Saddam Hussein enforcado - Primeiro post de 2007 não augura bons ventos, mas...
Valha-me a água suja do imperialismo ou também eu poderia ter sido engolido por uma vaga de ilusória alegria auto-infligida, catalisada a álcool... Uma fugaz alegria à escala mundial que dissimula a preocupação e a tensão instaladas um pouco por toda a parte, sem distinção de raça, credo ou classe.
Passemos sem cortesias à execução medieva do ditador Saddam Hussein no passado sábado, às 3 horas da manhã, numa aparente cave húmida e sem janelas, por carrascos encapuçados.
Mais uma vez assistimos, com o alto patrocínio da Realpolitik norte-americana, a uma torpe e pública violação dos direitos fundamentais. Pior: o Sumo Idiota Bush, a dormir serenamente no seu rancho no Texas quando Saddam foi enforcado, já tinha deixado opinião clara, antecipando o acto como “um marco para a reconstrução democrática do Iraque”. A este nível, já nada nos surpreende, se vindo do homem que invade para impor uma tal democracia...
Passemos sem cortesias à execução medieva do ditador Saddam Hussein no passado sábado, às 3 horas da manhã, numa aparente cave húmida e sem janelas, por carrascos encapuçados.
Mais uma vez assistimos, com o alto patrocínio da Realpolitik norte-americana, a uma torpe e pública violação dos direitos fundamentais. Pior: o Sumo Idiota Bush, a dormir serenamente no seu rancho no Texas quando Saddam foi enforcado, já tinha deixado opinião clara, antecipando o acto como “um marco para a reconstrução democrática do Iraque”. A este nível, já nada nos surpreende, se vindo do homem que invade para impor uma tal democracia...
No entanto, os pregadores da tolerância, a quem tudo é permitido, não só subscreveram oficialmente o crime, como nada fizeram para que as degradantes imagens da execução - apenas interrompidas quando o carrasco acomoda a corda ao pescoço do déspota - não fossem transmitidas. Sempre se conheceu a relutância dos invasores quanto ao assassinato súbito de Saddam, cujas circunstâncias inesperadas poderiam tranformar num mártir, por entre a névoa dramática e simbólica da batalha. Mas, conhecendo a administração Bush pela observação dos seus actos e deliberações, talvez fosse óbvio o despojamento humilhante e prematuro do carniceiro, que assim serve de símbolo da vantagem americana, como se de uma pseudo-vitória se tratasse.
Mas Saddam teria, na verdade, um importante contributo a dar à preservação da memória. O seu papel não estava terminado. A aniquilação do tirano apagou definitivamente uma página da História, ainda que negra. Os segredos de Saddam, os seus receios e opiniões (que um homem, mesmo um assassino, também chora) foram definitivamente arredados do conhecimento público. A sua versão dos acontecimentos será para todo o sempre deturpada. Bem sei ser óbvio a quem tudo isto interessa, incluindo o silenciamento permanente de Saddam...
E não esqueçamos a época do ano escolhida precipitadamente para o atabalhoado enforcamento... às portas dos festejos do ano novo, quando todos estão demasiadamente embrenhados nas suas pequenas férias, nos afazeres e preparativos, na euforia colectiva de pensar em nada e tudo fazer sem nada pensar. A técnica é antiga. A execução de Saddam foi, no prazo de 24 horas, uma manobra lateral de diversão com prazo terminal de validade. Saddam foi duplamente silenciado.
À excepção da Inglaterra, cuja dignitária afirmou ter Saddam pago uma dívida para com o povo, toda a Europa condenou o acto, recordando o objectivo da abolição universal da pena de morte.
Este já não é um sintoma do grau de perigosidade em que se encontra o ideal democrático, nem creio que se possa insistir numa condição humana esperançosa para aquela terra, ou que seja razoável considerar o acontecimento como uma perda de oportunidade para a hipócrita causa democrática e livre do Iraque. O Iraque perdeu a sua oportunidade logo quando os EUA invadiram o Afeganistão. A oportunidade do Iraque é a mesma do arguido Saddam Hussein. E tem os dias contados.
* Democrática, democrática... é a Coca-Cola! *
Etiquetas: Conspiração, Imagens e Afins, Prosas Cordianas, Totalitarismos
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