sábado, outubro 10, 2015

Dois para o Tango

Eis que mais um Outono cresce a prumo
sobre o segredo que em ti tentei em vão desvendar.
Eu num sono preto e branco, cinzento profundo,
e tu, que cedo sais ao sol e sorris como quem soubesse amar.

Não consigo fingir, mas também "fingir é amar".
Falho.

Ontem amaste-me; hoje e amanhã odeias-me.
Não chegaste a ser por um dia inteiro.
Hoje passas, embalas zelosa este mal-estar
e vertes fel do teu fatal seio
genético, psicótico, controlador,
cheio, neurótico e imperfeito,
e não o consegues evitar.
Não podes.

Já não somos os mesmos de ontem?
Não somos os mesmos de há minutos?
- afinal o que são minutos?,
se até o tempo moldas
em função dos argumentos.
Que é das juras de amor? Sonhei?
Precisarás de falsear a sinceridade?

A irascibilidade não é traço dos astutos.
"Odeio a vida por amor a ela."
Será possível salvar um amor
que já nem se diz, muito além de fazer-se?

Recorda-te.

Quando nos amávamos.
Aconteceu?

Aquilo que fomos, o que somos,
forma apenas um esboço vago
no qual andamos perdidos,
desolados?,
incapazes de fazer presente?

E se as nossas vidas chegarem a ser longas,
demasiado longas?
Suportaremos o desgosto?

Abraça-me e fá-lo Verdade.
Ou abraça-me de volta.
Faz-nos Verdade.

Ou não.
Mas que isso não te dê prazer.

Poema escrito três anos após a data de publicação. 
Escrito, portanto, a 10 de Outubro de 2018.

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