Estórias 5
Eram duas crianças, gémeos dizigóticos. Tinham parecenças mas ninguém os diria gémeos; talvez irmãos. Eram falsos, uma vez que provinham de células diferentes, fecundadas por espermatozóides diferentes. As suas vidas haviam sido felizes até serem arrastadas da placidez dos verdes anos, para longe da família. A mãe e o pai, levados para interrogatório pela polícia política, deixaram de poder ampará-las; de poder explicar-lhes as razões porque a realidade que concebiam se havia desmoronado; de poder aconchegá-los à noitinha. Até Odete, a governanta que fazia as vezes de tia, tinha sido separada das duas crianças. Labutava agora num campo de trabalhos forçados, por estar conotada com a família e os seus alegados segredos. O menino e a menina tinham a sorte de se terem um ao outro, e assim se valiam mutuamente. Estava escuro, como habitualmente, no sótão onde dantes brincavam - vontade que lhes haviam extirpado os “cabeças de giz”, como lhes chamavam. Mantinham-se em silêncio, acocorados, frente a frente, de olhos fechados, como que meditando - na verdade, padecendo da astenia da fome.
Etiquetas: Estórias e Verosimilitudes, Prosas Cordianas
2 Comments:
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