sexta-feira, janeiro 18, 2008

Como prometido, eis "Tecto de Abrir", a mais recente música cordiana!


Eis o trabalho solitário que me consumiu e libertou nos últimos quatro dias. "Tecto de Abrir", que se pode ouvir no player acima, foi escrito e gravado por mim num tempo recorde, em casa, apenas com uma viola, uma guitarra, um baixo e voz. Ah!, claro, não esqueçamos o Micro BR, da Boss, o estúdio digital mais pequeno do mundo - um four-track digital sobre o qual já escrevi (AQUI, por exemplo, quando o comprei) e que faz maravilhas, apesar de caber num bolso. A bateria é programada - o Micro BR tem um sequenciador de bateria, com centenas de padrões. O trabalho foi realmente intenso - não saí de casa enquanto não terminei a tarefa. Sobre o player, devo acrescentar que este não permite a mostra de apenas uma música no caso de o autor ter, na página do site Reverb Nation, mais do que um tema publicado, ou seja, quando o estimado leitor terminar a audição de "Tecto de Abrir", seguir-se-ão três brincadeiras que fiz anteriormente, de valor meramente lúdico.
Por duas razões essenciais, este post é inédito: É a primeira vez que o Caderno de Corda serve de suporte para o lançamento (leia-se publicação) de uma canção que, por sua vez, é inédita, tendo sido publicada horas depois de terminada a masterização. Por outro lado, é a primeira vez que, com disponibilidade física e logística para fazer o que mais gosto, posso obter quase em tempo real um feedback do público, que, por ora, são os estimados leitores do Caderno de Corda.
Em adição à canção "Tecto de Abrir" devem, no meu entender, seguir algumas considerações, além da letra, que publico abaixo, e que permite acompanhar a música ao sabor das palavras. A este propósito, lanço uma espécie de concurso:
Quem descobrir, na letra escrita abaixo, uma gralha propositada na sua redacção, que brinca com a fonética e a semântica, alterando o sentido da frase mas mantendo a sua sonoridade, ganha um post poético a publicar-se no prazo de uma semana, quando este blogue regressar. Aliás, devo dizer que o presente post manter-se-á à cabeça propositadamente, sem publicação ulterior, pelo prazo de uma semana, porque o momento tem a sua solenidade, e porque é para este autor mais importante a audição de "Tecto de Abrir" do que a leitura de meia-dúzia de posts mais ou menos inspirados. Os outros quatro horseman dos Baby Jane não podem, no entanto, concorrer ao dito concurso, mas apenas porque já sabem a resposta - o único que não pôde vir hoje mesmo cá a casa ouvir o resultado, já o fez via Internet e falou comigo. Deixo apenas uma pista: a metade de frase escrita incorrectamente tem uma vírgula que engana, se acaso estivesse escrita tal como é, na verdade, cantada...
Outra consideração importante remete precisamente para os Baby Jane - a minha banda, como os assíduos já sabem ou depreenderam. Após audições aturadas, os meus quatro Irmãos aprovaram "Tecto de Abrir" para integrar o reportório da banda. Esta é outra novidade de peso: "Tecto de Abrir" é, assim, a mais recente música dos Baby Jane, apesar de o que aqui se ouve servir, no futuro próximo, de rascunho para o que a banda fará, ao vivo, logo após o lançamento do EP "História de Um Vinho Azedo". Como tem de ser aqui claramente explicitado, este "Tecto de Abrir" foi gravado integralmente por mim, que toquei todos os intrumentos e cantei. No entanto, a banda apoderar-se-á da canção e fará a sua versão em tempo a definir. Também por esse motivo, este é, como diria Hendrix, um "olá e adeus", mas não inglório ou inconsequente.
Um apontamento técnico absolutamente necessário: a voz que se ouve no final é do actor Mário Viegas, numa cena do filme "A Divina Comédia", de Manoel de Oliveira.
Para terminar, antes da letra de "Tecto de Abrir", um grande abraço para o meu amigo Gonçalo Cunha, que hoje abre asas e voa, livre. Abriu o tecto. Ejectou-se. Meu querido, só gostava que hoje pusesses, na despedida, ao som do "Tecto de Abrir" em volume máximo, os capacetes a abanar, a despeito da extrema sensibilidade auditiva da ilha de náufragos.

*Tecto de Abrir*

Eu sei o que é estar de fora da lei,
o que é ser um rato e um rei,
o que é não receber o amor que te dei...

Eu sei, o Governo quer o nosso bem,
enquanto ficarmos assim, como quem não tem
força p’ra trazer um amigo também...

O meu sonho,
o teu sonho
é navegar,
largar âncoras no mar,
ficar a ver galeões ao fundo,
com o peso dos dobrões ao fundo do mar...

Se eu sei que as coisas assim não estão bem,
que Abril ficou muito aquém, prosa é ninguém,
e o comum bem entre Homens...

O meu mundo,
o teu mundo
por sonhar,
abrir asas e voar,
ficar a ver aviões ao fundo,
de sonhos partidos, esfumados no ar;
abrir asas e voar,
seguir rumo ao nosso fundo
e o mundo será um lugar melhor...

Mas sem virar a vida de pernas para o ar,
quero uma casa para arrendar, mas sem consumir
a vista para o mar ou o carro com tecto de abrir...

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13 Comments:

Blogger Luís Alves de Fraga said...

Confesso que ainda é muito cedo para conseguir descobrir a tal gralha, mas é já bastante tarde, na manhã, para lhe dizer que gostei. Gostei do som, do ritmo, da letra, da voz e da mistura. Mesmo sem tem vinte anos ainda deu para gingar um pouco e acompanhar corporalmente.
Tenho de ouvir mais uma ou duas vezes.
Parabéns e votos de futuros êxitos.
Aquele abraço

sexta-feira, janeiro 18, 2008 8:55:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Meu querido amigo.

Conseguiste comover-me, olha que não é fácil!

Vamos voar, não voo sozinho e no nosso balão colorido cabe sempre mais vinho, amizades, letras, palavras, e pensamentos que só o tornam mais leve.

Vou fazer questão de me despedir ao som desta melodia..anti-capitalismo..anti dados adquiridos inquestionáveis..

Um abraço fraterno e Obrigado pela tua mão

sexta-feira, janeiro 18, 2008 9:09:00 da manhã  
Blogger Ricardo said...

tá lá.
aquele abraço irmão, e agora que venha de lá esse entusiasmo para o mestrado.
até logo.

sexta-feira, janeiro 18, 2008 10:18:00 da manhã  
Blogger Kaiser said...

Mano,
Bom, muito bom!

Quanto à dita vírgula, aqui vai o meu modesto, bem sei, sentido fonético e semântico:

"ficar a ver aviões ao fundo,
de sonhos partidos(,) esfumados no ar".

Grande Abraço,
Kaiser

sexta-feira, janeiro 18, 2008 10:27:00 da manhã  
Blogger Kaiser said...

Retiro tudo o que disse, menos a parte do "Mano, Bom, muito bom!" e obviamente o "Grande Abraço".

Não sei porquê, meti na cabeça que a coisa tinha que ver com uma vírgula: obviamente que nada tem que ver com uma vírgula!

Em vez de "prosa é ninguém" será algo do género: "P'ró Zé Ninguém".

sexta-feira, janeiro 18, 2008 10:35:00 da manhã  
Blogger JPT said...

Gostei imenso, rapaz. Um abraço. Qto ao desafio, o nosso amigo Kaiser, negando a sua ideia do seu próprio sentido fonético e semântico (e tens a ideia errada, está visto), antecipou-se.

um abraço a todos

sexta-feira, janeiro 18, 2008 10:56:00 da manhã  
Blogger Davi Reis said...

O Kaiser não perdoa.

Estimados leitores, não adianta responder ao concurso da gralha propositada. Temos um vencedor: meu Irmão Kaiser, colectas o prémio dentro de uma semana! E ainda bem que foste tu! Vai facilitar-me a tarefa poética!

Um grande, grande abraço ao quinteto luxuoso de comentadores. Todos estão no meu coração.

sexta-feira, janeiro 18, 2008 4:08:00 da tarde  
Blogger Kaiser said...

"O Kaiser não perdoa", soa-me muito bem!

Abraço,
Kaiser

sexta-feira, janeiro 18, 2008 4:44:00 da tarde  
Blogger Davi Reis said...

:D

Aquele abraço, K

sexta-feira, janeiro 18, 2008 4:58:00 da tarde  
Blogger Davi Reis said...

Para que aqui fique lavrado:

a resposta correcta à questão gralha era, como muito bem escreveu o meu querido Kaiser, a seguinte:

Na versão cantada, que se pode ouvir, canta-se:

"Se eu sei que as coisas assim não estão bem,
que Abril ficou muito aquém p'ró Zé Ninguém
e o comum bem entre Homens..."

No entanto, a letra que surge aqui escrita versa:

"Se eu sei que as coisas assim não estão bem,
que Abril ficou muito aquém, prosa é ninguém,
e o comum bem entre Homens..."

Parabéns ao meu velho amigo Kaiser, que tem, como já lhe disse via sms, a vantagem do hábito profissional de ler nas entrelinhas...

sexta-feira, janeiro 18, 2008 6:24:00 da tarde  
Blogger lupuscanissignatus said...

Bravo, Davi!

Eu sei... O som é como o algodão: não engana! Esta música tem identidade própria...

Se juntarmos a isso a vibração, a energia, a riqueza da letra e a qualidade da voz (pareço quase um crítico musical, eh, eh!)tens asas, amigo...

Obrigado pela partilha.

Abraço clave de Sol.

sábado, janeiro 19, 2008 7:04:00 da tarde  
Blogger Xantipa said...

Só agora vim ao teu blogue e fiz este percurso todo ao contrário: que havia aqui composições tuas e pus-me logo a ouvir. Depois, percebi que havia letra e fui acompanhando e dei-me conta do jogo do «prosa é ninguém» e ia comentar isso. Foi então que vi que tinhas feito um desafio.
Lolll
E quando abri esta a caixa de comentários é que percebi o poema a César!
Ando mesmo de trás para a frente!
bem, mas não quero acabar este enorme comentário sem uma nota de parabéns pelo teu trabalho! Gostei muito!
Um beijinho

domingo, janeiro 27, 2008 12:12:00 da manhã  
Blogger Davi Reis said...

:)

Muito obrigado, Vítor e Xantipa.

Um abraço e um beijinho!

domingo, janeiro 27, 2008 12:30:00 da manhã  

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