Estórias 7 - Aragón, el gringo de la Chuaterca de los Álamos
Ela tinha as unhas partidas. Na mão, um copo de whisky. A saia destapava-lhe as pernas, os seios transbordavam, redondos, da camisa justa de cetim com motivos florais, e nada se dizia a seu favor naquela casa de ruim reputação. A meretriz dançava ao som da rumba com um salto partido, e a barriga da perna, tensa, fazia-se notar. Ernesto viu nela Cassandra sob o lusco-fusco carmesim e o álcool entorpecente. Parecia-lhe o amor da sua vida, a bela Cassandra que o deixara só, para depois se intoxicar em aspirina, antidepressivos e analgésicos (que Ernesto sempre julgara serem supositórios); beber 75 cl. de whisky; desmanchar, irascível, o vestido de noiva; elogiar Evita Perón e Pinochet na mesma frase, e tudo na mesma noite, na mesma meia-hora. Depois, Ernesto só se recorda de a ver lançar-se da varanda, em voo picado para a glória vertiginosa da morte vomitada de um sétimo andar. Ernesto, o quixotesco caixeiro-viajante uruguaio, levantou-se da cadeira que se ouvia ranger em dias de silêncio solarengo sem música latina, bamboleou-se, ébrio, até junto do balcão do bar em tábuas e pipas, chegou-se ao mexicano mariachi de sombrero e bigode espaventoso e perguntou-lhe quem era aquela mulher. Paquito, o mexicano, que apoiava o queixo nas mãos, e as mãos, uma sobre a outra, na garrafa, parecendo querer selar definitivamente os vapores da mescalina, olhou-o semicerrado de lado como se visse nada senão um vulto.
- Aragón! Tienes que hablar con el gran Aragón, señor de las Chiquititas - disse o mariachi gorducho apoiado na garrafa.
- Pero... quien es Aragón? Donde está el hombre? Las Chiquititas?! Yo solo quiero mi Cassandra...
- Si, cojones! Aragón, el gringo. Cuanto a Cassandra, no hay ninguna Cassandra aquí!
Um homem distinto interrompe o diálogo possível entre os dois burgessos. Era Aragón, senhor das terras de La Chuaterca de los Alamos e mestre soez das perversas mulheres do Chiquititas Palace, antro da vergonha local e da luxúria dos forasteiros. O desencaminhado fidalgo lança:
- No hay Cassandra aquí, pero estavas mirando Ruby. Habla con ella ahora y, si quieras, llama-la Cassandra. Le gusta doggy style. Mañana puedes ir sin pagar.
Aragón sempre fora um cavalheiro e amigo de seu amigo. Na penumbra dos quartos do Chiquititas Palace, Ernesto pensou, enquanto a tequilha performava o seu efeito, ter copulado com a saudosa Cassandra e não a rameira Ruby. Aragón sempre o soubera. Do escritório, observara o mais pequeno gesto de Ernesto, que reconhecera de quando ambos haviam lutado juntos pela causa Zapatista. Ernesto não o identificou sem barba, nem com aquele chapéu de cowboy. Aragón procurara redimir-se depois de, 20 anos antes, ter traído Ernesto, que ficara nos Andes pela causa e dera o endereço de Cassandra ao companheiro Aragón que, ferido em combate, regressava à cidade. Aragón entregou mais do que uma carta a Cassandra, onde Ernesto devotava o seu profundo amor...
n.b. - Escrita recentemente para o Crónica dos Maus Malandros, a "Estória 7" - "Aragón, el gringo de la Chuaterca de los Álamos" - é hoje republicada e dedicada no Caderno de Corda ao Miguel Aragão, que ainda não se dignou adicionar ao Crónica, fechando o tridente Davi Reis - Sheep Shagger - Aragón. Esperamos por ele.
Etiquetas: Estórias e Verosimilitudes, Hipertexto Vazante, Prosas Cordianas, Quotidianos
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