Viatìcu, cammínu, percursu, cognitio, libertáte: Parisii!
A Torre Eiffel vista por baixo, à noite (a foto é de telemóvel, como, aliás, as duas seguintes)
“Os homens tropeçam por vezes na Verdade, mas a maior parte torna a levantar-se e continua depressa o seu caminho, como se nada tivesse acontecido.” Churchill terá dito também que “o orgulhoso prefere perder-se a perguntar qual é o seu caminho” – e, irra!, como eu conheço gente assim!
“Viajar é nascer e morrer a todo o instante.”
“Somos sempre levados para o caminho que desejamos percorrer” - já se escrevia pelos doutores hebreus debaixo das barbas hirsutas, cerdosas, eriçadas, nas sombras assombrosas da luz trémula do círio, fora pela noite ululante, escura e seca. Mas jamais qualquer Talmude imaginável da doutrina e dos costumes, ilegível sob a poeira babilónica, me confessaria outrora sussurrado (timidamente escrito) o mais longínquo extremo do destino. Daí também o percurso, o conhecimento, a liberdade. “Percorrer o Caminho” - eis a dimensão verbal expressiva simples que, no meu dicionário, melhor se adequa à experiência da viagem de longa distância por via terrestre, em oposição à viagem de avião, pela qual nos sentimos como que imediatamente “teleportados” de um local para o outro, para qualquer parte do planeta a quase qualquer hora, e sem experiência cognitiva e sensível de permeio. Fui de carro, sim, como aliás já havia escrito. O destino final e mais longínquo do ponto de partida (Lisboa) acabou por ser, impromptu, Paris.
Manejando habilmente as alavancas dos mecanismos do improviso, como é apanágio da boa gente lusitana, traçando a rota do dia seguinte em função do Caminho percorrido, concluímos, a meio da primeira semana, algures em Bilbao (já depois de visitar o Guggenheim), que poderíamos estar em Paris na sexta-feira, sem grande esforço. O risco fascinante embebido em emoção gerava um qualquer engrandecimento de espírito que acabaria a sofrer suavemente por antecipação, mas muito pior seria a indelével culpa pela oportunidade perdida, pejada de cobarde passividade existencial... Talvez o que senti fosse meramente adrenalina.
Escreverei então, para que fique registado, o itinerário da viagem, que realmente se iniciou quando a dois (com partida de Santarém para Vila Nova de Cerveira), no dia 21 de Julho de 2006, e não no dia 20, desde Lisboa, donde parti sozinho:
Ida
Lisboa; Santarém; Vila Nova de Cerveira; A Coruña; Gijón; Picos da Europa (Covadonga, Arenas de Cabrales, Naranjo de Bulnes); Bilbao; Bordeaux; Poitiers; Chartres; Versailles; Paris.
Regresso
Paris; San Sebastián; Vitoria – Gasteiz; Miranda de Ebro (xiiiii); Valladolid; Tordesilhas – o almoço na Plaza Mayor (ou Pequeña?) foi agradável, mas a casa-museu onde se assinou o Tratado estava fechada, sem quaisquer indicações, lamentavelmente, talvez devido à siesta; Salamanca e, finalmente, Portugal, Lisboa, um céu azul divinal e límpido, e um calor dos demónios.
Manejando habilmente as alavancas dos mecanismos do improviso, como é apanágio da boa gente lusitana, traçando a rota do dia seguinte em função do Caminho percorrido, concluímos, a meio da primeira semana, algures em Bilbao (já depois de visitar o Guggenheim), que poderíamos estar em Paris na sexta-feira, sem grande esforço. O risco fascinante embebido em emoção gerava um qualquer engrandecimento de espírito que acabaria a sofrer suavemente por antecipação, mas muito pior seria a indelével culpa pela oportunidade perdida, pejada de cobarde passividade existencial... Talvez o que senti fosse meramente adrenalina.
Escreverei então, para que fique registado, o itinerário da viagem, que realmente se iniciou quando a dois (com partida de Santarém para Vila Nova de Cerveira), no dia 21 de Julho de 2006, e não no dia 20, desde Lisboa, donde parti sozinho:
Ida
Lisboa; Santarém; Vila Nova de Cerveira; A Coruña; Gijón; Picos da Europa (Covadonga, Arenas de Cabrales, Naranjo de Bulnes); Bilbao; Bordeaux; Poitiers; Chartres; Versailles; Paris.
Regresso
Paris; San Sebastián; Vitoria – Gasteiz; Miranda de Ebro (xiiiii); Valladolid; Tordesilhas – o almoço na Plaza Mayor (ou Pequeña?) foi agradável, mas a casa-museu onde se assinou o Tratado estava fechada, sem quaisquer indicações, lamentavelmente, talvez devido à siesta; Salamanca e, finalmente, Portugal, Lisboa, um céu azul divinal e límpido, e um calor dos demónios.
“Os homens tropeçam por vezes na Verdade, mas a maior parte torna a levantar-se e continua depressa o seu caminho, como se nada tivesse acontecido.” Churchill terá dito também que “o orgulhoso prefere perder-se a perguntar qual é o seu caminho” – e, irra!, como eu conheço gente assim!
Se é verdade que o homem não precisa de viajar para engrandecer, pois traz em si o infinito, recordo as palavras de Victor Hugo, jacente no Panteão de Paris, que visitei, em pleno Quartier Latin:
“Viajar é nascer e morrer a todo o instante.”
Etiquetas: Fotos e Imagens Cordianas, Prosas Cordianas, Quotidianos, Textos Alheios, Viagens
6 Comments:
Sejas bem vindo!
Ainda por cima dás sorte ao Glorioso! ;-)
:)
Obrigado, companheiro. Um empate com sabor a vitória... Demasiado insosso para o nosso palato.
depois de tanto tempo sem deixar aqui qualquer comentários, algumas breves palavras têm de ser escritas, em nome da verdade:
- gostei de te ver no Domingo na mansão do Amaral. Foi bom estarmos novamente juntos, pena que por pouco tempo... como se todo o tempo fosse suficiente para todas as conversas! Temos de combinar qualquer coisa... a garagem do "bateras" deixou-me a criar alguns cenários...
- se o teu regresso trouxe sorte ao benfica, não tenho muitas esperanças de ver o meu Benfica em grande na Europa este ano. Então empatar com os "amadores" do Aústria de Viena é um bom resultado? Quem não deseja trazer uma vitória com a camisola do benfica, não merece ser do Benfica... levem-me a mim, e até com uma perna manca vou comer a relva!
- Em relação á tua viagem, espero que haja algo mais a escrever, porque de Paris, e sobre Paris, nunca está tudo dito, e com a intensidade e a destreza com que nos presenteias com as tuas palavras ainda se pode tornar um local mais aprazível... eu ADORO PARIS, e sempre vou adorar... a Luz, as Pessoas, os Monumentos... e sobretudo, os "croissants"... ke falta mano velho, ke falta!
Aquele abraço. Um beijinho á parceira de viagem... essa "viagem" que é a vida!
Mano: Por esta altura já fiz uma análise ligeira do necessário para a insonorização, a baixo preço e de fácil implementação. Parece que vai ser mesmo preciso criarmos o cenário... Adivinha quem vai providenciar a mão-de-obra... :) E sabes que não me refiro a "castelos de areia".
Quanto ao Glorioso, também eu não auguro grandes feitos. Quando se tem em campo, em simultâneo, o Paulo Jorge, o Nuno Assis e o Marco Ferreira numa Liga dos Campeões, os indicadores não são, por certo, os mais favoráveis...
No tocante à viajem, o problema é talvez esse: há MUITO mais a escrever. Demais. :) Veremos.
Os croissants!!! Ir a Paris e não comer croissants é como... ir a Paris e não comer croissants! Mas lá andámos de baguetezinha debaixo do braço...
Mano, aquele abraço que tu sabes.
Afinal não foi só até ao País Basco. Se tenho visitado o teu Blog antes das férias já sabia o percurso que irias fazer no bolinhas 250 e não tinha ficado surpeendido com o teu telefonema de Cerveira, daquela bela casa apalaçada do MA. Continua a viver bem a tua vida. Viajar é olhar, com o sem telenóvel que possa tirar fotos por baixo da Totrre Eiffel.
Beijinhos do tio RM.
Tio: Ler um comentário do tio no Caderno de Corda é, só por si, uma satisfação que se manifesta de orelha a orelha. A constatação da nossa proximidade é motivo de felicidade e orgulho.
Beijinhos, tio.
n.b. - se por acaso eu voltar a escrever viagem com "j" (como se no presente do subjuntivo, na terceira pessoa, "viajem"), perdoem-me, pois é resultado de uma espécie de dislexia inconsciente inevitável. Eu sei que o substantivo se escreve com "g", ok? Pronto, estão avisados.
;)
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