terça-feira, maio 02, 2006

Desilusão incompleta submergida em crude

Poeta que fui, esqueci o talento hoje;
falta-me a sugestão.
Olhei em pasmo a inspiração que me foge
e, cansado, perdi-a em desilusão.

Já tive em mim o mundo encerrado,
silenciado, agrilhoado, tolhido.
Tentei ainda assim transpô-lo certo ou errado
para o papel fecundo a cãs tecido.

Lívido, eu, o príncipe das nuvens,
não caminho por delito das asas de gigante,
e lembro-me apenas do futuro desconcertante
num parapeito onde à tardinha tu vens
falar-me do que viste acontecer lá longe.

Não me lanço ao lodo dantesco do senso comum mediatizado;
não discuto a fome prescrita pelos senhores da guerra,
e renego a retórica exibicionista e inconsequente sobre o machado que ninguém enterra.

Afoguem-se as crianças em barris de crude,
que o povo ainda sai à praia em tanga, sem saber o que o espera.
O dia é breve e o sol alude à explosão de átomos,
tão bela a coisa que devasta sem se deitar com a noite nos olhos do assassino.

"Os poetas odeiam o ódio e fazem guerra à guerra."

Etiquetas:

5 Comments:

Blogger Nina said...

Forte, mas muito lindo...

=]

terça-feira, maio 02, 2006 3:24:00 da manhã  
Blogger Davi Reis said...

Obrigado, Nina. Quem me dera escrever um poema que mudasse o mundo... mas não seria este.

Um beijinho atlântico

=]

terça-feira, maio 02, 2006 11:03:00 da manhã  
Blogger RS said...

Odiar o ódio e guerrear a guerra...
Por isso se consomem por dentro, os poetas. Resta a esperança de que o sonho, e não o pesadelo, comande a vida...

Até breve,
RS

terça-feira, maio 02, 2006 12:58:00 da tarde  
Blogger Davi Reis said...

A frase é, como saberás, Rui, de Pablo Neruda, um dos maiores poetas de sempre. Para pesadelo já chega a real(idade) polítika.

terça-feira, maio 02, 2006 4:52:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Very pretty site! Keep working. thnx!
»

sábado, julho 22, 2006 6:26:00 da tarde  

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