quinta-feira, abril 28, 2005

terça-feira, abril 26, 2005

NOTA EXPLICATIVA 1 - Lohengrin, Livro Primeiro

Lohengrin:
27 poemas escritos ao longo de dois meses num período particular problemático mas simultaneamente libertador; um renascer traduzido em ponto de viragem.
A música é uma influência se não estilística, criativa. No entanto, nenhum destes textos foi escrito com a intenção de ser musicado. Facto: Em muitos momentos a música acompanhou a escrita. Por vezes deu-lhe pistas, incitou palavras, sons silentes... outras, foi o seu pano de fundo, não menos que uma noite estrelada e profunda, também.
Não pretendendo restringir ou moderar a multiplicidade interpretativa, Lohengrin decorre, inevitavelmente(?!), de uma história de amor, estando vincadas no 3.º poema as características de um primeiro encontro que, coloquemo-lo apenas de forma hipotética, poria fim a um longo relacionamento amoroso anterior. O último poema espelha a desilusão decursiva e assume, em si, a responsabilidade de “fechar o livro”. Sem temática una, Lohengrin reporta-se a uma fase fulcral concreta, complexa e decisiva da vida de Davi Reis.

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Sound Of Silence (Paul Simon)

Hello darkness, my old friend,
I've come to talk with you again,
Because a vision softly creeping,
Left its seeds while I was sleeping,
And the vision that was planted in my brain
Still remains
Within the sound of silence.

In restless dreams I walked alone
Narrow streets of cobblestone,
'Neath the halo of a street lamp,
I turned my collar to the cold and damp
When my eyes were stabbed by the flash of a neon light
That split the night
And touched the sound of silence.

And in the naked light I saw
Ten thousand people, maybe more.
People talking without speaking,
People hearing without listening,
People writing songs that voices never share
And no one dare
Disturb the sound of silence.

"Fools" said I, "You do not know
Silence like a cancer grows.
Hear my words that I might teach you,
Take my arms that I might reach you."
But my words like silent raindrops fell,
And echoed
In the wells of silence

And the people bowed and prayed
To the neon god they made.
And the sign flashed out its warning,
In the words that it was forming.
And the sign said, "The words of the prophets are written on the subway walls
And tenement halls."
And whisper'd in the sounds of silence.


- Paul Simon - "Wednesday Morning 3 A.M.", 1964

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LOHENGRIN - Fecho do Livro Primeiro

27

(Dou por finda a nova escrita.
Deixo-te a mexer nos teus cabelos.
Estou na terra batida a dilatar ao sol.
Sou a mola que te prendeu o cabelo
entre duas pedras e muita poeira.)

Só me faço em passatempo,
invertendo o que é constante,
como um perpétuo movimento,
do guitarrista, a mão cantante.
Daqui já nada se espreme,
mas do sumo a casca fica;
o retorno à terra não teme,
e morrendo, morre renascida.
Sou um segredo de alquimia,
entregue curioso do acaso;
provocarei efervescência,
se me deres o teu abraço.
Salvé tempo, passa vivo,
corre estreito, a direito;
labirinto, sou passivo,
empurrado sempre a eito.
Salvé tempo, salvé estrada,
corro lenta a caminhada,
depois de o prazer ter deixado,
em troca, perfeição transfigurada.
Breve, sem retorno, um passado;
no mar, uma jangada.
A mensagem, esta, na garrafa atirada.
Conclusão de um naufrágio,
descoberta a maresia,
enjoo de saber não ser marinheiro;
não concluída profecia.
Sou o restante, sou o náufrago,
sou o cão atropelado;
sou o contra e o análogo,
sou um príncipe desfigurado,
outrora belo e encantado.
Nobreza humilhada,
vestido de noiva espezinhado;
arroz de pólvora em forma de aura;
um pobre homem, rico outrora.
Sou o ícone do desuso,
a espada embainhada,
um museu e eu recluso
na partida e na chegada.
Sou o excesso aproveitado,
resto da mesa borda fora;
prato, migalha, cozinhado,
refeição fora de hora.
Sou apenas o caroço,
e mesmo isso mais não seja.
Trago-te presa, espinha ao pescoço,
de já ter sido a cereja.

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segunda-feira, abril 25, 2005

Posted by Hello
O Canto Celestial do Cisne

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26

Tenho as orelhas escaldantes!,
fluídos internos frios e escarlates.
Traquinices de criança impura,
criancices de púbere obscura.
Tenho tranças escondidas nas mangas;
colarinho apertado para estas danças;
sapatos escolhidos a dedo,
e a planta do pé até da sola tem medo.

Falem de mim!
Bem ou mal, importa que falem mesmo assim.

Tenho as pernas dormentes,
pigarreio agora como um final de emissão.
Mosquitos, insectos, todas as criaturas dementes
e que, como nós, apenas são como são.
Tenho um copo vazio
e tu um corpo são farto de vácuo.
Tenho as orelhas escaldantes,
final de emissão, as pernas dormentes.

Falem de mim!
Bem ou mal, importa que falem mesmo assim.

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sábado, abril 23, 2005

25

Quero pensar não soprar em esquecimento,
não esquecer com a pena do tempo,
escrever eternos romances em preia-mar,
trazer a minha lavra com dentes de rasgar.
Escrevia-te um poema mágico,
algo próprio do imaginário...
Olhavas-me com o teu olhar por vezes estrábico,
e o teu peito como um berçário.
Fome, terrível fome, dolorosa mágoa...
sacio-me com amor de pão e água.
Faço-me inesquecido presente,
ao esticar-me a mão na beira do precipício,
e no momento em que uma mão a outra sente,
dão-se as duas ao sacrifício.
Mais que minha irmã de sangue, querido incesto,
maçã que escolho e lavo ao tirar do cesto.
Minha aprendiz transfigurada, senhora da sua vontade,
foi minha a tua morada, teu corpo minha cidade.

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sexta-feira, abril 22, 2005

24

Ela chora se necessário uma noite inteira.
Está cansada e cansada desta vida,
como do livro empoeirado que há meses se cansa na cabeceira,
e a raiva, que se molha numa lágrima contida.
De manhã, contorce o rosto.
Diz a si mesma que a noite acabou.
Diz que quem se dá não tem de o fazer com gosto
e nunca pede desculpa a quem por a amar a culpou.
Disse-me outro dia com o olhar
o que a boca não dizia,
e quase sem querer me disse
tudo o que havia para dizer.

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23 - A. de C. -

Pego na batuta...
Comando o código das palavras para me sacramentar novamente.
Uma confissão hedionda...
Um banco, o coreto, um polícia distraído ao telemóvel, um casal de... italianos? Portugueses?
As vozes do outro lado do jardim, e o vagabundo de t-shirt vermelha, perdido na vida, na droga. A droga, a droga!
Estou vazio; suspiro de brando, solúvel vazio.
Coisa nascida, triste entre nada.
Um pássaro na mão, dois a voar!
Entre dois extremos é onde me vão encontrar.
Ninguém me pode suster, ninguém me pode ajudar!
Sinto a feição declinada, minha reflexão turva.
Estou frio como um vão de escada;
Sou expressão vaga; resvalava nas tuas curvas
e agora tenteio nada.
Estou preparado para nascer ou morrer.
Este estado não existe, e para onde for agora,
irei como pela primeira vez.
E o melhor será deixar-me morrer, ir,
nascer como nas primeiras vezes.
As palavras, deixo-as como papelinhos de rebuçados pelo caminho...
mas hei-de ser sempre eu a lá chegar pela primeira vez,
e só; desterrado e sozinho.
É por isso que deixo os papelinhos, os indícios,
para que toda a tristeza seja vencida e aprisionada nestas palavras.
E Eternamente! Em todas as primeiras vezes, em todos os princípios!
Agora, estou de novo triste pela primeira vez.

(Cp. Sant'Ana)

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quinta-feira, abril 21, 2005

22

Estou só. Se tu não me beijares,
digo que me beijam os ventos.
Tão só, que se fosse órfão,
diria da minha mãe uma cegonha.
Tão triste e pensativo, tão obsoleto,
que faço ocupação dos meus pensamentos.
Tão pequeno, transfiguro,
sublimo aquilo que é vergonha.
Tão modesto que não me atrevo
a dizer-te como te amo.
Tão sincero que não me estrago
com lamúrias.
Tão destemido que prefiro assumir-me
como o insano – espero,
não deixe, por fim,
minh’alma na penúria.
Estou só, no meio da multidão.

(Domingo, Torel e gaitas-de-foles)

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quarta-feira, abril 20, 2005

21

Que acontece àquele perdido em si próprio, despedindo-se, salvando a face do mundo, do universo, de todo o todo da lua, negra e branca, demente e incólume? Será Tudo ocidental; Nada oriental. Poesia e altos-relevos silentes porém nos libertam do Tempo e do Espaço... a imortalidade sem taxas nem suspensões percentuais. Pois sejamos os próximos animais! Que não se veja luz nem se saiba porquê de tanto perguntar.
Venho numa dança desconcertada e lanço uma lata de tinta, esborratada. A tinta artista e o artista, pintor, o inconsequente mensageiro da cor. Ultrapassar! Venerável ingente montanha porque não da tua dimensão; que dimensão não pensa a montanha, nem o homem que a escalou, em tributo de incompreensão. Exultar! Mais pleno e verdadeiro, real exultar pelo nascer de uma certeza, novo dia! Da criação o amor transborda, dias a fio, na incessante transcrição da vida possível, amiúde longínqua daquela imaginada.
Abotoo-me à volta da gravata que me serve de cinto, ou me prende o cabelo. É esta noite, aqui, que tudo acontece. E sem vociferar doutrina ou exortação, é agora! Agora! Que a todo o vapor o comboio galga, confiante... os progressos técnicos... e uma sangrenta noite algures e nenhures. Uma fotografia do arco-íris. Detiveste-o nas mãos! Falaste do contraste e não sabias que cores vêem os cães. Falaste da vida e colocaste-te acima das estrelas apenas para viajar numa circunferência que te traria de volta, boomerang! Lágrima, que mistério. Amor, que sacrilégio - pois a todos como a um só.

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