quarta-feira, março 11, 2020

Da paranóia e da neurose colectivas

Lido num livro que está a ser escrito:

"Juntando peças, Jeremias não podia deixar de constatar os preparativos para, em última análise, o nascimento de um estado policial global com um governo invisível, omnipotente, que controlava já o governo norte-americano, a União Europeia, a OMS, a ONU, o Banco Mundial, o FMI e toda e qualquer instituição de calibre semelhante. Estava tudo à vista de todos: o terrorismo promovido pelos governos, que, por sua vez, muniam esse mesmo terrorismo; o controlo da população por intermédio da manipulação dos media e do medo; as crises financeiras forjadas para cavar mais profundos fossos entre o pequeno e o grande capital, e entre ricos e pobres de uma forma geral; as pandemias e as doenças criadas em laboratório com o fito de servir múltiplos propósitos geopolíticos, mas também como forma de produzir um efeito de arrastão pelo qual, ciclicamente, as farmacêuticas colhiam os resultados de campanhas de medo minuciosamente planeadas."

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segunda-feira, março 30, 2009

"Arte é tudo aquilo que se faz com amor" (Jeremias Cabrita da Silva)

terça-feira, novembro 13, 2007

"Temos um dia para nos realizarmos. O único dia que temos é hoje." (Jeremias Cabrita da Silva)

terça-feira, outubro 23, 2007

"Se o pano caísse sem que aplausos se ouvissem, morreria duas vezes" (Jeremias Cabrita da Silva)

Se o pano caísse
sem que aplausos se ouvissem,
morreria duas vezes.

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terça-feira, setembro 04, 2007

Bastidores (Bernardo Cunha Simões, 1920-1963?)

Quando o grito se aquieta
E a revolta se suprime,
Agarra a foice firme,
Separa o joio velho
do trigo mais sublime.
Quando em silêncio aceitas
O cartola que te verga,
Vê lá se lhe acertas
Onde ele não mais se erga.
Se te esgrimes com verdades,
Grunhe fino o bacorinho;
Há-de dar-te as liberdades
Que só terias sozinho.
Bebe o trago do gargalo,
Sôfrego engasgo no vinho;
Vive livre e com embalo;
Segue feliz o caminho.
Comensal, eu não me ralo
Se passas fome de carinho,
Mas não esqueças que o galo
Desperta o pobre e maça o rico.
A turba emerge silenciosa e esguia
Todas as manhãs com o raiar do dia.
Somos peças de xadrez,
Peões fracos, meros actores
Que acabam por, à vez,
Engolir sapos; esquecer valores.
Mais dia menos dia levantam-se os mortos
Pelas nossas dores,
E actores que somos, absortos,
Deixamos vagos os bastidores
Da vida morta que levamos,
De poemas sem cantores,
Da trova brava que levantava clamores.


Bernardo Cunha Simões (Biografia)

Bernardo Cunha Simões escreveu, ao longo da vida, um vasto rol de poemas sobre a sua experiência no Alentejo e na Covilhã, onde nasceu a 21 de Maio de 1920. Bernardo iniciou-se literariamente com um conjunto de escritos sobre os anos passados no Liceu da Covilhã, onde estudou até ingressar no curso de Medicina na Universidade de Coimbra, anos mais tarde. Em Coimbra, foi colega e camarada de outro Bernardo, o Santareno (pseudónimo de António Martinho do Rosário), cuja obra inédita “O Punho”, localizada no quadro revolucionário da Reforma Agrária, em terras alentejanas, terá sido inspirada pelas conversas tardias entre ambos e pelo conhecimento partilhado de Bernardo Cunha Simões sobre o Alentejo, onde amiúde se refugiava, procurando a paz e o sossego que teimavam não abundar.
No início dos anos 40, Bernardo Cunha Simões já apresentava um conjunto vasto de textos políticos, memoriais, de debate social e até esotéricos. No entanto, nenhum fora publicado senão em documentos académicos dos quais se perdeu rasto.
Porque tinha uma avó acamada na Covilhã, padecendo de pneumonia, abandonou o curso para assisti-la, não tendo voltado para concluir o seu percurso académico. Em 1942, após o falecimento da avó nos seus braços, procurou novas experiências e lugares, tendo encontrado no Alentejo a serenidade que buscava.
Foi em Évora que Cunha Simões conheceu, na década de 50, o poeta alentejano autodidacta Jeremias Cabrita da Silva, com quem privou e passou temporadas de boémia em Cuba do Alentejo, fugido da repressão crescente de que ia sendo alvo pela parte do regime vigente. Considerado pela PIDE/DGS um “comunista indefectível” e líder encapotado de movimentos estudantis, foi desde cedo perseguido pela polícia política, para quem representava uma séria ameaça enquanto fazedor de opinião no seio académico, mesmo após o abandono de Coimbra. Escreveu para diversos fins panfletários e revolucionários, muito antes de se sonhar com o 25 de Abril. Fê-lo, no entanto, sob pseudónimos vários, pelo que é hoje quase impossível atribuir-lhe com precisão a grande parte dos textos políticos que publicou clandestinamente.
“Procurou desde criança perceber o porquê das desigualdades entre os homens”, afirmou ao Caderno de Corda o amigo Jeremias Cabrita da Silva, fiel depositário da obra poética do autor - toda ela inexplicavelmente inédita até hoje, apesar das diligências levadas a cabo por Jeremias junto de editores vários do Sul do País.
Em 1963, sob disfarce – óculos, barba e roupas que o aparentavam mais velho -, Bernardo Cunha Simões estava de regresso à sua cidade natal, depois de exilado em Paris por um ano. Percorria o emaranhado de ruelas da zona histórica da Covilhã quando foi abordado por um agente da GNR que o viu acender um cigarro com um isqueiro. Na ausência de licença de porte de isqueiro, Bernardo Cunha Simões foi descoberto e levado, algemado e pontapeado, pelo caminho da Rua Direita até à esquadra, donde nunca mais se soube do seu paradeiro ou estado de saúde. O desaparecimento foi notado, mas a preocupação de amigos e familiares mantida sigilosa, precavendo represálias. Estava travada a luta clandestina do autor, cuja obra nunca conheceu letra de forma.
O poema que hoje aqui se publica, gentilmente cedido por Jeremias Cabrita da Silva, é o primeiro texto alguma vez tornado público de Bernardo Cunha Simões. Segundo consta, foi escrito em Cuba do Alentejo, no alpendre da casa de Jeremias Cabrita da Silva.
Ontem, durante uma longa conversa telefónica com o octogenário Jeremias – que lhe permitiu ditar-me este poema -, soube da sua disponibilidade para divulgar no Caderno de Corda a obra do amigo Bernardo, facto que mais uma vez muito honra e enriquece este blogue.
Ao Gonçalo Cunha e descendência

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quarta-feira, agosto 22, 2007

"Ao contrário de Voltaire, eu diria que os operários não sabem o preço do tempo, ou far-se-iam pagar por ele..." (Jeremias Cabrita da Silva)

terça-feira, maio 29, 2007

Num homem, nada há de mais sincero do que o orgasmo (Jeremias Cabrita da Silva)

sábado, maio 19, 2007

"Sei melhor o que quero ser do que o que sou" (Jeremias Cabrita da Silva)

quinta-feira, abril 26, 2007

Baudelaire en Noir (Jeremias Cabrita da Silva)

Estrelas negras subjugam e devoram o olhar do imprudente que as contempla; comandam a curiosidade e o assombro na eternidade de delícias que reina.
JCS (inspirado em Baudelaire)

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domingo, fevereiro 25, 2007

"A única lei que desprotege o poderoso e favorece o fraco e oprimido é, infelizmente, a da bala." (Jeremias Cabrita da Silva)

segunda-feira, dezembro 18, 2006

A democrática tirania começa pelo consumo. Trabalhas toda a vida e continuas sem rumo. (Jeremias Cabrita da Silva)

quarta-feira, novembro 22, 2006

Esta democracia começa a parecer ditadura. Já é hora de pensar a democracia futura. (Jeremias Cabrita da Silva)

terça-feira, outubro 24, 2006

"Os mais sublimes poemas que senti, não fui capaz de os escrever" (Jeremias Cabrita da Silva)

sábado, setembro 30, 2006

"Faltava-me viver mais intensamente, para escrever melhor" (Jeremias Cabrita da Silva)

terça-feira, agosto 22, 2006

"Vale menos a verdade de um do que a mentira de dois" (Jeremias Cabrita da Silva)


A propósito ou não, eis um curto recorte fílmico de "1984", obra cinematográfica homónima daquela literária, de George Orwell. Excerto no qual Winston, no quarto do velho Charrington, reproduz interiormente as palavras ilícitas e reveladoras do "Livro" de Goldstein:


(...)

In accordance with the principles of doublethink, it does not matter if the war is not real, or, when it is, that victory is not possible. The war is not meant to be won; it is meant to be continuous. The essencial act of modern warfare is the destruction of the produce of human labour. A hierarchical society is only possible on the basis of poverty and ignorance. In principle, the war effort is planned to keep society on the brink of starvation. The war is waged by the ruling group against its own subjects. Its object is not victory over Eurasia or Eastasia, but to keep the very structure of society intact.

(...)

Julia acorda suavemente, olha para Winston, trocam poucas palavras. Entre ambos, uma atmosfera apaziguadora de felicidade e liberdade, coisa para eles até então desconhecida. Winston, ainda pensando no que lia, diz a Julia:

(...) To be in a minority of one doesn´t make you mad.

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sexta-feira, julho 14, 2006

Quis (Jeremias Cabrita da Silva)

Quis eu deixar abertos todos os caminhos e, em todos eles, todas as pistas das minhas entranhas volúveis e místicas. Quis eu encontrar-me a cada dia latente, a cada domingo que termina e mata um sonho irrecuperável. Quis eu ver digladiarem-se deuses extrínsecos no papel. Quis também eu oferecer toda a criação ao futuro – não mais que a nascença do desejo e não da necessidade. Quis eu ser livre onde não precisasse de aprovação, e escrevi nas paredes, nos páteos, no chão, não saber o que escrever. Parei de querer e fui livre então.
Jeremias Cabrita da Silva

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domingo, maio 21, 2006

«Dizia que escrevia sobre nada, se fosse preciso» (Jeremias Cabrita da Silva)

«(...) Dizia a alguém que conseguia escrever sobre nada. Talvez não seja verdade, da mesma forma que não consigo escrever sobre tudo. Dizia que escrevia sobre nada, se fosse preciso. Pensando bem, se calhar, é só mesmo isso que sei fazer.»

Jeremias Cabrita da Silva

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segunda-feira, março 06, 2006

Governar a gente como quem sente (Jeremias Cabrita da Silva)

(...) O poeta pode não passar, amiúde, de um lírico. Mas, se governasse, botaria certamente as causas para a frente, e, eventualmente, mais de acordo com as vontades da gente. (...)

Jeremias Cabrita da Silva

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segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Quem sou eu (Jeremias Cabrita da Silva)

Quem sou eu depois do que escrevi?
De quem?, as palavras de que não me lembro?,
Os ditongos sonoros e novos; as línguas ardendo...
Quem sou eu depois do que já vi?,
Dos rostos de que vagamente me lembro – e são poucos –,
Das palavras roubadas ao deus-dará...,
Mas verificadas, levadas à prova e então reconhecidas...
Ainda assim, sempre roubadas, as palavras,
Recordadas, que ninguém nasceu ensinado!
Quem sou eu depois do que já esqueci?
Eça, Pessoa, Régio, Camilo, Camões,
Todos se rememoraram num vaivém de solidões
E todos se curvaram apenas perante a poesia,
Ascética, comovente e dramática na mesa fria,
Memória de um dia que um poeta-pessoa revivia.
Olhos estirados sobre espécie de manto azul
Espraiado imaginariamente no papel
sem saber nadar na mancha de texto...
Morremos, morremos, devagar em fel...
Precisamos de um pretexto.
Sou eu, quem sou.

Jeremias Cabrita da Silva

Jeremias Cabrita da Silva, hoje com 82 anos, escreveu "Quem sou eu" despretensiosamente, segundo diz, depois da visita de uma tia, tinha ele 54 ou 55 anos. Procedendo aos trabalhos de arrumação da cave do monte, encontrou o velho baú que pertencera ao seu avô – aliás, criado pelo próprio -, um homem que, segundo a tradição de família, sempre trabalhara com as mãos, artífice exímio de marcenaria. O legado familiar fora quebrado, segundo ouvi da boca do senhor Jeremias Cabrita da Silva, pelo seu pai, um dos primeiros taxistas da região de Cuba, localidade típica alentejana, rodeada de olivais, onde o perfume do feno e a cal nívea tão sincera e prostrada das casas caiadas se assemelhavam prazenteiramente a caruma adormecida no solo longínquo onde brincaram crianças geração após geração, chutando pinhas junto à estrada. Jeremias não espreita hoje pelas janelas e portas que se emolduram de faixas azuis e ocres, sempre parcas, pequenas, para resguardar os quintalitos traseiros com laranjeiras, limoeiros e figueiras, do calor abrasadoramente árido do Alentejo estiolado. Jeremias rememorou-se e aos seus nas horas que, naquela tarde de espera pela tia Assunção, deveria ter passado aprumando a casa para a visita. Abriu o baú das recordações de família e, revolvendo-se gaiato, pernas cruzadas à chinês, escreveu depois este poema sobre o tampo do baú talhado pelas mãos do avô José Ernesto.

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segunda-feira, dezembro 12, 2005

"Não vejo nos outros homens animais ferozes, mas crianças que cresceram" (Jeremias Cabrita da Silva)