quarta-feira, julho 27, 2005

Anamnésias 3

Eis o deserto. Areia tão fina que parece pó. Uma volúpia asceta, eremita e poética se apodera de mim, pequeno como nunca me havia sentido. O céu em tons de laranja. Eis o crepúsculo dos deuses esquecidos. Tenho os pés enterrados na areia intensamente quente, como que pulsando do seu imo um sol que acaso se deita no horizonte. A fina areia, quase branca, como pó se instalou nas minhas vestes, no meu cabelo, nos meus olhos. Com o reflexo do sol, torna-se dourada, e as sombras de pirâmides delirantes, esculpidas pelo vento, conferem-lhe dois tons de castanho. Diante de mim, um mar de areia, ondulações de dunas sem cabo de tormento, qual mar verdadeiro, mais só que o primeiro, sem lua que prateie seu movimento. Sou rei lagarto e águia rapinante nos céus da cúpula visceral das paredes de mim dentro. Sou encantador de serpentes que dançam seduzindo o sedutor, e o feitiço torna ao feiticeiro. Sou dentro e fora por inteiro sem, no deserto desabrigado, saber quem sou eu cá dentro embriagado, além dos poros, dos suores e das entranhas, o verdadeiro. Eis o deserto inconformado de mim dentro cá fora, a mensagem na botelha por defeito escrita, esteiro, estendendo-se pela terra dentro, de rio ou mar braço estreito.

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1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

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quinta-feira, junho 08, 2006 9:51:00 da manhã  

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