 'Té já. 

Confirmação requerida na página do evento no Facebook: https://fb.me/e/2aMeCP6WX 

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domingo, fevereiro 26, 2023

Pedro Martins de Lima (14 de setembro de 1930 - 21 de fevereiro de 2023)

Foi no Verão de 2005 que, pelo jornal A Bola, tive o privilégio de ir até Gaia para entrevistar (leia-se antes "conhecer e privar com") o Pedro Martins de Lima - uma personalidade magnética, generosa e inspiradora, de tal modo fascinante que senti ter de deixar esta nota após tomar conhecimento do seu falecimento na passada terça-feira, aos 92 anos, ciente de que perdemos um puro. 

A história de vida do Pedro dava vários filmes. Primeiro surfista português, "pai" do surf em Portugal, co-fundador do Hot Clube, cicerone de Cousteau... Epítetos não lhe chegam. De tão rica, relevante e extraordinária, a aventura linda que foi a vida do Pedro justificaria por si só todas as notas de pesar. Mas, somando-lhe a tal personalidade impactante, com doses generosas mas muito bem medidas de fraterna sageza, educada ousadia e jovial elegância, a nota torna-se para mim obrigatória. Sinto a sua perda.
A memória grata que tenho do Pedro e da sua querida Mané M. Lima, que, antes do meu regresso a Lisboa, fez questão de me servir um consommé primoroso que ainda me deixa a salivar, levou-me a procurar nos arquivos possíveis a tal peça que sobre ele escrevi em Julho de 2005. Encontrei-a em fotocópia digitalizada, que aqui publico, dando, pela minha parte, um pouco mais de lastro à memória inapagável desta marcante viagem de vida. O pequeno texto, esse, fora essencialmente focado na experiência desportiva do Pedro, em particular no que ao surf diz respeito. Era Verão e o espaço editorial na contracapa encontrava-se dedicado, naquele período, a desportos e actividades de Verão.
A entrevista derivou numa longa conversa a deambular pelo jardim e pelas divisões da casa, em Gaia, junto ao mar. Lembro-me que, a certo ponto, nos detivemos numa das divisões, repleta de registos, discos, fotografias impressionantes e recordações inestimáveis - da fotografia a preto e branco, a nadar entre tubarões, na Grande Barreira de Coral, passando pela caixa estanque para fotografia submarina que o próprio construiu a partir de uma panela de pressão para filmar documentários, terminando no icónico barrete vermelho que o amigo Cousteau lhe ofereceu. Introduziu as t-shirts em Portugal, praticou com mestria natação, hóquei, hipismo, esqui, râguebi, boxe, futebol, asa delta... Fundou o Hot Clube, onde ia noite dentro em jam sessions ao despique no contrabaixo; foi pioneiro no mergulho com escafandro, na pesca submarina e no esqui em Portugal. O que é que Pedro não fez? E fê-lo com distinção assinalável. E tudo o que eu escreva é pouco.

Até breve, Pedro Martins de Lima
Um abraço, Mané M. Lima.

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segunda-feira, setembro 12, 2022

Dois anos

sexta-feira, agosto 05, 2022

Funcionalismo

Um funcionário apagado e triste,
escondido e envergonhado,
esperando que não lhe dirijam palavra,
planta uma árvore no canteiro da varanda,
debruçada sobre a Estrada Nacional,
onde a luz solar resta ardente no asfalto,
sabendo de antemão que não lhe cabe a fruição
nem do fruto nem da sombra.

Débito e crédito debitado;
toda uma vida de empregado,
operário pontual e exemplar
sem orgulho no cumprimento de um dever
e sem sombra nem fruto,
irremediavelmente cansado,
sem presente e sem futuro.

Como a natureza, trabalha
continuamente e em silêncio,
absorto e conformado,
canário mudo na gaiola,
alimentado a alpista,
no labor desdito do desejo
único de esquecer-se quem é;
na lida de tudo o que é matemático
e geométrico, assíduo,
inquestionável, previsível,
sem canto nem engano,
sem desvio, prazer nem esperança.

Os músculos lassos e flácidos
sabem de cor o equilíbrio
dos movimentos repetidos,
sendo sua a substância da letargia
no enlace justo dos tendões,
nos dedos como malhos,
nas palmas tectónicas das mãos,
capazes de adormecer paisagens
privatizadas, nunca visitadas.
Pernas como tesouras
recortam sulcos febris
de infindáveis plantios e lavouras;
de trilhos e carreiras fabris,
arquitectando perenes destinos
nas paredes do tempo.

O funcionário recurva-se na secretária
mirando um memorando
como quem contempla a morte
anunciada de um conhecido.
Chegara a requisição de mobiliário de escritório
e o que restava lá fora era a dor da tarde
esperando o hálito moroso das folhas por nascer,
supondo a dúvida de saber
se se é incompletamente infeliz.

Foto DAQUI

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quarta-feira, maio 11, 2022

Anno XVII – O Jantar

Há um desígnio intraduzível que nos move e que nos une. Há uma Verdade antiga e simples que todos trazemos a pulsar no peito, aprisionada na garganta e no estômago; nos dentes e no sangue, pela qual nos reconhecemos. São os nossos olhos de crianças que se vêem puros, contendo ainda a reminiscência feliz de todos os sonhos do mundo. Está já ali, adiante, ao virar da esquina, a confirmação indomável, primeva e fatal de tal desígnio, tecido pela memória e encimado por um prolongado e amorável abraço de recreio que nos prendeu para sempre. As nossas vidas seriam menos do que outras sem do outro a nossa parte. Somos Irmãos e sabemo-lo. 

Em 2022 o XVII Jantar Cordiano aconteceu na antecâmara da celebração de Abril, realizando-se um dia após a libertação legalista do grilhão icónico e paradigmático da pandemia – a máscara – e na antevéspera da comemoração da madrugada mais clara; da alvorada da Liberdade. Este foi justamente cognominado “O Jantar da Libertação” – libertação simbólica de máscaras e recuperação plena do direito de reunião em convergência de afectos, memórias e destinos, cujas rotas, enlaçadas, traçam o mapa partilhado da nossa própria existência. Tal como em Abril de 1974 muitos detinham a convicção de que tudo era possível, é certo ser este o nosso tempo; o tempo para livres habitarmos a sua substância.

Ao décimo sétimo ano, conta-se o terceiro jantar realizado em data posterior à data tradicional de 26 de Março, véspera do aniversário propriamente dito (27 de Março). Motivo: a mãe de todas as mudanças de casa no mesmo período, e já foram muitas. Há dois anos, aquando do primeiro adiamento sob o jugo da pandemia, escrevia-se aqui que O Jantar se realizaria “com estímulo e intensidade redobrados”. No ano seguinte – há um ano, portanto -, e mantendo-se a vigência do cativeiro pandémico, elevou-se ao quadrado a tenção. Verificamos, pois, que exponencial e contagiosa é a Amizade – veja-se pelas estreias dos tão estimados Confrades Cordianos Joaquim Barbosa (Quim), Pedro “Piri” Farinha e José Moreno (Zé). Uma vez da Confraria, sempre da Confraria. Mas lembremos Pessoa: “Não o prazer, não a glória, não o poder: a Liberdade, unicamente a Liberdade.” Cravos!, cravos para todos!

O Caderno de Corda não vergou e em 2022 fomos 23 à mesa no dia 23, um número bom e oportuno. Numerologia e cabalística à parte, o simbolismo dos cravos dispensa explicações, mas exige que se atribua ao Grão-Mestre Cordiano César da Silveira, Visconde do Reino de Maconge, a ideia. Também por sua sugestão, O Jantar foi iniciado mais cedo do que vinha sendo costume, por volta das 17 horas, configurando um lanche ajantarado, espécie de high tea que redundou num jantar tradicional. Em boa verdade, o Irmão César da Silveira havia sugerido que o dia fosse dedicado quase por inteiro à comunhão cordiana, iniciando-se ao almoço e prolongando-se pelo jantar e noite dentro. Tão ambicioso fito exigiria, no entanto, esforços supletivos, nomeadamente negociais e logísticos, que não puderam ser satisfeitos nesta jornada. Não obstante, a concepção do insigne macongino estará, apesar do ousado intento, em cima da mesa em cogitações futuras.  

Cogitante estava, à chegada à Valenciana, o Maestro António Victorino d’Almeida, a ler um livro… À porta, pontual e espartano, o Grão-Mestre César da Silveira aguardava. Chegou então, segundos antes deste que Vos escreve, o Comendador da Liberdade Miguel Leão Miranda. Éramos três e, em pouco tempo, uma dezena. Saíam empíricas e entravam Confrades a bom ritmo até que nos constituímos indomáveis 23, por momentos 27, abençoados pela tradicional visita (fugaz!) do clã Franchi-Costa, que este ano não se deu à chapa – leia-se “à lente” do Irmão, Grão-Mestre e Guardião do Tombo Ricardo Pinto, que proverbialmente assume as despesas do registo fotográfico do evento e assegura a operação logística inerente. Assinale-se também a criação à mesa, no prosaico verso da ementa, do logograma do XVII Anno Cordiano pela mão de Nuno Quaresma, Missionário da Arte e do Belo, apesar do militante ateísmo optimista. Registamos também, como sempre, notadas ausências, desejados regressos e estreias sublimes como a da Infanta Beatriz Damião Pinto, Guardiã da Felicidade e da Alegria. O futuro é nosso.

Entre as estreias seniores notabiliza-se um Abraço de intensidade cósmica, há muito adiado, que marca o reencontro com o querido e eterno Irmão Quim, que se encontra a preparar o regresso da Polónia a Portugal – o reencontro com parte tão significativa, profunda e primacial de mim próprio. Já o mui querido “old chap” Piri, após anos de conquista por essa Europa fora, radicou-se finalmente no País, mas no Porto. Ainda assim, veio do Canadá de véspera e não falhou. Quim e Piri, dois verdadeiros globetrotters, dois brilhantes e queridos Amigos desde os três anos de idade. A distância nunca será bastante para nos apartar. Last but not least, o reencontro com o também mui querido Zé Moreno, cujo debute reforça sobremaneira a Fraternidade Cordiana. As décadas parecem contrair-se ao vê-lo e diluir-se assim que nos abraçamos de novo. Esta tríade de seniores selou com a sua inestimável presença a incorporação definitiva na Confraria Cordiana. Repita-se: uma vez da Confraria, sempre da Confraria.

Lunares, após O Jantar e de novo ao desafio do Grão-Mestre César da Silveira, seis resistentes levaram a noite cordiana a pé, da Valenciana ao Príncipe Real, onde o César se quedou por força de um almoço familiar no dia seguinte. Os restantes cinco - Girão, Hugo, Sardo, Jacinto e Corado - seguiram para o Bairro Alto e desaguaram perto das seis da matina em Santos, na Merendeira. Pão com chouriço e caldo verde para forrar o estômago e aconchegar o espírito. Eram sete da manhã quando este Vosso escriba chegou a casa, depois de atravessar a lezíria com o Sol à direita, a romper o horizonte, e o coração cheio, lamentando apenas não estar mais tempo com todos e cada um. Subsiste, mais uma vez, a ideia de que o Caderno de Corda não desiste porque a Amizade não desiste; nós não desistimos. O Caderno de Corda não vergou. Enquanto houver estrada para andar.

Não se conclui o post sem antes explicar a opção pela publicação das fotos em formato de vídeo, uma vez que o Blogspot (Blogger) não possui em backoffice um widget que permita publicar, por exemplo, uma galeria de fotos, pelo menos que se conheça. Tal poderá dever-se, em parte, ao facto de que o Caderno de Corda nunca cedeu à actualização de templates, uma vez que perderia todas as suas formatações originais em HTML autodidacta, o que também acabou por conduzir o blogue a um beco escuro e fundo da Internet que o Google abandonou e esqueceu. As fotos serão ainda posteriormente publicadas na página do Caderno de Corda na rede social Facebook. A delonga na publicação deve-se, por sua vez, ao facto de ter estado adoentado na semana seguinte, ao trabalho e, agora, ao Covid. Sim, fui diagnosticado positivo pela primeira vez. Embora o texto tivesse sido escrito logo após O Jantar, o vídeo tomou mais tempo do que o desejado.

Uma palavra final de especial apreço e gratidão para o Irmão e Grão-Mestre Ricardo Tomás, que, uma semana após O Jantar, sabendo da instalação de Internet deficiente e deficitária no quartel-general cordiano, viajou de imediato da Margem Sul para Almeirim e não apenas resolveu o problema, como otimizou todo o serviço. É graças a ele que os posts comemorativos do XVII Aniversário Cordiano finalmente Vos chegam pelo éter como se dançassem.

 

Este blogue é e continuará a ser o meu fiel depositório criativo. 

 

Em 2023, no mesmo sítio, previsivelmente em Março.

 

ASSIM foi. Assim seja.

 

Links para posts análogos dos aniversários anteriores:

Anno I - O Jantar

Anno II - O Jantar

Anno III - O Jantar

Anno IV - O Jantar

Anno V - O Jantar

Anno VI

Anno VII

Anno VIII - O Jantar (ou O Regresso)

Anno IX - O Jantar

Anno X - O Jantar

Anno XI - O Jantar

Anno XII - O Jantar

Anno XIII - O Jantar

Anno XIV - O Jantar

Anno XV

Anno XVI


Legenda aleatória: Rui Pina, João Barroso, Bruno Sardo, Miguel Leão Miranda, Ricardo Girão, Pedro “Piri” Farinha, Carlos Nunes, José Moreno, Nuno “Corado” Quaresma, João Trigo, Rui Jacinto, Rute Gil, Ricardo Tomás, Bruno Tomás, Rute Ferreira, Miguel Pereira, Beatriz Pinto, Joaquim Barbosa, Sofia Damião, Hugo Simões, Ricardo Pinto, César da Silveira e Carolina Pinto. O Clã Franchi-Costa veio, como é já tradição, para nos dar o prazer da sua companhia antes e ao início d'O Jantar. Um especial Abraço aos Confrades e às Consorores que, pela iniquidade da Vida, não puderam marcar presença, mas que estiveram no nosso pensamento.

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segunda-feira, abril 25, 2022

Publicação da crónica d'O Jantar brevemente

Desenho do Mestre Nuno "Corado" Quaresma. 23 de Abril de 2022.
 
A publicação da crónica d'O Jantar está para breve. Desejavelmente, seria hoje, dia 25 de Abril, que o Caderno de Corda daria a conhecer o que foi O Jantar ao passar deste XVII Anno de blogue. São numerosas as fotos que ilustram a Fraternidade Cordiana, desde logo pelo empenho do Grão-Mestre Ricardo Pinto, que proverbialmente assume as despesas do registo fotográfico do evento. Este foi O Jantar da Libertação - a libertação legalista do grilhão icónico e paradigmático da pandemia (a máscara) na antevéspera da comemoração da madrugada mais clara; da alvorada da Liberdade. 

Passaram-se dois anos consecutivos sem que pudéssemos concretizar O Jantar, ao longo dos quais nos cercearam direitos e liberdades, nomeadamente de reunião. Digamos pouco agora. Tivemos a madrugada esperada e um dia limpo para emergir da noite e do silêncio. Livres habitámos a substância do tempo. Grato a Sophia de Mello Breyner Andresen por um simples verso, tão adequado às circunstâncias. Cravos para todos! O Caderno de Corda não vergará. 'Té já.

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domingo, abril 03, 2022

Volar. Gracias a Luisa y Alfonso. Coruche inspira

sábado, abril 02, 2022

Anno XVII - O Jantar (convocatória)

O Jantar realizar-se-á no próximo dia 23 de abril, sábado, no sítio do costume. Estão, pois, convocados todos os confrades cordianos e os demais que se nos queiram juntar. Tragam um Amigo também.

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domingo, março 27, 2022

17 anos de Caderno de Corda

Hoje o Caderno de Corda perfaz 17 anos. Ontem, por motivos já explicados, e muito excepcionalmente, não houve jantar, mas o agendamento está prometido para muito em breve. O Jantar acontecerá previsivelmente num sábado de meados de abril. Já foram entabulados os primeiros contactos e a data será definida em questão de dias. 

Foram dois os jantares adiados por força da pandemia, pelo que este 17.º ano exige, além da indispensável presença física da Fraternidade Cordiana, a recuperação do tempo perdido. Assim, por sugestão do Grão-Mestre Cordiano César da Silveira, O Jantar será iniciado mais cedo do que é costume, por volta das 17 horas, configurando um lanche ajantarado, espécie de high tea que redundará num jantar tradicional. 

Enquanto houver estrada para andar.

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domingo, março 20, 2022

Anno XVII - O Jantar (pré-convocatória)

Após interregno forçado de dois anos em razão da famigerada pandemia, está prometido o regresso d'O Jantar Anual do Caderno de Corda em 2022. No entanto, por motivos de força maior (mudança de casa neste mesmo período), O Jantar não se irá realizar na data tradicional de 26 de Março, véspera da celebração do aniversário do blogue (27 de Março), mas em data a definir no curto prazo, expectavelmente para início de Abril. Como sempre, O Jantar realizar-se-á no restaurante A Valenciana, sendo a participação livre e especialmente dedicada aos indefectíveis Irmãos cordianos e estimados leitores. 'Té já.

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Dois anos

domingo, março 06, 2022

Que usar bandeirinhas da Ucrânia não signifique alinhar com os EUA numa guerra espicaçada em solo europeu enquanto os chineses esfregam as mãos. Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Paz.

domingo, setembro 12, 2021

Um ano

sábado, março 27, 2021

Hoje estaríamos a publicar a crónica d'O Jantar

sexta-feira, março 26, 2021

16 anos de Caderno de Corda










Pelo segundo ano consecutivo, e devido a imposições do contexto pandémico, muito lamentamos não poder concretizar o Jantar Cordiano de 26 para 27 de Março. Como é seu apanágio, o Caderno de Corda celebraria hoje 16 anos à mesa, entre amigos, abraços e amizade altamente contagiosa. Há um ano escrevia-se: "Serve este post para assegurar aos estimados Confrades Cordianos que o Jantar hoje adiado realizar-se-á assim seja possível com estímulo e intensidade redobrados." Contra todas as expectativas, são já dois os repastos adiados, pelo que O Jantar irá realizar-se plenamente assim seja possível, mas com estímulo e intensidade elevados ao quadrado. O Caderno de Corda não vergará. 

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quinta-feira, março 25, 2021

Cabeçalho recuperado

O Caderno de Corda presta um empenhado agradecimento ao mago informático André Alçada Padez, velho Amigo desta casa, pela impagável e tenaz paciência com que ressuscitou o cabeçalho deste blogue, recorrendo, claro, à sua singular sapiência computacional. Salvé, Andrey!

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sábado, março 20, 2021

Um ano

segunda-feira, março 15, 2021

Recuperação do cabeçalho em curso

Dirige-se este post aos estimados leitores que, chegados ao Caderno de Corda, possam questionar a ausência prolongada do respectivo cabeçalho dinâmico, em formato SWF (Shockwave Flash). O indesejado rectângulo branco à cabeça deve-se, portanto, ao fim da era do suporte Adobe Flash Player, pelo que a equipa de técnicos do Caderno de Corda já se encontra a trabalhar numa solução que compreenderá diversos outros formatos de vídeo e preverá o correcto funcionamento em diversos dispositivos e sistemas operativos. 

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segunda-feira, outubro 12, 2020

Um mês

sábado, setembro 19, 2020

Mãe

Completa-se hoje uma semana que a minha mãe partiu, ainda não seriam sete da manhã de dia 12 de Setembro. A minha mãe está viva em mim. Ela é eu e eu sou ela, como sempre fomos, indissociáveis. Se sou Amor, carinho, ternura e compaixão, sou ela. 
Marco a passagem desta semana sem adjectivos ou qualificativos, mas com uma canção que escrevi, compus, toquei, cantei e gravei chamada "Mãe", publicada no dia 5 de Maio de 2013 (dia da Mãe) no Caderno de Corda. A canção contou com a colaboração do meu querido amigo Sebastiano Ferranti, que tocou bateria, gravou, misturou e masterizou no seu estúdio caseiro. O baixo e as guitarras foram gravados por mim, em minha casa, num modesto gravador de quatro pistas. 
Apesar destes e de outros factos, esta não é uma canção de dia da mãe e muito menos um tema de alegre exaltação à progenitora ou a uma qualquer efeméride que daí decorra. Em boa verdade, é uma canção que, perante medos, desesperanças, sofrimentos e solidões, clama pela mãe - a mãe de todas as mães, porventura o Eterno Feminino. 
"Eterno Feminino" terão sido as últimas pa­lavras de Goethe, no segundo Fausto, para designar a atracção que guia o desejo transcendente do homem. Curioso que eu tenha utilizado, na letra, ideias e palavras de Fausto (o Bordalo Dias), mas também de Jorge Palma e, muito especialmente, de José Mário Branco. Na ideia referida de Goethe, o feminino representa o desejo sublimado, o que é proclamado por um coro místico: "O Eterno Feminino atrai-nos para o Alto." 
Em muitas cogitações filosóficas, antropológicas ou místicas, a mulher está mais li­gada do que o homem à alma do mundo, às primeiras forças elementares, e é através dela que o homem comunga dessas forças, encontrando no Amor a grande força cósmica. 
A Virgem-Mãe, Nossa Senhora, é uma encarnação evidente do tema. O Feminino autên­tico e puro é, por excelência, uma energia luminosa e casta, portadora de coragem, de ideal e de bondade a que recorremos em oração e, amiúde, em desespero de causa, clamando pela mãe. Por vezes, escrevem-se canções com esse fito... 
Para Jung, o feminino personifica as tendências psicológicas femininas na psique do homem, como, por exemplo, senti­mentos e humores instáveis, intuições proféticas, sensibilidade face ao irracional, capacidade de amar, a faculdade de sentir a natureza e, finalmente, as relações com o inconsciente.
Se foi nisto que o Jorge Palma pensou quando escreveu, por exemplo, o refrão da "Canção de Lisboa", ou o Fausto, quando redigiu o poema da canção "Ó Mar", que obviamente inspira a segunda e a terceira estrofes, não faço ideia, mas certo é que o José Mário Branco tocou a ferida universal quando descambou num pranto doloroso à mãe já na parte final da épica canção "FMI", à qual roubei palavras que adaptei para a última estrofe e último refrão da minha canção "Mãe".


* Mãe - letra *

Meto à boca o pão
seco, duro como pedra, amor
que não me deste a...
beber do teu suor
o sal da vida salga
a ferida eterna e universal
Sou mais do que animal,
mais que a fera parida
- Mãe -

O que o tempo esqueceu
leva que hei-de voltar ao mar
profundo de um sono meu
Eu sou como quem vem
desamparado pra regressar
ao fundo ventre da mãe
Sou mais do que animal,
mais que a fera parida

- Mãe -

Sou algo que é só meu,
faço comigo o que quiser
Desde que haja amor?
- Amor não dá de comer
Não posso desnascer,
ir embora sem ter de ir embora,
sou deste tempo,
entre fugir de me encontrar
e me encontrar fugindo

- Mãe -

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segunda-feira, setembro 14, 2020

Maria Teresa dos Santos Cabrita de Almeida de Brito Simões (11/07/1953 - 12/09/2020)

A minha mãe, Maria Teresa dos Santos Cabrita de Almeida de Brito Simões, faleceu por volta das sete horas da manhã de dia 12, sábado, aos 67 anos. A cerimónia de cremação decorrerá amanhã na Capela do Cemitério de Almeirim, pelas 10h30, e a cremação será às 11h30.

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sexta-feira, abril 17, 2020

#estatudobem em 2040

O convite, em jeito de desafio, do Mestre António Simões encheu-me de felicidade, mas também de um sentido de grande responsabilidade. Por ser vindo de quem vem e de onde vem, e ainda pelo momento em que todos nos encontramos. Seria escusado dizer que me sinto extremamente honrado por se terem lembrado de mim. No entanto, tenho de ressalvar que este não é apenas um jornal - é o meu jornal do coração desde criança; o jornal com o qual aprendi a ler... jornais; o jornal no qual sonhei trabalhar um dia e no qual aprendi a fazer jornalismo diário, anos mais tarde. A foto é do meu querido Carlos Mateus de Lima e a não atribuição da autoria nesta página 13 deve-se inteiramente ao meu lamentável esquecimento.

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quinta-feira, março 26, 2020

15 anos de Caderno de Corda

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O Caderno de Corda celebraria hoje 15 anos à mesa, entre amigos, abraços e amizade altamente contagiosa, como é seu apanágio. Serve este post para assegurar aos estimados Confrades Cordianos que o Jantar hoje adiado realizar-se-á assim seja possível com estímulo e intensidade redobrados. O Caderno de Corda não vergará.

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segunda-feira, março 23, 2020

A canção do meu Pai

Compus e gravei esta canção para o meu pai quando era seu cuidador. O "Naninho" (como eu lhe chamava nestes últimos anos) acompanhou todo o processo, em casa comigo, ao longo de largas horas de prática e gravação, especialmente durante a noite. Apesar da demência, entoou a canção, bateu o pé e meneou a cabeça quando a masterizei e lha mostrei nos phones. Hoje, que o meu pai chegou à sua morada definitiva, divulgo pela segunda vez a canção que fiz só para ele em 2014. Devo ainda mencionar a colaboração do meu querido e velho amigo Nuno 'Dino' Rodrigues, que me recebeu em sua casa, no seu estúdio caseiro, para gravarmos o coro.

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O cavalo e a corda

Um homem passeava por uma pequena cidade rural quando um cavalo reteve a sua atenção. Parou momentaneamente a observar o animal. Intrigou-o o facto de que aquela poderosa criatura estava presa por apenas uma pequena corda amarrada frouxamente a uma cadeira de plástico. Sem cercas, sem correntes, sem portões de cavalariça. O cavalo poderia, facilmente e a qualquer momento, romper o vínculo à cadeira, mas, por alguma razão, não o fez.

O homem viu ao largo aquele que aparentemente seria o dono do animal e perguntou-lhe como é que o cavalo tinha sido amestrado para ficar ali imóvel, como se estive irremediavelmente preso. "Bem - disse o proprietário -, é muito simples: quando eles são muito jovens e pequenos, usamos a mesma corda para amarrá-los e, nessa idade, é suficiente para segurá-los. Claro, eles tentam libertar-se, mas rapidamente descobrem que não conseguem. À medida que crescem, são condicionados a acreditar que não podem fugir. Este cavalo, por exemplo, acredita realmente que a corda o impede e nunca procurou libertar-se."

O homem ficou surpreso. O animal podia fugir a qualquer momento, mas acreditava não haver alternativa; estava mentalmente condicionado. Algo perturbado, o homem prosseguiu o seu passeio, deambulante, e deu por si a reflectir sobre si mesmo. "Quantos de nós são exactamente como aquele cavalo indefeso?"

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domingo, março 22, 2020

O estudo científico


Este artigo tem sido aparentemente usado para cortar pela raiz as questões que se levantam em muitos quadrantes quanto à preexistência do dito vírus em laboratório (coisas de teóricos da conspiração - o mesmo que maluquitos; é assim que se descredibiliza quem pensa e questiona em sentido contrário ao da doutrina do medo). 
No que respeita ao artigo da Nature, que por sua vez procede o estudo propriamente dito, não se apresenta, em conclusão, uma certeza comprovada. Está, sim, implícita a propensão (quase o desejo) para concluir no sentido de que o vírus (não consigo escrever-lhe os nomes, mas "esta merda" soa-me bem) não é "uma construção laboratorial ou um vírus propositadamente manipulado". Trata-se de um jogo de palavras tricotado em monólitos de jargão científico hermético, inacessível para o comum dos mortais, e na retórica necessária para conduzir à conclusão previamente imposta, desde logo explicitada na introdução. Por outras palavras, muito simples, este estudo quer concluir algo que, entrelinhas, não é conclusivo. Além do mais, o vírus não teria de ser uma "construção laboratorial" ou "propositadamente manipulado" para que, por exemplo, tivesse simplesmente resultado de um "tweak" laboratorial manipulado irresponsavelmente. Um jogo de palavras facilmente desmontável. 
De facto, de ciência não percebo nada, mas sei que quem tem poder para investir num estudo destes não quererá provar a manipulação ou a proveniência "desta merda" de um laboratório. Qual? Onde? Como? Quando? Porquê? A mando de quem? Se a Nature tivesse nas mãos um estudo que comprovasse tal coisa, eu estaria capaz de apostar todo o meu papel higiénico em como não o publicaria... É preciso ter espírito em tempos como estes... Voltando ao estudo, a certo ponto a conclusão é mesmo revelada como uma (des)crença ("we do not believe"), uma presunção imprópria do método científico:

"Although the evidence shows that SARS-CoV-2 is not a purposefully manipulated virus, it is currently impossible to prove or disprove the other theories of its origin described here. However, since we observed all notable SARS-CoV-2 features, including the optimized RBD and polybasic cleavage site, in related coronaviruses in nature, we do not believe that any type of laboratory-based scenario is plausible. More scientific data could swing the balance of evidence to favor one hypothesis over another."  

Duvidemos sempre. Questionemos tudo.

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sexta-feira, março 20, 2020

Orlando de Brito Simões (20/10/1952 - 20/03/2020)


O meu pai, Orlando de Brito Simões, faleceu esta madrugada com 67 anos. Há cerca de duas semanas esteve internado no Hospital de Santarém, donde teve alta ao final de três dias com diagnóstico de infecção respiratória aguda. Não foi testado para despiste de Covid-19. A médica que o assistiu foi entretanto testada positivamente. Não haverá velório. O funeral terá lugar no Cemitério de Santarém, segunda-feira, pelas 9h30. Apenas poderão comparecer até 20 pessoas.

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sexta-feira, março 13, 2020

"Who is Charles M. Lieber?" ou "Who Framed Charles Lieber?"

quarta-feira, março 11, 2020

Anno XV - O Jantar (convocatória)

O Jantar anual do Caderno de Corda irá realizar-se na data tradicional de 26 de Março, quinta-feira, véspera da celebração do aniversário do blogue (27 de Março). Como sempre, O Jantar realiza-se no restaurante A Valenciana, sendo a participação livre e especialmente dedicada aos indefectíveis Irmãos cordianos e estimados leitores. 'Té já.

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Da paranóia e da neurose colectivas

Lido num livro que está a ser escrito:

"Juntando peças, Jeremias não podia deixar de constatar os preparativos para, em última análise, o nascimento de um estado policial global com um governo invisível, omnipotente, que controlava já o governo norte-americano, a União Europeia, a OMS, a ONU, o Banco Mundial, o FMI e toda e qualquer instituição de calibre semelhante. Estava tudo à vista de todos: o terrorismo promovido pelos governos, que, por sua vez, muniam esse mesmo terrorismo; o controlo da população por intermédio da manipulação dos media e do medo; as crises financeiras forjadas para cavar mais profundos fossos entre o pequeno e o grande capital, e entre ricos e pobres de uma forma geral; as pandemias e as doenças criadas em laboratório com o fito de servir múltiplos propósitos geopolíticos, mas também como forma de produzir um efeito de arrastão pelo qual, ciclicamente, as farmacêuticas colhiam os resultados de campanhas de medo minuciosamente planeadas."

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terça-feira, fevereiro 18, 2020

Beatriz Sousa dos Santos Damião Pinto


Inicia-se, por esta mesma hora, uma viagem de deslumbramento. A madrugada alta abriu-me as persianas com esta imagem, recebida às 5h34. É o dia da Beatriz, mas também da Carolina, da Sofia e do Ricardo; do clã Pinto e do clã Damião; dos amigos e de todos quantos lhes querem muito. É por esta mesma hora que a Beatriz, a portadora de felicidade, inicia a sua rota peregrina. E eu, feliz até às lágrimas, sou um privilegiado por partilhá-lo. Até já.

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segunda-feira, janeiro 20, 2020

Mensagem

«Lembra-te sempre de quem és, de onde vieste. Nunca deixes que te pisem, que mandem em ti ou que te digam que não consegues. Acredita e persegue os teus sonhos. Tem fé, seja no que for. Lembra-te de olhar para as estrelas; não para os teus pés. Nunca deixes de aprender e de trabalhar. O trabalho deve ser o que te dá prazer e o labor do teu sonho, do teu destino. Dá-te com os melhores e serás tão boa ou melhor do que eles. Se não tiveres alternativa à luta, faz por que te temam. Observa e discerne antes de agir. Se encontrares amor, cuida-o. Emprega sempre a grande virtude da paciência e não faças aos outros o que não gostas que te façam a ti, mas, sobretudo, sê fiel a ti própria. Tens estrelas a guiar o teu caminho - neste mundo e no outro. Mantém-te justa, leal, sincera, briosa, honesta e tudo virá. Persevera em ser boa; farás de todos melhores em teu redor. Ditarás o teu destino quando os teus actos estiverem em consonância com o teu pensamento; quando te recusares a rastejar se puderes voar. Mesmo que te aprisionem, serás sempre livre, sã e salva. O corpo é a prisão. Só há uma liberdade: a do pensamento… e da bondade. E não há liberdade sem desobediência.»

Para R.

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terça-feira, novembro 19, 2019

José Mário Branco, do Porto, muito mais vivo que morto

Tive o privilégio de conhecer José Mário Branco em 2008, mais precisamente no dia 9 de Fevereiro, quando os meus Baby Jane se juntaram a ele em concerto de protesto pelo Movimento Porta 65 Fechada. Além da grandeza da obra, do carácter e do génio, ficou-me gravado o trato extraordinariamente afável de um homem terno, solidário, generoso e humilde, pronto para os outros e para a guerra. Ouçamos a imortal catarse.


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quarta-feira, abril 10, 2019

Anno XIV - O Jantar


Pela segunda vez nos 14 anos de existência do Caderno de Corda, O Jantar anual realizou-se em data posterior à data da celebração do aniversário do blogue (27 de Março), uma vez que este vosso fiel escriba tinha viagem marcada para estadia de uma semana em Fez, Marrocos – viagem que não se concretizou por medida profiláctica, tendo em conta um súbito estado febril da minha Rosarinho. Assim, foi definido inicialmente o dia 1 de Abril, de imediato alterado para dia 2 de Abril para que o Grão-Mestre Cordiano Ricardo Pinto pudesse estar presente, na companhia da querida Mestre Sofia Damião.
Como sempre no restaurante A Valenciana e dedicado aos indefectíveis Irmãos cordianos e estimados leitores, O Jantar viu introduzidas algumas novidades nesta edição, sendo certo que quase todas se consubstanciam no vídeo que enceta o presente post e que introduz o novel poema “Quartus Decimus”. Aqui apresentado em estreia absoluta, “Quartus Decimus” resulta da escolha aleatória e da reorganização de versos extirpados do livro “Sétima-Feira” (2012).
Com recurso a um intrincado mecanismo numerológico de cálculo por página e linha, a interpretação estética à luz da sequência de Fibonacci e a uma avançada técnica de pot-pourri, “Quartus Decimus” é, em primeira análise, formado pelos estimados confrades d’ O Jantar. Cada qual escolheu um número de página, um número de linha e leu para a câmara o verso que lhe coube em sorte. Os maestros da composição são, no entanto, John Cage (Sonata I) e Iannis Xenakis (Pléiades). A câmara e parte significativa das fotos são do Grão-Mestre Ricardo Pinto. Bem vistas as coisas, não precisei de fazer nada. Fizeram tudo por mim.

Eis o poema:
Quartus Decimus
Último e primeiro por Saturno,
o Grande Chef tem a mesa posta pelos seus criados,
apóstolos, anjos, autores do mais fantástico romance.
A voz, ao nascer, caminha sobre um espelho partido.
Um puto de boné do Benfica chuta torto
e a bola aloja-se debaixo do banco.
Os pássaros cantam no escuro
e sou uma espécie de capricho,
uma epiderme granítica de seixos
que escondera outra cidade.
Posso convocar dos confins subterrâneos
os átomos das pessoas desaparecidas.
A erva-moura tem dons de terapia.
Esperança é coisa com penas que canta sem palavras;
montar uma tenda junto à praia
e deixar ir o carro em ponto morto, ir,
e de nada me valia saber no exacto instante.
Tu sabes que um sorriso falso nos esmorece.
Se eu morrer antes, sobrevive-me.
Talvez o fim seja um começo.
O dinheiro continua a ser papel. 

Além de notadas ausências – algumas das quais de última hora, como a do Grão-Mestre João Trigo -, sublinhe-se a do Grão-Mestre João Pimenta, que, este ano, apesar da permanência em Sines, quase teria marcado presença em virtude do expectável nascimento da sua terceira filha por estes dias, em Lisboa, mas tal acabou por não ser possível dada a fixação do dia do nascimento para momento posterior, tendo o Pimenta regressado a Sines à data d’ O Jantar. Podemos assim espalhar a feliz notícia em primeira mão do nascimento da doce Maria Francisca Pimenta, mas no dia 8 de Abril de 2019 ao meio-dia.
No capítulo das estreias, contámos pela primeira vez com a querida Inês Sampaio Soeiro e com o meu velho e talentosíssimo amigo "algarvio" Nuno “Corado” Quaresma, companheiro de aventuras incontáveis no final do século passado em Armação de Pera, reencontrado casualmente por intermédio do amigo comum e Intendente Cordiano Rui Jacinto. Uma vez da Confraria, sempre da Confraria. 
No final da noite juntou-se a nós o Mestre do Tabernáculo Rui Pina, saído de um dos muitos ensaios pós-laborais da sua agenda, ainda a tempo de devorar um prego bem passado. Os últimos cartuchos foram queimados no exterior, na companhia dos sublimes comendadores da Loja Cruz Quebrada – Ricardo Tomás, Rui Pina, Hugo Dantas e Ricardo Pinto.

Este blogue é e continuará a ser o meu fiel depositório criativo. 

Daqui a um ano, no mesmo sítio, à mesma hora.

ASSIM foi. Assim seja.

Legenda aleatória: Gustavo Silva, Ricardo Pinto, Hugo Simões, César da Silveira, Miguel Leão Miranda, Rui Jacinto, João Barroso, Simone Palma Mezzomo, Inês Sampaio Soeiro, Nuno Quaresma (Corado), Miguel Pereira, Ricardo Tomás, Hugo Dantas e Sofia Damião. A Rita Franchi, o Rui Pedro Costa e as suas queridas meninas vieram, como vem sendo habitual, para nos dar o prazer da sua companhia antes e ao início d' O Jantar. O Rui Pina chegou depois, ainda a tempo de desmanchar um prego.

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quarta-feira, março 27, 2019

14 anos de Caderno de Corda

terça-feira, março 12, 2019

Anno XIV - O Jantar (convocatória)










Pela segunda vez nos 14 anos de existência do Caderno de Corda, O Jantar anual irá realizar-se em data posterior à data da celebração do aniversário do blogue (27 de Março), uma vez que este vosso fiel escriba se encontrará inevitavelmente fora do País entre 24 e 31 de Março. Por isto, serve esta convocatória para apontar o dia 2 de Abril como a data do próximo repasto. 
Como sempre, O Jantar realiza-se no restaurante A Valenciana, sendo a participação livre e especialmente dedicada aos indefectíveis Irmãos cordianos e estimados leitores. Nesta edição procuraremos introduzir algumas novidades, cujos planos de concretização estão já em fase de estudo. 'Té já.

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quarta-feira, outubro 10, 2018

sexta-feira, agosto 17, 2018

Xutos'1000 - Não sou o único


No passado dia 7 de Julho fiz-me à estrada às 7 da manhã para estar no Pragal pela fresquinha, prestes a enfrentar um dia de calor, à torreira do sol, para homenagear o Zé Pedro e os Xutos & Pontapés numa interpretação massiva de "Não Sou o Único" pelos fãs da banda com vista à posterior realização do vídeo que aqui se divulga. 
Eram para ser 1000 mas foram menos - cerca de 700, mais coisa, menos coisa. A organização foi esforçada, mas talvez carecesse de mais meios para atingir os resultados a que se propusera. Pela minha parte, foi um dia necessário, já que eu não me furtava à homenagem, ainda que preferisse associar-me a um evento no qual a organização não se colocasse tanto no centro dos acontecimentos. 
Houve pessoas que voaram de Inglaterra para Portugal e outras que atravessaram o País para estar presentes. Pessoas que se prepararam em casa para tocar como se do seu instrumento dependesse o sucesso do evento, mas que, infelizmente, praticamente nem aparecem no vídeo (ou não aparecem mesmo), dando-se primazia a uma massa de gente no coro que certamente não teve de carregar material pesado ou fazer trabalho de casa, a alguns dos organizadores e aos chamados "líderes de naipe", cujo trabalho de preparação podia ter sido melhor sob alguns aspectos. 
A título de exemplo, e aqui numa crítica declarada à edição de vídeo, no momento do solo de guitarra o que vemos é uma mole de gente no coro com braços no ar e... mais braços no ar quando havia dezenas de músicos destacados numa fileira de guitarras solo aos quais não é dado um segundo, senão um destaque já descontextualizado do solo para o "líder de naipe", a posteriori... Frequentemente vemos também planos de corte de instrumentistas e vozes desfasados do tempo da acção e da música... 
Enfim, não querendo ser tão crítico como poderia (podia ir mais longe), devo dizer que o dia se passou bem, especialmente tendo em conta que estive na companhia de um amigo feito in loco, o guitarrista Nuno Conde, a quem fiquei a dever o facto de não ter apanhado um escaldão à séria graças ao protector solar dos filhos dele.  

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terça-feira, agosto 14, 2018

Videoclip de "Silêncio (Estamos no Ar)"


A canção "Silêncio (Estamos no Ar)" foi apresentada AQUI, no Caderno de Corda, mais precisamente no dia 25 de Março de 2015. Hoje publico o videoclip possível, realizado por mim com recurso ao software Movie Studio 15, mais uma vez pejado de imagens ilicitamente obtidas do YouTube.
Compus, gravei, toquei, cantei, misturei e masterizei integralmente a música em casa (música, letra, baixo, guitarras, pandeireta, vozes, Stylophone e demais instrumentos) no gravador digital de oito pistas Boss BR-800. A bateria foi inteiramente tocada e programada na unidade de ritmo Boss DR-880. Todas as informações no post de lançamento da canção.

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domingo, junho 17, 2018

Sobre a Almofada dos Teus Ossos

Viste os anjos cair de alturas vertiginosas
e tu, como eles, sabias ser tão mais humano do que divino
- o próximo, tarde ou cedo.
De cada vez que olhas para o Sol
procuras a razão de ser e, perfurante,
a visão, cega, queima a luz e tudo em redor,
deixando-te caído numa Lua bêbeda e entorpecida,
imprópria dos imortais.
Vamos, criança lunar que estás tão longe esta noite.
A porta já foi arrombada de par em par.
Como foi que tu te fizeste brisa volátil mas selvagem,
flor de prata tão distante e capaz de florir a qualquer instante,
em qualquer parte?
Crepúsculo e sombra, és o passageiro, a visão e a cicatriz,
as brasas do teu mistério, que afagam a incredulidade
no brilho refulgente deste próprio pesar
- dependurado no lábio superior da depressão,
tal a febre pintada em recuo da mentira sem a dor,
sem a chance do remorso.
E quando fosse apenas sim ou não,
e agora se tornasse demasiado cedo,
convidavas-me para ver a Lua, mais uma vez,
sob a cintilação azul dos mistérios ansiosos da inquietude.
Todo o coração deveria ter batida;
toda a noite se embalaria no sonho;
todo o rei deveria ter rainha
e todo o santo deveria ter pecado.
Somos a margem à mercê da maré
e poeira diamantina.
O metal enferruja e afoga-se, Ilha de Homem.
Estamos cercados por nós próprios.
Mas como?, se desde que nascemos até ao dia final,
na escuridão da noite mais escura
e até sob o brilho solar da cegueira,
dizias ser à luta sangrenta
que não se viram costas,
para chegares tão cansado de viver na linha da frente,
mesmo sendo um príncipe e uma sombra.
Cada momento deixa-nos mais próximos de dizermos adeus para sempre.
És o inimigo de ti, o inimigo que tragicamente trazes contigo.
Porque não existe tal coisa como nada.
Sim, não há tal coisa como coisa nenhuma.
Mas tens o dedo no gatilho e prometeste desligar o mundo.
Durmo há duas noites sobre a almofada dos teus ossos.
Há duas noites sobre a almofada dos teus ossos.

E tu olhas para mim
em pose de Cristo,
pecaminosa emulação
de braços estendidos,
como se te carregasses sempre
- o maior fardo.
Injurias de liberdade o escravo
que nunca quis ser salvo
e renegas a alma luminosa
que em ti viram
e que tu crês fingir.
Foste sábio, ferida, máscara,
pilar de fumo, braços abertos e coração de platina;
entulho espalhado na berma da estrada,
segredo velado e revelado em ira.
És livre; nada te aprisiona, nem tu próprio.
No entanto, aí te prostras à imagem de Cristo,
e assim previste a desaparição no breu,
o tresmalho atrás das cortinas.
Não tinhas onde esconder-te
do paraíso e do carnaval de almas,
da doce euforia - coração fora do peito;
da graça perdida - deslumbramento desfeito.
Mil bocejos de um amor esquecido, desolado desejo,
e os olhos de éter, vagos e cegos, ausentes, como a vontade.
Mas como?, se até sob o brilho solar da cegueira
dizias ser à luta sangrenta
que não se viram costas,
para chegares tão cansado de viver na linha da frente,
mesmo sendo um príncipe e uma sombra.
Tinhas o dedo no gatilho, prometeste desligar o mundo
e eu dormi por duas noites sobre a almofada dos teus ossos.

O que querias ver claramente cegou-te;
o que mais querias possuir aprisionou-te,
mesmo sabendo não poder deter
algo que se pretende ver voar.
Sob disfarce, como se ninguém soubesse,
mais cantavas sublimemente
e menos se imaginava
que esses olhos secos
vidravam a tua verdade crua,
feia, que as vozes te segredavam
e que nas palavras expuseste
sem que alguém verdadeiramente as lesse
e escutasse para te salvar ou odiar.
Amado, não te compreendias,
como se por te amarem
te tornassem devedor
e incapaz de retribuir.
Desmereceste-te.
O espelho repudiava a tua imagem
e os outros não inquiriam o sorriso pintado
através do qual te escondias
e crias forjar as emoções.
És o inimigo de ti, o inimigo que tragicamente trazes contigo.
Porque não existe tal coisa como nada.
Só a exaustão que te adormecia.
Que te seguissem quando nada liderasses,
quando te perdesses e fosses apenas inseguro,
frágil e puro, inerme, amado incondicionalmente.
Porque não existe tal coisa como coisa nenhuma.
Como dantes, dormes sob um lençol de lua cheia,
sete penas na cabeça e sonhos a pairar sobre a cama,
perdidos atrás de palavras que nunca encontrarás,
e as estações seguem-se umas às outras.
Tinhas o dedo no gatilho. Prometeste desligar o mundo.
Dormi por duas noites sobre a almofada dos teus ossos.

Poema escrito em memória de Chris Cornell, iniciado a 19 de Maio de 2017 e concluído a 17 de Junho de 2018. As duas noites referidas no poema reportam-se à insónia de 48 horas após a notícia da sua morte.

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Sobre a Almofada dos Teus Ossos (parte 3)

O que querias ver claramente cegou-te;
o que mais querias possuir aprisionou-te,
mesmo sabendo não poder deter
algo que se pretende ver voar.
Sob disfarce, como se ninguém soubesse,
mais cantavas sublimemente
e menos se imaginava
que esses olhos secos
vidravam a tua verdade crua,
feia, que as vozes te segredavam
e que nas palavras expuseste
sem que alguém verdadeiramente as lesse
e escutasse para te salvar ou odiar.
Amado, não te compreendias,
como se por te amarem
te tornassem devedor
e incapaz de retribuir.
Desmereceste-te.
O espelho repudiava a tua imagem
e os outros não inquiriam o sorriso pintado
através do qual te escondias
e crias forjar as emoções.
És o inimigo de ti, o inimigo que tragicamente trazes contigo.
Porque não existe tal coisa como nada.
Só a exaustão que te adormecia.
Que te seguissem quando nada liderasses,
quando te perdesses e fosses apenas inseguro,
frágil e puro, inerme, amado incondicionalmente.
Porque não existe tal coisa como coisa nenhuma.
Como dantes, dormes sob um lençol de lua cheia,
sete penas na cabeça e sonhos a pairar sobre a cama,
perdidos atrás de palavras que nunca encontrarás,
e as estações seguem-se umas às outras.
Tinhas o dedo no gatilho. Prometeste desligar o mundo.
Dormi por duas noites sobre a almofada dos teus ossos.

Poema (terceira parte) concluído na madrugada do dia 17 de Junho de 2018 pela morte de Chris Cornell (Seattle, 20 de Julho de 1964 - Detroit, 17 de Maio de 2017) 



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