quinta-feira, julho 20, 2006

Estrelas Carentes

Rasante ao abismo marejado de sonhos abertos estou
pela noite que as estrelas tem, a teu lado nu.
Mais alta noite que as estrelas creio
por provento de dias memoráveis
que guardo saudosos de não sei quê,
vindos não sei donde, dolentes não sei porquê,
que nem campos em flor,
no céu refulgindo as estrelas,
que nem assim me parecem tão belas
quanto ali, rasante ao abismo, nua, o meu amor,
que me tem cativo
num gesto íntimo
em que me reavivo
e subo à tona do sono indolente.
Sob a pista cósmica de um deus maior,
um mundo composto de mudança;
mudados os tempos e as vontades;
o ser e a confiança,
mas são minhas as tuas qualidades,
tenhas tu pé bem firme em leve dança,
que restam do mal mágoas na lembrança
e do bem as saudades.
Dizia pois Camões, supremo poeta a quem roubo palavras,
segundo o céu lhe tinha mostrado
no seu buscar de ventura,
que os bons sempre vira passar no mundo tormentos,
e para mais se espantar,
os maus sempre vira nadar
em mares de contentamentos.
Alimentou de astros o magnífico Camões
pensamentos admiráveis e ilusões,
elevado ao deslumbrante firmamento,
encontrada estrela-guia
que despoletasse fantasia
e quimeras pairantes vindas com o vento,
que a pele naquele anoitecido abismo estiolado acaricia.
São estrelas carentes as que pedem desejos,
e brilham, longínquas, sem iluminar;
tão belas sem se poderem alcançar,
ténues esperanças, volúveis ensejos.

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