terça-feira, setembro 30, 2008

Se Eu Morrer Antes

Sinto-me grudado ao tecto com ventosas
de cientista louco cola-tudo
e não me despego,
faço do tempo que tenho pouco
quando só queria liberdade,
olhar perdidamente o infinito
e esquecer que o amor está em crise,
que a sociedade está em crise,
que o trabalho está em crise,
que a vida é uma brisa tão escassa
entre a A5 e o IC19
em hora de ponta.
Sinto-me flutuar agrilhoado
sem chegar com o nariz à tona,
junto ao lodo de um coração raso
onde vivi ausente
numa casa tão ampla
como um palácio de 400 euros
numa cidade provinciana.
É uma casa transparente aquela
onde no ar suspenderás os quadros
de um Neruda atlântico
cujo palácio se fez castelo
de areia.
Observarás as molduras do meu Adeus
como se visses areia feita água,
lembrando que ambas escorreram
por entre os teus dedos
de clepsidras e ampulhetas,
assinalando apenas o horário de expediente.
Se eu morrer antes, sobrevive-me.
Quanto tempo ainda nos resta?

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6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

certamente não seria a tua intenção caro amigo...mas fizeste-me chorar..

talvez seja a dureza dos dias que me tolda um pouco os olhos e a mente..

mas sem duvida alguma estas são das mais profundas palavras que já te li

terça-feira, setembro 30, 2008 9:17:00 da tarde  
Blogger Davi Reis said...

Concordo, meu querido. Mas olha, acabámos agora de falar ao telefone e estava tudo bem.

:)

Aquele abraço (que até te esqueceste de grafar) para ti e para o Rui Martins (só ele saberá porquê...)

terça-feira, setembro 30, 2008 9:48:00 da tarde  
Blogger Ricardo said...

muito... muito bom!
Aquele abraço mano.

quarta-feira, outubro 01, 2008 9:34:00 da manhã  
Blogger Davi Reis said...

Aquele abraço, mano.

(tenho novidades... estava difícil a font...)

quarta-feira, outubro 01, 2008 2:51:00 da tarde  
Blogger Mimi Roma said...

Li, reli e voltei a ler...
Excelente.
bjo

quarta-feira, outubro 01, 2008 9:21:00 da tarde  
Blogger Davi Reis said...

Obrigado, PH...

Beijinhos

quinta-feira, outubro 02, 2008 3:02:00 da tarde  

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