segunda-feira, novembro 06, 2006

O espasmódico pianista de Cowper

Como as gaivotas se despenham no mar,
o amor não se diz; faz-se.
Umas vezes cremos que nos amam;
provamos com o pé o oceano,
entramos, e saímos de uma mulher
- uma mulher aqui, terrivelmente ausente.
Outras vezes queremos que nos amem
dentro de um corpo onde dura o Universo,
num breve instante que desacredite a morte.
Há sempre uma verdade em cada mentira,
mas o coração não engana
quando as mãos sobrevoam um piano,
o atacam, orgástico, sem misericórdia,
e atingem toda a plateia, deixando um rasto
de pele arrepiada à passagem do cometa com cauda.

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