terça-feira, abril 14, 2009

Desvio

O homem ama porque o amaram;
ama como o amaram.
Do mesmo modo, escreve sobre o que conhece;
inspira-se no que lê.
Assim, inscrevam-se escapes e catalisadores;
pára-choques e amortecedores;
carros de todas as cores
- ecológicos e verdes motores!
Elogiemos os esforços dos grandes senhores
da indústria-mor dos mecânicos lavores,
de terra e mar novos amigos,
por na sua imensa fúria e fragor
serem agora verdes os intentos,
como se verdes fossem os plúmbeos campos
de venenosos vapores outrora romanos,
bebidos à loucura de chumbos antigos
dos ventos apenas menos inimigos.
Falemos da crise pela manhã,
entrados na pastelaria.

- E a sua crise? Está boazinha?
- Ah!, vaissandando com o pão de cada dia.
Já estamos habituados, não é assim?
- Sempre vivemos em crise, é verdade,
e a sociedade tem de ser protegida...
- Contra os malefícios da individualidade?!
Essa é boa; é de uma música!
Os espanhóis é que a têm bonita!

E, nisto, uns são acessórios; outros sobressalentes,
e não há quem lamente sem nozes ter dentes;
não há quem queira que sejamos nós os portugueses...
Entretanto, inscrevam-se monitores e microfones;
controladores e amplificadores, motorizadas, bambolinas!;
cortinas de veludo vermelho, cicloramas e Xspots;
hazers, torres, e as cortinas abertas à alemã ou à grega,
fazendo lembrar meninas ladinas à boca de cena.

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