terça-feira, maio 17, 2005

Janine et Marcel à la Gare Saint-Lazare

Janine tinha na lapela do casaco uma rosa esmaecida.
O chapéu elegante, a pena de uma ave ainda viva.
Torcia o sorriso, terminado em duas covinhas.
Marcel, de uniforme, todo aprumado, também sorria.
Por debaixo do bigode, notava-se, oblíquo.
Desce apressado e decidido breves escadas
E salta para o apeadeiro e esquece o comboio.
Abraçam-se longamente.
Janine pare uma lágrima e represa outra:
A da confirmação do tempo impossível.
Contemplam-se a inevitabilidade desfigurados,
Abraçam-se desesperadamente desesperados
E quase se fundem em explosão.
À volta, desaparecera a multidão,
O estrépito e o fragor da estação.
Liquefizeram-se em consubstanciação.
Marcel agarra Janine pelos ombros
Com a mesma força com que combatia;
Com a mesma expressão catártica;
Os sobrolhos engelhados;
Olhos esbugalhados.
Perdera a expressão doce e límpida na guerra,
Viu Janine,
Que ofereceu a Marcel a rosa esmaecida,
E nunca até aqui uma palavra proferida.
- Vai partir. Vou...
Janine desbota,
Engole as palavras que nunca disse.
Sufocara-as cada segundo da sua vida,
Desde o dia em que um mensageiro da morte
Lhe deu a notícia.
Foi em França, no Norte,
Onde ele desembarcou.
Janine casou-se
Três vezes
E em todas as ocasiões,
Na lapela do casaco,
Uma rosa.

Etiquetas: