quinta-feira, junho 09, 2005

Para quando a privatização do ar?

Já há longo tempo esperava por uma oportunidade de poder expressar o meu descontentamento e indignação perante a existência da EMEL e o seu modus operandi. Se, por um lado, é sabido que o nível de vida dos portugueses é baixo; que o automóvel é, para nós, ainda um bem de luxo e que a geografia urbana de Lisboa é, por natureza, descompensada, quando observada a EMEL “em movimento”, é mais difícil manter o discernimento necessário à argumentação.
A empresa em causa não parece considerar o organismo urbano como produto da acção e vontade dos homens, actuando em face das possibilidades geográficas do meio. Com o compadrio da Câmara - logo, do poder político instituído -, um agente (?!) da EMEL, depois de imobilizar o precioso meio de transporte de um honesto e cumpridor cidadão, pode mandar rebocá-lo caso o “infractor” não proceda às diligências necessárias para a solicitação do desbloqueio e respectivas liquidações. Note-se que o número de telefone para o qual deve ligar, é taxado.
Por tê-lo já experienciado, tendo já esperado cinco horas por esses pachorrentos, baldados e inúteis, posso assegurar que as equipas de desbloqueio são insuficientes para uma acção atempada e eficaz que colmate as razias indiscriminadas que os fiscais perpetram.
Na análise da orgânica de Lisboa, a EMEL não contemplou um modo particular de encarar o espaço urbano, os seus habitantes e a dinâmica da sua organização.
Se até há bem pouco tempo a EMEL não nos fazia falta - sequer existia -, porquê habituarmo-nos passivamente? Em minha opinião, a EMEL pratica uma forma de violência psicológica coerciva, atentando à propriedade privada e às liberdades fundamentais, em nome de outros interesses que não a harmonização das nossas cidades. Quem está comigo?
n.b. - Este pequeno texto opinativo foi publicado no jornal "Mundo Universitário", a 8 de Junho de 2004, portanto, há um ano. Foi-me pedido pelo então chefe de redacção da referida publicação, um amigo já de longa data. Mesmo sabendo que ele não vai ler este post - pelo menos, para já -, uma vez que desconhece o "Caderno de Corda", aproveito para lhe enviar um grande abraço. "Nigel Patch-Echo", quando é fazemos o nosso blog com o mano Aragão? Um abraço da blogosfera ao Miguel Pacheco e ao meu amigo - este sim, posso dizer de infância -, Miguel Aragão.

Etiquetas: , ,

4 Comments:

Blogger Kaiser said...

Mas o mais irritante, em todo o processo de blqueia/desbloqueia, é o ar altivo com que os "sapos verdes" falam com as pessoas. Ainda não há muito tempo atrás, quando me deparei com uma algema amarela no meu pneu, tive a seguinte disputa com - usando um temro actual- bastardos da EMEL:

- 'Tá aqui o papelinho (a coima verde), é só assinar!
- Com certeza (começa a ler o papel, a fim de verificar o que o sapo teria escrito)
- Vai demorar muito, é só assinar!
- Importa-se que leia aquilo que vo assinar?
- 'Tá tudo certinho, duvida de mim?
- Não, tenho o estranho costume de ler o que assino...
- Eu não tenho o dia todo!
- Já somos dois (acabou por ali conversa...).

Sua eminência, o sapo, como todos aqueles que experimentam o humano, julga-se Deus no papel de "agente de autoridade administrativa", no desempenho da nobre tarefa de dar cabo do dia a quem, ao contrário dele, acha que estudar e trabalhar são coisas úteis nos dias que correm...

quinta-feira, junho 09, 2005 11:14:00 da manhã  
Blogger Catarina Santiago Costa said...

Devo confessar, e depois de lido o teu artigo, que cada vez me apetece mais andar com um martelo dentro do carro para partir os parquímetros. Afinal estes só fazem falta à EMEL e a EMEL não faz falta a ninguém.
Cumprimentos revoltosos

quinta-feira, junho 09, 2005 11:42:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Os macacos verdes são a pior infestação de Lisboa. Por mim, fazia-lhes uma desratização. Houve um período em que todos os meses tive confrontos sérios com eles. Experiências transcendentais. Desde esperar cinco horas que viesse a carrinha com o desbloqueador, a quererem bloquear-me o carro, comigo ao lado; até ao cúmulo de me rebocarem o carro de um estacionamento cujo parquímetro estava avariado.

Cheguei a apresentar queixa na Deco e até na própria Emel. Depois perdi a paciência e não quis perder mais tempo com burocracias.

Acredito que haja uma opinião generalizada que a Emel não faz falta nenhuma. Acredito também que se apenas nos queixarmos e nada fizermos, alguém continuará a ganhar muito dinheiro às custas da exploração do espaço que é de todos e a dar cabo de muitos orçamentos familiares, já de si reduzidos.

Falar não basta!

FaP

quinta-feira, junho 09, 2005 12:28:00 da tarde  
Blogger Davi Reis said...

Talvez faça sentido criar um grupo urbano miliciano que se dedique à destruição de parquímetros. Conheço uma substância em spray direccionado que serve para preencher frestas e outros buracos e vãos que tais. Inicialmente líquido, solidifica como fermento, expandindo-se. Bastava simular o pagamento, ou a introdução da moeda na ranhura, e zás, uma esguichadela lá pra dentro! É só uma sugestão...

quinta-feira, junho 09, 2005 10:43:00 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home