sexta-feira, maio 27, 2005

Paredes

Movimento perpétuo;
O tempo amordaçado
No som mudo de um século
Em pantomima coreografado

E televisionado a preto e branco,
Depois a cores,
Que ao cinema também deu alento
O Paredes e as suas dores,

Que pelas mãos duras e decididas
De génio predestinado
Coloriu e fecundou a imaginação
De mil imagens, com a guitarra a seu lado.

Só Paredes quebrou paredes,
E todo o som brotou
E saciou todas as sedes;
Os cansaços atenuou.

Que um homem fez aos outros sentir
O que era ser quem eram;
Que de si mesmos não queriam fugir
Como outros que em si desesperam.

Pois o vagar não é paciente
E o ensejo não espera
O momento certo da gente
Fazer que o tempo perca.

Porque urge ser sublime
No bater do coração,
Na guitarra que sobe acima
Do Paredes, a respiração,

Que bem se ouve na reticência
Das notas da guitarra em suspensão
Como se ele inspirasse o fôlego
Dos dedos às cordas, vibração.

Só Paredes quebrou Paredes
Em todos os silêncios que derrubou,
Em todas as palavras secas
A saliva que guardou.

Só paredes quebrou paredes,
Som liquefeito no nosso imaginário,
Abraçando-o delicadamente,
Como brisa sibilante, fez o verso e o contrário.

Etiquetas: