Amaste como o luar ao meio-dia. Sorrindo na cara do desgosto, fizeste da fealdade beleza, reflectindo-nos obliquamente, espelhos eivados, transfigurados na intersecção radiante de um inextinguível nexus luminoso num riacho de mosto.
Como é que se diz, mãe, que foste com a cabeça entre as minhas mãos vagas, que te chamei e pedi para ficares quando já não estavas? Como se diz que te ia murmurando ao ouvido, que te implorava para não ires, e já tinhas ido? Como se diz, mãe, que estiveste 45 minutos de vestes rasgadas e peito desnudo, e eu só te largava a espaços, sem toque, para o desfibrilhador te acometer em espasmos e nenhum de nós recuperar do choque?
Nasceste tão doce para acabar num corpo asfixiado, magro e seminu, lábios arroxeados, incapaz de responder à minha súplica, no chão prostrada, ao lado da cama, sem poesia nem música - um corpo de nada, sem chama -, já tu planavas livre, olhando-me de cima.
Emergiste grácil desse corpo, estou certo, vaporosa como as cinzas, mas eu guardei-te perto, germinada num vaso, cantada em verso. Como água para azeite, regada a preceito, a oliveira das minhas raízes pende do parapeito para alcançar céu aberto. E os anjos, suspirantes numa frágua de amor devoto como eu a clamar o teu nome, mãe - porque mãe é o teu nome de santa -, olhavam-nos com o mesmo nó na garganta que de então me aperta a laringe também.
Celestial e bendita, lirial, silenciaste por fim mágoas e dores. Ter-te-ás feito de todas as cores e dos meus ais roseiral, que te sei alígera e ágil, ainda que levasses daqui todas as partes de mim que sem ti nem eu sei.
Quando nasci o mundo eras tu, a tua palavra era lei. E agora, mãe? A que mundo me dei? Podes dizer que me vês?, que ainda sou o menino dos três que adormeceu nos teus olhos de ternura sem fim? Ainda oiço a tua voz: “… O teu berço adornei e o pus junto a mim…” Diz-me que sim.
10 de Junho de 2021, Santarém. Foto: Ricardo Pinto
Uma corrida de fundo.
Há 18 anos nenhum de nós imaginava que, um dia, estaríamos a celebrar o rito de
passagem do Caderno de Corda para a vida adulta, especialmente com tamanha
vivacidade e fulgor, à mesa, como inicialmente preconizado pelo Grão-Mestre
Gustavo Silva, patrono d'O Jantar. Na vida sucedem-se ritos e ciclos,
celebrações e reflexões sobre alegrias, conquistas e desafios, mas também sobre
fracassos, infortúnios e desventuras, as quais não há como enjeitar,
procurando-se seguir mais forte e sábio. No entanto, aqui, e por ocasião d’O
Jantar, temos refletido, vivido e cultivado sempre alegrias, e fazemos por que
perdurem.
O primeiro melhor amigo, a queda dos dentes de leite, o
primeiro dia de escola são marcos da infância, alguns dos quais partilhamos
entre nós em memórias ainda vívidas, porque pungentes e sentidas. Na
adolescência surge a ebulição hormonal, a rebeldia, a contestação aos valores
social e familiarmente estabelecidos, mas também o primeiro amor, o primeiro
beijo. Ainda assim, é, diz-se, a maioridade que representa a transição das
transições, com a entrada, por vezes forçada e prematura, na vida adulta.
Na idade adulta, ou idade da razão, são incrementadas, mais
sérias e mais definitivas as responsabilidades, assim como as consequências das
escolhas tomadas. Na maturidade, os sonhos tornam-se mais prementes e as opções
mais dificilmente reversíveis. A Liberdade de quem dispõe de autonomia não se
dissocia da responsabilidade pelo uso dessa mesma Liberdade. Tal consciência,
dotada de sabedoria, excede em muito o cumprimento de deveres e obrigações,
instigando os livres e autodeterminados a arpoar sonhos e a perseguir novas
aventuras e possibilidades de descoberta, em particular de si mesmos.
O autoconhecimento, que nos conduz a tomar um lugar próprio
no mundo – ou a sermos, nós próprios, um lugar -, beneficia do uso de saudável
disciplina, mas não necessariamente de disciplina formal, mecânica,
proficiente. Há, a montante, uma disciplina ontológica, se me permitem, que se
traduz em persistente resiliência e inabalável crença. O mantra: "Não
desistir." E assim se cumpriu, ao Anno XVIII, O Jantar; e assim Vos
escrevo de maturidade, não ousando dar lições de tal coisa a um cão de
companhia.
O Caderno de Corda e
o livro-eucalipto
Em boa verdade, a maturidade a que aludimos não será, na sua
génese e em teoria, relativa a uma pessoa, mas a um blogue que cumpriu 18 anos
e que, de há muito a esta parte, tem n'O Jantar anual de comemoração, que serve
de pretexto a muito mais do que apenas recordar escritos que nele se publicam,
o seu momento alto. Tal deve-se, nos últimos anos, à concentração de esforços
deste que humildemente Vos escreve na produção de uma obra literária que venha
a ser digna desse nome - um romance com laivos de distopia política como sempre
quis escrever e que, sendo uma empreitada quixotesca e de grande fôlego,
absorve as horas livres de criação, qual eucalipto, secando qualquer outra
veleidade criativa ou artística. Eis a razão (ou megalomania) primordial (e
ciclópica) por que o Caderno de Corda não tem publicado mais poesia, prosa ou
canções originais. Mas, se apontarmos ao Sol, talvez caiamos na Lua.
Novamente, a maturidade adverte-nos para que não se levantem
véus prematuramente, muito menos de obra inacabada. Ainda assim, em
perspectiva, pareceu-me apropriado utilizar uma impressão do referido trabalho
em curso (à data, cerca de 120 mil caracteres em 250 páginas A4, Times New
Roman, tamanho 12) para, através da consignação de folhas escolhidas por número
de página, munir os Confrades Cordianos de matéria a excisar para leitura de
trechos escolhidos e posterior criação de um vídeo comemorativo, como tem sido
apanágio do Caderno de Corda nas mais recentes edições d'O Jantar.
Simplificando, o vídeo resulta da escolha aleatória e da reorganização de trechos
extirpados de um epopeico romance distópico em moroso processo de composição,
mais uma vez com recurso a um intrincado mecanismo numerológico de cálculo por
página, a interpretação estética à luz da sequência de Fibonacci e a uma
avançada técnica de pot-pourri. Cada Consoror e cada Confrade escolheu
um número de página, um excerto e leu-o para a câmara.
Saiba-se que, quando Vos escrevi a quase totalidade desta
crónica, o vídeo ainda não estava sequer idealizado. Aliás, exceptuando o
presente parágrafo, tudo o resto foi escrito antes mesmo que todas as Consorores e todos os Confrades me remetessem os registos das suas leituras – aqueles de nós que não
chegaram a gravar na noite d’O Jantar. O último desses registos chegou apenas
há algumas semanas. A título de
curiosidade, escrevo-Vos todo este parágrafo, inserido a talho de foice após a conclusão
do vídeo, num apartamento em Marselha, junto ao Vieux Port, epicentro dos tumultos que
eclodiram por toda a França nos últimos dias, em resposta ao assassinato do
jovem Nahel, em Paris, às mãos da polícia. Ouvem-se as explosões e sente-se, por vezes, o cheiro a queimado e a gás pimenta sobreposto à lavanda marselhesa, seguindo-se um ligeiro ardor nos olhos. Fechamos as janelas. Os meliantes, muitos deles imberbes adolescentes, correm rua acima e gritam "Gucci, Gucci", mostrando os óculos e as malas a saque... Adiante, o vídeo é, como verão, composto em quatro actos, ao som de Richard
Wagner (prelúdio do primeiro acto da ópera “Lohengrin”), Dominic Muldowny (“The
Ministry of Truth” e “Winston's Diary, the Dream”, do álbum “Nineteen
Eighty-Four, The Music of Oceania”) e The Doors (“Riders on the Storm”, do
álbum “L.A. Woman”). A escolha de “Riders on the Storm” não é, no
entanto, minha, mas do Grão-Mestre César da Silveira, que, ao introduzir novos
elementos e uma outra abordagem, acabou por modelar e dar o tom para o trecho
final do vídeo. A quase totalidade das fotos é do Grão-Mestre Ricardo Pinto e
as ilustrações foram gentil e preciosamente cedidas pelo Irmão Cordiano e
Missionário da Arte e do Belo Nuno “Corado” Quaresma.
Quanto ao livro que, desejavelmente, concluirei no médio
prazo, posso dizer que se destina a leitores de todos os quadrantes, presentes
mas também - sei-o - futuros. Porque, como aqui se escrevia há um ano, «é certo
ser este o nosso tempo; o tempo para livres habitarmos a sua substância». E
nunca é tarde demais. Agora e sempre.
Anno XVIII - O Jantar
Portanto, alimentado de fraternidade, memória, sonho, futuro
e frango assado, O Jantar reuniu 25 à mesa no dia 25 de Março, casando números,
tal como, curiosamente, há um ano fomos 23 a 23 de Abril. Chegámos, no entanto,
a ser 30 Confrades no total, contando com a habitual e preambular presença do
clã Franchi-Costa (Leonor, Matilde, Rita e Rui Pedro) e, desta feita, também do
“padrinho” Joaquim Barbosa (Quim), que não ficou para jantar. Registe-se que,
ao décimo oitavo ano, este foi o terceiro jantar realizado em data discrepante
da data tradicional de 26 de Março, véspera do aniversário propriamente dito
(27 de Março), e o primeiro a antecipar-se à data.
Também antecipadamente, assim estava o Grão-Mestre João
Trigo à porta dianteira, onde esperou com estóica brandura e fraternal
compreensão. Uma buzinadela e um aceno à passagem, de carro; o estacionamento
apressado no parque e, passo rápido, os primeiros abraços, nas traseiras do
restaurante, a Hugo Dantas, André Nobre e André Paiva, que também já ali
aguardavam. Atravessámos A Valenciana por dentro e juntámo-nos ao Trigo,
heroicamente só na dianteira, para aquele abraço apertado, grato e reparador,
penitente pela delonga. Dali fomos para a Sala Fronteira, que a espaços
revelou-se demasiado quente, ruidosa e esconsa para o grupo, mas chegou à
conta, satisfatoriamente.
Mesa posta em “U” e acepipes na távola, foram entrando os
comensais. Rapidamente se formaram, grosso
modo, duas alas: a cruz-quebradense/dafundense e a salesiana, ambas
pontuadas aqui e ali por Consorores e Confrades Cordianos de outras paragens, e
alguns até de outras e de ambas, como é o curioso caso de Nuno “Corado”
Quaresma, Missionário da Arte e do Belo. “Sintonia sinérgica”, “convergência holística”,
“identificação simbiótica”, “assimilação integrativa” e “coerência
paradigmática” são todas expressões que, referindo-se a uma harmonia profunda,
colaborativa e produtiva, fértil, descrevem o modo como o já nosso genial
“Corado” corporiza um estado etéreo que flui alegre e fraternamente pelos
jantares cordianos. «Obrigado Meu Irmão pelo carinho e por estes momentos
mágicos de ligação com esta Rapaziada vibrante e cheia de boa energia. Que
possamos brindar muitas vezes nestes e noutros momentos de Criatividade, Amor e
Reencontro”, escreveu o Corado após O Jantar via chat.
Tivemos, mais uma vez, estreias sublimes que merecem
palavras especiais, como as das Infantas Rafaela Tomás, Daniela Tomás e Nicole
Araújo, que iluminaram a sala e os corações; do Confrade André Nobre,
primaveril e imune ao frescor da aragem, desejoso por dias mais longos e
luminosos, eternamente fascinado pela fulgência das ideias, e, por fim, da
maravilhosa Consoror Ana Rangel, cuja alegria e o brilho no olhar alumiam
candeias em olhos outros e tangem emoções francas. São lágrimas, senhor! De
alegria, concórdia e afetos partilhados, entretecidos. Registe-se, como é
práxis, que os estreantes selam com a sua inestimável presença a incorporação
definitiva na Confraria Cordiana. Repita-se: uma vez da Confraria, sempre da
Confraria.
Registamos também, como sói dizer-se nesta ocasião, notadas
ausências (eles sabem quem são) e o fenómeno dos globetrotters que, espalhados pelo mundo nesta data, não puderam
comparecer. Estamos gratos, no entanto, pelos que, against all odds, conseguiram estar e ser, um dos quais vindo de
uma regata no Tejo e outro do Porto, para dar os exemplos cabais dos Irmãos
Cordianos Quim e Piri, respectivamente. E já que estamos a mencionar
ex-Doroteias (Externato do Parque) que se conhecem desde os três anos, note-se
o desencontro, por pouco, do Quim e do Frederico Cruzeiro Costa (Fred), mas
também do Sérgio Miguel Ribeiro (Miguel), que esteve a uma unha de se estrear,
mas adoeceu e não pôde juntar-se ao quarteto do Externato do Parque, transitado
em bloco para as Oficinas de São José no ciclo preparatório.
Como disse o Irmão Fred à Ana no correr d’O Jantar, somos
corredores de fundo, e daí vem a expressão que enceta este texto. O meu querido
Fred teve de sair um pouco mais cedo para cumprir compromissos. À despedida,
nas traseiras do restaurante, onde eu e o Nobre fumávamos, tirou do bolso das
calças um olho turco em vidro que trouxe para oferecer a este Vosso escriba,
dizendo que me protegeria. Já falámos depois. No entanto, não lhe disse ainda
que a Rosarinho adorou o olho turco e adoptou-o mal o viu, mas que, sem incúria
dela, o olho se partiu alguns dias depois. Caiu no chão de mármore vitrificado,
deslizando do dorso da chave do aparador de entrada onde ela cuidadosamente o
pendurara. Chorou serenamente, interiorizando a perda e atribuindo-lhe
significado. Recolhemos os estilhaços e depositámo-los no lixo. Ficou
sensibilizada. E eu. Mas vim a saber mais tarde que, na cultura turca, se o
olho se partir terá cumprido a função de proteger os seus portadores, sendo que
o descarte respeitoso e correcto dos fragmentos prolonga a boa sorte e a
protecção.
Protegidos estaríamos também na presença do Grão-Mestre e
Grande Inspector Cuteleiro João Carlos Graça, que esteve num pacato
frente-a-frente com um seu velho amigo, o Grão-Mestre Hugo Dantas, acérrimo
arguidor de traquinagens, em particular daquelas executadas sobre a sua pessoa
enquanto dormita (recorde-se a despedida de solteiro do Pinto). Pois desta
feita o João guardou a despesa das travessuras da noite para o que Vos escreve:
já A Valenciana estava de portas fechadas e nós todos na rua quando descobri
ter no capuz alguma pequena cutelaria e o naipe completo de manteigas, patés e
queijos-creme que havia no restaurante, alguns encetados, já meio comidos. Mas
foram os garfos nos bolsos traseiros das calças que, durante o jantar, ao
sentar-me, agudamente me alertaram e indiciaram o mais que provável autor de
tão bicuda e, simultaneamente, substanciosa tropelia. Não havia dúvidas: também
a zombaria do couvert tinha a
inconfundível assinatura do Grande Inspector Cuteleiro.
Com o João esteve em peso a fraternidade da geração Y da
Loja Cruz Quebrada: João Carlos, André Paiva, André Nobre e Bruno Sardo. Para
representar integralmente a estreita irmandade faltaram apenas o Grão-Mestre
Bruno Tomás e o ainda candidato a confrade Miguel Lopes (Miko). Ambos
confirmaram a presença, mas, crê-se que por motivos relacionados com distúrbios
gastrointestinais, não puderam comparecer, lamentavelmente indispostos.
Sentimos as suas ausências. Não deixamos, nesta linha, de registar duplas épicas que se reintegram n’O Jantar como se o tempo por elas não passasse:
João Trigo e Dino; Pedro “Piri” Farinha e Miguel Guerreiro Pereira; Gustavo “KJ”
Silva e César “Kaiser” da Silveira; Ricardo Tomás e Ricardo Pinto e múltiplas
outras duplas de sonho e eternidade conjugáveis e intermutáveis, como Corado e
Jacinto, sendo que apenas o Corado compareceu este ano, apesar da ausência do
seu Irmão. Fazendo uso de ideias recorrentes nesta ocasião, e constatando que
este foi O Jantar mais concorrido de sempre, verificamos mais uma vez que a
Amizade que nos une é exponencial e contagiante, e as nossas vidas seriam menos
do que outras sem do outro a nossa parte.
Menos do que outra sem a Grã-Dama Rute Ferreira e, claro, o
Grão-Mestre e Venerável Cavaleiro Cordal Ricardo Tomás, que nos deu o
privilégio de conduzi-la até nós e que será, quiçá, fonte de inspiração
retroalimentada da sua própria musa. Foram dois os quadros de autor,
predominantemente azuis, mas tão terrenos quanto celestes, magníficos, que a
Rute trouxe propositadamente para ofertar à grata família do Vosso fiel
escrevente.
Menos do que outra sem o Grão-Mestre Cordiano, Visconde do
Reino de Maconge, Magnífico Provedor do Tesouro e Supremo Jurisconsulto César
da Silveira, que veio directo de dilecta almoçarada de convivas do Reino de
Maconge – um dia literalmente em cheio.
Menos do que outra sem o Grão-Mestre e Perene Patrono
Cordiano Gustavo Silva, que chegou mais tarde, cansado, de olhos a meia-haste,
fazendo lembrar os olhos de madrugada a jogar Premier Manager na Calçada de
Santo António, mas com a resiliência de sempre, apesar das cansativas tiradas
Lisboa-Porto. Saiu mais cedo, mas esteve bem presente.
Menos do que outra sem o Grão-Mestre, Guardião do Tombo e
Venerável Cavaleiro Prismático Ricardo Pinto, cuja óptica regista proverbial e
devotamente O Jantar, e cujo coração alumia e colora a noite escura. As fotos
são quase sempre dele, mas o Caderno de Corda e O Jantar são dele como meus,
nossos.
Menos do que outra, por fim, sem o Grão-Mestre e Venerável
Cavaleiro Congénito Ricardo Girão, à cabeceira oposta deste que Vos escreve,
ambos comunicantes pelo simples olhar e por feixes etéreos de sinusoidais
psiónicas no fino ar. Girão, o último dos moicanos a resistir à noite, depois
de debandado o derradeiro grupo de obstinados Confrades Cordianos, entre os
quais se incluíam Piri, Pereira, Dantas e Corado. No final dos finais, após
várias voltas e pit stops em Benfica,
a dupla Hugo-Girão encontrou finalmente uma roulotte
em Sete Rios… Uma garrafa de água! O nosso reino por uma garrafa de água! E uma
Coca-Cola. E uma imperial.
Prosaica, a imparável tendência inflacionária do preço d’O
Jantar, a estória da negociação do banquete, que afinal se revelava mais
vantajoso do que o consumo à carta, como acabou por acontecer, levando a turma
dos digestivos a chegar-se à frente, e a civilizada discussão sobre as contas
com a gerência. Concluiu-se que, afinal, teria sido melhor ficarmos pelo preço
fixo do banquete. Os amores da minha vida irão ao Jantar quando a Rosarinho se
sentar à mesa e comer tudo sozinha, autonomamente, com ambos os talheres…
Registe-se finalmente que o Vosso fiel escriba chegou a casa perto das sete da
manhã, silencioso mas com mundos ululantes no pensamento.
Este blogue é e
continuará a ser o meu fiel depositório criativo.
Em 2024, no mesmo
sítio, previsivelmente em Março.
Legenda aleatória: Hugo Dantas, Bruno Sardo, Hugo Simões,
Ricardo Pinto, Sofia Damião, Beatriz Damião Pinto, Ricardo Girão, César da
Silveira, Nuno “Corado” Quaresma, Miguel Pereira, Pedro Farinha, Nuno “Dino”
Rodrigues, Ana Rangel, João Trigo, Sara Matos, João Graça e André Paiva. Os
comensais Gustavo Silva, Frederico Costa, Rafaela Tomás, Daniela Tomás, Nicole
Araújo, Ricardo Tomás, Rute Ferreira e André Nobre já se haviam ausentado à
hora da foto de grupo ou não se encontravam naquele momento na sala. O Clã
Franchi-Costa veio, como é já tradição, para nos dar o prazer da sua companhia
antes e ao início d'O Jantar, tal como, desta vez, o Joaquim Barbosa. Um
especial Abraço aos Confrades e às Consorores que não puderam marcar presença,
mas que estiveram no nosso pensamento. E uma foto nocturna. de bónus:
O Caderno de Corda perfaz hoje 18 anos. O Jantar da maioridade realizou-se anteontem, a 25 de março, como sempre no restaurante A Valenciana. Contámo-nos 30 confrades cordianos no total, mas "apenas" 25 comensais à mesa para um repasto cuja adjectivação diminuiria o sentimento de privilégio por dele sermos parte e pretexto.
Sendo a nossa matriz primariamente qualitativa, importa dizer que o Caderno de Corda entrará agora em modo de processamento da noite de ontem e que, em prazo indefinido, desejavelmente breve, publicará aqui o registo anual d'O Jantar. Mas foi maravilhoso!
Pedro Martins de Lima (14 de setembro de 1930 - 21 de fevereiro de 2023)
Foi no Verão de 2005 que, pelo jornal A Bola, tive o privilégio de ir até Gaia para entrevistar (leia-se antes "conhecer e privar com") o Pedro Martins de Lima - uma personalidade magnética, generosa e inspiradora, de tal modo fascinante que senti ter de deixar esta nota após tomar conhecimento do seu falecimento na passada terça-feira, aos 92 anos, ciente de que perdemos um puro.
A história de vida do Pedro dava vários filmes. Primeiro surfista português, "pai" do surf em Portugal, co-fundador do Hot Clube, cicerone de Cousteau... Epítetos não lhe chegam. De tão rica, relevante e extraordinária, a aventura linda que foi a vida do Pedro justificaria por si só todas as notas de pesar. Mas, somando-lhe a tal personalidade impactante, com doses generosas mas muito bem medidas de fraterna sageza, educada ousadia e jovial elegância, a nota torna-se para mim obrigatória. Sinto a sua perda.
A memória grata que tenho do Pedro e da sua querida Mané M. Lima, que, antes do meu regresso a Lisboa, fez questão de me servir um consommé primoroso que ainda me deixa a salivar, levou-me a procurar nos arquivos possíveis a tal peça que sobre ele escrevi em Julho de 2005. Encontrei-a em fotocópia digitalizada, que aqui publico, dando, pela minha parte, um pouco mais de lastro à memória inapagável desta marcante viagem de vida. O pequeno texto, esse, fora essencialmente focado na experiência desportiva do Pedro, em particular no que ao surf diz respeito. Era Verão e o espaço editorial na contracapa encontrava-se dedicado, naquele período, a desportos e actividades de Verão.
A entrevista derivou numa longa conversa a deambular pelo jardim e pelas divisões da casa, em Gaia, junto ao mar. Lembro-me que, a certo ponto, nos detivemos numa das divisões, repleta de registos, discos, fotografias impressionantes e recordações inestimáveis - da fotografia a preto e branco, a nadar entre tubarões, na Grande Barreira de Coral, passando pela caixa estanque para fotografia submarina que o próprio construiu a partir de uma panela de pressão para filmar documentários, terminando no icónico barrete vermelho que o amigo Cousteau lhe ofereceu. Introduziu as t-shirts em Portugal, praticou com mestria natação, hóquei, hipismo, esqui, râguebi, boxe, futebol, asa delta... Fundou o Hot Clube, onde ia noite dentro em jam sessions ao despique no contrabaixo; foi pioneiro no mergulho com escafandro, na pesca submarina e no esqui em Portugal. O que é que Pedro não fez? E fê-lo com distinção assinalável. E tudo o que eu escreva é pouco.
Há um desígnio intraduzível que
nos move e que nos une. Há uma Verdade antiga e simples que todos trazemos a
pulsar no peito, aprisionada na garganta e no estômago; nos dentes e no sangue,
pela qual nos reconhecemos. São os nossos olhos de crianças que se vêem puros,
contendo ainda a reminiscência feliz de todos os sonhos do mundo. Está já ali,
adiante, ao virar da esquina, a confirmação indomável, primeva e fatal de tal desígnio,
tecido pela memória e encimado por um prolongado e amorável abraço de recreio que
nos prendeu para sempre. As nossas vidas seriam menos do que outras sem do
outro a nossa parte. Somos Irmãos e sabemo-lo.
Em 2022 o XVII Jantar Cordiano
aconteceu na antecâmara da celebração de Abril, realizando-se um dia após a
libertação legalista do grilhão icónico e paradigmático da pandemia – a máscara
– e na antevéspera da comemoração da madrugada mais clara; da alvorada da
Liberdade. Este foi justamente cognominado “O Jantar da Libertação” – libertação
simbólica de máscaras e recuperação plena do direito de reunião em convergência
de afectos, memórias e destinos, cujas rotas, enlaçadas, traçam o mapa partilhado
da nossa própria existência. Tal como em Abril de 1974 muitos detinham a
convicção de que tudo era possível, é certo ser este o nosso tempo; o tempo
para livres habitarmos a sua substância.
Ao décimo sétimo ano, conta-se o
terceiro jantar realizado em data posterior à data tradicional de 26 de Março,
véspera do aniversário propriamente dito (27 de Março). Motivo: a mãe de todas
as mudanças de casa no mesmo período, e já foram muitas. Há dois anos, aquando
do primeiro adiamento sob o jugo da pandemia, escrevia-se aqui que O Jantar se
realizaria “com estímulo e intensidade redobrados”. No ano seguinte – há um
ano, portanto -, e mantendo-se a vigência do cativeiro pandémico, elevou-se ao
quadrado a tenção. Verificamos, pois, que exponencial e contagiosa é a Amizade
– veja-se pelas estreias dos tão estimados Confrades Cordianos Joaquim Barbosa
(Quim), Pedro “Piri” Farinha e José Moreno (Zé). Uma vez da Confraria, sempre
da Confraria. Mas lembremos Pessoa: “Não o prazer, não a glória, não o poder: a
Liberdade, unicamente a Liberdade.” Cravos!, cravos para todos!
O Caderno de Corda não vergou e em
2022 fomos 23 à mesa no dia 23, um número bom e oportuno. Numerologia e
cabalística à parte, o simbolismo dos cravos dispensa explicações, mas exige
que se atribua ao Grão-Mestre Cordiano César da Silveira, Visconde do Reino de
Maconge, a ideia. Também por sua sugestão, O Jantar foi iniciado mais cedo do
que vinha sendo costume, por volta das 17 horas, configurando um lanche
ajantarado, espécie de high tea que
redundou num jantar tradicional. Em boa verdade, o Irmão César da Silveira
havia sugerido que o dia fosse dedicado quase por inteiro à comunhão cordiana,
iniciando-se ao almoço e prolongando-se pelo jantar e noite dentro. Tão
ambicioso fito exigiria, no entanto, esforços supletivos, nomeadamente
negociais e logísticos, que não puderam ser satisfeitos nesta jornada. Não
obstante, a concepção do insigne macongino estará, apesar do ousado intento, em
cima da mesa em cogitações futuras.
Cogitante estava, à chegada à
Valenciana, o Maestro António Victorino d’Almeida, a ler um livro… À porta, pontual
e espartano, o Grão-Mestre César da Silveira aguardava. Chegou então, segundos
antes deste que Vos escreve, o Comendador da Liberdade Miguel Leão Miranda.
Éramos três e, em pouco tempo, uma dezena. Saíam empíricas e entravam Confrades
a bom ritmo até que nos constituímos indomáveis 23, por momentos 27, abençoados
pela tradicional visita (fugaz!) do clã Franchi-Costa, que este ano não se deu
à chapa – leia-se “à lente” do Irmão, Grão-Mestre e Guardião do Tombo Ricardo
Pinto, que proverbialmente assume as despesas do registo fotográfico do
evento e assegura a operação logística inerente. Assinale-se também a criação à
mesa, no prosaico verso da ementa, do logograma do XVII Anno Cordiano pela mão
de Nuno Quaresma, Missionário da Arte e do Belo, apesar do militante ateísmo
optimista. Registamos também, como sempre, notadas ausências, desejados regressos
e estreias sublimes como a da Infanta Beatriz Damião Pinto, Guardiã da
Felicidade e da Alegria. O futuro é nosso.
Entre as estreias seniores notabiliza-se
um Abraço de intensidade cósmica, há muito adiado, que marca o reencontro com o
querido e eterno Irmão Quim, que se encontra a preparar o regresso da Polónia a
Portugal – o reencontro com parte tão significativa, profunda e primacial de
mim próprio. Já o mui querido “old chap”
Piri, após anos de conquista por essa Europa fora, radicou-se finalmente no
País, mas no Porto. Ainda assim, veio do Canadá de véspera e não falhou. Quim e
Piri, dois verdadeiros globetrotters,
dois brilhantes e queridos Amigos desde os três anos de idade. A distância
nunca será bastante para nos apartar. Last
but not least, o reencontro com o também mui querido Zé Moreno, cujo debute
reforça sobremaneira a Fraternidade Cordiana. As décadas parecem contrair-se ao
vê-lo e diluir-se assim que nos abraçamos de novo. Esta tríade de seniores selou
com a sua inestimável presença a incorporação definitiva na Confraria Cordiana.
Repita-se: uma vez da Confraria, sempre da Confraria.
Lunares, após O Jantar e de novo ao
desafio do Grão-Mestre César da Silveira, seis resistentes levaram a noite
cordiana a pé, da Valenciana ao Príncipe Real, onde o César se quedou por força
de um almoço familiar no dia seguinte. Os restantes cinco - Girão, Hugo, Sardo,
Jacinto e Corado - seguiram para o Bairro Alto e desaguaram perto das seis da
matina em Santos, na Merendeira. Pão com chouriço e caldo verde para forrar o
estômago e aconchegar o espírito. Eram sete da manhã quando este Vosso escriba
chegou a casa, depois de atravessar a lezíria com o Sol à direita, a romper o
horizonte, e o coração cheio, lamentando apenas não estar mais tempo com todos
e cada um. Subsiste, mais uma vez, a ideia de que o Caderno de Corda não
desiste porque a Amizade não desiste; nós não desistimos. O Caderno de Corda
não vergou. Enquanto houver estrada para andar.
Não se conclui o post sem antes explicar a opção pela
publicação das fotos em formato de vídeo, uma vez que o Blogspot (Blogger) não
possui em backoffice um widget que permita publicar, por
exemplo, uma galeria de fotos, pelo menos que se conheça. Tal poderá dever-se, em
parte, ao facto de que o Caderno de Corda nunca cedeu à actualização de templates, uma vez que perderia todas as
suas formatações originais em HTML autodidacta, o que também acabou por
conduzir o blogue a um beco escuro e fundo da Internet que o Google abandonou e
esqueceu. As fotos serão ainda posteriormente publicadas na página do Caderno
de Corda na rede social Facebook. A delonga na publicação deve-se, por sua vez,
ao facto de ter estado adoentado na semana seguinte, ao trabalho e, agora, ao
Covid. Sim, fui diagnosticado positivo pela primeira vez. Embora o texto tivesse
sido escrito logo após O Jantar, o vídeo tomou mais tempo do que o desejado.
Uma palavra final de especial
apreço e gratidão para o Irmão e Grão-Mestre Ricardo Tomás, que, uma semana
após O Jantar, sabendo da instalação de Internet deficiente e deficitária no
quartel-general cordiano, viajou de imediato da Margem Sul para Almeirim e não
apenas resolveu o problema, como otimizou todo o serviço. É graças a ele que os
posts comemorativos do XVII Aniversário
Cordiano finalmente Vos chegam pelo éter como se dançassem.
Este blogue é e continuará a ser
o meu fiel depositório criativo.
Em 2023, no mesmo sítio, previsivelmente
em Março.
Legenda aleatória: Rui Pina, João Barroso, Bruno
Sardo, Miguel Leão Miranda, Ricardo Girão, Pedro “Piri” Farinha, Carlos Nunes, José
Moreno, Nuno “Corado” Quaresma, João Trigo, Rui Jacinto, Rute Gil, Ricardo
Tomás, Bruno Tomás, Rute Ferreira, Miguel Pereira, Beatriz Pinto, Joaquim
Barbosa, Sofia Damião, Hugo Simões, Ricardo Pinto, César da Silveira e Carolina
Pinto. O Clã Franchi-Costa veio, como é já tradição, para nos dar o prazer da
sua companhia antes e ao início d'O Jantar. Um especial Abraço aos Confrades e às Consorores que, pela iniquidade da Vida, não puderam marcar presença, mas que estiveram no nosso pensamento.
Desenho do Mestre Nuno "Corado" Quaresma. 23 de Abril de 2022.
A publicação da crónica d'O Jantar está para breve. Desejavelmente, seria hoje, dia 25 de Abril, que o Caderno de Corda daria a conhecer o que foi O Jantar ao passar deste XVII Anno de blogue. São numerosas as fotos que ilustram a Fraternidade Cordiana, desde logo pelo empenho do Grão-Mestre Ricardo Pinto, que proverbialmente assume as despesas do registo fotográfico do evento. Este foi O Jantar da Libertação - a libertação legalista do grilhão icónico e paradigmático da
pandemia (a máscara) na antevéspera da comemoração da madrugada mais clara;
da alvorada da Liberdade.
Passaram-se dois anos consecutivos sem que pudéssemos concretizar O Jantar, ao longo dos quais nos cercearam direitos e liberdades, nomeadamente de reunião. Digamos pouco agora. Tivemos a madrugada esperada e um dia limpo para emergir da noite e do silêncio. Livres habitámos a substância do tempo. Grato a Sophia de Mello Breyner Andresen por um simples verso, tão adequado às circunstâncias. Cravos para todos! O Caderno de Corda não vergará. 'Té já.
Maria Teresa dos Santos Cabrita de Almeida de Brito Simões (11/07/1953 - 12/09/2020)
A minha mãe, Maria Teresa dos Santos Cabrita de Almeida de Brito Simões, faleceu por volta das sete horas da manhã de dia 12, sábado, aos 67 anos. A cerimónia de cremação decorrerá amanhã na Capela do Cemitério de Almeirim, pelas 10h30, e a cremação será às 11h30.
O convite, em jeito de desafio, do Mestre António Simões encheu-me de felicidade, mas também de um sentido de grande responsabilidade. Por ser vindo de quem vem e de onde vem, e ainda pelo momento em que todos nos encontramos. Seria escusado dizer que me sinto extremamente honrado por se terem lembrado de mim. No entanto, tenho de ressalvar que este não é apenas um jornal - é o meu jornal do coração desde criança; o jornal com o qual aprendi a ler... jornais; o jornal no qual sonhei trabalhar um dia e no qual aprendi a fazer jornalismo diário, anos mais tarde. A foto é do meu querido Carlos Mateus de Lima e a não atribuição da autoria nesta página 13 deve-se inteiramente ao meu lamentável esquecimento.
O meu pai, Orlando de Brito Simões, faleceu esta madrugada com 67 anos. Há cerca de duas semanas esteve internado no Hospital de Santarém, donde teve alta ao final de três dias com diagnóstico de infecção respiratória aguda. Não foi testado para despiste de Covid-19. A médica que o assistiu foi entretanto testada positivamente. Não haverá velório. O funeral terá lugar no Cemitério de Santarém, segunda-feira, pelas 9h30. Apenas poderão comparecer até 20 pessoas.
Inicia-se, por esta mesma hora, uma viagem de deslumbramento. A madrugada alta abriu-me as persianas com esta imagem, recebida às 5h34. É o dia da Beatriz, mas também da Carolina, da Sofia e do Ricardo; do clã Pinto e do clã Damião; dos amigos e de todos quantos lhes querem muito. É por esta mesma hora que a Beatriz, a portadora de felicidade, inicia a sua rota peregrina. E eu, feliz até às lágrimas, sou um privilegiado por partilhá-lo. Até já.
José Mário Branco, do Porto, muito mais vivo que morto
Tive o privilégio de conhecer José Mário Branco em 2008, mais precisamente no dia 9 de Fevereiro, quando os meus Baby Jane se juntaram a ele em concerto de protesto pelo Movimento Porta 65 Fechada. Além da grandeza da obra, do carácter e do génio, ficou-me gravado o trato extraordinariamente afável de um homem terno, solidário, generoso e humilde, pronto para os outros e para a guerra. Ouçamos a imortal catarse.
Pela segunda vez nos 14 anos de existência do Caderno de
Corda, O Jantar anual realizou-se em data posterior à data da celebração do
aniversário do blogue (27 de Março), uma vez que este vosso fiel escriba tinha
viagem marcada para estadia de uma semana em Fez, Marrocos – viagem que não se
concretizou por medida profiláctica, tendo em conta um súbito estado febril da
minha Rosarinho. Assim, foi definido inicialmente o dia 1 de Abril, de imediato
alterado para dia 2 de Abril para que o Grão-Mestre Cordiano Ricardo Pinto
pudesse estar presente, na companhia da querida Mestre Sofia Damião.
Como sempre no restaurante A Valenciana e dedicado aos
indefectíveis Irmãos cordianos e estimados leitores, O Jantar viu introduzidas algumas
novidades nesta edição, sendo certo que quase todas se consubstanciam no vídeo que
enceta o presente post e que introduz o novel poema “Quartus Decimus”. Aqui apresentado
em estreia absoluta, “Quartus Decimus” resulta da escolha aleatória e da reorganização
de versos extirpados do livro “Sétima-Feira” (2012).
Com recurso a um intrincado mecanismo numerológico de cálculo
por página e linha, a interpretação estética à luz da sequência de Fibonacci e
a uma avançada técnica de pot-pourri, “Quartus Decimus” é, em primeira análise,
formado pelos estimados confrades d’ O Jantar. Cada qual escolheu um número de
página, um número de linha e leu para a câmara o verso que lhe coube em sorte. Os
maestros da composição são, no entanto, John Cage (Sonata I) e Iannis Xenakis
(Pléiades). A câmara e parte significativa das fotos são do Grão-Mestre Ricardo
Pinto. Bem vistas as coisas, não precisei de fazer nada. Fizeram tudo por mim.
Eis o poema:
Quartus Decimus
Último e primeiro por Saturno,
o Grande Chef tem a mesa posta pelos seus criados,
apóstolos, anjos, autores do mais fantástico romance.
A voz, ao nascer, caminha sobre um espelho partido.
Um puto de boné do Benfica chuta torto
e a bola aloja-se debaixo do banco.
Os pássaros cantam no escuro
e sou uma espécie de capricho,
uma epiderme granítica de seixos
que escondera outra cidade.
Posso convocar dos confins subterrâneos
os átomos das pessoas desaparecidas.
A erva-moura tem dons de terapia.
Esperança é coisa com penas que canta sem palavras;
montar uma tenda junto à praia
e deixar ir o carro em ponto morto, ir,
e de nada me valia saber no exacto instante.
Tu sabes que um sorriso falso nos esmorece.
Se eu morrer antes, sobrevive-me.
Talvez o fim seja um começo.
O dinheiro continua a ser papel.
Além de notadas ausências – algumas das quais de última
hora, como a do Grão-Mestre João Trigo -, sublinhe-se a do Grão-Mestre João
Pimenta, que, este ano, apesar da permanência em Sines, quase teria marcado
presença em virtude do expectável nascimento da sua terceira filha por estes dias, em Lisboa,
mas tal acabou por não ser possível dada a fixação do dia do nascimento
para momento posterior, tendo o Pimenta regressado a Sines à data d’ O Jantar.
Podemos assim espalhar a feliz notícia em primeira mão do nascimento da doce Maria
Francisca Pimenta, mas no dia 8 de Abril de 2019 ao meio-dia.
No capítulo das estreias, contámos pela primeira vez com a
querida Inês Sampaio Soeiro e com o meu velho e talentosíssimo amigo "algarvio" Nuno “Corado” Quaresma, companheiro de aventuras incontáveis no final do século
passado em Armação de Pera, reencontrado casualmente por intermédio do amigo comum e Intendente Cordiano Rui
Jacinto. Uma vez da Confraria, sempre da Confraria.
No final da noite juntou-se
a nós o Mestre do Tabernáculo Rui Pina, saído de um dos muitos ensaios
pós-laborais da sua agenda, ainda a tempo de devorar um prego bem passado. Os
últimos cartuchos foram queimados no exterior, na companhia dos sublimes
comendadores da Loja Cruz Quebrada – Ricardo Tomás, Rui Pina, Hugo Dantas e
Ricardo Pinto.
Este blogue é e continuará a ser o meu fiel depositório
criativo.
Legenda aleatória: Gustavo Silva, Ricardo Pinto, Hugo Simões, César da Silveira, Miguel Leão Miranda, Rui Jacinto, João Barroso, Simone Palma Mezzomo, Inês Sampaio Soeiro, Nuno Quaresma (Corado), Miguel Pereira, Ricardo Tomás, Hugo Dantas e Sofia Damião. A
Rita Franchi, o Rui Pedro Costa e as suas
queridas meninas vieram, como vem sendo habitual, para nos dar o prazer da sua
companhia antes e ao início d' O Jantar. O Rui Pina chegou depois, ainda a tempo de desmanchar um prego.