sexta-feira, abril 17, 2020

#estatudobem em 2040

O convite, em jeito de desafio, do Mestre António Simões encheu-me de felicidade, mas também de um sentido de grande responsabilidade. Por ser vindo de quem vem e de onde vem, e ainda pelo momento em que todos nos encontramos. Seria escusado dizer que me sinto extremamente honrado por se terem lembrado de mim. No entanto, tenho de ressalvar que este não é apenas um jornal - é o meu jornal do coração desde criança; o jornal com o qual aprendi a ler... jornais; o jornal no qual sonhei trabalhar um dia e no qual aprendi a fazer jornalismo diário, anos mais tarde. A foto é do meu querido Carlos Mateus de Lima e a não atribuição da autoria nesta página 13 deve-se inteiramente ao meu lamentável esquecimento.

Etiquetas: , , , , , , , , , , , , ,

segunda-feira, janeiro 20, 2020

Mensagem

«Lembra-te sempre de quem és, de onde vieste. Nunca deixes que te pisem, que mandem em ti ou que te digam que não consegues. Acredita e persegue os teus sonhos. Tem fé, seja no que for. Lembra-te de olhar para as estrelas; não para os teus pés. Nunca deixes de aprender e de trabalhar. O trabalho deve ser o que te dá prazer e o labor do teu sonho, do teu destino. Dá-te com os melhores e serás tão boa ou melhor do que eles. Se não tiveres alternativa à luta, faz por que te temam. Observa e discerne antes de agir. Se encontrares amor, cuida-o. Emprega sempre a grande virtude da paciência e não faças aos outros o que não gostas que te façam a ti, mas, sobretudo, sê fiel a ti própria. Tens estrelas a guiar o teu caminho - neste mundo e no outro. Mantém-te justa, leal, sincera, briosa, honesta e tudo virá. Persevera em ser boa; farás de todos melhores em teu redor. Ditarás o teu destino quando os teus actos estiverem em consonância com o teu pensamento; quando te recusares a rastejar se puderes voar. Mesmo que te aprisionem, serás sempre livre, sã e salva. O corpo é a prisão. Só há uma liberdade: a do pensamento… e da bondade. E não há liberdade sem desobediência.»

Para R.

Etiquetas: ,

quarta-feira, março 27, 2013

Oito anos de Caderno de Corda



Oito anos volvidos, o Caderno de Corda soma quase 1500 posts, mais de 110 mil visualizações de páginas e cerca de 60 mil visitantes oriundos dos cinco continentes. Os últimos três a quatro anos têm sido de publicação muito intermitente, mas nada que ponha em causa a continuidade de um espaço que se constituiu o meu quartel-general cibernético, onde deposito criações e algumas memórias.
Escrevia eu num post de 9 de Novembro de 2005 que "ao Caderno de Corda não interessa o individualismo opinativo, a recriação noticiosa, a política, os fait divers, o quotidiano esbatido e mastigado como pastilha elástica vezes sem conta, sem nutrir, enganando o estômago. Não interessa aquilo que já foi dito, a reposição da indignação dos outros nem a ruminagem desencontrada do primordial conhecimento: o de nós próprios". De facto, para isso os blogues já não servem há algum tempo, especialmente com a tomada de poder do Facebook, que transformou por completo o jogo.
Ainda assim, e não podendo vencê-los (ao Facebook, entenda-se), tornei pública ontem, dia 26 de Março, a página de FB do Caderno de Corda (clique no hipertexto e faça like) - um sítio a partir do qual poderei estabelecer novas pontes para este blogue, mas donde não se pretende, de modo algum, replicar conteúdos. A página de FB do Caderno de Corda não se quer desenvolvida, pretendendo ser antes um ponto de encontro e uma referência para o blogue nas redes sociais.
96 meses de existência blogosférica têm par em anos-luz de vida efectiva. Daqui já se publicaram dois livros de poesia e daqui já muitas canções originais inéditas foram apresentadas ao mundo. A conversão do factor tempo já foi até aventada por teóricos enredados em inutilidades várias, a jeito de se categorizar a cronologia como se faz quanto ao ano de César e seus respectivos sete anos caninos. Por isto, na pós-adolescência bloguística, o Caderno de Corda promete mais, embora não se saiba, para já, o quê, à excepção da publicação de uma canção que está quase pronta, chamada 'Mãe'. Obrigado a todos os leitores por serem, em última análise, a razão, se não dos escritos, da sua publicação.
 
Link para a página do Caderno de Corda no Facebook: http://www.facebook.com/CadernoDeCorda

Etiquetas: , , , , , ,

domingo, setembro 25, 2011

20 anos “still alive” e a contar - 'Pearl Jam Twenty' review





Seattle, final dos anos 80. Sob um espectro VHS granulado e sonoro, ‘Twenty’ abre com a formação de outra banda, os Mother Love Bone, que estava em ascensão na cidade – uma banda promissora com um frontman carismático (Andy Wood) cujas personalidade e voz fariam um bar às moscas parecer um estádio cheio em dia de concerto. No caldeirão que, para críticos, já continha a receita do sucesso, estavam também a fermentar o guitarrista Stone Gossard e o baixista Jeff Ament – a parceria que já havia criado o protótipo grunge (expressão que Stone evita proferir) Green River e que, após a morte de Andy Wood por overdose de heroína, viria a juntar os Pearl Jam.
Recuamos pois ao fenómeno de Seattle, aos cabelos compridos desgrenhados e às camisas de flanela, mas, antes de mais, ao surgimento de um rock melódico e eclético com espaço para o improviso, saído das garagens de uma cidade cinzenta e chuvosa onde os jovens encontravam guarida e, simultaneamente, davam vazão à sua energia criativa.
Com uma câmara na mão, Stone e Jeff, muito jovens e sem imaginarem o que lhes reservava o futuro, filmam a entrada de um clube underground de Seattle; um diálogo pacífico mas premonitório com a polícia e o encontro com a já celebridade da cena local, o vocalista Chris Cornell. Do sarcasmo pós-adolescente de Stone à natureza das relações pessoais da banda, tudo começa a perpassar nos primeiros minutos do filme, dedicado em boa parte ao período anterior a 2000, especialmente interessante não apenas pelo brotar do apelidado movimento grunge, mas também pela fase preliminar da vida da banda, desde logo conturbada, mas com muitas imagens inéditas, precisas e raras por mostrar ao mundo, sucedendo-se cenas de arquivo notáveis umas atrás das outras.
A morte de Andy Wood, vista pelos músicos como o pior momento da banda, transforma-se em homenagem sentida – a primeira de ‘Twenty’. Chris Cornell, então vocalista dos Soundgarden, considera-a mesmo “a morte da inocência” da cena de Seattle, anterior ao suicídio de Kurt Cobain, também homenageado pelos Pearl Jam, um pouco adiante. Num cenário onde tantas bandas memoráveis caíram em desgraça prematuramente, o realizador Cameron Crowe começa por mostrar que os Pearl Jam nasceram de uma tragédia (a morte de Andy Wood) e permanecem juntos há 20 anos.
Ao nosso lado no cinema, a assistir à ante-estreia, estava o guitarrista Zé Pedro, dos Xutos & Pontapés, que em 2002 foi mesmo à sala de ensaios, em Seattle, entrevistar os Pearl Jam. “Fiquei com uma Polaroid tirada pelo Eddie Vedder de nós os dois”, acrescenta, no final, o guitarrista português consagrado nos Xutos, experimentando pontos de amplificação e sentimentos próximos aos reflectidos no filme: “O incrível na história dos Pearl Jam e em bandas que duram muito tempo é a maneira como se dá a volta a situações más e a forma como viram as carreiras quando as coisas chegam a becos sem saída; é a capacidade de uma banda não se desmembrar e seguir em frente; mudar e saltar para outro nível. Isso e a sinceridade como falaram; a forma como se ligam aos fãs e respeitam os outros músicos - Kurt Cobain, Andy Wood, Neil Young ou The Who – foi o que mais me tocou. Esse respeito faz parte dos alicerces de uma banda de rock.” Para Zé Pedro, os Pearl Jam estão “no topo do ranking”, na certeza de que “bandas que aguentam tantas coisas más e sobrevivem tornam-se muito grandes”.
E começa a viagem emocional, após a morte de Andy, semanas antes de os Mother Love Bone lançarem o seu primeiro disco, ‘Apple’; o vazio deixado; a reunião de Stone com o guitarrista Mike McCready e a voz memorável que veio numa cassette de San Diego, Califórnia, a mais de dois mil quilómetros. Eddie Vedder entra então em cena a desfiar as primeiras memórias e as gravações feitas depois de um dia de surf. “Isto é um tipo real?”, questiona-se Mike, espantado com as maquetas enviadas por Eddie. De facto, na conferência de imprensa de apresentação do documentário, em Toronto, Cameron Crowe perguntou a Vedder o que tinha ele pensado no avião, a caminho de Seattle. "Pensei: estou num avião. Quem são estes gajos que têm dinheiro para um bilhete de avião? E depois pensei: não fodas isto. Tinha estado em algumas bandas e a música nunca soou a uma coisa real; era sempre derivada de outra coisa qualquer. Nunca tinha ouvido nada como a demo que eles me enviaram", respondeu Vedder.
Seguem-se imagens dos primeiros ensaios na cave onde nasce ‘Ten’ e, ao sexto dia de ensaios consecutivos após a chegada de Eddie, do primeiro concerto de originais. Clarifica-se a história da paternidade omissa de Eddie, que inspirou a canção ‘Release’, até que surge o parceiro de casa de Andy Wood, Chris Cornell, a propósito do disco de homenagem da superbanda Temple of the Dog, que reúne o que viria a ser a formação actual dos Pearl Jam com Cornell, incluindo, claro, o baterista Matt Cameron, então nos Soundgarden. Da relação inspiradora de Vedder e Cornell, que ajudou o primeiro a ganhar confiança; afirmar-se e perder a timidez demasiado autoconsciente que o caracteriza, chegamos ao nome Pearl Jam, após a recusa do basquetebolista Mookie Blaylock em emprestar o nome à banda, e ficamos a saber que o álbum ‘Ten’ deve o título ao número da camisola de Mookie.
Os Pearl Jam ascendem rapidamente de clubes para plateias de 60 mil pessoas. Assistimos ao espanto de Vedder nos bastidores e ao deslumbramento do público com o concerto no programa MTV Unplugged – um momento-chave para a banda. A influência determinante dos The Who para Eddie e a sensibilidade punk do grupo; os vídeos, os conceitos; o porquê e o como de ‘Jeremy’ e eis que chegamos à escalada de adrenalina de Vedder, pendurado a dez metros de altura sobre a multidão, à procura de rasgar um pouco mais a cortina do perigo, saltando sobre a morte, destemido, para surfar o público, no entanto com um ar messiânico e sereno que o fazia parecer estar acima das preocupações quotidianas do comum mortal.
Passando pelo filme ‘Singles’ e pela sua festa desastrosa ou por imagens do processo de construção de ‘Daughter’, ainda com letra improvisada, entre Vedder e Gossard, sentados à volta de uma mesa no interior de um autocarro da banda, Crowe explora, como verdadeiro discípulo, cada recanto da viagem que levou os Pearl Jam à fama mundial, à capa da revista Time (contra o desejo da banda) e aos tops das tabelas da Billboard ao longo dos anos ‘90.
O fenómeno grunge parecia, a certo ponto, dividir um reinado entre Pearl Jam e Nirvana sob o pano de fundo de um punhado de bandas espantosas oriundas da mesma cidade. A sugestão de Kurt Cobain de que os Pearl Jam eram demasiado mainstream feriu o grupo, mas o documentário rapidamente mostra Cobain a retirar os comentários desagradáveis, seguindo-se um dos pedaços de fita mais valiosos e humanos do filme: Vedder e Cobain dançam juntos um slow, alegremente, nos bastidores dos MTV Video Music Awards de 1992, enquanto Eric Clapton toca em palco ‘Tears in Heaven’.
Em 1994, Kurt Cobain suicida-se e a sua morte foi um dos factores que mais contribuiu para que os Pearl Jam cortassem com os media. Stone Gossard admite: "Ele fez-nos pensar em tudo o que fazíamos.” Do descontrolo dos fãs aos problemas que advieram do crescimento desmedido e da transformação de um movimento que cortava com a moda e com a máquina para se tornar exactamente naquilo que abominava, surge a pergunta de Eddie, que passou a resguardar-se também nas letras, levantando mesmo um muro à volta da sua casa, e não apenas pela privacidade: “Estas pessoas amam-te tanto que te querem matar. Como é que me relaciono com qualquer uma delas, do ponto onde estou?”
Vedder, que se tornara o membro mais reconhecível pelas multidões, gostava de ter uma banda sem rosto, como os Pink Floyd: “A maneira como as pessoas nos vêem muda, e isso não está nas minhas mãos. O que talvez esteja sob o meu controlo é não dar entrevistas, não aparecer na TV e não fazer nada que glofique o meu rosto ou posição.” Já Stone afirma que os cinco quiseram ser uma banda como os Led Zeppelin, versátil e inesperada, que não estivesse presa a um estilo ou género. Eddie e Stone, os dois principais autores da banda, capitanearam-na em momentos distintos. Segundo Mike, houve duas fases de poder e de criação: a primeira liderada por Stone e, agora, a segunda por Eddie.
Após o “namoro” com o guru Neil Young, tempo para o capítulo da batalha legal contra o monopólio da Ticketmaster, cujo desfecho levou uma geração de bandas a reconsiderar as formas de fazer negócio, concluído com o recado ‘This is Not For You’. A narrativa sustenta a ideia de uma banda no contínuo alcance de uma ética conscienciosa, procurando manter a honestidade e a integridade numa indústria que não facilita.
O filme prossegue com uma aproximação mais pessoal aos músicos, começando pelo desprendimento material de Stone quanto a artigos e objectos de memorabilia da banda, por oposição a Jeff, que guarda tudo o que respeita ao percurso dos Pearl Jam. Stone, que conhecia Mike desde o 7.º ano da escola, apareceu de novo para resgatar aquele guitarrista espiritual que canaliza pela guitarra ondas espasmódicas que elevam os espíritos da banda.
É depois contada em fast forward bem-humorado a saga dos cinco bateristas e o regresso à forma pré-inicial e ao predestinado para o cargo: Matt Cameron, que estivera no primeiro disco que os Pearl Jam gravaram, ‘Temple of the Dog’, com Chris Cornell, antes do sucesso e do álbum ‘Ten’.
Hoje pais de família e com uma dose de impulsividade mais controlada e responsável, os Pearl Jam vêem o álbum Binaural como o ponto mais baixo da banda, com a perda momentânea de algum mediatismo e sucesso comercial. Sucede-se a tragédia em Roskilde, Dinamarca, onde, num concerto da banda ao ar livre, morreram nove pessoas na frente do palco - uma experiência chocante que os levou a ponderar o término da carreira. “Há um antes e um depois de Roskilde. O que vamos fazer para ajudar as famílias? O que fazemos para sobreviver?”, pergunta Eddie. Os temas do uso da liberdade de expressão e da consciência social ganham momentum num concerto, aquando das críticas a Bush, em ‘Bushleaguer’, devolvidas com apupos de parte do público norte-americano, numa noite em que a banda receou não sair do local pacificamente.
Perante a espontaneidade e os alinhamentos imprevisíveis de Eddie, por oposição ao desejo de Stone de arrasar as plateias a tocar êxitos do princípio ao fim, ouvimos ‘Walk With Me’ antes da ficha técnica ao som de ‘Just Breathe’. Desta feita, Mike não beijou de boa noite a plateia com ‘Yellow Ledbetter’ e, quanto a nós, faltou talvez conhecer um pouco do percurso musical de Vedder antes da ida para Seattle.
Para os fãs indefectíveis da banda – que os há, e muitos! -, esta crónica fílmica inevitavelmente parcial em torno do surgimento da banda na chuvosa Seattle proporciona um longo, crescente e contínuo clímax de apreço. Para o observador distanciado que apenas vê nos Pearl Jam uma grande banda que encontrou o seu espaço e ali ficou, sem evolução sónica que se destaque pelo caminho, então o documentário de Cameron poderá parecer um pouco auto-indulgente, repetitivo ou chato. Mas com a sua intimidade e som pungente, a Verdade de ‘Pearl Jam Twenty’ traduz-se em quase duas horas de prazer e pele de galinha passadas a redescobrir a banda. Pode não converter não-fãs, mas também não está a tentar fazê-lo.

Por Hugo Simões


Etiquetas: , , , , , , , , ,

sábado, março 27, 2010

Cinco anos de Caderno de Corda

Bem tentei explicar ao John Lennon que o raio do nome do blogue é "cke-ther-no the korda" e não "kaserdecop", mas eram os Beatles e eu, pronto, tá bem...

A vez das crianças. Cerveja, sangria e... leite em pó. O Caderno de Corda chegou definitivamente à segunda geração. Trata-se claramente de um blogue do futuro! Este post singelo é para os meninos. E, apesar de termos sido abençoados pela presença de três meninas, reafirmo "meninos" em homenagem ao Henrique, que não veio por ter viajado para o Algarve, onde disputaria um torneio internacional de futebol envergando a camisola do Sport Lisboa e Benfica. Força, Henrique!

A Sara e o Paulo vão trazer mais uma luz brilhante às suas e às nossas vidas, e a nossa Carolina vai ser baptizada daqui a umas horas. O Paulo é o padrinho. A escolha não podia ser melhor. Comovente.

Este ano cordiano, iniciado e findo a 27 de Março, será certamente de realizações. Gustavo, para a semana! E para o ano fazemos o cadavre-exquis! N'est-ce pas, Rui?

Mais que tudo quero ter
pé bem firme em leve dança,
com todo o saber de adulto,
todo o brincar de criança.

Agostinho da Silva

Etiquetas: , , , , , ,

Anno V - O Jantar

Tremida, mas a foto que melhor simboliza o Anno V do Caderno de Corda, graças ao Graça. Como sempre, perfeitamente aleatórios, os nomes de amigos queridos: Rute e Bruno Tomás, João Carlos (para o ano, espera-se, com a Rita), Rui Almeida, Gustavo Silva, César Silveira, Carolina, Margarida, Joana e Ricardo Pinto, eu, Constança, Sara e Paulo Amaral.

Quinto ano cordiano. Ano de promessas por cumprir. No prazo traçado não houve lançamento de EP, não houve livro e o cabeçalho vai manter-se exactamente como está, por alguns dias, com a anotação final do Anno IV, até que o tempo me sobre para promover devidas alterações, ou uma mera actualização.
O Jantar foi tão bom que os comensais e os estimados leitores merecem a contrição e a certeza de que este não se esquece de promessas, e muito menos da Amizade! Up-lá-ho! A palavra necessária e recorrente: Amizade. No fundo, já foi dito: que belo pretexto este para... estarmos. Isso mesmo: simplesmente estarmos.
Nisto, tudo são boas notícias. O livro vai sair, assim me seja entregue a nota introdutória - esta quarta-feira, espero -, e tudo farei para que o EP também, mas, como alguns saberão, não estou sozinho nesse barco. E ainda bem. Sempre ainda bem. Don't Give Up. Arms raised in a V! Nesta perspectiva, o cabeçalho continua a fazer todo o sentido.
O Ricardo Tomás voltou a ser ausência notada, mas fê-lo em nome do rock n´roll... Ao Trigo desejo as melhoras do Miguelito, que há-de vir para brincar com as meninas - o Miguelito é bom partido! O Pimenta esteve em dúvida, e ainda não foi desta que regressou - bem-vindas sejam a Clarinha e a Sara.
Admito que este é seguramente o mais telegráfico e menos poético de todos os posts d' O Jantar, mas, mais uma vez, a justificação plausível: o baptizado da Carolina, amanhã, às 13 horas. Logo, tenho de correr. Dormir depressa - um conceito muito interessante.
Cheguei há pouco a casa. Depois da despedida, eu e o Rui deambulámos novamente por aí, e fomos beber Água das Pedras. Correcção: o Rui bebeu Frize de limão, se não me engano. Estivemos à porta da Amália, do Camões e... do Barahona. Ah!, e do Gago. O Torel estava fechado - as três entradas possíveis. Cada dia que passa tenho menos liberdade. Já não posso ir ao Torel de madrugada.
A história repete-se e a Valenciana mais inflacionada ainda. Já há um ano se escrevia isso. Nada que nos demova. No mesmo sítio, à mesma hora. ASSIM foi. Assim seja.

Etiquetas: , , , , , ,

sábado, agosto 15, 2009

Com Cheiro de Alecrim

Era quase sempre de dia quando brincávamos, como num filme antigo mas de cores garridas. Levavas-me pela mão; outras vezes corrias à minha frente, porque preferias pão com manteiga às sopas de café com leite. A Calçada cheirava a roupa lavada, soava a amolador e já então sabíamos estar em território místico, ainda que o não pensássemos.
Lembro-me de identificar-me em ti e de perceber porque éramos primos. Lembro-me de ver-te saltar destemidamente, entre os rapazes, de um rochedo assustador para o mar, que rompias num gesto gracioso. Nenhum te igualava e eu era o primo mais orgulhoso da Azarujinha. Lembro-me de te respeitar por isso e de te achar bonita; de como já eras crescida e de os dias clarearem quando nos juntávamos, porque estávamos de férias.
Deves lembrar-te do jogo de espelhos e reflexos que conduzia a luz do sol à casa de banho remediada, ao fundo, paredes-meias com a muralha fernandina, na penumbra da cozinha. Esse raio de luz desenhava partículas suspensas no ar num bailado perfeito e belo de coisas simples, como nós, ainda hoje, as recordamos sem sabermos; olhamos no fundo dos olhos nossos e sabemos fazer sentido, reconhecendo, no outro, a criança que sempre esteve em nós, e um legado ainda vivo. Não sei se te lembras daquele disco de 88 - o do "Porto Côvo" e do hit que antecipou a reforma do Cetera...
Sei que não esqueceremos os programas de rádio; as rúbricas; as tuas personagens e os sotaques; o agricultor ou a tia de Cascais; as minhas entrevistas e mixagens a dois decks; as cantorias hilariantes, entrecortadas por risos insustentáveis; as letras nonsense; os Vaya con Dios; "Puerto Rico"; o precoce humor inglês... do Norte. O momento poético "Poesia com Ela"...

"A minha casa é pequenina,
mas eu gosto muito dela.
Tem um quarto e uma cozinha;
uma sala e uma janela."
Lembras-te, prima? Lembrar-me-ei sempre de um regresso de braços abertos à Calçada e aos Birbantes, porque a vida é madrasta, mas escreve-se por linhas tortas. De um mal podem brotar inúmeros benefícios, e tudo é ganho quando não se tem tecto. Mas muito mais do que um sótão onde antes se guardavam mistérios e pó, redescobri um amor imenso numa arca que tens no peito.
Há pouco tempo, em casa do meu pai, encontrei um bilhete de identidade, um cartão de eleitor e um velho papel amarelado, daqueles usados pelos contabilistas da primeira metade do século passado. Continha anotações filosóficas e bíblicas - muitas! -, lembretes, contas, numerologia e rascunhos poéticos.

"Nossa família amorosa
tem cheiro de alecrim.
Ainda que estejam longe,
estão sempre perto de mim."
Estou certo de não precisar de atribuir autoria para que a reconheças. Mas as palavras, com este cheiro de alecrim, são dela e nossas. Serão um dia do David, que o mensageiro Gabriel pode ter caído (Revelação 12:4). Estás sempre perto de mim.
A Marta de Brito Simões

Etiquetas: , , ,

sexta-feira, março 27, 2009

Quatro anos de Caderno de Corda



Agradecendo a extrema gentileza da Mariana Vilela, das Alminhas e do excelente Xukebox, acabei por ficar-me por este "Happy Birthday" ao vivo, do Grande Mestre Stevie Wonder, verdadeiramente happy e com um groove do caraças

Este ano não faço dialéctica - muito menos futurologia! Estou entre muitos quilómetros em poucos dias, The Strokes, trabalho, Beirut, facturas, dispersões, reflexões, introspecções e arquitecturas mentais ao volante, e, claro, Radiohead e Portishead. Admito renovar em breve o stock da audioteca MP3. Mesmo muito cansado, não almejo grafar palavras mediúnicas de outrora. Antes de vir para casa, ainda dei boleia ao Rui, a ver se finalmente versávamos sobre a coisa poética, e versámos, mas eu tinha de escrever-vos antes que o ponteiro batesse o amarelo e o Rui tinha agendada uma consulta matinal no tira-dentes.

Como vem sendo apanágio do Caderno de Corda, o aniversário assinalado a 27 de Março pressupõe a recriação do cabeçalho - um trabalho feito, ano após ano, com a imprescindível e preciosa colaboração do meu querido amigo Pedro Almeida Pereira. Este ano, porque estive inevitavelmente assoberbado, não pudémos reunir esforços durante mais do que escassas horas, e o imperfeito cabeçalho que hoje se apresenta é meramente temporário, até que eu e o Pedro possamos concluir a projecção idealizada do frontispício que encabeçará o Caderno de Corda ao longo do próximo ano.

No entanto, o tema central está desde já desvelado: o EP "História de Um Vinho Azedo", que os Baby Jane estão para lançar há tempo demais - mas nunca tarde demais! Se antes o cabeçalho dinâmico fechava com a capa do livro "Pôr a Escrita em Noite", publicado no ano passado, agora encerra, sob fundo negro, a ilustração de capa de "História de Um Vinho Azedo", com a também imprescindível contribuição do meu amigo Michael Cavero. Quer isto dizer que o famigerado EP dos Baby Jane há-de sair, mesmo que a ferros, e certamente dentro de um prazo razoável.

No entanto, ainda que eu não seja de entusiasmos fáceis, estou convencido de que o Davi há-de publicar o segundo livro ao longo deste ano cordiano, iniciado e findo a 27 de Março. O Davi até é um gajo porreiro. Também havemos de ir a Vianna, e o bife à Vianna é uma categoria bracarense de 8,5 euros. A corda do caderno...

Um agradecimento inefável deste que se enternece pela Vossa amizade.

Etiquetas: , , , , , , ,

Anno IV - O Jantar

Não fugindo à tradição, de modo semi-aleatório: Rui, Félix, César, eu, Johnny, Pinto e Joana, além do Gustavo, que, perante o solidário dever de uma futebolada corporativa sem suplentes, teve de sair mais cedo. O Paulo esteve mesmo quase a chegar e o Trigo, apesar de estar em Los Angeles, preferia estranhamente ter estado connosco em Campolide
Na madrugada alta de ontem, chegado ao quarto de hotel, em Braga, pensei em adiantar trabalho; escrevinhar uns nacos ricos de prosa e desde logo adiantar "trabalho", prevendo que hoje já não estivesse capaz. Mas não se trata de trabalho; isto não é, de todo, trabalho, e tem de ser escrito na hora, com dislexias, lapsus mentis e tudo.
Cerca de mil quilómetros em pouco mais de um dia, trabalho e horários apertados não chegam, à quarta edição d' O Jantar, para me demover do cumprimento escrupuloso desta iniciativa, que é, não haja dúvida, um brinde à amizade, ao reencontro, à certeza do que foi, do que está para vir - do que é. Um brinde nosso; não do Caderno de Corda. Mas um brinde que muito honra este blogue - mais: que lhe confere a autenticidade e o fito das coisas partilhadas e vividas. Em suma, a efeméride já não passa sem concretização à mesa; o Caderno de Corda já não se faz sem isto.
Por motivos profissionais e afazeres tantos, este ano tive dificuldade acrescida - mais ainda! - em fazer preparativos. Tivemos duas estreias - Félix e Rui - que, no futuro, se querem honorárias, e uma mão cheia de ausências lamentadas - pela primeira vez não tivemos sequer um dos irmãos Tomás. Por falar nisso, Tommasino, is anybody out there?
Apesar da crise, notámos uma Valenciana inflacionada - há que ser dito! -, mas o Gustavo encontrou a solução, com engenho que eu diria próprio de um marketeer de primeiríssima água. Não há almoços grátis, mas podem haver jantares!...
Aposto que o quinto ano será de arromba. Cinco anos de blogosfera deviam dar bodas de prata.
Para o ano há mais, com frangos, relva, cartola e coelhos. No mesmo sítio, à mesma hora.
Assim seja.

KJ, o impulsionador d' O Jantar, deixa-se fotografar quando seduzido por uma perna de frango, momentos antes de partir para uma futebolada infernal de 40 minutos sem substituições à qual não poderia faltar

Etiquetas: , , , , , ,

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Sir Giant, por mérito próprio



Há tempos que ando para aqui publicar o recente videoclip de "Doce Cereja", single de pré-lançamento do álbum "Expectations & Illusions", do meu querido e velho amigo Sir Giant. Pois bem, de hoje não podia mesmo passar, até porque tive acesso há pouco à biografia do músico, ainda fumegante, pela pena do jornalista Hugo Simões... Assim, colhendo dois coelhos de uma só cajadada, publico acima o videoclip e, em baixo, a biografia panegírica, acabadinha de sair do forno.

-*-

Sir Giant Bio

Talento, muito talento. Numa palavra é esse o qualificativo para Sir Giant, guiado por uma vontade inabalável de dedicar-se de corpo e alma ao melhor de si: a Música.
Com apenas 12 anos, o irmão Paulo ofereceu-lhe uma bateria. Em 1993 formava a primeira banda, então punk, para depois integrar algumas bandas com sonoridades distintas, entre o hardcore e o reggae/ska. Fez-se um excelente baterista e a experiência de muitos ensaios deu-lhe ainda o domínio de outros instrumentos como a guitarra ou o baixo, além da voz.
Empreendedor e laborioso, com profundos conhecimentos do meio, desde o palco à engenharia de som, inicia em 2001 alguns projectos da sua inteira iniciativa e criatividade, nos quais já então compunha, escrevia, tocava e produzia, começando a desenhar-se o grande projecto que é hoje Sir Giant.
Um ano depois, construiu com os seus próprios meios um estúdio de gravação, onde viria a travar conhecimento com músicos e pessoas que mais tarde o ajudariam a lançar-se. É então que diz para si mesmo: «Componho, escrevo, gravo, agencio e faço o design… porque não vocalista?»
As músicas que viriam a compor o EP “05” estavam a tomar forma, com um Sir Giant faz-tudo à Eagles, assumindo as despesas da bateria e da voz em simultâneo. Mas não tardou até que o projecto ganhasse consistência a ponto de libertar o Artista apenas para as tarefas da interpretação vocal, olhos nos olhos do público.
É assim que, em Maio de 2005, é gravado e produzido o primeiro EP, lançado em Setembro do mesmo ano. Perfeccionista, multifacetado e perseverante, Sir Giant fez, uma vez mais, tudo: além de autor singular e produtor de todos os temas, demonstrou desempenhos notáveis na bateria, no baixo, nas guitarras e na voz.
Alguns concertos após o lançamento do EP “05”, e também graças a incansáveis esforços de promoção, Sir Giant chegou à playlist da Antena 3 e a música “Iʼm 25” subiu mesmo, em Dezembro de 2005, ao top das 50 músicas nacionais e internacionais mais votadas pelos ouvintes, tendo sido a 23.ª mais tocada nesse ano.
“Iʼm 25” integrou ainda a banda sonora da terceira série dos Morangos com Açúcar e a compilação “Reggae – O melhor disco de sempre”, da editora EMI, tornando-se videoclip habitual na MTV Portugal e merecendo a aposta de outros canais, como SIC Mulher, SIC Radical ou Extreme Sports Channel, que fez uso prolongado do tema para a sonorização de programas.
Entretanto, depois de participações e entrevistas várias em programas de TV e rádio, ou de abrir para a conhecida banda reggae Zion Train, Sir Giant viu o seu trabalho internacionalmente reconhecido no final de 2005, quando venceu o concurso europeu de música da Leviʼs, que o levou a gravar o single “Life is Going Down” nos míticos estúdios de Abbey Road, Londres, celebrizados por bandas como The Beatles ou Pink Floyd.
Os trabalhos foram acompanhados de perto pela MTV, que entrevistou Sir Giant em Londres para o programa MTV Buzz, e pela Antena 3. Alguns meses depois, “Life is Going Down” é publicado no Japão pela editora One Big Family Records, na compilação “One Big Family VA3”.
No Verão de 2006 tocou com as bandas Dub Incorporation (França) e Natiruts (Brasil), em Cascais, e partilhou o palco Positive Vibes do Festival Sudoeste com o célebre cantor reggae Jimmy Cliff. A actuação foi transmitida em directo na Antena 3 e Sir Giant é novamente entrevistado pela MTV Portugal.
Já em 2007, insatisfeito com a retracção da indústria discográfica nacional, parte para a Califórnia, EUA, para iniciar a composição do álbum “Expectations & Illusions” e promover o seu trabalho. Ao longo de três meses, actuou em bares e clubes norte-americanos, colhendo boas críticas no mercado musical mais competitivo do mundo. Admitindo que «não é fácil ser músico em Portugal», Sir Giant planeia regressar aos States, porque «quem acredita em si mesmo acaba por atingir os seus sonhos».
E é de sonhos que “Expectations & Illusions” é feito, mas também de certezas e muito trabalho. Disponível para download gratuito nos seus sites desde Junho de 2009, o álbum teve no single “Doce Cereja” um pré-lançamento de sucesso, com novo rol de apresentações na TV e nas rádios. “Doce Cereja”, o único tema de Sir Giant cantado em português, integrou desde logo a banda sonora da sexta série dos Morangos com Açúcar e o excelente videoclip teve transmissão regular na MTV.
As canções não saem do ouvido e a produção, apurada, não deixa dúvidas quanto à capacidade do Artista e produtor. «O melhor da música é partilharmos um mesmo sentimento em simultâneo – rirmos, chorarmos, dançarmos juntos. É isso que tento fazer», revela.
Por Hugo Simões, jornalista

Etiquetas: , , , ,

terça-feira, dezembro 09, 2008

Porque decepei o meu campo de girassóis

Numa colmeia de província havia uma abelha vulgaríssima, aparentada de vespas e zangões desambiguados. Prima de formiga - chamemos-lhe Maia, se bem que o nome a exceda em simpatia -, a apis mellifera Maia procurava flores rubras, quando é sabido que toda e qualquer comum abelha poliniza especialmente flores descoloridas e pardacentas - salvo excepções justificadas.
Tinha cinco olhos a abelha Maia - três pequenos no cocuruto e dois compostos e esbugalhados à frente. Era desconfiada - logo, também merecedora de pouca confiança. Incrivelmente, a lígula competia em comprimento com uma protuberância adunca, ligeiramente abaixo dos dois olhos esbugalhados, a meio, a fazer lembrar um nariz - que, como o estimado leitor saberá, não compõe a anatomia das abelhas. Ainda que não pudesse ser rainha, a operária Maia orgulhava-se da invulgar protuberância e até de partilhar os mais vis defeitos de espírito das abelhas vulgares - que os têem!, mesmo que todos inestéticos, os defeitos -, mas a verdade é que a presunção lhe dava um estranho élan.
Maia vinha ao quintal da minha casa diariamente. Como as abelhas vulgares, fazia, em média, 40 voos por dia, visitando dez flores por minuto. Não sei se a vi entre tantas abelhas dessas, vulgares, que sobrevoam numa névoa o colmeal, passando as aventureiras para cá da sebe, mas assim suponho. Por vezes, pareciam zunir à porta de casa. É possível. Nunca então abri a porta. Mas, em tantas oportunidades, nenhuma alguma vez me ferrara o espigão, tão doce era o pólen e o néctar dos meus girassóis. Julgava que as abelhas me respeitavam pelos girassóis, mesmo a mais vulgarzinha delas - e, na colmeia, eram mais de 80 mil as congéneres daquela abelha ordinária a que chamámos Maia.
Certa noite amena, saí até ao alpendre enquanto bebia café. Observava o céu estrelado e notei um zumbido que parecia comandar a maviosa orquestra do nocturno fundo sereno. Deixei-me ficar mais um pouco, entre o aroma doce do café e a acalmia apaziguante do momento.
Voava Maia de flor para flor, de estrela para estrela, atarefada, sem tempo para a tristeza, quando me terá pressentido, a escassos metros dos primeiros girassóis. Sem resignar-se à climatização perfeitamente disciplinada da colmeia, com o sacrifício dos que fecundam no azul e morrem, aquela abelha mesquinha achou-me inimigo e apontou o ferrão ao meu nariz, no qual injectou furiosamente o seu veneno acre. Como se tivesse sentido um choque eléctrico de alta voltagem que pelas narinas me percorreu o crânio, pude apenas vê-la quedar-se um segundo sobre o meu nariz, olhando-me corajosamente com aquelas ventas de abelha odiosa, salientadas pelo seu próprio quase-nariz, tão invulgar nas abelhas. Espalhei o café sobre a roupa e rasguei o suave som do silêncio com um grito lancinante. Em fuga, a operária Maia voou também ela atordoada, depois de deixar parte do intestino agarrado ao ferrão, que prontamente retirei da ponta do meu nariz com a ajuda de uma moeda.
Sabia que Maia morreria um ou dois dias depois; sabia que à vingança nem sempre segue o arrependimento. Assim, pelos louvores da virtude, porque a verdadeira vingança é doce como o mel para o escol das abelhas, decepei todos os girassóis na manhã do dia seguinte, desfigurado ainda. Qual Calimero, chorei pelos girassóis durante um mês e meio - o tempo médio de vida de uma abelha operária -, mas não mais fui incomodado por abelhas dispostas a perder a própria vida por um impulso de maldade.

Etiquetas:

quinta-feira, março 27, 2008

Três anos de Caderno de Corda



E o impensável acontece!: Cenas do clássico filme mudo "Metropolis", de Fritz Lang, ao som de "Birthday", dos indiscutíveis The Beatles - eu disse indiscutíveis, César! És, neste particular, como o Trigo numa mesa de benfiquistas...

O terceiro aniversário do Caderno de Corda, celebrado ontem à mesa - como ano após ano -, é, quanto a mim, um bom presságio a toda a prova. Onde antes tinha apenas dúvidas, tenho hoje, finalmente, uma certeza: a de que este blogue vem cumprindo e até superando, pouco a pouco, com persistência e algum amor, as boas intenções com que foi criado.

A adolescer, o Caderno de Corda dá, dentro de dois dias, origem a um livro, mantendo-se como suporte mais amplo para a publicação de canções, imagens e recordações; para o encontro de ideias, a partilha de sensações, o contacto com amigos eternos, ilustres desconhecidos e estimados leitores.

Neste dia de comemoração, recria-se o cabeçalho. Os novos motivos que integrarão, ao longo dos próximos 12 meses, o frontispício em Flash demarcam um ano de música - prevendo-se, para breve, o lançamento do EP "História de Um Vinho Azedo", dos Baby Jane - e de mais poesia, especialmente se considerarmos a publicação do primeiro livro deste que vos escreve.

Mais uma vez, aqui deixo um agradecimento sentido e muito merecido ao "sapiente engenheiro" Pedro Pereira, cuja infinita paciência e total disponibilidade têm sido fundamentais na concretização dos cabeçalhos animados do Caderno de Corda. Um agradecimento especial para ele, extensível à querida família Pereira, um clã escalabitano com certeza!

Obrigado aos estimados leitores, aos autores dos blogues que têm apoiado as iniciativas desta casa blogosférica e àqueles que, porventura, venham a assinalar a feliz efeméride do Caderno de Corda.

Etiquetas: , , , , , , , ,

Anno III - O Jantar

De modo (im)perfeitamente aleatório, como sempre: Trigo, Bruno, Gustavo, Pinto, César, Tomás, eu, Paulo, Joana e Margarida
Mesmo sítio, mesmo dia e hora. Há um ano. Há dois anos. Um jantar anual que já transcendeu em muito a liça cibernética, do virtual para a mais tangível realidade dos afectos; jantar que, arrisco dizer, é igualmente um feito de todos - amigos de sempre e para sempre -, muito além da mera celebração do aniversário deste blogue. O Jantar dos que abrem as portas ao Mundo, sem medo da felicidade.
Num ano, tudo mudou para alguns de nós. Castelos desmoronaram-se na fímbria enchente de amores, desamores, encontros e desencontros, batalhas e outras derrocadas então desesperantes. No mesmo ano, sonhos se realizaram em primaveras de Inverno, o encantamento ateou de surpresa a brasa de um Desígnio que sempre esteve dentro de nós.
O Desígno é esta coisa indizível e inebriante que nos traz juntos há tantos anos, que nos predispõe mutuamente, preterindo a esterilidade quotidiana.
Aos poucos aprendemos a ser Homens, unidos na inexplicável simplicidade de crianças, no fundo dos olhos nossos, nos abraços de gente una em algo que se sente sem sentir. Para ti escrevo, para todos escrevo. Cada um reconhecerá a sua frase-sintagma, o seu suspiro, a sua pausa angustiada ou inquieta, mas, acima de tudo, a sua alegria cintilante numa estrela de destino, a certeza de um descontentamento contente quando, apesar de sós, estamos sempre acompanhados.
Já sorri com ternura e gargalhei de pura graça. Apetece-me repetir a deixa de um princípio de manhã há exactamente dois anos...
No final de um concerto memorável no Ritz Clube, o Sérgio Godinho despede-se, após “Lisboa que amanhece” em uníssono arrepiante, dizendo:

- Obrigado. Boa noite. Foi muito bom. Até amanhã!
Parece-me perfeito.
Aqui e agora. Regresso à publicação.

n.b. - Aquele abraço àqueles que, apesar de ausentes, connosco estiveram. Ao Pimenta, ao João Carlos e à Rita, ao Rui Martins e, muito especialmente, ao Félix, neste dia tão doloroso para ele.

Etiquetas: , , , , , , ,

terça-feira, abril 24, 2007

Aniversários com um sonho na palma da mão

"Ressaca no Terreiro do Paço em manhã de feriado", 25 de Abril de 2004. Rara foto da minha autoria incluída num documentário fílmico que realizei e entreguei ao professor Luiz Carvalho no âmbito da cadeira de Fotojornalismo da Universidade Autónoma Portuguesa (UAL). Foi prodigiosa a indescritível participação do talentoso fotógrafo e amigo Tiago Valente, levado pelo coração para Itália... Lamento ainda não ter conseguido fazer o upload do filme no You Tube...

Esquecemos as memórias quando as aceitamos tal como definitivamente escritas nas enciclopédias, traçadas intransigentemente pela evidência semiótica, aprisionadas nas palavras... as memórias, docemente paradoxais. Deslizantes na encosta de um sofá de mistérios soporíferos, recordamos apenas o que já sabemos. Assim ficamos, ruminantes, falando com os olhos, em réplica amestrada ao solilóquio televisivo, sem realmente questionarmos o que raio nos aconteceu nestes 33 anos de democracia. Deram-nos uma coisa melhor do que aquela que tínhamos - pudera!, éramos tradicionalmente terceiro-mundistas - e ficámos satisfeitinhos.
"A revolução está feita!" - 33 anos depois de proferidas as palavras, continuamos a dizê-las silenciosamente, para dentro, como se uma só revolução se bastasse... Entretanto, vamos sentindo um azedume salazarista e sonhamos com esqueletos no armário; trememos de manhã com frio no estômago, e um arrepio percorre-nos quando à nossa frente se abrem automaticamente as portas deslizantes da empresa, pressentindo-nos friamente. A incerteza manipulou a liberdade e, mais tarde, fez dela refém. As oportunidades concedem-se arvoradas em genealogia e só por vezes vergam face ao talento puro...

Reza a Wikipedia:

(...) "No dia 24 de Abril de 1974, um grupo de militares comandados por Otelo Saraiva de Carvalho instalou secretamente o posto de comando do movimento golpista no quartel da Pontinha, em Lisboa. Às 22h 55m é transmitida a canção ”E depois do Adeus”, de Paulo de Carvalho, pelos Emissores Associados de Lisboa, emitida por Luís Filipe Costa. Este foi um dos sinais previamente combinados pelos golpistas e que espoletava a tomada de posições da primeira fase do golpe de estado." (...)

Hoje não se marca apenas o dia em que foi despoletada uma certa liberdade já liofilizada no nosso ideário colectivo - no entanto, seguramente aquela que me permite escrever aqui para vós, especialmente para um de nós, Irmãos...
Porque hoje é o 29.º aniversário do Paulo Amaral, e porque hoje é também véspera de 25 de Abril, relembremos que o sonho é o tecido de que somos feitos, mas sonhar não é viver. O sonho acalenta-se e, se sonho é, nunca se atinge na perfeição, mas tentá-lo-emos, contra ventos e marés. A revolução está por fazer... "Está na palma da tua mão."
Parabéns, Paulo

"A revolução, se quiser resistir, deve permanecer revolução. Se se transforma em governo, já está falida... Os lugares que deixaram de ter uma revolução permanente recuperaram a tirania."
in "Aprire il fuoco", L. Bianciardi (1922-1971)

Etiquetas: , , , , , , , ,

sexta-feira, abril 20, 2007

Rato do Deserto numa seara de Trigo

É com satisfação, honra e orgulho ímpares que revelo, em primeiríssima mão, o nascimento do blogue Rato do Deserto, cujo autor é um amigo de longa data que plantou em mim memórias inapagáveis. Em dois ou três anos de blogosfera como autor e leitor, ainda não havia sentido tamanha satisfação em ver germinar um blogue. Nascido hoje mesmo às 11 horas e 36 minutos, o Rato do Deserto surge, curiosamente, depois de eu ter publicado NESTA caixa de comentário a memória do momento de criação da primeira música que compus, de braço dado com o João Trigo, autor do blogue que hoje divulgo. Falei com o João há pouco. Pediu-me para, neste post, referir ser o recém-nascido blogue Rato do Deserto o seu "depositório" lírico, sendo que não garante nem pretende um ritmo de publicação regular. O nome de baptismo, aposto, relaciona-se com a paixão do autor pela história, em particular aquela ocorrida em períodos de Guerras Mundiais.

Adiante, o Arnaldo, do Página 23, perguntava-me, depois de, NESTE post, observar um nome que lhe era estranho e que reclamava a autoria de duas das músicas tocadas pelos Baby Jane no último concerto da banda, quem é o enigmático João Trigo, recordando, coincidência das coincidências!, o velhinho tema “Luz da Noite” ("Devil"):
“Que é feito da Luz da Lua (acho que era este o nome). Já agora, quem é o João Trigo?”

Pois bem, a minha resposta espontânea, dada de imediato na mesma caixa de comentário (ESTA), sem cuidados extremos com a delicadeza da redacção, seguiu assim:
(...) “Sem imaginares, nas duas frases finais do teu comentário, relacionaste espantosamente dois elementos indissociáveis: o "Luz da Noite" (era "Noite"; o refrão é que continha as expressões "luz da lua") e o João Trigo. Parece-me quase que absorveste inconscientemente a dimensão oculta das ideias. É incrível a associação!: O "Luz da Noite" foi a primeira música que compus e escrevi, durante uma festa de "som" na vivenda vazia do César (Kaiser), no dia em que apanhei a minha primeira bebedeira. Inicialmente em inglês, foi tocada indizíveis vezes nas escadas e bancadas dos Salesianos, um colégio católico. Diga-se que, originalmente, o título era simplesmente "Devil"...
O João Trigo era um ano mais velho, e seguramente aquele de entre os mais velhos de quem eu mais gostava. Tocava baixo na banda mais antiga e experiente do colégio. Além do mais, compunha praticamente a totalidade das músicas, donde sobressaíam as letras, na voz do Dino, a roçar os píncaros da genialidade. :)
Recuando um pouco, recordo-te a tal bebedeira na casa do Kaiser. O Trigo estava, obviamente, lá (Trigo e Kaiser são amigos e ex-vizinhos de longa data). Sentados no chão, noite alta, na sala quase vazia - não fosse a mesa com o frango assado -, eu e o Trigo, cada um com a sua viola.
Comecei uns acordes ("power chords", claro), Mi, Sol, Lá, Si#, o Trigo seguiu a deixa e cantarolou... Foi como se me abrisse a cabeça. É isso... o Trigo foi das pessoas que felizmente passaram pela minha vida que me 'abriram a cabeça'! Uma vez, em Albufeira, uma miúda mais velha, estúpida e má, também me abriu a cabeça: atirou-me com uma pedra de calçada. Sete pontos, pelo menos.
Fiz a música em inglês. Se bem me lembro, parti do mote dado pelo Trigo. Uns meses mais tarde, os Hades (a primeira banda que tive, com os meus amigos de infância e pré-adolescência João Luís, Quim, Armando, César e Barata) tinham a oportunidade de inscrever uma música original num grande (era mesmo!) concurso a realizar-se nas OSJ - a segunda edição da "Festa da Música", sendo que havíamos vencido inesperadamente a primeira edição.
Avançámos com o "Devil", mas quisemos assumirmo-nos como uma banda que comunicava em língua portuguesa... Então, andei dias a pensar como escrever uma música em português... Sempre havia escrito letras apenas em inglês... Até que, numa tarde de dia de festa no colégio (dia de D. João Bosco?), fui com o Trigo até casa dele e comentei, no elevador, a dificuldade que estava a sentir para escrever uma simples letra na língua de Camões. Sei dizer que, entre os hipotéticos 12 segundos que demorámos até o elevador estancar no andar de destino, o Trigo sacou de debaixo da língua os dois primeiros versos. Tentei não esquecê-los, pedi-lhe para continuar a pensar no assunto e, se possível, para me transmitir os desenvolvimentos no intervalo da manhã do dia seguinte.
Na manhã seguinte, num átrio, reencontrámo-nos. O Trigo trazia o olhar cintilante e perspicaz que o caracteriza e que transmite confiança. Tirou de dentro do bolso das calças de ganga um papelito dobrado em quatro e passou-mo para a mão. Foi rápido. Trocámos umas palavras e tenho ideia de ele se ter afastado com ligeireza, como se não quisesse ver a minha reacção imediata (a menos espontânea quando temos à nossa frente quem nos presenteia).
Na ausência dele li o bloco de quatro frases. A métrica parecia perfeita à vista. Gostei. Aquilo embalou-me e escrevi o resto na aula seguinte. O "Luz da Noite" concorreu à "Festa da Música" e alcançou um honroso segundo lugar.
O Trigo foi o meu Ary dos Santos (e sabe-o).
Ó Arnaldo, olha só a trabalheira que o teu comentário me deu! Tocaste num dos vários pontos "G" das minhas memórias!
:D
Aquele abraço!”
À posteriori, o Kaiser fez ainda uma valiosa adenda e eu, desta feita leitor do meu próprio blogue, sorria cá para comigo:
“Esta janela de comentários obriga-me a recuar mais de dez anos na minha, não obstante, curta vida. Primeiro que tudo, importa agradecer o elogio do nosso timoneiro blogosférico. Embora me sentisse parte da banda, o facto é que os Hades contaram com a presença pontual do Kaiser, eu, no baixo - 'Highway to Hell', 1.ª festa da música das OSJ. Quanto ao 'Devil' - my name is devil, I walk on the streets no one can hear, I drink all the blood of those who fear -, é verdade que cedi o meu 'estúdio' na Parede, regado de cerveja, gin, frango assado e, mais importante que tudo, amigos!
A "Velha Caquética", título original, se a memória não me atraiçoa, foi uma piada musical que o Trigo e a Sofia compuseram em honra à nossa (vivíamos todos no mesmo prédio) vizinha do 1.º Andar Esquerdo. Rolava mais ao menos assim: 'Velha caquética, que guardas o portão, velha esquelética, vai cair-te a mão; tens muitas histórias para contar, na tua cadeira de rodas, u ié!'
O "Heavy Mentol", que contava com uma generosa guitarrada do João Cruz, e a "Velha Caquética" são originais dos 'Akahekku' - banda do Trigo, Cruz, Dino, Moreira e Ricky, que contou com a presença do Bernardo e da minha pessoa, num memorável concerto no Aquaparque -, que estiveram talhados para voos mais altos, mas, na hora da descolagem, tiveram vertigens. A estas duas, podemos juntar a, para mim, grande malha "Joana em Mim Maior": esta música é muito boa!!! Por ora, já chega de recordações!”
Definitivamente, ao João Trigo

Etiquetas: , , , , , , , , , ,

terça-feira, março 27, 2007

Dois anos de Caderno de Corda

Bem sei que o destinatário da canção de parabéns arranhada no ukulele é Stone Gossard... Pearl Jam em Portland. 20/07/2006

Como já AQUI escrevera, é certo que, um ano volvido, permanecem as dúvidas. Sei que 24 meses de persistência blogosférica têm par em anos-luz de vida efectiva. A conversão já foi até aventada por teóricos enredados em inutilidades, a jeito de se categorizar o tempo como se faz com o ano de César e os respectivos sete caninos.

Porque "a vida segue dentro de momentos" - certo, César e Gustavo? -, apresento-vos hoje, cumprido o segundo aniversário deste blogue, o fronstispício em Flash que irá encabeçar o Caderno de Corda ao longo do próximo ano. Resultado de profícuo e demorado trabalho de equipa, devo daqui manifestar a minha gratidão e profunda amizade para com os irmãos Pedro (o sapiente engenheiro) e Tiago Pereira (o brilhante aprendiz), além da irmã Fabi, que contribuiu com uma ideia simplesmente genial!, e a quem as palavras dedico, mas ao ouvido. Sem os Pereiras, tudo seria diferente, e para pior.

Mais uma vez obrigado aos estimados leitores por serem o principal motivo para continuar. Obrigado também àqueles que eventualmente venham a assinalar este dia importante para o Caderno de Corda.

Etiquetas: , , , , , , , ,

Anno II - O Jantar

Aos amigos desmedidos na expansão do infinito João, César, Ricardo, Paulo e Vilma, Gustavo, Tomás e Paula, as palavras que não chegam ao que o coração verte

Exactamente um ano depois, no mesmo sítio, à mesma hora, o jantar instigado a pretexto do aniversário do Caderno de Corda - o segundo, por sinal. Cheguei tarde a casa. O cansaço solta-me deslizante na cadeira e aguarda palavras mediúnicas na ponta dos dedos; a nostalgia inspiradora, dissolvida por um antidotal sorriso leonardesco, óbvio sinal de felicidade.

Assim sendo, parece que não chega, a melancolia. Essa vive sonâmbulos impossíveis de desencontros incompatíveis, mas, ainda assim, confesso, desfia o terço das palavras e dos mistérios. Nós, por outro lado, convergimos - como deuses, astros, mundos. Porque queremos e não desistimos. Porque somos crianças de olhos ternos postos na lua, apesar das cãs, dos grisalhos, das entradas. A vossa amizade é um privilégio que defendo como a um tesouro à vista.

Um abraço ainda aos estimados leitores que, por incontornável impedimento, gostariam de ter levantado ferro, à tona do éter morno onde navegam resignadamente os desolados pescadores de Umbigo. Ao Pimenta.

Para o ano há mais. No mesmo sítio, à mesma hora.

Assim seja.

Etiquetas: , , , , , , ,

quinta-feira, março 15, 2007

Democrisia Bang-Bang I

Perante o surgimento do filme "O Bom Pastor", escrevi ESTE post no dia 26 de Fevereiro passado. A sinopse do dito reza assim: "Edward Wilson (Matt Damon) é o único que observou o suicídio do próprio pai. Enquanto estuda na Universidade de Yale, torna-se membro da sociedade 'Skull and Bones'. Por conta dos seus valores pessoais, acaba por ser recrutado para trabalhar na recém-inaugurada Agência de Inteligência Central, mantida pelo governo norte-americano."
Continuo sem ter visto o filme (porque são quase certamente três horas de decepção e arrependimento pelo dinheiro mal gasto), mas mantenho com justificada firmeza a ideia de que se trata, uma vez mais, de um filme manipulador de informação e de massas. O elenco impressiona duplamente, por razões contrárias: uma saca de actores de peso (Matt Damon, Angelina Jolie, Robert De Niro, Alec Baldwin, Billy Crudup, Michael Gambon, William Hurt, John Turturro, Tammy Blanchard, Keir Dullea, Martina Merlino, Timothy Hutton, Gabriel Macht e Joe Pesci) aceitou fazer esta estopada.
No mesmo post, refiro inevitavelmente uma entrada anterior na qual publico ESTE documentário independente de tílulo “American Dictators” (“Ditadores Americanos”), que versa sobre a Grande Conspiração, recordando a contradição que subjaz no reino dinástico dos EUA. A ampla temática cujo território mais nos poderá interessar delimitar na sequência de posts que se segue é aquela que emana abundantemente do paradoxal e hipócrita fito norte-americano de Liberdade e Democracia.

CONTINUA BREVEMENTE

Etiquetas: , , , , , , , , ,

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Zayt al-Zaj

Prometo, em breve, uma nova série atenta ao surrealismo democrítico dos Estados Unidos da América, não sem estupefacção e uma pitada de acidez sulfúrica... tal a também 'vitríola' elite norte-americana. Existem pois substantivos que, se fossem adjectivos, se aplicariam capazmente...
Servindo este post como mera nota informativa de esclarecimento, devo dizer que a ideia, há algum tempo pairando sobre a minha cabeça, se definiu perante o surgimento do filme "O Bom Pastor", que ainda não vi, confesso, mas que aparenta ser mais uma operação subliminar de propaganda à escala mundial, acrescendo-lhe a perversidade manipulatória hollywoodesca que, como se sabe, institui-se como a maior e mais influente exportação norte-americana. Não se gerem confusões: a sociedade secreta Skull and Bones é a mais poderosa e impune máfia planetária, instituída na CIA, no governo norte-americano (veja-se a dinastia Bush), no FBI, you name it... mas guardemos pormenores para depois... Correndo o risco de fazer uma análise precipitada do filme (cujo resumo do guião li diagonalmente), duvidem, para já, dele, sendo o herói (Matt Damon) um irrepreensível membro da "cohort". Entretanto, se o tema lhe suscita curiosidade, pode o estimado leitor ver AQUI (post intitulado "A democradura americana: Skull and Bones e a Nova Ordem Mundial") um documentário talvez extremadamente conspirativo que se debruça sobre a dita sociedade de Yale. O Caderno de Corda está apenas aparentemente sereno, mas certamente atento.

Etiquetas: , , , , , , ,

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Saddam Hussein enforcado - Primeiro post de 2007 não augura bons ventos, mas...

Valha-me a água suja do imperialismo ou também eu poderia ter sido engolido por uma vaga de ilusória alegria auto-infligida, catalisada a álcool... Uma fugaz alegria à escala mundial que dissimula a preocupação e a tensão instaladas um pouco por toda a parte, sem distinção de raça, credo ou classe.
Passemos sem cortesias à execução medieva do ditador Saddam Hussein no passado sábado, às 3 horas da manhã, numa aparente cave húmida e sem janelas, por carrascos encapuçados.
Mais uma vez assistimos, com o alto patrocínio da Realpolitik norte-americana, a uma torpe e pública violação dos direitos fundamentais. Pior: o Sumo Idiota Bush, a dormir serenamente no seu rancho no Texas quando Saddam foi enforcado, já tinha deixado opinião clara, antecipando o acto como “um marco para a reconstrução democrática do Iraque”. A este nível, já nada nos surpreende, se vindo do homem que invade para impor uma tal democracia...
No entanto, os pregadores da tolerância, a quem tudo é permitido, não só subscreveram oficialmente o crime, como nada fizeram para que as degradantes imagens da execução - apenas interrompidas quando o carrasco acomoda a corda ao pescoço do déspota - não fossem transmitidas. Sempre se conheceu a relutância dos invasores quanto ao assassinato súbito de Saddam, cujas circunstâncias inesperadas poderiam tranformar num mártir, por entre a névoa dramática e simbólica da batalha. Mas, conhecendo a administração Bush pela observação dos seus actos e deliberações, talvez fosse óbvio o despojamento humilhante e prematuro do carniceiro, que assim serve de símbolo da vantagem americana, como se de uma pseudo-vitória se tratasse.
Mas Saddam teria, na verdade, um importante contributo a dar à preservação da memória. O seu papel não estava terminado. A aniquilação do tirano apagou definitivamente uma página da História, ainda que negra. Os segredos de Saddam, os seus receios e opiniões (que um homem, mesmo um assassino, também chora) foram definitivamente arredados do conhecimento público. A sua versão dos acontecimentos será para todo o sempre deturpada. Bem sei ser óbvio a quem tudo isto interessa, incluindo o silenciamento permanente de Saddam...
E não esqueçamos a época do ano escolhida precipitadamente para o atabalhoado enforcamento... às portas dos festejos do ano novo, quando todos estão demasiadamente embrenhados nas suas pequenas férias, nos afazeres e preparativos, na euforia colectiva de pensar em nada e tudo fazer sem nada pensar. A técnica é antiga. A execução de Saddam foi, no prazo de 24 horas, uma manobra lateral de diversão com prazo terminal de validade. Saddam foi duplamente silenciado.
À excepção da Inglaterra, cuja dignitária afirmou ter Saddam pago uma dívida para com o povo, toda a Europa condenou o acto, recordando o objectivo da abolição universal da pena de morte.
Este já não é um sintoma do grau de perigosidade em que se encontra o ideal democrático, nem creio que se possa insistir numa condição humana esperançosa para aquela terra, ou que seja razoável considerar o acontecimento como uma perda de oportunidade para a hipócrita causa democrática e livre do Iraque. O Iraque perdeu a sua oportunidade logo quando os EUA invadiram o Afeganistão. A oportunidade do Iraque é a mesma do arguido Saddam Hussein. E tem os dias contados.
* Democrática, democrática... é a Coca-Cola! *

Etiquetas: , , ,