A Revolução está por fazer - Qüotidianos 2
Não sei ao certo o que escrever hoje, dia 26, depois de ter falhado a publicação ontem... Estive fora. Passei a tarde em Peniche, donde, como se sabe, no dia 3 de Janeiro de 1960, se evadiram do forte Álvaro Cunhal, Joaquim Gomes, Carlos Costa, Jaime Serra, Francisco Miguel, José Carlos, Guilherme Carvalho, Pedro Soares, Rogério de Carvalho e Francisco Martins Rodrigues. Ao fim da tarde daquele dia, parava na vila, em frente ao forte, um carro com o porta-bagagens aberto. Estava dado o sinal, do exterior da prisão, de que tudo se encontrava a postos.
Eu, hoje, estacionei o carro junto ao forte, mas deixei-o obviamente trancado, e bem! Explorei um desfiladeiro escavado pelo mar e por obras públicas de 1954 (o da foto). É então que surge uma senhora que diria bastante idosa - a avaliar também pelo cabelo completamente branco e pela face, pele enrugada e curtida pelo sol - surgir em passo solto, leve e seguro pelas pedras, dirigindo-se a um monte de rochas com metros valentes de diâmetro, que perfaziam outros tantos em altura. Com a maior das naturalidades, desatou a escalar o penedo, calhau a calhau, com a ajuda das mãos. Fiquei a observá-la, a vinte metros. Chegou onde queria. Esticou o braço distendendo todo o corpo, com uma agilidade notável. Alcançou algo. Vejo sair, de entre os pedregulhos, uma peça de... roupa? Sim, e branca - uma meia que havia caído do estendal de uma casa construída sobre o despenhadeiro, no limite do rochedo. Ali fiquei, talvez esperando-a. A senhora passou por mim no caminho de volta e sorriu. Disse-lhe "boa tarde", ao que ela replicou. Não resisti e lancei, de imediato: "Isso é que foi uma trabalheira (...) Parecia uma jovem de 16 anos!" Houve parada, resposta, e uma saudação amigável acompanhada de sorrisos. A senhora voltou a subir até à boca do desfiladeiro, deixando para trás os pedregulhos. Foi novamente para a lida da casa, num afã paradoxalmente apaziguador. Quedei-me ali por mais dois minutos, talvez. Quando me vinha embora, ouço, lá de cima: "Já se vão embora?" Novamente entre sorrisos, o assentimento e o prenúncio da derradeira despedida. Lá de cima, de uma janelinha no precipício, as palavras "Boa sorte! Sejam felizes!"
Voltando ao princípio, apesar de me arrepiar inexplicavelmente o "E Depois do Adeus" - e até, a espaços, o "Grândola" -, eu diria que a Revolução está por fazer...
Eu, hoje, estacionei o carro junto ao forte, mas deixei-o obviamente trancado, e bem! Explorei um desfiladeiro escavado pelo mar e por obras públicas de 1954 (o da foto). É então que surge uma senhora que diria bastante idosa - a avaliar também pelo cabelo completamente branco e pela face, pele enrugada e curtida pelo sol - surgir em passo solto, leve e seguro pelas pedras, dirigindo-se a um monte de rochas com metros valentes de diâmetro, que perfaziam outros tantos em altura. Com a maior das naturalidades, desatou a escalar o penedo, calhau a calhau, com a ajuda das mãos. Fiquei a observá-la, a vinte metros. Chegou onde queria. Esticou o braço distendendo todo o corpo, com uma agilidade notável. Alcançou algo. Vejo sair, de entre os pedregulhos, uma peça de... roupa? Sim, e branca - uma meia que havia caído do estendal de uma casa construída sobre o despenhadeiro, no limite do rochedo. Ali fiquei, talvez esperando-a. A senhora passou por mim no caminho de volta e sorriu. Disse-lhe "boa tarde", ao que ela replicou. Não resisti e lancei, de imediato: "Isso é que foi uma trabalheira (...) Parecia uma jovem de 16 anos!" Houve parada, resposta, e uma saudação amigável acompanhada de sorrisos. A senhora voltou a subir até à boca do desfiladeiro, deixando para trás os pedregulhos. Foi novamente para a lida da casa, num afã paradoxalmente apaziguador. Quedei-me ali por mais dois minutos, talvez. Quando me vinha embora, ouço, lá de cima: "Já se vão embora?" Novamente entre sorrisos, o assentimento e o prenúncio da derradeira despedida. Lá de cima, de uma janelinha no precipício, as palavras "Boa sorte! Sejam felizes!"
Voltando ao princípio, apesar de me arrepiar inexplicavelmente o "E Depois do Adeus" - e até, a espaços, o "Grândola" -, eu diria que a Revolução está por fazer...
Etiquetas: Fotos e Imagens Cordianas, Prosas Cordianas, Quotidianos, Viagens
8 Comments:
As minhas escolhas musicais para o 25 de Abril causam-me o mesmo efeito. E sim, há muito por cumprir.
Um abraço,
RS
nota:
Recebeste o meu mail sobre o Castpost? Fiquei na dúvida.
Por falar nisto, ou melhor, por ver "isto", ali ao lado, o comentário acima foi o primeiro em que usei o meu ícone. :)
Até breve,
RS
Não foi por acaso que me lembrei do "E Depois do Adeus"... Recebi sim, Rui. Melhor seria impossível. E com um grau de detalhe que, se não conseguir fazer o que quero, terei de duvidar das minhas capacidades! Ah!, e mais uma honra concedida ao Caderno de Corda! Muito bom. Mas a isso já nos habituaste (conjuguei o verbo na pessoa certa, certo?).
:)
Abraço fraterno
Certo!
;)
Um abraço,
RS
Comtinuemos a lutar por isso com todas as nossas forças e com toda a nossa voz, como naquele 25 de Abril de 2000, na praça onde Salgueiro Maia enfrentou as forças do regime que vinham da Ajuda, gritámos e cantámos em conjunto:"A revolução está na palma da tua mão"
É verdade, SM. Que saudades... e eu, que toquei com um casaco da tropa que pertenceu em tempos ao teu pai, com inúmeros cravos presos nas casas dos botões...
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