domingo, março 27, 2005

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Sou poeta dos quatro cantos.
Falo em nome de toda a espécie, meus irmãos.
Sou pretensão e me conhecem índios e pagãos.
Sou poeta dos quatro cantos;
a todos pertenço, todos mo devem.
Sou mestre de invenções descobertas,
o saturar dos tradicionais chavões.
Sou o poeta maravilhoso,
em todo o tempo do impregnado ócio;
sonolência diurna, indolência obtusa,
mancebo do capitão, que grita, abertos pulmões,
a terra nunca antes vista!
Eis a sapiência de concretizar ilusões.
Oásis, fronteira do milagre;
utopia, a razão das razões...
Somos pares incontestáveis
num qualquer mar de electrões.
Somos mais do que medidas as dimensões:
Depois do corpo, sensações!
Sou o poeta dos quatro cantos...
procuro o imo dos corações...
Chamou-lhe o poeta certa vez corações
por ter no peito uma acidez,
ora cáustica vontade,
para o bem ou a maldade.
Sou o tal poeta fantástico,
no silêncio protestando em previsão,
juntando ao código escolástico
a primazia do saber de geração;
fazendo versos de plástico,
pondo em formas a sensação.
Sou o poeta maravilhoso,
o mensageiro da luz,
um sujeito perigoso
pelo poder do que seduz.
O meu sonho foi fantasia,
a que me dei mais que ao corpo;
o meu corpo é a agonia
que não transparece o meu desgosto.
Sou o poeta perfeito
e não gosto do leitor,
pois crítico, terá despeito,
por eu dizer que sou melhor.
Por isso, eu sou o poeta exclamativo!
A questão metafísica,
a resposta interrogativa,
a ciência última e lírica.
Para que além de louco,
se relativize a minha palavra,
farei das palavras pouco
do que na verdade me vai na alma.

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