Para Sempre
Foto de Carlos Mateus de Lima
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Um ídolo pela aura; um amigo pela humildade, pela bondade,
pela simplicidade e por tudo o que me deu sem saber. Parcas palavras para
mistificar a morte de um ícone da cultura portuguesa. Da cultura que, desde
menino, apreciei e até mimetizei.
Cantei, na escola primária, perante pais e alunos, os Xutos.
Na escola secundária fiz uma banda que os tinha como referência. Mais tarde fui
à televisão com a banda da minha vida e tocámos... Xutos. É possível que a
canção que mais vezes tocámos tenha sido a "Casinha".
Entrevistei-o várias vezes como jornalista. Vi, em preview,
ao seu lado, cadeira com cadeira, o documentário "Twenty", dos Pearl
Jam, no cinema Alvalade XXI. Trocámos ideias, gostos e alguns momentos.
Não me recordo de tudo, mas lembro-me perfeitamente da
primeira vez que o conheci pessoalmente, era eu ainda adolescente, numa semana
de sete dias em que vi os Xutos tocar quatro ou cinco vezes. O Zé estava na
loja de conveniência da minha rua, em Lisboa, onde eu ia comprar tabaco.
Enchi-me de coragem e cumprimentei-o. Ele estava acompanhado. Quando, depois de
dizer-lhe que o concerto da noite anterior tinha sido óptimo, o ia deixar, foi
o companheiro dele que disse conhecer-me, que tinha sido porteiro de um bar
onde os Baby Jane haviam tocado umas semanas antes - e a conversa
recomeçou.
Eu tinha uma banda e o Zé Pedro interessou-se;
disponibilizou-se para ouvir uma maqueta que nunca lhe fiz chegar. Não lhe pedi
nada. Era o Zé Pedro, o nosso Zé Pedro. O Zé Pedro de Portugal.
Os Xutos foram a banda que mais vezes vi tocar na vida. Não
quero exprimi-lo, mas creio ser seguro dizer que os Xutos também findaram hoje,
se bem que nem Xutos nem Zé Pedro expirem, apesar da vida e da morte.
Etiquetas: Aniversário, Diário de Bordo, Música, Quotidianos, Xutos, Zé Pedro
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