terça-feira, maio 10, 2005

Estou em Dor

Sintoma de doença, tortura.
Inércia que me cansa, amarga doçura...
O sol que ao se pôr me descobre;
a cama que me deita e me soçobra.
Sou tua escuridão cansada e ainda inquieta.
Me camufla e protege na penumbra,
me ensombra e me soletra,
me espreita, do cimo da placa que se encontra na viela.
Sintoma de carência, quase loucura,
esta forma de indecência, amarga doçura...
Teu corpo que se ergue e que eu conheço como nenhum outro,
instante fugaz...
Sou porto que alberga barcaças fatigadas, empurradas a eito por
incertas marés.
Sintoma de demência, mais que loucura,
sobressalto em que me deixas...
Sou poesia, serei todo brandura,
serei todo saudável indecência
em noites passadas que na memória me deixas;
em noites que virão depois de uma noite futura.
Ah! Sintoma de uma vã esperança
de que tu ainda sejas a cura;
que tu ainda sejas a lança
que no meu peito aberto perdura.
Sintoma de doença, loucura,
sobressalto em que me deixas, amarga doçura.

n.b. - Dedico este poema a quem sabe que se lhe destina. Mas não posso deixar de recordar a célebre frase do Bill, "Estou em dor", depois de cair do skate, traduzindo à letra o sentimento imediato de sofrimento, da sua língua nativa para português.
Outra ressalva faço, e esta muy importante: De entre a inspiração patológica e a decorrente dos frémitos platónicos, houve ainda outra origem: Um dos meus irmãos - Tomás -, que escreveu uma música intitulada também "Estou em Dor". Faço-lhe justiça pelo uso do título e envio-lhe da blogosfera um abraço fraterno.

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