quarta-feira, maio 11, 2005

Uma Vez um Viajante

E além, quem lá vem?,
pela estrada segura, um viajante,
não mais que um homem
talvez destinado, ou talvez à procura,
num passo arrastado, cansado, errante.
Um homem igual, temerário,
segue rumo Norte por estrada segura.
O homem, um viajante,
com destino traçado, passada errante.
Seja o homem passado,
apenas corpo presente;
seja o homem silente,
a fímbria vazante.
De onde vem o viajante?,
que passa tão perto,
no entanto, distante?
Quem será este homem vazio?,
como tanta outra gente,
lançando o anzol ao rio?
Quem será o passageiro ausente,
esperando o destino que dita o tempo,
vagando paciente.
Este homem e esta gente
que passa a vida dormente,
silenciando o corpo,
mas pior, o coração e a mente.
Esta gente que passa
pela estrada segura
e que nunca me abraça,
nunca perdura...
Só há uma vidraça
por onde espreito de fora
e vejo a gente que passa,
e sinto o peso do tempo,
o corpo cansado,
e só tenho agora.
Amanhã levantou-se tarde
o que podes fazer hoje.
E além, quem lá vem?
Um viajante sem emprego,
por entre seus dedos se escapa, foge
o destino ideal, o amor cego,
a areia da ampulheta que ruge
o tempo que falta
no toque fugitivo
do homem sem emprego
que o olhar assalta
apenas o chão, pensativo.
Assim, o viajante passa
pela estrada segura.
Eu espreito pela vidraça,
que sei, um dia será quebrada
pela bola de uma criança
numa vida futura.
Resolvi não sair da carapaça.
O viajante passou consigo próprio.
O tempo passa...
e ele mais distante.
Não discutimos doença
nem procurámos a cura,
e ele, lá longe,
talvez destinado, ou talvez à procura,
um viajante, sem escolha, pela estrada segura,
como eu, um homem!, não mais,
paciente como fruta madura.
Além, quem lá vai?

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