quarta-feira, junho 01, 2005

Polónia

Tinha acabado de calçar as botas.
Na rádio, o anúncio do perigo iminente.
As sirenes soavam a demónios em devir.
A ameaça vinha do ar.
Os rapazes já não corriam, sobressaltados,
Ao seu encontro, na sala,
Junto àquela voz nervosa.
Disse-lhe o vizinho, o velho Wajda,
Que tinham sido levados para interrogatório.
Queriam informações.
Mas que podiam eles saber?
Wajda disse também que se seguia ele,
Assim que soubessem quem era o pai,
E depressa fechou a porta, entreaberta,
E se sumiu, gritando-lhe, de dentro, "Foge!"
Aquelas palavras não paravam de soar ao seu ouvido.
Temeroso, permanecia sentado,
Paralisado, sentenciado,
Ouvindo as solas pesadas
No tabuado carunchoso que rangia.
Aquele sapateado fúnebre
E lúgubre das gentes do prédio...
E as botas calçadas, nem patear
Nem fugir dali para fora,
Que trairia os seus rapazes.
Dez e onze anos.
A sua vida era a deles.
Seria bom que o viessem buscar depressa.

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