quinta-feira, abril 21, 2005

22

Estou só. Se tu não me beijares,
digo que me beijam os ventos.
Tão só, que se fosse órfão,
diria da minha mãe uma cegonha.
Tão triste e pensativo, tão obsoleto,
que faço ocupação dos meus pensamentos.
Tão pequeno, transfiguro,
sublimo aquilo que é vergonha.
Tão modesto que não me atrevo
a dizer-te como te amo.
Tão sincero que não me estrago
com lamúrias.
Tão destemido que prefiro assumir-me
como o insano – espero,
não deixe, por fim,
minh’alma na penúria.
Estou só, no meio da multidão.

(Domingo, Torel e gaitas-de-foles)

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