quinta-feira, junho 30, 2005

Anamnésias 2

Lisboa. Cais das Colunas.
No instante em que a trajectória do velho cacilheiro alinhara o triunfante e augusto arco na protegida retaguarda da estátua de D. José I - qual Gulliver entre Lilliputianos -, sobre o rei se pôde ler: “Virtutibus Maiorum”. Vi a azáfama desvirtuada dos pequenos e mortais seres que aos pés de reis se prostraram e que a cidade edificam. Penetram e coloram-na, tal como a luz única que banha e preenche o amontoado de casas, estendido até não mais se ver; até, altaneiro, à minha direita, ao Castelo de S. Jorge, bastião dos resistentes. Ruínas do Carmo, quase vos vejo despontar à minha esquerda. Está frio e um cheiro desagradável é exalado da margem do rio. O movimento das águas embala a perspectiva desconcertante do estrépito ainda próximo dos veículos terrestres; uma acalmia inquietante, de onde estou, pelo que vejo, em mim se instala.

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