segunda-feira, dezembro 07, 2009

Voo de Cisne

Sem um poema, que te diria eu?
O que diria perante um mar sem praias
de mil beijos em mil línguas
no dialecto táctil dos nossos corpos?
Que poema serve uma Cleópatra
banhada na imersão do meu sonho quente?
Que alfinete encontrarás na lapela do meu peito
alfinetado de saudade para sempre?
Voamos os dois para destinos capitais
sobre uma pousada ibérica em que nos desencontramos.
Desta pequena janela imagino-te triste,
acima de campos de algodão
que o Sol tece em nós deuses,
incapazes de fazer das próprias lágrimas riso.
Que pajem sou eu, que nada te dei?
Que poema equipara a tua bondade,
a desarmar-me com ternura e decência?
"Estou tão cansado; não preguei olho."
O Sol entrou-me pela janela assim que levantei voo
e nunca saíste do meu pensamento.
O leopardo fez-se gatinho que aninhaste ao colo,
depois de arranhado teu sangue doce.
Foi novamente numa encruzilhada
que larguei ternamente a tua mão
- a encruzilhada do Rei, para uma rua de Liverpool londrina.
E eu voltava a cantar-te baixinho:
"Estou tão cansado; não preguei olho."
Sinto-me o português marroquino da Tajina,
que antes fosse para Madrid agora
ou contigo para a Índia.
Estou quase a aterrar.
Ampara a minha cabeça e canta-me:
"I'm so tired; I haven't slept a wink"...


Ar, 7 de Dezembro de 2009. Chegada: 11h35

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