segunda-feira, abril 18, 2005

19

As cartas que me envias, cheias de gelo e ricochetes, pavoneadas, plenas desse folclore mascarado como uma tal vendedora de flores... Precisas de tudo o que eu tenho e assim procuras as árvores, os lagos, os patos, a relva, os pavões, e colocas-te em sítios altos de onde podes ver mais longe a tua cidade que, afinal, é de ninguém. Nem eido tens. De onde vens? De quem foram os teus anéis? Por quem pensas? O que és tu? Talvez sejas dois braços que te levam, paraplégico. Talvez sejas um pirata que apenas luta quando armado, ou um assaltante que opera em grupo, alguém que chora diante das câmaras e que, alheado, faz um esforço por se mostrar atento. Talvez te sentes por comodidade e esqueças a universalidade do pensamento; te deites por estares cansado e te uses, alheio, do sofrimento; te faças desamparado pela dupla personalidade do teu lamento. Tu és uma vergonha aos meus olhos e eu não te devo respeitos. Apareço-te porque me amo e me sinto maior ao pé de ti. Eu árvore, tu ramo, que um dia irá cair.
(P/ o próprio)

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