sexta-feira, abril 15, 2005

16

Sou o personagem viciante dum filme,
sou aquele que morre na praia.
Por isso sacode-me, empurra-me,
esfaqueia-me e contorce-a,
à faca de lâmina dupla
que tão bem manejas.
Empurra-me distraidamente do precipício
só para me ver bambolear,
e a seguir,
pendura-me no meio da sala de estar,
para treinares o soco no meu vazio pesar.
Descasca-me a leste com um machado
e verás surgir imagens de deuses.
Afasta-me com um franzir de desprezo
e cospe-me em cima mais 489 vezes.
Ata-me ao poleiro dos ratos
e não me dês comida,
nem penses nisso,
que fico sem dedos.
Morro, definho mesmo assim,
se não me vieres visitar...
Ah! Queria berrar!
Tenho uma corrente fria cá por dentro
e nem sei que mal entendido
provoca tão doído sofrimento, este nó em que me prendo
e que se quer volatilizar em nenhum sentido!
Matem-me!, quem me quer matar?
Venham, o primeiro será o último!
Ah! O primeiro será o único!
Matem-me! Devolvam-me.
Tu particularmente!
Faz-me ter de nascer de novo.
Força! Soca-me com mais força ainda,
suja-te do meu sangue e aproveita-te de mim,
outra vez... gatinho aos teus pés.
Mas tu sabes que tenho poderes de leão
e que a minha boca é uma gruta
onde te aninhas e acendes uma vela.
Mas diverte-te enquanto me matas,
acaso isso te dê prazer.
(se levanto a pata rasgo-te sem querer)

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