terça-feira, setembro 12, 2006

Cheirava a café

Cheirava a café.
O cloro azulando a inquietação do ar.
Uma leve brisa divagava tempos convulsos
E um grito alarmante e nervoso, à minha direita:
“A III Guerra Mundial! Começou!”
Comoção. Incredulidade. Fragilidade.
Trementes as pernas, caminhando para casa,
Para dentro do ecrã – para dentro de um pesadelo.
Acendera-se uma vela em Nova Iorque sequaz,
E, em minutos, o segundo círio era ateado
Para o grande festim.
As duas torres, implodidas em segundos,
Caíam livremente sem resistência.
Então afastei-me, bebi o café,
Olhei para a piscina e vi inoportunidade.
O café, no entanto, não me pareceu descabido,
Ou o cigarro despropositado.
Olhei a piscina e não evitei um esgar desenganado.
Voltei para dentro com azedume.
Uma oração silenciosa.

Abro os olhos, engulo em seco
Um travo acre e desconfiado.
Concentro-me no ecrã,
Na forma como me vão tentar enganar.
As férias perderam o sentido;
O Algarve, acinzentado e entristecido,
Como o mundo em convulsão.

Reminiscência de 11/9 de 2001

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1 Comments:

Blogger RS said...

Não se apaguem as memórias...

Um abraço,
RS

terça-feira, setembro 12, 2006 5:22:00 da tarde  

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