A “Canção da Rosarinho”, como foi oficiosamente titulada até à conclusão da letra, é a mais recente das canções cordianas, concluída na madrugada de 9 de Setembro de 2024, dia do sétimo aniversário da minha filha, Maria do Rosário de Almeida Pereira de Brito Simões, a quem é inteiramente dedicada. Foi-lhe oferecida para primeira escuta integral com fones nessa manhã, à mesa da cozinha, antes do pequeno-almoço e das primeiras prendas do dia. Foi por ela e para ela que “Não Esqueças de Lembrar” começou a formar-se, resultante de uma composição original de guitarra cujo processo de descoberta se iniciara ainda antes do nascimento.
A ideia inicial, bastante anterior ao processo de composição, fora inspirada preambularmente pela acústica melancólica dos Death Cab for Cutie, ao largo da qual derivei longamente quando ainda residia em Lisboa. Queria fazer uma canção com travo adocicado indie folk, mas sabia ter de encontrar outros elementos, harmonias e frases musicais que me retirassem do universo melopeico e do efeito hipnotizante que aquela sonoridade surtira sobre mim instantaneamente. Se quisesse fazer algo verdadeiramente único, tinha de encontrar o meu próprio caminho, e fui deixando o tempo fazê-lo, indicando-o para mim.
Assim foi quando compus o corpus que acompanha as estrofes de verso de “Não Esqueças de Lembrar” — uma estrutura harmónica organizada em torno de uma linha melódica descendente com início tonal em Dó maior, culminando em resolução cíclica, levando-nos pela mão, de regresso ao ponto de partida. Os trechos encerram-se com a sensação renovada de resolução e continuidade, até que, por fim, tomam outro rumo, partindo a coda de um Dó maior com sétima (C7M) sussurrado por Bob Dylan, o próprio. Abordaremos esta questão adiante.
A Rosarinho teria menos de um ano quando gravámos os balbucios que se ouvem na introdução da canção. Usei então os microfones estéreo do Boss BR-800 no escritório de casa em Santarém, sem quaisquer cuidados, com janelas abertas, o chilreio de pássaros e o ladrar da Jane lá fora, aliás audível na gravação. Terá sido também por essa altura que foi gravada a primeira guia de guitarra e uma melodia pouco depurada de voz. Já tinha a ideia essencial e algumas das palavras que vieram a compor a letra, mas era tudo ainda vago e pueril. Apesar de rudimentar, a guia era estruturalmente correcta e fiel à premissa estabelecida, e até a melodia de voz se tornou muito útil, ainda que de modo fragmentário, para a definição do que veio a ser a versão final — um proveitoso apontamento encapsulado de mim para comigo, para também eu não esquecer de lembrar, quase sete anos depois.
Muita água passou debaixo da ponte e muitos sóis se puseram até que, porque queria concluir a “Canção da Rosarinho” em tempo útil para nós e para projectos que se avizinham, e aproveitando uma semana de férias caseiras em Julho de 2024, resgatei o gravador BR-800 onde se encontrava registado o esboço da canção e revisitei-a com pragmatismo e propósito. A letra ficou fechada ao segundo dia de férias, a melodia também e logo iniciei a gravação da tríade de guitarras — a viola Artis de cordas de nylon à direita, a electro-acústica Ibañez EWC-30 de cordas de aço à esquerda e a acústica de 12 cordas Fender Tim Armstrong Hellcat ao centro.
A gravação decorreu no loft da minha casa em Almeirim, sendo que a Rosarinho assistiu, enquanto desenhava silenciosamente, a parte significativa das gravações de cordas. Tanto as três guitarras como as cinco pistas de voz foram gravadas com o microfone de condensador largo Golden Age Project FC3. Considerando as minhas limitações vocais, optei por gravar cinco pistas de voz, com uma voz média ao centro, ladeada proximamente por duas vozes graves, formando uma coluna vocal ao centro, e, nas alas, duas vozes agudas, em falsete, numa oitava que me obrigou a sussurrar encostado ao pop filter, imaginando-me a cantar suavemente ao ouvido da Rosarinho.
Foram tidos cuidados com os ruídos, mas insuficientes. Por exemplo, foram deixados passar ruídos de pingos do aparelho de ar condicionado por volta de 1’52”, que felizmente se confundem com o áudio de um melro-preto. Porque não usei, mais uma vez, software de edição para modelar ou editar as pistas instrumentais e de voz, tenho de considerar que tais falhas atribuem carácter à canção, não desdenhando dos benefícios da tecnologia. Em boa verdade, utilizei o Audacity, mas para compor as vozes da bebé Rosarinho que se ouvem na introdução e, a meio, o canto do melro, retirado de um registo do canal de YouTube “hebrideanwild”, declaradamente inspirado por “Blackbird”, dos The Beatles, que também usaram o áudio de melros na sua canção.
A coda, cuja dinâmica se altera num suave crescendo, pedia algo percussivo como pandeireta, shaker ou ambos, mas, após algumas experiências simples com microfone aberto, não quis introduzir mais texturas rítmicas e elementos de captação natural, acrescentando camadas desnecessárias de som ambiente e correndo o risco de “sujar” um ambiente sonoro razoavelmente “limpo”. Por uma questão prática, optei apenas pelo shaker, que surge à esquerda em fade in, para se passear em torno do ouvinte e terminar ao centro com duas semínimas nos terceiro e quarto tempos do último compasso. Podia ter adicionado camadas de complexidade aos arranjos, à composição, à letra e à própria gravação, mas quis fazê-la simples e directa.
Recensão autocrítica:
Oferecida, portanto, a 9 de setembro de 2024, dia do sétimo aniversário da minha Rosarinho, esta era uma canção especial, que considerei indispensável para fechar obra sonhada, de que em breve haverá notícias. A gestação de cerca de sete anos traduz o tempo necessário para fazer jus à observação da famigerada grande virtude da paciência, de que tantas vezes falo à Rosarinho, e de que tantas vezes me falara a sua bisavó Rosário. Retrocedendo então ao ponto de partida, terão sido os Death Cab for Cutie que provocaram a intenção exordial de fazer uma canção, sem saber ainda para que fim, com que fito. Quando a ouvi pela primeira vez, quis tocá-la de imediato, sabendo instintivamente que algo floresceria da descoberta. A ambiência já indiciava uma potencial canção de embalar melancólica mas doce, como veio a verificar-se, mas fiquei viciosamente cativo na melodia e nos acordes, e tive de procurar caminhos alternativos e complementares. A certo ponto do processo exploratório, compus o tal corpus que acompanha as estrofes de verso.
Só mais tarde, era a Rosarinho bebé, compus a bridge que se ouve do primeiro para o segundo terço da canção e que funciona como um interlúdio simbólico da presença dos The Beatles nos altifalantes e nos espíritos cá de casa. Do ponto de vista compositivo, é também uma pequena homenagem à banda de Liverpool — um trecho que deriva de flexões e inflexões, também elas descendentes, de “Blackbird”. Daí, da letra e da lógica da canção, também acontece a oportuna inclusão do canto de um melro-preto, à semelhança do que os The Beatles fizeram na sua canção. Faço ainda questão de mencionar que, na composição vocal, voltei a ter os Fab Four como referência, inspirando-me em aspectos melódicos e líricos de “For No One” (“Amanhã de manhã…“), “A Day in the Life” (“Nos teus olhos brilha o mar…”) e ainda, muito remotamente, “Hey Jude”. O final é segredado pelos Death Cab for Cutie e por Bob Dylan, a quem pedi emprestados acordes de “Don’t Think Twice, It’s All Right”, a começar pelo tal Dó maior com sétima (C7M).
A letra foi escrita a pensar numa menina de seis anos, quase sete. Simples, centra-se inteiramente em ideias e conceitos comungados por pai e filha, em memórias comuns e em senhas e contrassenhas. São disso exemplo, desde logo, os dois primeiros versos, adaptados do poema “Setentrional”, de Cesário Verde – versos que constituem um dos nossos códigos. Se pergunto «como é o nosso amor?», recebo a resposta «grande, grande como um mar sem praias». Não querendo fazer apreciações, dissecações ou dissertações sobre a letra, que é íntima e autoexplicativa, não posso deixar de referir que esta é uma canção para ser escutada à la longue, como a letra sugere, também pelos vindouros.
Ao tema óbvio do amor paterno e incondicional, soma-se uma abordagem poética que mistura a simplicidade e a profundidade de uma canção de embalar, em que os elementos dos sonhos, da memória e da continuidade se entrelaçam no desejo de perpetuar o amor e a ligação para lá do aquiagora, como se uma canção pudesse ser cápsula de amor preservado, pronta para ser reaberta adiante. A estética simples e acústica faz de “Não Esqueças de Lembrar” uma peça direta, mas emocionalmente esmerada, doce e melancólica, que abraça e embala na ternura de uma declaração de amor intemporal, sublinhando a importância da memória como ato de carinho e permanência, bem como a transmissão de valores e afetos que sobrevivam ao teste do tempo para serem expressos e vividos ativamente, nomeadamente através da arte e da imaginação.
“Não Esqueças de Lembrar” procura estabelecer um diálogo implícito entre passado, presente e futuro, pelo qual o amor é o fio condutor que une gerações. Esse conceito de continuidade e herança emocional é talvez o imo da letra, cujo apelo final simboliza não apenas a canção como um legado, mas também um amor que transcende o tempo e as palavras. Insha'Allah.
Não Esqueças de Lembrar
(letra)
Um amor grande como um mar sem praias Quando te vi fui de alegria às lágrimas
E nos teus olhos não deixes de lembrar … os meus
E enquanto puderes lembrar não esqueças de cantar
Nos teus olhos brilha o mar e um pôr-do-sol aberto de par em par
E nos teus sonhos não deixes de sonhar … os céus
Amanhã de manhã vai brilhar uma estrela, é aquela que revela não haver adeus
Dessa janela não esqueças de lembrar … os teus
Hás-de poder cantar esta canção de embalar a quem a souber ouvir e mais tarde escutar, a quem seja para nós uma bênção de Deus Não te esqueças de a cantar aos teus
Amor meu, coração fora do peito, contigo sou inteiro, somos um desse jeito Somos um só grito, infinito, amor perfeito, não esqueças de lembrar
Uma corrida de fundo.
Há 18 anos nenhum de nós imaginava que, um dia, estaríamos a celebrar o rito de
passagem do Caderno de Corda para a vida adulta, especialmente com tamanha
vivacidade e fulgor, à mesa, como inicialmente preconizado pelo Grão-Mestre
Gustavo Silva, patrono d'O Jantar. Na vida sucedem-se ritos e ciclos,
celebrações e reflexões sobre alegrias, conquistas e desafios, mas também sobre
fracassos, infortúnios e desventuras, as quais não há como enjeitar,
procurando-se seguir mais forte e sábio. No entanto, aqui, e por ocasião d’O
Jantar, temos refletido, vivido e cultivado sempre alegrias, e fazemos por que
perdurem.
O primeiro melhor amigo, a queda dos dentes de leite, o
primeiro dia de escola são marcos da infância, alguns dos quais partilhamos
entre nós em memórias ainda vívidas, porque pungentes e sentidas. Na
adolescência surge a ebulição hormonal, a rebeldia, a contestação aos valores
social e familiarmente estabelecidos, mas também o primeiro amor, o primeiro
beijo. Ainda assim, é, diz-se, a maioridade que representa a transição das
transições, com a entrada, por vezes forçada e prematura, na vida adulta.
Na idade adulta, ou idade da razão, são incrementadas, mais
sérias e mais definitivas as responsabilidades, assim como as consequências das
escolhas tomadas. Na maturidade, os sonhos tornam-se mais prementes e as opções
mais dificilmente reversíveis. A Liberdade de quem dispõe de autonomia não se
dissocia da responsabilidade pelo uso dessa mesma Liberdade. Tal consciência,
dotada de sabedoria, excede em muito o cumprimento de deveres e obrigações,
instigando os livres e autodeterminados a arpoar sonhos e a perseguir novas
aventuras e possibilidades de descoberta, em particular de si mesmos.
O autoconhecimento, que nos conduz a tomar um lugar próprio
no mundo – ou a sermos, nós próprios, um lugar -, beneficia do uso de saudável
disciplina, mas não necessariamente de disciplina formal, mecânica,
proficiente. Há, a montante, uma disciplina ontológica, se me permitem, que se
traduz em persistente resiliência e inabalável crença. O mantra: "Não
desistir." E assim se cumpriu, ao Anno XVIII, O Jantar; e assim Vos
escrevo de maturidade, não ousando dar lições de tal coisa a um cão de
companhia.
O Caderno de Corda e
o livro-eucalipto
Em boa verdade, a maturidade a que aludimos não será, na sua
génese e em teoria, relativa a uma pessoa, mas a um blogue que cumpriu 18 anos
e que, de há muito a esta parte, tem n'O Jantar anual de comemoração, que serve
de pretexto a muito mais do que apenas recordar escritos que nele se publicam,
o seu momento alto. Tal deve-se, nos últimos anos, à concentração de esforços
deste que humildemente Vos escreve na produção de uma obra literária que venha
a ser digna desse nome - um romance com laivos de distopia política como sempre
quis escrever e que, sendo uma empreitada quixotesca e de grande fôlego,
absorve as horas livres de criação, qual eucalipto, secando qualquer outra
veleidade criativa ou artística. Eis a razão (ou megalomania) primordial (e
ciclópica) por que o Caderno de Corda não tem publicado mais poesia, prosa ou
canções originais. Mas, se apontarmos ao Sol, talvez caiamos na Lua.
Novamente, a maturidade adverte-nos para que não se levantem
véus prematuramente, muito menos de obra inacabada. Ainda assim, em
perspectiva, pareceu-me apropriado utilizar uma impressão do referido trabalho
em curso (à data, cerca de 120 mil caracteres em 250 páginas A4, Times New
Roman, tamanho 12) para, através da consignação de folhas escolhidas por número
de página, munir os Confrades Cordianos de matéria a excisar para leitura de
trechos escolhidos e posterior criação de um vídeo comemorativo, como tem sido
apanágio do Caderno de Corda nas mais recentes edições d'O Jantar.
Simplificando, o vídeo resulta da escolha aleatória e da reorganização de trechos
extirpados de um epopeico romance distópico em moroso processo de composição,
mais uma vez com recurso a um intrincado mecanismo numerológico de cálculo por
página, a interpretação estética à luz da sequência de Fibonacci e a uma
avançada técnica de pot-pourri. Cada Consoror e cada Confrade escolheu
um número de página, um excerto e leu-o para a câmara.
Saiba-se que, quando Vos escrevi a quase totalidade desta
crónica, o vídeo ainda não estava sequer idealizado. Aliás, exceptuando o
presente parágrafo, tudo o resto foi escrito antes mesmo que todas as Consorores e todos os Confrades me remetessem os registos das suas leituras – aqueles de nós que não
chegaram a gravar na noite d’O Jantar. O último desses registos chegou apenas
há algumas semanas. A título de
curiosidade, escrevo-Vos todo este parágrafo, inserido a talho de foice após a conclusão
do vídeo, num apartamento em Marselha, junto ao Vieux Port, epicentro dos tumultos que
eclodiram por toda a França nos últimos dias, em resposta ao assassinato do
jovem Nahel, em Paris, às mãos da polícia. Ouvem-se as explosões e sente-se, por vezes, o cheiro a queimado e a gás pimenta sobreposto à lavanda marselhesa, seguindo-se um ligeiro ardor nos olhos. Fechamos as janelas. Os meliantes, muitos deles imberbes adolescentes, correm rua acima e gritam "Gucci, Gucci", mostrando os óculos e as malas a saque... Adiante, o vídeo é, como verão, composto em quatro actos, ao som de Richard
Wagner (prelúdio do primeiro acto da ópera “Lohengrin”), Dominic Muldowny (“The
Ministry of Truth” e “Winston's Diary, the Dream”, do álbum “Nineteen
Eighty-Four, The Music of Oceania”) e The Doors (“Riders on the Storm”, do
álbum “L.A. Woman”). A escolha de “Riders on the Storm” não é, no
entanto, minha, mas do Grão-Mestre César da Silveira, que, ao introduzir novos
elementos e uma outra abordagem, acabou por modelar e dar o tom para o trecho
final do vídeo. A quase totalidade das fotos é do Grão-Mestre Ricardo Pinto e
as ilustrações foram gentil e preciosamente cedidas pelo Irmão Cordiano e
Missionário da Arte e do Belo Nuno “Corado” Quaresma.
Quanto ao livro que, desejavelmente, concluirei no médio
prazo, posso dizer que se destina a leitores de todos os quadrantes, presentes
mas também - sei-o - futuros. Porque, como aqui se escrevia há um ano, «é certo
ser este o nosso tempo; o tempo para livres habitarmos a sua substância». E
nunca é tarde demais. Agora e sempre.
Anno XVIII - O Jantar
Portanto, alimentado de fraternidade, memória, sonho, futuro
e frango assado, O Jantar reuniu 25 à mesa no dia 25 de Março, casando números,
tal como, curiosamente, há um ano fomos 23 a 23 de Abril. Chegámos, no entanto,
a ser 30 Confrades no total, contando com a habitual e preambular presença do
clã Franchi-Costa (Leonor, Matilde, Rita e Rui Pedro) e, desta feita, também do
“padrinho” Joaquim Barbosa (Quim), que não ficou para jantar. Registe-se que,
ao décimo oitavo ano, este foi o terceiro jantar realizado em data discrepante
da data tradicional de 26 de Março, véspera do aniversário propriamente dito
(27 de Março), e o primeiro a antecipar-se à data.
Também antecipadamente, assim estava o Grão-Mestre João
Trigo à porta dianteira, onde esperou com estóica brandura e fraternal
compreensão. Uma buzinadela e um aceno à passagem, de carro; o estacionamento
apressado no parque e, passo rápido, os primeiros abraços, nas traseiras do
restaurante, a Hugo Dantas, André Nobre e André Paiva, que também já ali
aguardavam. Atravessámos A Valenciana por dentro e juntámo-nos ao Trigo,
heroicamente só na dianteira, para aquele abraço apertado, grato e reparador,
penitente pela delonga. Dali fomos para a Sala Fronteira, que a espaços
revelou-se demasiado quente, ruidosa e esconsa para o grupo, mas chegou à
conta, satisfatoriamente.
Mesa posta em “U” e acepipes na távola, foram entrando os
comensais. Rapidamente se formaram, grosso
modo, duas alas: a cruz-quebradense/dafundense e a salesiana, ambas
pontuadas aqui e ali por Consorores e Confrades Cordianos de outras paragens, e
alguns até de outras e de ambas, como é o curioso caso de Nuno “Corado”
Quaresma, Missionário da Arte e do Belo. “Sintonia sinérgica”, “convergência holística”,
“identificação simbiótica”, “assimilação integrativa” e “coerência
paradigmática” são todas expressões que, referindo-se a uma harmonia profunda,
colaborativa e produtiva, fértil, descrevem o modo como o já nosso genial
“Corado” corporiza um estado etéreo que flui alegre e fraternamente pelos
jantares cordianos. «Obrigado Meu Irmão pelo carinho e por estes momentos
mágicos de ligação com esta Rapaziada vibrante e cheia de boa energia. Que
possamos brindar muitas vezes nestes e noutros momentos de Criatividade, Amor e
Reencontro”, escreveu o Corado após O Jantar via chat.
Tivemos, mais uma vez, estreias sublimes que merecem
palavras especiais, como as das Infantas Rafaela Tomás, Daniela Tomás e Nicole
Araújo, que iluminaram a sala e os corações; do Confrade André Nobre,
primaveril e imune ao frescor da aragem, desejoso por dias mais longos e
luminosos, eternamente fascinado pela fulgência das ideias, e, por fim, da
maravilhosa Consoror Ana Rangel, cuja alegria e o brilho no olhar alumiam
candeias em olhos outros e tangem emoções francas. São lágrimas, senhor! De
alegria, concórdia e afetos partilhados, entretecidos. Registe-se, como é
práxis, que os estreantes selam com a sua inestimável presença a incorporação
definitiva na Confraria Cordiana. Repita-se: uma vez da Confraria, sempre da
Confraria.
Registamos também, como sói dizer-se nesta ocasião, notadas
ausências (eles sabem quem são) e o fenómeno dos globetrotters que, espalhados pelo mundo nesta data, não puderam
comparecer. Estamos gratos, no entanto, pelos que, against all odds, conseguiram estar e ser, um dos quais vindo de
uma regata no Tejo e outro do Porto, para dar os exemplos cabais dos Irmãos
Cordianos Quim e Piri, respectivamente. E já que estamos a mencionar
ex-Doroteias (Externato do Parque) que se conhecem desde os três anos, note-se
o desencontro, por pouco, do Quim e do Frederico Cruzeiro Costa (Fred), mas
também do Sérgio Miguel Ribeiro (Miguel), que esteve a uma unha de se estrear,
mas adoeceu e não pôde juntar-se ao quarteto do Externato do Parque, transitado
em bloco para as Oficinas de São José no ciclo preparatório.
Como disse o Irmão Fred à Ana no correr d’O Jantar, somos
corredores de fundo, e daí vem a expressão que enceta este texto. O meu querido
Fred teve de sair um pouco mais cedo para cumprir compromissos. À despedida,
nas traseiras do restaurante, onde eu e o Nobre fumávamos, tirou do bolso das
calças um olho turco em vidro que trouxe para oferecer a este Vosso escriba,
dizendo que me protegeria. Já falámos depois. No entanto, não lhe disse ainda
que a Rosarinho adorou o olho turco e adoptou-o mal o viu, mas que, sem incúria
dela, o olho se partiu alguns dias depois. Caiu no chão de mármore vitrificado,
deslizando do dorso da chave do aparador de entrada onde ela cuidadosamente o
pendurara. Chorou serenamente, interiorizando a perda e atribuindo-lhe
significado. Recolhemos os estilhaços e depositámo-los no lixo. Ficou
sensibilizada. E eu. Mas vim a saber mais tarde que, na cultura turca, se o
olho se partir terá cumprido a função de proteger os seus portadores, sendo que
o descarte respeitoso e correcto dos fragmentos prolonga a boa sorte e a
protecção.
Protegidos estaríamos também na presença do Grão-Mestre e
Grande Inspector Cuteleiro João Carlos Graça, que esteve num pacato
frente-a-frente com um seu velho amigo, o Grão-Mestre Hugo Dantas, acérrimo
arguidor de traquinagens, em particular daquelas executadas sobre a sua pessoa
enquanto dormita (recorde-se a despedida de solteiro do Pinto). Pois desta
feita o João guardou a despesa das travessuras da noite para o que Vos escreve:
já A Valenciana estava de portas fechadas e nós todos na rua quando descobri
ter no capuz alguma pequena cutelaria e o naipe completo de manteigas, patés e
queijos-creme que havia no restaurante, alguns encetados, já meio comidos. Mas
foram os garfos nos bolsos traseiros das calças que, durante o jantar, ao
sentar-me, agudamente me alertaram e indiciaram o mais que provável autor de
tão bicuda e, simultaneamente, substanciosa tropelia. Não havia dúvidas: também
a zombaria do couvert tinha a
inconfundível assinatura do Grande Inspector Cuteleiro.
Com o João esteve em peso a fraternidade da geração Y da
Loja Cruz Quebrada: João Carlos, André Paiva, André Nobre e Bruno Sardo. Para
representar integralmente a estreita irmandade faltaram apenas o Grão-Mestre
Bruno Tomás e o ainda candidato a confrade Miguel Lopes (Miko). Ambos
confirmaram a presença, mas, crê-se que por motivos relacionados com distúrbios
gastrointestinais, não puderam comparecer, lamentavelmente indispostos.
Sentimos as suas ausências. Não deixamos, nesta linha, de registar duplas épicas que se reintegram n’O Jantar como se o tempo por elas não passasse:
João Trigo e Dino; Pedro “Piri” Farinha e Miguel Guerreiro Pereira; Gustavo “KJ”
Silva e César “Kaiser” da Silveira; Ricardo Tomás e Ricardo Pinto e múltiplas
outras duplas de sonho e eternidade conjugáveis e intermutáveis, como Corado e
Jacinto, sendo que apenas o Corado compareceu este ano, apesar da ausência do
seu Irmão. Fazendo uso de ideias recorrentes nesta ocasião, e constatando que
este foi O Jantar mais concorrido de sempre, verificamos mais uma vez que a
Amizade que nos une é exponencial e contagiante, e as nossas vidas seriam menos
do que outras sem do outro a nossa parte.
Menos do que outra sem a Grã-Dama Rute Ferreira e, claro, o
Grão-Mestre e Venerável Cavaleiro Cordal Ricardo Tomás, que nos deu o
privilégio de conduzi-la até nós e que será, quiçá, fonte de inspiração
retroalimentada da sua própria musa. Foram dois os quadros de autor,
predominantemente azuis, mas tão terrenos quanto celestes, magníficos, que a
Rute trouxe propositadamente para ofertar à grata família do Vosso fiel
escrevente.
Menos do que outra sem o Grão-Mestre Cordiano, Visconde do
Reino de Maconge, Magnífico Provedor do Tesouro e Supremo Jurisconsulto César
da Silveira, que veio directo de dilecta almoçarada de convivas do Reino de
Maconge – um dia literalmente em cheio.
Menos do que outra sem o Grão-Mestre e Perene Patrono
Cordiano Gustavo Silva, que chegou mais tarde, cansado, de olhos a meia-haste,
fazendo lembrar os olhos de madrugada a jogar Premier Manager na Calçada de
Santo António, mas com a resiliência de sempre, apesar das cansativas tiradas
Lisboa-Porto. Saiu mais cedo, mas esteve bem presente.
Menos do que outra sem o Grão-Mestre, Guardião do Tombo e
Venerável Cavaleiro Prismático Ricardo Pinto, cuja óptica regista proverbial e
devotamente O Jantar, e cujo coração alumia e colora a noite escura. As fotos
são quase sempre dele, mas o Caderno de Corda e O Jantar são dele como meus,
nossos.
Menos do que outra, por fim, sem o Grão-Mestre e Venerável
Cavaleiro Congénito Ricardo Girão, à cabeceira oposta deste que Vos escreve,
ambos comunicantes pelo simples olhar e por feixes etéreos de sinusoidais
psiónicas no fino ar. Girão, o último dos moicanos a resistir à noite, depois
de debandado o derradeiro grupo de obstinados Confrades Cordianos, entre os
quais se incluíam Piri, Pereira, Dantas e Corado. No final dos finais, após
várias voltas e pit stops em Benfica,
a dupla Hugo-Girão encontrou finalmente uma roulotte
em Sete Rios… Uma garrafa de água! O nosso reino por uma garrafa de água! E uma
Coca-Cola. E uma imperial.
Prosaica, a imparável tendência inflacionária do preço d’O
Jantar, a estória da negociação do banquete, que afinal se revelava mais
vantajoso do que o consumo à carta, como acabou por acontecer, levando a turma
dos digestivos a chegar-se à frente, e a civilizada discussão sobre as contas
com a gerência. Concluiu-se que, afinal, teria sido melhor ficarmos pelo preço
fixo do banquete. Os amores da minha vida irão ao Jantar quando a Rosarinho se
sentar à mesa e comer tudo sozinha, autonomamente, com ambos os talheres…
Registe-se finalmente que o Vosso fiel escriba chegou a casa perto das sete da
manhã, silencioso mas com mundos ululantes no pensamento.
Este blogue é e
continuará a ser o meu fiel depositório criativo.
Em 2024, no mesmo
sítio, previsivelmente em Março.
Legenda aleatória: Hugo Dantas, Bruno Sardo, Hugo Simões,
Ricardo Pinto, Sofia Damião, Beatriz Damião Pinto, Ricardo Girão, César da
Silveira, Nuno “Corado” Quaresma, Miguel Pereira, Pedro Farinha, Nuno “Dino”
Rodrigues, Ana Rangel, João Trigo, Sara Matos, João Graça e André Paiva. Os
comensais Gustavo Silva, Frederico Costa, Rafaela Tomás, Daniela Tomás, Nicole
Araújo, Ricardo Tomás, Rute Ferreira e André Nobre já se haviam ausentado à
hora da foto de grupo ou não se encontravam naquele momento na sala. O Clã
Franchi-Costa veio, como é já tradição, para nos dar o prazer da sua companhia
antes e ao início d'O Jantar, tal como, desta vez, o Joaquim Barbosa. Um
especial Abraço aos Confrades e às Consorores que não puderam marcar presença,
mas que estiveram no nosso pensamento. E uma foto nocturna. de bónus:
Há um desígnio intraduzível que
nos move e que nos une. Há uma Verdade antiga e simples que todos trazemos a
pulsar no peito, aprisionada na garganta e no estômago; nos dentes e no sangue,
pela qual nos reconhecemos. São os nossos olhos de crianças que se vêem puros,
contendo ainda a reminiscência feliz de todos os sonhos do mundo. Está já ali,
adiante, ao virar da esquina, a confirmação indomável, primeva e fatal de tal desígnio,
tecido pela memória e encimado por um prolongado e amorável abraço de recreio que
nos prendeu para sempre. As nossas vidas seriam menos do que outras sem do
outro a nossa parte. Somos Irmãos e sabemo-lo.
Em 2022 o XVII Jantar Cordiano
aconteceu na antecâmara da celebração de Abril, realizando-se um dia após a
libertação legalista do grilhão icónico e paradigmático da pandemia – a máscara
– e na antevéspera da comemoração da madrugada mais clara; da alvorada da
Liberdade. Este foi justamente cognominado “O Jantar da Libertação” – libertação
simbólica de máscaras e recuperação plena do direito de reunião em convergência
de afectos, memórias e destinos, cujas rotas, enlaçadas, traçam o mapa partilhado
da nossa própria existência. Tal como em Abril de 1974 muitos detinham a
convicção de que tudo era possível, é certo ser este o nosso tempo; o tempo
para livres habitarmos a sua substância.
Ao décimo sétimo ano, conta-se o
terceiro jantar realizado em data posterior à data tradicional de 26 de Março,
véspera do aniversário propriamente dito (27 de Março). Motivo: a mãe de todas
as mudanças de casa no mesmo período, e já foram muitas. Há dois anos, aquando
do primeiro adiamento sob o jugo da pandemia, escrevia-se aqui que O Jantar se
realizaria “com estímulo e intensidade redobrados”. No ano seguinte – há um
ano, portanto -, e mantendo-se a vigência do cativeiro pandémico, elevou-se ao
quadrado a tenção. Verificamos, pois, que exponencial e contagiosa é a Amizade
– veja-se pelas estreias dos tão estimados Confrades Cordianos Joaquim Barbosa
(Quim), Pedro “Piri” Farinha e José Moreno (Zé). Uma vez da Confraria, sempre
da Confraria. Mas lembremos Pessoa: “Não o prazer, não a glória, não o poder: a
Liberdade, unicamente a Liberdade.” Cravos!, cravos para todos!
O Caderno de Corda não vergou e em
2022 fomos 23 à mesa no dia 23, um número bom e oportuno. Numerologia e
cabalística à parte, o simbolismo dos cravos dispensa explicações, mas exige
que se atribua ao Grão-Mestre Cordiano César da Silveira, Visconde do Reino de
Maconge, a ideia. Também por sua sugestão, O Jantar foi iniciado mais cedo do
que vinha sendo costume, por volta das 17 horas, configurando um lanche
ajantarado, espécie de high tea que
redundou num jantar tradicional. Em boa verdade, o Irmão César da Silveira
havia sugerido que o dia fosse dedicado quase por inteiro à comunhão cordiana,
iniciando-se ao almoço e prolongando-se pelo jantar e noite dentro. Tão
ambicioso fito exigiria, no entanto, esforços supletivos, nomeadamente
negociais e logísticos, que não puderam ser satisfeitos nesta jornada. Não
obstante, a concepção do insigne macongino estará, apesar do ousado intento, em
cima da mesa em cogitações futuras.
Cogitante estava, à chegada à
Valenciana, o Maestro António Victorino d’Almeida, a ler um livro… À porta, pontual
e espartano, o Grão-Mestre César da Silveira aguardava. Chegou então, segundos
antes deste que Vos escreve, o Comendador da Liberdade Miguel Leão Miranda.
Éramos três e, em pouco tempo, uma dezena. Saíam empíricas e entravam Confrades
a bom ritmo até que nos constituímos indomáveis 23, por momentos 27, abençoados
pela tradicional visita (fugaz!) do clã Franchi-Costa, que este ano não se deu
à chapa – leia-se “à lente” do Irmão, Grão-Mestre e Guardião do Tombo Ricardo
Pinto, que proverbialmente assume as despesas do registo fotográfico do
evento e assegura a operação logística inerente. Assinale-se também a criação à
mesa, no prosaico verso da ementa, do logograma do XVII Anno Cordiano pela mão
de Nuno Quaresma, Missionário da Arte e do Belo, apesar do militante ateísmo
optimista. Registamos também, como sempre, notadas ausências, desejados regressos
e estreias sublimes como a da Infanta Beatriz Damião Pinto, Guardiã da
Felicidade e da Alegria. O futuro é nosso.
Entre as estreias seniores notabiliza-se
um Abraço de intensidade cósmica, há muito adiado, que marca o reencontro com o
querido e eterno Irmão Quim, que se encontra a preparar o regresso da Polónia a
Portugal – o reencontro com parte tão significativa, profunda e primacial de
mim próprio. Já o mui querido “old chap”
Piri, após anos de conquista por essa Europa fora, radicou-se finalmente no
País, mas no Porto. Ainda assim, veio do Canadá de véspera e não falhou. Quim e
Piri, dois verdadeiros globetrotters,
dois brilhantes e queridos Amigos desde os três anos de idade. A distância
nunca será bastante para nos apartar. Last
but not least, o reencontro com o também mui querido Zé Moreno, cujo debute
reforça sobremaneira a Fraternidade Cordiana. As décadas parecem contrair-se ao
vê-lo e diluir-se assim que nos abraçamos de novo. Esta tríade de seniores selou
com a sua inestimável presença a incorporação definitiva na Confraria Cordiana.
Repita-se: uma vez da Confraria, sempre da Confraria.
Lunares, após O Jantar e de novo ao
desafio do Grão-Mestre César da Silveira, seis resistentes levaram a noite
cordiana a pé, da Valenciana ao Príncipe Real, onde o César se quedou por força
de um almoço familiar no dia seguinte. Os restantes cinco - Girão, Hugo, Sardo,
Jacinto e Corado - seguiram para o Bairro Alto e desaguaram perto das seis da
matina em Santos, na Merendeira. Pão com chouriço e caldo verde para forrar o
estômago e aconchegar o espírito. Eram sete da manhã quando este Vosso escriba
chegou a casa, depois de atravessar a lezíria com o Sol à direita, a romper o
horizonte, e o coração cheio, lamentando apenas não estar mais tempo com todos
e cada um. Subsiste, mais uma vez, a ideia de que o Caderno de Corda não
desiste porque a Amizade não desiste; nós não desistimos. O Caderno de Corda
não vergou. Enquanto houver estrada para andar.
Não se conclui o post sem antes explicar a opção pela
publicação das fotos em formato de vídeo, uma vez que o Blogspot (Blogger) não
possui em backoffice um widget que permita publicar, por
exemplo, uma galeria de fotos, pelo menos que se conheça. Tal poderá dever-se, em
parte, ao facto de que o Caderno de Corda nunca cedeu à actualização de templates, uma vez que perderia todas as
suas formatações originais em HTML autodidacta, o que também acabou por
conduzir o blogue a um beco escuro e fundo da Internet que o Google abandonou e
esqueceu. As fotos serão ainda posteriormente publicadas na página do Caderno
de Corda na rede social Facebook. A delonga na publicação deve-se, por sua vez,
ao facto de ter estado adoentado na semana seguinte, ao trabalho e, agora, ao
Covid. Sim, fui diagnosticado positivo pela primeira vez. Embora o texto tivesse
sido escrito logo após O Jantar, o vídeo tomou mais tempo do que o desejado.
Uma palavra final de especial
apreço e gratidão para o Irmão e Grão-Mestre Ricardo Tomás, que, uma semana
após O Jantar, sabendo da instalação de Internet deficiente e deficitária no
quartel-general cordiano, viajou de imediato da Margem Sul para Almeirim e não
apenas resolveu o problema, como otimizou todo o serviço. É graças a ele que os
posts comemorativos do XVII Aniversário
Cordiano finalmente Vos chegam pelo éter como se dançassem.
Este blogue é e continuará a ser
o meu fiel depositório criativo.
Em 2023, no mesmo sítio, previsivelmente
em Março.
Legenda aleatória: Rui Pina, João Barroso, Bruno
Sardo, Miguel Leão Miranda, Ricardo Girão, Pedro “Piri” Farinha, Carlos Nunes, José
Moreno, Nuno “Corado” Quaresma, João Trigo, Rui Jacinto, Rute Gil, Ricardo
Tomás, Bruno Tomás, Rute Ferreira, Miguel Pereira, Beatriz Pinto, Joaquim
Barbosa, Sofia Damião, Hugo Simões, Ricardo Pinto, César da Silveira e Carolina
Pinto. O Clã Franchi-Costa veio, como é já tradição, para nos dar o prazer da
sua companhia antes e ao início d'O Jantar. Um especial Abraço aos Confrades e às Consorores que, pela iniquidade da Vida, não puderam marcar presença, mas que estiveram no nosso pensamento.
Desenho do Mestre Nuno "Corado" Quaresma. 23 de Abril de 2022.
A publicação da crónica d'O Jantar está para breve. Desejavelmente, seria hoje, dia 25 de Abril, que o Caderno de Corda daria a conhecer o que foi O Jantar ao passar deste XVII Anno de blogue. São numerosas as fotos que ilustram a Fraternidade Cordiana, desde logo pelo empenho do Grão-Mestre Ricardo Pinto, que proverbialmente assume as despesas do registo fotográfico do evento. Este foi O Jantar da Libertação - a libertação legalista do grilhão icónico e paradigmático da
pandemia (a máscara) na antevéspera da comemoração da madrugada mais clara;
da alvorada da Liberdade.
Passaram-se dois anos consecutivos sem que pudéssemos concretizar O Jantar, ao longo dos quais nos cercearam direitos e liberdades, nomeadamente de reunião. Digamos pouco agora. Tivemos a madrugada esperada e um dia limpo para emergir da noite e do silêncio. Livres habitámos a substância do tempo. Grato a Sophia de Mello Breyner Andresen por um simples verso, tão adequado às circunstâncias. Cravos para todos! O Caderno de Corda não vergará. 'Té já.
Completa-se hoje uma semana que a minha mãe partiu, ainda não seriam sete da manhã de dia 12 de Setembro. A minha mãe está viva em mim. Ela é eu e eu sou ela, como sempre fomos, indissociáveis. Se sou Amor, carinho, ternura e compaixão, sou ela.
Marco a passagem desta semana sem adjectivos ou qualificativos, mas com uma canção que escrevi, compus, toquei, cantei e gravei chamada "Mãe", publicada no dia 5 de Maio de 2013 (dia da Mãe) no Caderno de Corda. A canção contou com a colaboração do meu querido amigo Sebastiano Ferranti, que tocou bateria, gravou, misturou e masterizou no seu estúdio caseiro. O baixo e as guitarras foram gravados por mim, em minha casa, num modesto gravador de quatro pistas.
Apesar destes e de outros factos, esta não é uma canção de dia da mãe e muito menos um tema de alegre exaltação à progenitora ou a uma qualquer efeméride que daí decorra. Em boa verdade, é uma canção que, perante medos, desesperanças, sofrimentos e solidões, clama pela mãe - a mãe de todas as mães, porventura o Eterno Feminino.
"Eterno Feminino" terão sido as últimas palavras de Goethe, no segundo Fausto, para designar a atracção que guia o desejo transcendente do homem. Curioso que eu tenha utilizado, na letra, ideias e palavras de Fausto (o Bordalo Dias), mas também de Jorge Palma e, muito especialmente, de José Mário Branco. Na ideia referida de Goethe, o feminino representa o desejo sublimado, o que é proclamado por um coro místico: "O Eterno Feminino atrai-nos para o Alto."
Em muitas cogitações filosóficas, antropológicas ou místicas, a mulher está mais ligada do que o homem à alma do mundo, às primeiras forças elementares, e é através dela que o homem comunga dessas forças, encontrando no Amor a grande força cósmica.
A Virgem-Mãe, Nossa Senhora, é uma encarnação evidente do tema. O Feminino autêntico e puro é, por excelência, uma energia luminosa e casta, portadora de coragem, de ideal e de bondade a que recorremos em oração e, amiúde, em desespero de causa, clamando pela mãe. Por vezes, escrevem-se canções com esse fito...
Para Jung, o feminino personifica as tendências psicológicas femininas na psique do homem, como, por exemplo, sentimentos e humores instáveis, intuições proféticas, sensibilidade face ao irracional, capacidade de amar, a faculdade de sentir a natureza e, finalmente, as relações com o inconsciente.
Se foi nisto que o Jorge Palma pensou quando escreveu, por exemplo, o refrão da "Canção de Lisboa", ou o Fausto, quando redigiu o poema da canção "Ó Mar", que obviamente inspira a segunda e a terceira estrofes, não faço ideia, mas certo é que o José Mário Branco tocou a ferida universal quando descambou num pranto doloroso à mãe já na parte final da épica canção "FMI", à qual roubei palavras que adaptei para a última estrofe e último refrão da minha canção "Mãe".
Compus e gravei esta canção para o meu pai quando era seu cuidador. O "Naninho" (como eu lhe chamava nestes últimos anos) acompanhou todo o processo, em casa comigo, ao longo de largas horas de prática e gravação, especialmente durante a noite. Apesar da demência, entoou a canção, bateu o pé e meneou a cabeça quando a masterizei e lha mostrei nos phones. Hoje, que o meu pai chegou à sua morada definitiva, divulgo pela segunda vez a canção que fiz só para ele em 2014. Devo ainda mencionar a colaboração do meu querido e velho amigo Nuno 'Dino' Rodrigues, que me recebeu em sua casa, no seu estúdio caseiro, para gravarmos o coro.
"Juntando peças, Jeremias não podia deixar de constatar os preparativos para, em última análise, o nascimento de um estado policial global com um governo invisível, omnipotente, que controlava já o governo norte-americano, a União Europeia, a OMS, a ONU, o Banco Mundial, o FMI e toda e qualquer instituição de calibre semelhante. Estava tudo à vista de todos: o terrorismo promovido pelos governos, que, por sua vez, muniam esse mesmo terrorismo; o controlo da população por intermédio da manipulação dos media e do medo; as crises financeiras forjadas para cavar mais profundos fossos entre o pequeno e o grande capital, e entre ricos e pobres de uma forma geral; as pandemias e as doenças criadas em laboratório com o fito de servir múltiplos propósitos geopolíticos, mas também como forma de produzir um efeito de arrastão pelo qual, ciclicamente, as farmacêuticas colhiam os resultados de campanhas de medo minuciosamente planeadas."
Pela segunda vez nos 14 anos de existência do Caderno de
Corda, O Jantar anual realizou-se em data posterior à data da celebração do
aniversário do blogue (27 de Março), uma vez que este vosso fiel escriba tinha
viagem marcada para estadia de uma semana em Fez, Marrocos – viagem que não se
concretizou por medida profiláctica, tendo em conta um súbito estado febril da
minha Rosarinho. Assim, foi definido inicialmente o dia 1 de Abril, de imediato
alterado para dia 2 de Abril para que o Grão-Mestre Cordiano Ricardo Pinto
pudesse estar presente, na companhia da querida Mestre Sofia Damião.
Como sempre no restaurante A Valenciana e dedicado aos
indefectíveis Irmãos cordianos e estimados leitores, O Jantar viu introduzidas algumas
novidades nesta edição, sendo certo que quase todas se consubstanciam no vídeo que
enceta o presente post e que introduz o novel poema “Quartus Decimus”. Aqui apresentado
em estreia absoluta, “Quartus Decimus” resulta da escolha aleatória e da reorganização
de versos extirpados do livro “Sétima-Feira” (2012).
Com recurso a um intrincado mecanismo numerológico de cálculo
por página e linha, a interpretação estética à luz da sequência de Fibonacci e
a uma avançada técnica de pot-pourri, “Quartus Decimus” é, em primeira análise,
formado pelos estimados confrades d’ O Jantar. Cada qual escolheu um número de
página, um número de linha e leu para a câmara o verso que lhe coube em sorte. Os
maestros da composição são, no entanto, John Cage (Sonata I) e Iannis Xenakis
(Pléiades). A câmara e parte significativa das fotos são do Grão-Mestre Ricardo
Pinto. Bem vistas as coisas, não precisei de fazer nada. Fizeram tudo por mim.
Eis o poema:
Quartus Decimus
Último e primeiro por Saturno,
o Grande Chef tem a mesa posta pelos seus criados,
apóstolos, anjos, autores do mais fantástico romance.
A voz, ao nascer, caminha sobre um espelho partido.
Um puto de boné do Benfica chuta torto
e a bola aloja-se debaixo do banco.
Os pássaros cantam no escuro
e sou uma espécie de capricho,
uma epiderme granítica de seixos
que escondera outra cidade.
Posso convocar dos confins subterrâneos
os átomos das pessoas desaparecidas.
A erva-moura tem dons de terapia.
Esperança é coisa com penas que canta sem palavras;
montar uma tenda junto à praia
e deixar ir o carro em ponto morto, ir,
e de nada me valia saber no exacto instante.
Tu sabes que um sorriso falso nos esmorece.
Se eu morrer antes, sobrevive-me.
Talvez o fim seja um começo.
O dinheiro continua a ser papel.
Além de notadas ausências – algumas das quais de última
hora, como a do Grão-Mestre João Trigo -, sublinhe-se a do Grão-Mestre João
Pimenta, que, este ano, apesar da permanência em Sines, quase teria marcado
presença em virtude do expectável nascimento da sua terceira filha por estes dias, em Lisboa,
mas tal acabou por não ser possível dada a fixação do dia do nascimento
para momento posterior, tendo o Pimenta regressado a Sines à data d’ O Jantar.
Podemos assim espalhar a feliz notícia em primeira mão do nascimento da doce Maria
Francisca Pimenta, mas no dia 8 de Abril de 2019 ao meio-dia.
No capítulo das estreias, contámos pela primeira vez com a
querida Inês Sampaio Soeiro e com o meu velho e talentosíssimo amigo "algarvio" Nuno “Corado” Quaresma, companheiro de aventuras incontáveis no final do século
passado em Armação de Pera, reencontrado casualmente por intermédio do amigo comum e Intendente Cordiano Rui
Jacinto. Uma vez da Confraria, sempre da Confraria.
No final da noite juntou-se
a nós o Mestre do Tabernáculo Rui Pina, saído de um dos muitos ensaios
pós-laborais da sua agenda, ainda a tempo de devorar um prego bem passado. Os
últimos cartuchos foram queimados no exterior, na companhia dos sublimes
comendadores da Loja Cruz Quebrada – Ricardo Tomás, Rui Pina, Hugo Dantas e
Ricardo Pinto.
Este blogue é e continuará a ser o meu fiel depositório
criativo.
Legenda aleatória: Gustavo Silva, Ricardo Pinto, Hugo Simões, César da Silveira, Miguel Leão Miranda, Rui Jacinto, João Barroso, Simone Palma Mezzomo, Inês Sampaio Soeiro, Nuno Quaresma (Corado), Miguel Pereira, Ricardo Tomás, Hugo Dantas e Sofia Damião. A
Rita Franchi, o Rui Pedro Costa e as suas
queridas meninas vieram, como vem sendo habitual, para nos dar o prazer da sua
companhia antes e ao início d' O Jantar. O Rui Pina chegou depois, ainda a tempo de desmanchar um prego.
A canção "Silêncio (Estamos no Ar)" foi apresentada AQUI, no Caderno de Corda, mais precisamente no dia 25 de Março de 2015. Hoje publico o videoclip possível, realizado por mim com recurso ao software Movie Studio 15, mais uma vez pejado de imagens ilicitamente obtidas do YouTube.
Compus, gravei, toquei, cantei, misturei e masterizei integralmente a música em casa (música, letra, baixo, guitarras, pandeireta, vozes, Stylophone e demais instrumentos) no gravador digital de oito pistas Boss BR-800. A bateria foi inteiramente tocada e programada na unidade de ritmo Boss DR-880. Todas as informações no post de lançamento da canção.
Imagem gentilmente editada e cedida pelo Grão-Mestre Cordiano João Trigo, cujo número 4 é, nesta data, motivo memorável e de grande felicidade. Legenda aleatória: César da
Silveira, Miguel Leão Miranda, João Barroso, Edgar Pombinho, Ricardo Girão,
Mafalda Filipe, Ricardo Tomás, Rui Pina, Sara Matos, João Trigo, Bruno
Oliveira, Gustavo Silva, Frederico Costa. A Rita Franchi, o Rui Pedro Costa (que não aparece neste quadro) e
as suas queridas meninas vieram, como vem sendo habitual, para nos dar o prazer
da sua companhia no pós-jantar.
Ao décimo terceiro anno de Caderno de Corda nada creio poder escrever que suplante o prévio ou que verdadeiramente acrescente ao que já debitei por esta data. Subsiste, no entanto, uma ideia - aliás, já antes também aventurada: que o Caderno de Corda não desiste; a Amizade não desiste; O Jantar não desiste. Nós não desistimos.
E suspeito ser esse um dos efeitos mais marcantes do nosso encontro, enquanto, permitam-me, "houver estrada para andar". De facto, e isto é de relevar, ao invés de irmos perdendo gás com o passar dos anos, não esmorecemos; antes pelo contrário. Até o Caderno de Corda acelerou recentemente a frequência de publicação com alguns textos por que não crê passar vergonha.
Pela minha parte, posso dizer-vos que chego sempre de coração cheio a casa, lamentando apenas não ter tido noites inteiras, consecutivas, em loop, deste 26 de Março para prolongar o nosso encontro a cada ano e estar mais tempo com todos e cada um.
Obviamente convido, como sempre, os estimados leitores a visitar esta casa blogosférica, os arquivos, as canções caseiras e as não tão caseiras, e a forma inicial, espontânea, de muitos textos mais ou menos poéticos, alguns dos quais, polidos a posteriori, mais tarde redundaram em dois livros de poesia.
Em retrospectiva, e para aqueles cuja memória não abona ou que apenas recentemente tomam contacto com este blogue, O Jantar começou pela caixa de comentários de um post de título "Anno I - Exortação aos estimados leitores", publicado precisamente AQUI, que assim rezava (note-se que naquele tempo não havia Facebook):
"O Caderno de Corda está, não tarda, a celebrar o primeiro ano de vida de publicação ininterrupta. Para a data (27 de Março), nada está previsto ser feito até ao momento. Serve este post para solicitar aos estimados leitores - assíduos e ocasionais - a participação, sugerindo, por exemplo, o que, nesse dia, gostariam de ver publicado, sendo certo que tudo é possível, desde que imaginável. Aceitam-se sugestões e até textos originais. Libertem-se e libertem também o Caderno de Corda do umbiguismo poético do Davi Reis, de que está refém. A caixa de comentários é toda vossa. Até à data referida não há impossíveis."
E na caixa de comentários respectiva lavraram-se 20 comentários, todos eles carinhosos e benfazejos, mas houve um que definiu em absoluto o que viria:
"Eu sugiro tudo o atrás sugerido... feito à mesa! Faz um jantar, abre as portas à mesa! Aquele Abraço
Gustas
domingo, março 19, 2006 1:35:00 da tarde"
O Kaiser não hesitou, levantou os 20 votos e assim foi.
Este ano tivemos notadas ausências, mas também fantásticas estreias, entre as quais o Frederico Cruzeiro Costa, a querida Mafalda Filipe, o Edgar Pombinho e o Bruno Oliveira, todos amigos de longuíssima data. Como digo amiudadas vezes, uma vez da Confraria, sempre da Confraria.
Daqui em diante não mais teremos como fundo os azulejos verdes que caracterizavam de há muito as salas do restaurante A Valenciana, que entretanto foi totalmente remodelado, e fizeram-se progressos no que ao acerto de um preço fixo diz respeito. Já a especialidade dos rissóis ocos não fez adeptos entre os Comensais da Sala Marquês.
As ausências, como sempre, devidas a incontornáveis imprevistos de última hora, e outras, previstas, por motivos de força maior. É por isso que não dispenso a menção e Aquele Abraço ao meu Irmão Grão-Mestre Cordiano e fotógrafo oficial da Confraria Ricardo Pinto, que, apesar de ter uma festa de aniversário de que não podia nem queria perder pitada (uma festa que continuará a sobrepor-se ao Jantar nos anos vindouros), ainda telefonou na perspectiva de chegar tardiamente para o abraço, mas as portas já estavam fechadas e na rua estávamos apenas eu, o Ricardo Girão, a Mafalda, o Frederico Costa, o Ricardo Tomás e o Rui Pina a queimarmos os últimos cartuchos - cigarros e dedos de conversa.
Também os Mestres Comensais João Pimenta, Carolina Pinto, Sofia Damião, João Carlos Graça, Bruno Tomás, Miguel Pereira, Hugo Dantas, Carlos Nunes e Nuno "Dino" Rodrigues foram lembrados, sendo que a permanência do João Pimenta em Sines e o horário de trabalho do Bruno Tomás impactam na trajectória do meu desejo de voltar a revê-los à mesa neste dia. Impactam na trajectória do meu desejo, leram bem.
A eles e aos Comensais Rui Almeida, Paulo Amaral, Bernardo "Moisés" Rodrigues, Patrícia Nicolau, Fernando e Joana, Jacinto e Simone, Bruno Sardo, André Paiva, Felipe Gomes (Félix), Vilma, Joana e Margarida, Rute, Paula, Aquele Abraço.
A estes e a todos os futuros Comensais Cordianos.
E repito (mais uma vez) a punch line de um post de há exactamente 12 anos, desta feita no primeiro ano abençoado pela presença da minha doce Rosarinho, Amor Maior, dirigindo um trecho retirado do poema "Setentrional", de Cesário Verde, aos amigos com quem jantei:
"(...) Quando ao nascer da aurora, unidos ambos
Num amor grande como um mar sem praias (...)"
Cesário Verde
Este blogue é e continuará a ser o meu fiel depositório criativo.
Como sempre nesta ocasião, o cabeçalho do Caderno de Corda encontra-se actualizado, podendo ler-se, no final da animação taylor made pelo realizador Tiago Pereira, Anno XIII.
Daqui a exactamente um ano, no mesmo sítio, à mesma hora.
Legenda como sempre aleatória da foto: Ricardo Girão, Moisés, João Pimenta, João Trigo, César da Silveira, Miguel Leão Miranda, Nuno "Dino" Rodrigues, Fernando Cruz, Joana Guerra, Ricardo Pinto, Hugo Simões, Carolina Pinto, Sofia Damião, Rui Pina, Hugo Dantas, Rute Ferreira, Ricardo Tomás, Sara Matos e Carlota Amaral.
E, ao décimo segundo anno de Caderno de Corda, quando quase toda a substancial prosa poética já foi antes deitada e servida à mesa cibernética por esta ocasião, chegamos àquele ponto em que o blogue deste vosso dedicado escriba parece já não precisar de enlear os leitores para que o seu jantar comemorativo se concretize com Vitalidade e entusiasmo sempre crescentes. Arriscaria dizer ser essa a gratificação suprema no que respeita à memória do seu verdadeiro e último fito.
Este estará por certo longe de ser o post comemorativo mais prolixo, mais inspirado, mais imediatista. Está, de facto, a ser escrito a contra-relógio na manhã de sexta-feira de dia 31 de Março de 2017, mais de quatro dias depois da realização do Jantar e do aniversário do Caderno de Corda, por absoluta necessidade e, por motivos pessoais e profissionais bem aventurados, por impossibilidade declarada de fazê-lo antes com dedicação que a ocasião merece.
Entre grandes volumes de trabalho que exigem entrega absoluta e a preparação de uma longa viagem para Quito, no Equador, dentro de cerca de um dia, aqui me encontro, dedicando-vos, queridos confrades cordianos, estas linhas e algumas considerações fundamentais para a memória futura do que vos escreve e do seu blogue.
Como os honorários e beneméritos comensais cordianos saberão, este blogue foi, durante largo período, depositório criativo regular; construção por vezes sôfrega, megalómana, por vezes suspirante, mas sempre incansável e confidente, de peito e braços abertos. Não obstante, com o tempo, a Vida 1.0 e o advento das redes sociais, o Caderno de Corda foi vendo reduzida, gradualmente, a periodicidade de publicação.
Escrevia-se aqui assim, há dois anos:
(...) quando o Caderno de Corda nasceu, não havia Facebook. Nós líamos mesmo os blogues uns dos outros, procurávamo-nos - a nós e aos outros - numa plataforma de linguagens mais íntimas e duradouras, por oposição à efemeridade e à aparência das redes sociais. Este ano (..) é prova de que a casa se constrói pelos alicerces, e só assim permanecerá e crescerá forte, apesar do temporal lá fora e da iniquidade de um mundo hostil por natureza."
Hoje tudo está melhor, mais sólido, mais forte, mais promissor do que há dois anos. No entanto, o Caderno de Corda não o exprime na forma e no conteúdo do que o caracteriza: a Música, a poesia, a prosa, a prosa poética e outros deleites criativos que exigem Vida e largas doses de ociosa e dedicada contemplação. O que aqui vem sendo prometido nos últimos anos não está a ser cumprido - que o Caderno de Corda voltaria em breve às grandes empreitadas poéticas e à publicação de novos e inéditos objectos criativos, ainda que etéreos. Mas a promessa não é vã - chegue a Vida a dar-nos tempo.
Ainda assim, como também se pode ler AQUI há dois anos, o que está contido nos arquivos pode oferecer longas horas de leitura aos mais entusiastas e curiosos:
(...) só um rato de arquivo (para não escrever "biblioteca", cujo termo seria blogosfericamente desadequado) com muito tempo vago e curiosidade felina poderia abarcar o volume e os conteúdos desta página desde o seu primeiro post. De facto, mesmo clicando na tag que reúne os posts relativos ao aniversário cordiano, e, por consequência, do Jantar, constata-se que, por definição do Blogger, a página inicial já não tem, de há algum tempo a esta parte, capacidade para conter, de uma assentada, todos os conteúdos relacionados, acabando os mais antigos por ficar excluídos, embora consultáveis apenas com recurso aos arquivos mensais.
Convidando, pois, os estimados leitores a visitar esta casa blogosférica, passo em revista, de modo muito sintético, alguns eventos que marcaram O Jantar - Anno XII, nomeadamente a notada - e justificada - ausência de última hora do Patrono Gustavo Silva, o aparecimento fugaz da Rita Franchi e do Rui Pedro Costa (que não jantaram nem posaram para a foto) e a estreia absoluta do mítico Moisés, também conhecido pelos profanos como Bernardo Rodrigues.
Mais uma vez, foi notada uma conta final inflacionada (possivelmente também devido aos muitos Cartuxas e a hipotéticos digestivos), a que porei termo sob compromisso de que, para o ano, estabeleceremos um valor fixo previamente.
No final, a noite prolongou-se. Primeiro cá fora, com Dino, Girão, Pina e Moisés, e depois em minha casa, com os resistentes Girão e Moisés, sendo que este último só de cá saiu por volta das 19 horas do dia seguinte, por sinal com dedos em sangue vertido nas cordas das minhas guitarras e no papel higiénico em que escreveu uma doce nota de despedida, deixada na porta do frigorífico.
Pela segunda vez foi pedido à confraria cordiana que compusesse ela própria, a múltiplas mãos, um texto que comemorasse a ocasião e, de algum modo, dispensasse este vosso esforçado escriba de, ano após ano, chegar à superação e ao novo. Quando há um ano havíamos tentado recorrer ao método surrealista cadavre exquis, subvertendo o discurso literário convencional, "a confraria compôs um texto de tal modo progressista e simbólico, pleno de alçapões metafóricos, abstracções elevadas e alegorias finas, quase etéreas, que decidi apresentá-lo (...) traduzido e adaptado em inglês com base em cálculos numerológicos e na sequência de Fibonacci".
Este ano sucedeu algo semelhante, mas com a particularidade de que, imediatamente antes de ser entregue a folha e a caneta ao Primeiro Literato Irmão João Trigo, foi feito um anúncio feliz que modelou inadvertida e indelevelmente os conteúdos das proposições escritas dos estimados confrades. Tal não estava previsto e, na Verdade, seria algo preferencialmente mantido em sigilo neste imediato. No entanto, o Caderno de Corda não cerceia; liberta. Assim sendo, neste "Cordian Cadavre Exquis 2 (Vida 2.0)" que deve parte do nome ao Nuno "Dino" Rodrigues (Vida 2.0), a equipa de editores do Caderno de Corda optou por, desta feita, recorrer a uma técnica avançada de pot-pourri, razão por que não vou respeitar necessariamente a ordem pela qual as frases foram integralmente escritas, mas mantenho todo o conteúdo manuscrito, palavra a palavra, misturando ideias e procurando sentidos alternativos que preencham de ambiguação e dúvida o leitor páraquedista quanto ao seu significado original.
Cordian Cadavre Exquis 2 (Vida 2.0)
Numa noite especial, reúnem-se os amigos para saber, só se assim quiseres, que há que pensar positivo e acima de tudo saber que a solidão não existe. Quando temos tão bons amigos, sempre perto e nunca longe, é de aproveitar que estamos vivos, com saúde, caso precisemos de algo, seja nos bons ou maus momentos. A vida que vivemos e a vida que está por vir, tudo é a nossa história, o passado e o devir. O importante é que se venha!, e que tudo nos leve à Vida 2.0 que tanto queremos que chegue! Tens a caminho a maior felicidade do mundo. Que venha do Sporting porque, do mesmo modo, o consenso sobre a necessidade de qualificação desafia a capacidade de equalização das direcções preferenciais no sentido do progresso para trazer mais este elo de suor, sangue e algum sémen! Ordem e progresso, "ipirangou" alguém! Foda-se, clamou outro! "Random", suspirou o Trigo. Olha, Hugo, tu vai pinar, tu pinas bem! É o que dizem por aí. Parabéns! É o que se deve dizer. Estaremos todos aqui para ajudar, mas tenho pena, mudando de assunto, não ter entrado na foto de 2008 (fui eu que tirei, eheheh). Aos aniversários, casamentos e baptizados, obrigada pelo apoio mesmo distante, muita saúde e vai ser bué complicado mais um sobrinho! Espero que os reencontros sejam muitos e por bué tempo, no que for preciso, incluindo desencaminhar para o sítio certo. Grande orgulho ver o Simões juntar-se à equipa. Penalti ou não, o melhor remate da tua vida não foi ao poste... Agora a esperança de encontros menos esporádicos dos papás! Seguro que será um grande pai! Uma felicidade inexplicável, imensa, do fundo do coração. Aproveita meu Irmão! Estamos juntos. Viva o Benfica e penalti para o Porto.
(fotografia artística de pormenor da mesa do Jantar por Ricardo Girão e Moisés)
Regresso, novamente, a uma ideia já disposta em aniversários cordianos anteriores, mas que se mantém totalmente válida:
"Enche-me o coração armar um pretexto que volte a reunir outros três ou
quatro amigos de infância, de escola primária, e outros tantos amigos de rua
cruz-quebradense, de escuteiros, de colégio, de banda, de turma, e todos juntos
sermos o momento de que se não desiste. Foi verdadeiramente esse o motivo que
me fez, com o impulso do Gustavo Silva, (...) abraçar este Jantar como a uma
tabla contínua de passado, presente e futuro maciços e duráveis, que se
consubstancia na nossa presença e que consegue, paradoxalmente, flexibilizar os
contornos do tempo e do espaço em concavidades e convexidades que nos mantêm à
tona de uma realidade que, como não me canso de escrever nesta ocasião,
transcende em muito a liça cibernética, resgatando a tangibilidade dos afectos. Sim, este jantar é um feito de todos, muito além da celebração do aniversário
do blogue, e eu só posso sentir-me honrado pelo privilégio de estar convosco
anualmente, nesta data, de forma espontânea, livre e desejada mutuamente."
Todas as fotos (exceptuando uma) do Irmão Ricardo Pinto, também referido no Jantar como "Torre do Tombo"
Este blogue é e continuará a ser o meu fiel depositório criativo.
Como sempre nesta ocasião, o cabeçalho do Caderno de Corda encontra-se actualizado, podendo ler-se, no final da animação taylor made pelo realizador Tiago Bettencourt Pereira, Anno XII.
Daqui a exactamente um ano, no mesmo sítio, à mesma hora.