segunda-feira, setembro 05, 2005

Anamnésias 9

O pássaro falou do cimo da árvore, no jardim. A relva acolhe o pato, que se cobre de asas e penas. A manhã rompeu. Falámos uma madrugada e rendemo-nos ao queimar do céu. Na estação, à espera do comboio, aceito a punhalada em mim próprio. Vejo que o meu sangue jorrado agora é o mesmo sangue que tu já cuspiste fora. Como nos poderemos amar?, se foste a única estrela, que até já foi estrela do mar... Somos a página mais clara do livro um do outro. Eu sou a coroa; tu a cara, e sei que outra não encontro. Queria ser forte como um touro e trazer-te no meu dorso, desfazendo o desencontro, mutilando o remorso. Jamais será esquecido o teu mais belo gesto, o teu beijo sentido, tua bondade ao manifesto. Jamais será esquecido o nosso travo adolescente, a descoberta de todos os mapas nos nossos corpos a quente. Pois só com a memória fico, só com o desgosto resto. E o pássaro fala-me, do cimo da árvore; o pato recolhe-se, na relva, no manto das suas asas.

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2 Comments:

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quinta-feira, junho 08, 2006 9:53:00 da manhã  

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