terça-feira, janeiro 30, 2007

Muda

A voz muda... o corpo...
muda a voz... muda de vida.
Muda a casa - não mudes o amor.
A voz é muda... o corpo é duro;
mudaste a roupa e molhaste tudo.
Mudaste a casa e fizeste seguro.
Chegou a conta e tu, mudo,
viveste para pagá-la, e mudaste,
deixaste definitivamente de ser
o que sonhaste viver... para viver.
Mudaste de rumo - perdeste-te
e encontraste um homem assustado,
com medo do futuro.
E fizeste o que estava ao teu alcance
quando perdeste a auto-estrada num relance
- quase te estampavas no rail do lanço
da estrada para o arrepio do passado.
Fizeste tudo, foste pelo seguro
e ficaste mudo vendo o futuro num segundo.
Mudaste mudando e lamentas o que podia ter sido,
porque te fizeste teu escravo
na elegia viciosa contemplativa das quase-vitórias,
dos remates ao poste, das maiores glórias
que mudaram o destino do mundo
entre o meridiano imaginário perpendicular
ao teu real umbigo equatorial mudo e surdo.
Tu és o mundo e não mudaste o mundo
no tempo de vida que dizes ainda curto.
Já escavaram uma ruga nos teus olhos,
por onde vertem todas as lágrimas fatais e trágicas
da tua desgraça, do teu episódico fado.
Dás por ti a escrever para ti mesmo,
sabendo que uma manhã entrará pela tua casa
o sol revigorante e tranquilizador.
A vida copia a ficção.
Muda, muda, muda!

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