terça-feira, setembro 30, 2025

Vilanela do Pão Repartido

Uns vivem de sobra, outros de nada.
Champanhe do tecto, seco o lameiro.
Do pão repartido vem a alvorada.

O latifúndio sela a terra vedada;
a fortuna perpetua-se no herdeiro.
Uns vivem de sobra, outros de nada.

A luz cortada, a noite gelada;
febre de Inverno, fome em Janeiro.
Do pão repartido vem a alvorada.

À mesa comum, vida semeada –
da terra nasce um pacto verdadeiro.
Uns vivem de sobra, outros de nada.

A brasa do povo inflama a jornada;
a foice abre um amplo carreiro.
Do pão repartido vem a alvorada.

Terra, poema em seara bordada.
A aurora é pão aberto, mundo inteiro.
Uns vivem de sobra, outros de nada.
Do pão repartido vem a alvorada.

Vilanela integrante do "Tríptico de Vilanelas para o Século XXI",
por Jeremias Cabrita da Silva, in "Ars Poetica et Rebellis"
(Edições Cravo & Ferradura, 2027)

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