Estórias 4
O homem que queria lançar-se ao mar surgiu junto às portas do cais. O esforço havia sido inglório, tanta preocupação o inquietara. Segismunda aguardava, incontida, o momento de o interrogar sobre os acontecimentos do dia. Antes que ela libertasse a sua curiosidade, ele disse:
- Do mal, o menos. Trago comida que baste para os dois.
- E os marinheiros? A tripulação de que falaste?
- Ninguém quis vir comigo. Alguns troçaram de mim. Disseram-me que já nem o peixe lhes dá esperança para largarem a comodidade remediada dos seus lares. Que os tempos do mar misterioso, revolto, e de ilhas desconhecidas já lá vão. Houve mesmo um mais espertalhaço que me perguntou onde ia eu sem Sancho Pança.
- E tu, que lhes disseste?
- Que o mar será sempre misterioso e retribuí com uma pergunta.
- E nem uma palavra sobre a ilha desconhecida?
- Como poderia eu falar-lhes de tal ilha, se nem eu próprio a conheço?
- Do mal, o menos. Trago comida que baste para os dois.
- E os marinheiros? A tripulação de que falaste?
- Ninguém quis vir comigo. Alguns troçaram de mim. Disseram-me que já nem o peixe lhes dá esperança para largarem a comodidade remediada dos seus lares. Que os tempos do mar misterioso, revolto, e de ilhas desconhecidas já lá vão. Houve mesmo um mais espertalhaço que me perguntou onde ia eu sem Sancho Pança.
- E tu, que lhes disseste?
- Que o mar será sempre misterioso e retribuí com uma pergunta.
- E nem uma palavra sobre a ilha desconhecida?
- Como poderia eu falar-lhes de tal ilha, se nem eu próprio a conheço?
Inspirado n'“O conto da ilha desconhecida” de José Saramago (Cadernos do Pavilhão de Portugal, Ed. Assírio & Alvim)
Etiquetas: Estórias e Verosimilitudes, Prosas Cordianas
3 Comments:
Gostei disto!
Fã do Ernesto
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