Do(r)mingo
Enquanto dormia perdi as ruas desertas.
Nenhum problema ou incerteza.
Levantam-se cedo as velhas
e uma minoria de jovens saúda a manhã
em corridinhas junto ao Tejo.
De relance, restam nas fotos japonesas
de turistas madrugadores
sem saber que serão dados a ver
a netos e netas de olhos puxados
em todos os domingos nascentes.
Esbate-se a pressa e o sol brilha
aquietando ombreiras e varandas
onde os pombos parecem tirar férias
da azáfama dos dias úteis.
Nem o ruído dos carros, mais brandos,
contraria as passeatas serenas
de quem estranha a buzina irritada
em dia proibido à neurose urbana.
Os nipónicos tiram, à distância, mais fotos
sem interromper a apatia dos pescadores,
lembrando a reverência e os preceitos
ancestrais para com estranhos.
Abraçados, chegam casais a Belém,
namoros recentes que buscam o leitmotiv
descarado de um banco de jardim,
para beijar sem constrangimento público.
Chegam filhos e pais com bolas de futebol.
Por aselhice visivelmente hereditária,
um puto de boné do Benfica chuta torto
e o esférico aloja-se debaixo do banco,
onde o pai se constrange ir buscá-lo
sem olhar para as pernas da moça.
Ao domingo ainda fecham as lojas,
vai-se à bola, à missa e ao lar de idosos;
carrega-se o peso da consciência e,
ao final do dia, reacende-se a luz branca
do interior clínico frigorífico e sagrado,
entre o peito e o estômago.
Dança nervosamente a mulher-ânsia,
agitada pelo tiquetaque metronómico
e decrescente, aproximando-se a ceia,
os "Gatos" e o "Conta-me Como Foi",
fazendo esquecer por momentos
o frustrante "game over" sem bónus
de um programa de humor
que até nem tem graça nenhuma,
o mesmo não dizendo da série.
Ao domingo docemente dormia,
tão cansado e desencontrado
que nem um beijo me estremecia.
Nenhum problema ou incerteza.
Levantam-se cedo as velhas
e uma minoria de jovens saúda a manhã
em corridinhas junto ao Tejo.
De relance, restam nas fotos japonesas
de turistas madrugadores
sem saber que serão dados a ver
a netos e netas de olhos puxados
em todos os domingos nascentes.
Esbate-se a pressa e o sol brilha
aquietando ombreiras e varandas
onde os pombos parecem tirar férias
da azáfama dos dias úteis.
Nem o ruído dos carros, mais brandos,
contraria as passeatas serenas
de quem estranha a buzina irritada
em dia proibido à neurose urbana.
Os nipónicos tiram, à distância, mais fotos
sem interromper a apatia dos pescadores,
lembrando a reverência e os preceitos
ancestrais para com estranhos.
Abraçados, chegam casais a Belém,
namoros recentes que buscam o leitmotiv
descarado de um banco de jardim,
para beijar sem constrangimento público.
Chegam filhos e pais com bolas de futebol.
Por aselhice visivelmente hereditária,
um puto de boné do Benfica chuta torto
e o esférico aloja-se debaixo do banco,
onde o pai se constrange ir buscá-lo
sem olhar para as pernas da moça.
Ao domingo ainda fecham as lojas,
vai-se à bola, à missa e ao lar de idosos;
carrega-se o peso da consciência e,
ao final do dia, reacende-se a luz branca
do interior clínico frigorífico e sagrado,
entre o peito e o estômago.
Dança nervosamente a mulher-ânsia,
agitada pelo tiquetaque metronómico
e decrescente, aproximando-se a ceia,
os "Gatos" e o "Conta-me Como Foi",
fazendo esquecer por momentos
o frustrante "game over" sem bónus
de um programa de humor
que até nem tem graça nenhuma,
o mesmo não dizendo da série.
Ao domingo docemente dormia,
tão cansado e desencontrado
que nem um beijo me estremecia.
Etiquetas: Poesia Cordiana
2 Comments:
da melhor. como vem sendo hábito.
beijos.
________________.
Mais uma vez obrigado, Isabel.
Um beijinho
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