sexta-feira, janeiro 18, 2008

Como prometido, eis "Tecto de Abrir", a mais recente música cordiana!


Eis o trabalho solitário que me consumiu e libertou nos últimos quatro dias. "Tecto de Abrir", que se pode ouvir no player acima, foi escrito e gravado por mim num tempo recorde, em casa, apenas com uma viola, uma guitarra, um baixo e voz. Ah!, claro, não esqueçamos o Micro BR, da Boss, o estúdio digital mais pequeno do mundo - um four-track digital sobre o qual já escrevi (AQUI, por exemplo, quando o comprei) e que faz maravilhas, apesar de caber num bolso. A bateria é programada - o Micro BR tem um sequenciador de bateria, com centenas de padrões. O trabalho foi realmente intenso - não saí de casa enquanto não terminei a tarefa. Sobre o player, devo acrescentar que este não permite a mostra de apenas uma música no caso de o autor ter, na página do site Reverb Nation, mais do que um tema publicado, ou seja, quando o estimado leitor terminar a audição de "Tecto de Abrir", seguir-se-ão três brincadeiras que fiz anteriormente, de valor meramente lúdico.
Por duas razões essenciais, este post é inédito: É a primeira vez que o Caderno de Corda serve de suporte para o lançamento (leia-se publicação) de uma canção que, por sua vez, é inédita, tendo sido publicada horas depois de terminada a masterização. Por outro lado, é a primeira vez que, com disponibilidade física e logística para fazer o que mais gosto, posso obter quase em tempo real um feedback do público, que, por ora, são os estimados leitores do Caderno de Corda.
Em adição à canção "Tecto de Abrir" devem, no meu entender, seguir algumas considerações, além da letra, que publico abaixo, e que permite acompanhar a música ao sabor das palavras. A este propósito, lanço uma espécie de concurso:
Quem descobrir, na letra escrita abaixo, uma gralha propositada na sua redacção, que brinca com a fonética e a semântica, alterando o sentido da frase mas mantendo a sua sonoridade, ganha um post poético a publicar-se no prazo de uma semana, quando este blogue regressar. Aliás, devo dizer que o presente post manter-se-á à cabeça propositadamente, sem publicação ulterior, pelo prazo de uma semana, porque o momento tem a sua solenidade, e porque é para este autor mais importante a audição de "Tecto de Abrir" do que a leitura de meia-dúzia de posts mais ou menos inspirados. Os outros quatro horseman dos Baby Jane não podem, no entanto, concorrer ao dito concurso, mas apenas porque já sabem a resposta - o único que não pôde vir hoje mesmo cá a casa ouvir o resultado, já o fez via Internet e falou comigo. Deixo apenas uma pista: a metade de frase escrita incorrectamente tem uma vírgula que engana, se acaso estivesse escrita tal como é, na verdade, cantada...
Outra consideração importante remete precisamente para os Baby Jane - a minha banda, como os assíduos já sabem ou depreenderam. Após audições aturadas, os meus quatro Irmãos aprovaram "Tecto de Abrir" para integrar o reportório da banda. Esta é outra novidade de peso: "Tecto de Abrir" é, assim, a mais recente música dos Baby Jane, apesar de o que aqui se ouve servir, no futuro próximo, de rascunho para o que a banda fará, ao vivo, logo após o lançamento do EP "História de Um Vinho Azedo". Como tem de ser aqui claramente explicitado, este "Tecto de Abrir" foi gravado integralmente por mim, que toquei todos os intrumentos e cantei. No entanto, a banda apoderar-se-á da canção e fará a sua versão em tempo a definir. Também por esse motivo, este é, como diria Hendrix, um "olá e adeus", mas não inglório ou inconsequente.
Um apontamento técnico absolutamente necessário: a voz que se ouve no final é do actor Mário Viegas, numa cena do filme "A Divina Comédia", de Manoel de Oliveira.
Para terminar, antes da letra de "Tecto de Abrir", um grande abraço para o meu amigo Gonçalo Cunha, que hoje abre asas e voa, livre. Abriu o tecto. Ejectou-se. Meu querido, só gostava que hoje pusesses, na despedida, ao som do "Tecto de Abrir" em volume máximo, os capacetes a abanar, a despeito da extrema sensibilidade auditiva da ilha de náufragos.

*Tecto de Abrir*

Eu sei o que é estar de fora da lei,
o que é ser um rato e um rei,
o que é não receber o amor que te dei...

Eu sei, o Governo quer o nosso bem,
enquanto ficarmos assim, como quem não tem
força p’ra trazer um amigo também...

O meu sonho,
o teu sonho
é navegar,
largar âncoras no mar,
ficar a ver galeões ao fundo,
com o peso dos dobrões ao fundo do mar...

Se eu sei que as coisas assim não estão bem,
que Abril ficou muito aquém, prosa é ninguém,
e o comum bem entre Homens...

O meu mundo,
o teu mundo
por sonhar,
abrir asas e voar,
ficar a ver aviões ao fundo,
de sonhos partidos, esfumados no ar;
abrir asas e voar,
seguir rumo ao nosso fundo
e o mundo será um lugar melhor...

Mas sem virar a vida de pernas para o ar,
quero uma casa para arrendar, mas sem consumir
a vista para o mar ou o carro com tecto de abrir...

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quarta-feira, janeiro 16, 2008

Brevemente, o Caderno de Corda terá a honra de apresentar ao mundo, em exclusivo, uma canção que o próprio autor está presentemente a gravar em casa!

terça-feira, dezembro 18, 2007

EP História de Um Vinho Azedo (Baby Jane) - as letras (6/6)

6 - Dia Final
(Letra e Música de Hugo Simões)

A tua cor de sol
e os teus pés de areia
são o princípio e o final
de uma força que receia.

E foi ter-te tão perto
que me fez deslumbrar,
quando o teu braço de ferro
se deu a descambar…

Temos o dia final,
mas antes podemos ter o proveito.

Foi então que eu peguei
e te resolvi escrever,
mas tu nunca vais compreender (2x).

Peço-te por favor,
já que tu não me ouves…
Esta não é uma história de amor,
porque tu nunca me viste como eu te vi.

Sei que me compreendes,
sei quanto te posso dar,
este mundo e o outro,
o fundo do meu mar;

As mãos que te sufocam,
o antro onde me escondo
num sonho, apesar de tudo cão,
menos me entenderás…

Temos o dia final,
mas antes podemos ter o proveito;
Temos o dia final,
mas antes Temos de ter o proveito.

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sexta-feira, dezembro 14, 2007

EP História de Um Vinho Azedo (Baby Jane) - as letras (5/6)

5 - Quero Mais
(Letra e Música de Hugo Simões)

Não foi nada como devia ser,
tu zangada e eu sem nada fazer…
Dá-me um minuto para pensar.

Um sonho tornado realidade,
no fim mostrei falta de capacidade
para te ter, para te amar.

Portei-me como da primeira vez,
eu vejo isso mas não sei se tu vês...
Dá-me tempo para te amar.

Eu...

Quero mais, quero mais…
Quero mais de ti…
Quero mais, muito mais…
Muito mais de ti…

Eu pensava que não pensava nisso…
Hoje sinto-me só e é por isso
que te vou procurar.

Eu sei que tu não queres saber,
mas eu vou tentar, eu vou fazer
tudo para te conquistar.

E se um dia eu passar por ti,
lembra-te que já fui teu e sorri
por tudo aquilo que não aconteceu.

Eu...

Quero mais, quero mais…
Quero mais de ti…
Quero mais, muito mais…
Muito mais de ti…

[Bridge]

Quero mais... quero um pouco mais...
um tudo-nada-tanto...
Quero tudo em ti,
quero tanto em ti,
quero tanto...

Quero mais, quero mais…
Quero mais de ti…
Quero mais, muito mais…
Muito mais de ti…

n.b. - O Caderno de Corda já havia publicado AQUI uma segunda versão da letra de "Quero Mais", depois de esta, muito antiga, ter-se perdido e sido esquecida pela banda. Para os curiosos e verdadeiros fãs dos Baby Jane e do seu percurso, talvez valha a pena clicar para ler a segunda versão (que, afinal, não será aquela cantada no EP "História de Um Vinho Azedo") e conhecer o porquê da música, bem como outras curiosidades que levaram a que o tema tenha sobrevivido aos anos e se mantenha ainda no reportório.

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sábado, dezembro 08, 2007

EP História de Um Vinho Azedo (Baby Jane) - as letras (4/6)

4 - Princípio do Fim
(Letra e Música de Ricardo Tomás)

Vivo num sonho que nunca quis;
Ver-te no monte, no princípio do fim.

Vivo, mas ferido, sem ter-te aqui.
Quiseste um mundo longe demais p’ra mim...

Eu fiquei triste, tu ficaste só,
só, longe de mim.
Cedo partiste, tu ficaste só,
só e tão longe daqui.

Vivo num sonho que nunca quis;
Ver-te no monte, no princípio do fim.

Sentiste a dor levar-te daqui;
Esqueceste todos, choraste por quem nunca te quis...

Eu fiquei triste, tu ficaste só,
só, longe de mim.
Cedo partiste, tu ficaste só,
só e tão longe daqui.

Perdeste o tempo, o tempo que te deram;
O nada quiseste, em nada acabaste,
e eu?... E eu?... E eu?
E eu?

Vivo num sonho que nunca quis;
Ver-te no monte, no princípio do fim.

Eu fiquei triste, tu ficaste só,
só, longe de mim.
Cedo partiste, tu ficaste só,
tão só... tão só... tão só!,
e tão longe de mim.
E tão longe de mim!

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quarta-feira, dezembro 05, 2007

EP História de Um Vinho Azedo (Baby Jane) - as letras (3/6)

3 - Joana em Mim
(Letra e Música de João Trigo)

Ia sozinha pela rua, meia vestida, meia nua;
os olhares que a assaltavam eram de paixão;
olhares de espanto e de carinho cruzavam o seu caminho
em tons de laranja e vermelho, cor do coração.

E quando entrava na praça, tanto brilho, tanta graça,
chamando as atenções com o seu ar triunfal.
Com o cabelo solto e leve, e às vezes um sorriso breve,
provocava sensações com o seu corpo escultural.

Escultural... (6x)

O seu nome era Joana, o seu dote era na cama...
Tantas noites de loucura, tantas noites de prazer.
Os seus sonhos tinham vida, tinham gente divertida,
pessoas que desejava algum dia conhecer.

Depois das noites de Julho, devagarinho e sem barulho,
ia dar o seu passeio para se esquecer.
Não bebia, não fumava, não esquecia mas tentava,
e a esperança morria mesmo antes de nascer.

De nascer... (6x)

Joana em mim... (2x)
Joana em mim maior…
Joana em mim...
Joana em mim maior…

Ia sozinha pela rua, meia vestida, meia nua;
os olhares que a assaltavam eram de paixão;
olhares de espanto e de carinho cruzavam o seu caminho,
em tons de laranja e vermelho, cor do coração.

E quando entrava na praça, tanto brilho, tanta graça,
chamando as atenções com o seu ar triunfal.
Com o cabelo solto e leve, e às vezes um sorriso breve,
provocava sensações com o seu corpo escultural.

Escultural... (6x)

Joana em mim... (2x)
Joana em mim maior…
Joana em mim...
Joana em mim maior…

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sexta-feira, novembro 30, 2007

EP História de Um Vinho Azedo (Baby Jane) - as letras (2/6)

2 - Italian Wool
(Letra e Música de Hugo Simões)

Se um dia eu quiser,
e se um dia eu olhar p’ra trás,
quero poder dizer-te ao ouvido
acredita que o que queres ser...

Serás um homem muito importante,
gravatas coloridas e um bom falante;
serás o que todos querem ser,
se eu fosse homem queria ser mulher.

Querias um carro ter,
passas o tempo a correr…
Já não vês o sol nascer…
O tempo que passo sem te ver.

O sol parece tão distante…
A luz do sol é importante.
O céu hoje está tão azul…
E o meu novo fato importado de...

Italian Wool (4x)

Mas eu nem quero conquistar o sol;
eu quero é um lugar na empresa que me contratou;
eu quero ser um robot.

Italian Wool...

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terça-feira, novembro 27, 2007

EP "História de Um Vinho Azedo" (Baby Jane) - as letras (1/6)

1 - História de um Vinho Azedo
(Letra e Melodia: João Trigo / Música e Arranjos: Hugo Simões)

Ai... este vinho que nos faz andar para trás,
branco, tinto ou mesmo verde, tanto faz,
o que importa é que ele afogue o nosso povo
e faça parecer o velho sempre novo.

Para a sede temos cerveja e tremoços,
temos histórias de uvas podres com caroços
que nos querem fazer crer numa utopia
e sorrir ao ver o sol de um novo dia.

Temos roupa, temos luz e temos água,
temos um Cristo na cruz e temos mágoa.
Temos uma última ceia para o caminho
e o povo come areia e faz beicinho...

História de um Vinho Azedo…

Somos ovos moles e pastéis de nata,
somos caracóis trajados de fato e gravata.
Somos bombeiros de um fogo que em nós arde
e que sempre nos acorda quando é tarde.

Somos o vinho do Dão e do Douro,
somos a história do Cristão e do Mouro,
somos Cruz de Cristo e o Zé Povinho,
que nos chama nomes feios com carinho.

Dão-nos terra suja e chamam-lhe ouro,
dão-nos uma enxada p’ra matar o couro,
e as marchas que fazemos nas avenidas
não nos tiram as dores nem nos curam as feridas ...

História de um Vinho Azedo…

Temos roupa, temos luz e temos água,
temos um Cristo na cruz e temos mágoa.
Somos bombeiros de um fogo que em nós arde
e que sempre nos acorda quando é tarde.

Somos o vinho do Dão e do Douro,
somos a história do Cristão e do Mouro,
somos Cruz de Cristo e o Zé Povinho,
que nos chama nomes feios com carinho.

Esta é a História de um Vinho Azedo...

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Nova rubrica cordiana hoje mesmo

Eu, forever Baby
Hoje lançarei neste blogue a novel rubrica cordiana EP "História de Um Vinho Azedo", a propósito do muito esperado EP que os Baby Jane estão em vias de terminar, mais mês; menos mês.
Num total de seis posts - o número de canções que o EP incluirá -, esta Série Cordiana apresentará antecipadamente as letras das músicas que os Baby Jane têm no mais completo e obscuro segredo - ou nem tanto. Assim sendo, e porque o nosso cavalo é branco, damos luz às palavras na alvorada de um disco que já corre nas veias.
Obedecendo ao alinhamento estruturado e definitivo de "História de Um Vinho Azedo" - título decalcado do nome da primeira canção do EP -, o primeiro dos seis posts numerados da nova série irá conter, como já o estimado leitor depreendeu, a letra de "História de Um Vinho Azedo", da autoria do meu querido amigo João Trigo. Brevemente.
* Informação também disponível no blogue e na página MySpace dos Baby Jane *

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sexta-feira, junho 29, 2007

On the ledge

She´s there standing,
No one knows
If she stays or if she goes.

On the sidewalk,
On the ledge,
She´s alive and fully fledged.

A bird of death
Into the fall,
When she had Springtime
Above it all.

Wish she had a mountain to climb,
Some other place to find herself,
A place to spill the eyes
That went on tears from her heart.

But she chose to fly,
To renounce oneself
And release the tears,

To throw away the keys
And prevent the years
To crease the Calling,

And earthly age the Will,
Wishing only to fulfil
The Dream to make a dream
Emptied by the sand,
Breathed by the wind,
And even so withstanding.

Wish she turned up labeled
And arrogant, very assuming,
But then again giving up everything
One obtains all.

Wish she had a mountain to climb,
Some other place to find herself,
A place to spill the eyes
That went on tears from her heart.

Ofereço esta letra ao meu Irmão Ricardo Tomás, one of the five horseman

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segunda-feira, maio 07, 2007

Abril Desfigurado

Como canta o abade,
assim responde o sacristão;
e se ambos se vão pela tarde,
ambos se dão pela mão.

Tem cinco manhãs o preguiçoso;
o trabalhador tem seis dias;
mas se a semana é curta,
bules os sete que não querias.

Dias de fazer nada,
de tanto para outrém trabalhar...
Sinto-os dias perdidos,
que o dinheiro assim não se faz pagar...

Manhãs de Abril...
doces de dormir,
que há anos adormecemos
em promessas mil,
coadas por um funil...

Precisa o povo de ouvir troar
a voz do seu Irmão,
indignado com a injustiça
que sofre igual cidadão.

Trago indignação no peito
e não guardo satisfeito
a cessação do desejo
de que tenhamos todos o proveito.

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sexta-feira, abril 20, 2007

Rato do Deserto numa seara de Trigo

É com satisfação, honra e orgulho ímpares que revelo, em primeiríssima mão, o nascimento do blogue Rato do Deserto, cujo autor é um amigo de longa data que plantou em mim memórias inapagáveis. Em dois ou três anos de blogosfera como autor e leitor, ainda não havia sentido tamanha satisfação em ver germinar um blogue. Nascido hoje mesmo às 11 horas e 36 minutos, o Rato do Deserto surge, curiosamente, depois de eu ter publicado NESTA caixa de comentário a memória do momento de criação da primeira música que compus, de braço dado com o João Trigo, autor do blogue que hoje divulgo. Falei com o João há pouco. Pediu-me para, neste post, referir ser o recém-nascido blogue Rato do Deserto o seu "depositório" lírico, sendo que não garante nem pretende um ritmo de publicação regular. O nome de baptismo, aposto, relaciona-se com a paixão do autor pela história, em particular aquela ocorrida em períodos de Guerras Mundiais.

Adiante, o Arnaldo, do Página 23, perguntava-me, depois de, NESTE post, observar um nome que lhe era estranho e que reclamava a autoria de duas das músicas tocadas pelos Baby Jane no último concerto da banda, quem é o enigmático João Trigo, recordando, coincidência das coincidências!, o velhinho tema “Luz da Noite” ("Devil"):
“Que é feito da Luz da Lua (acho que era este o nome). Já agora, quem é o João Trigo?”

Pois bem, a minha resposta espontânea, dada de imediato na mesma caixa de comentário (ESTA), sem cuidados extremos com a delicadeza da redacção, seguiu assim:
(...) “Sem imaginares, nas duas frases finais do teu comentário, relacionaste espantosamente dois elementos indissociáveis: o "Luz da Noite" (era "Noite"; o refrão é que continha as expressões "luz da lua") e o João Trigo. Parece-me quase que absorveste inconscientemente a dimensão oculta das ideias. É incrível a associação!: O "Luz da Noite" foi a primeira música que compus e escrevi, durante uma festa de "som" na vivenda vazia do César (Kaiser), no dia em que apanhei a minha primeira bebedeira. Inicialmente em inglês, foi tocada indizíveis vezes nas escadas e bancadas dos Salesianos, um colégio católico. Diga-se que, originalmente, o título era simplesmente "Devil"...
O João Trigo era um ano mais velho, e seguramente aquele de entre os mais velhos de quem eu mais gostava. Tocava baixo na banda mais antiga e experiente do colégio. Além do mais, compunha praticamente a totalidade das músicas, donde sobressaíam as letras, na voz do Dino, a roçar os píncaros da genialidade. :)
Recuando um pouco, recordo-te a tal bebedeira na casa do Kaiser. O Trigo estava, obviamente, lá (Trigo e Kaiser são amigos e ex-vizinhos de longa data). Sentados no chão, noite alta, na sala quase vazia - não fosse a mesa com o frango assado -, eu e o Trigo, cada um com a sua viola.
Comecei uns acordes ("power chords", claro), Mi, Sol, Lá, Si#, o Trigo seguiu a deixa e cantarolou... Foi como se me abrisse a cabeça. É isso... o Trigo foi das pessoas que felizmente passaram pela minha vida que me 'abriram a cabeça'! Uma vez, em Albufeira, uma miúda mais velha, estúpida e má, também me abriu a cabeça: atirou-me com uma pedra de calçada. Sete pontos, pelo menos.
Fiz a música em inglês. Se bem me lembro, parti do mote dado pelo Trigo. Uns meses mais tarde, os Hades (a primeira banda que tive, com os meus amigos de infância e pré-adolescência João Luís, Quim, Armando, César e Barata) tinham a oportunidade de inscrever uma música original num grande (era mesmo!) concurso a realizar-se nas OSJ - a segunda edição da "Festa da Música", sendo que havíamos vencido inesperadamente a primeira edição.
Avançámos com o "Devil", mas quisemos assumirmo-nos como uma banda que comunicava em língua portuguesa... Então, andei dias a pensar como escrever uma música em português... Sempre havia escrito letras apenas em inglês... Até que, numa tarde de dia de festa no colégio (dia de D. João Bosco?), fui com o Trigo até casa dele e comentei, no elevador, a dificuldade que estava a sentir para escrever uma simples letra na língua de Camões. Sei dizer que, entre os hipotéticos 12 segundos que demorámos até o elevador estancar no andar de destino, o Trigo sacou de debaixo da língua os dois primeiros versos. Tentei não esquecê-los, pedi-lhe para continuar a pensar no assunto e, se possível, para me transmitir os desenvolvimentos no intervalo da manhã do dia seguinte.
Na manhã seguinte, num átrio, reencontrámo-nos. O Trigo trazia o olhar cintilante e perspicaz que o caracteriza e que transmite confiança. Tirou de dentro do bolso das calças de ganga um papelito dobrado em quatro e passou-mo para a mão. Foi rápido. Trocámos umas palavras e tenho ideia de ele se ter afastado com ligeireza, como se não quisesse ver a minha reacção imediata (a menos espontânea quando temos à nossa frente quem nos presenteia).
Na ausência dele li o bloco de quatro frases. A métrica parecia perfeita à vista. Gostei. Aquilo embalou-me e escrevi o resto na aula seguinte. O "Luz da Noite" concorreu à "Festa da Música" e alcançou um honroso segundo lugar.
O Trigo foi o meu Ary dos Santos (e sabe-o).
Ó Arnaldo, olha só a trabalheira que o teu comentário me deu! Tocaste num dos vários pontos "G" das minhas memórias!
:D
Aquele abraço!”
À posteriori, o Kaiser fez ainda uma valiosa adenda e eu, desta feita leitor do meu próprio blogue, sorria cá para comigo:
“Esta janela de comentários obriga-me a recuar mais de dez anos na minha, não obstante, curta vida. Primeiro que tudo, importa agradecer o elogio do nosso timoneiro blogosférico. Embora me sentisse parte da banda, o facto é que os Hades contaram com a presença pontual do Kaiser, eu, no baixo - 'Highway to Hell', 1.ª festa da música das OSJ. Quanto ao 'Devil' - my name is devil, I walk on the streets no one can hear, I drink all the blood of those who fear -, é verdade que cedi o meu 'estúdio' na Parede, regado de cerveja, gin, frango assado e, mais importante que tudo, amigos!
A "Velha Caquética", título original, se a memória não me atraiçoa, foi uma piada musical que o Trigo e a Sofia compuseram em honra à nossa (vivíamos todos no mesmo prédio) vizinha do 1.º Andar Esquerdo. Rolava mais ao menos assim: 'Velha caquética, que guardas o portão, velha esquelética, vai cair-te a mão; tens muitas histórias para contar, na tua cadeira de rodas, u ié!'
O "Heavy Mentol", que contava com uma generosa guitarrada do João Cruz, e a "Velha Caquética" são originais dos 'Akahekku' - banda do Trigo, Cruz, Dino, Moreira e Ricky, que contou com a presença do Bernardo e da minha pessoa, num memorável concerto no Aquaparque -, que estiveram talhados para voos mais altos, mas, na hora da descolagem, tiveram vertigens. A estas duas, podemos juntar a, para mim, grande malha "Joana em Mim Maior": esta música é muito boa!!! Por ora, já chega de recordações!”
Definitivamente, ao João Trigo

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sábado, março 18, 2006

Treasures Inside

It's time to dance,
time to kiss
and it's time to long
the ones you miss.

And it's cold outside
from across the walls;
I don't need to hide
or resent my faults.

- bridge -
I saw pictures inside,
I saw people aligned,
I saw people not living
just waiting to die;

I saw pictures inside,
I saw people alive
however not living
believin' in a lie.

I saw people alive...
waiting to die...
knowing not why...

- refrão -
And it's far from what she sees
not knowing A from B;
sung desert, blown mind
I saw treasures inside.

P.S. - Mano Pinto, embora em inglês, esta é para ti, depois do teu pedido. A música já está feita. Falta gravar com acústicas e percussão ligeira. Podias "emprestar" A Voz...

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sexta-feira, dezembro 16, 2005

Areias de Júpiter (música inacabada)

São gomos de areia molhada,
os pés que pisaste,
bem-me-quer desfolhado...
e assustado
no olhar suicida que me lançaste...
Ouvi dizer que bebeste o ruído
e nem caíste de solidão;
escorreste a garrafa que repousa,
partida, como tu, no chão.
Muda de roupa e um colchão
- banhando o sol de nós.
Calma prometida e prateada...
lenha ou gás para o fogão,
a senha ou a porta fechada,
e tudo para finalmente te ter
em areias de Júpiter.
E sem qualquer explicação,
sem o dom de antever o senão,
inocente o esquimó que não conhecia a Deus,
pecado ou religião

(...)

n.b. - Peço desculpa ao estimado leitor pelo devaneio inacabado e, ainda por cima, inconclusivo. Acontece que encontrei este velho pedaço de letra de uma música que, já há uns valentes anos atrás, não terminei - Areias de Júpiter. Coincidentalmente, uma ideia (a do esquimó) persiste. Em situações normais não publicaria este texto. Faço-o para que não me esqueça dele; para que o não perca no bolso de um casaco de Inverno, mesmo não vindo a ter qualquer uso posterior ou importância...

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quarta-feira, novembro 16, 2005

Italian Wool (Baby Jane)

Se um dia eu quiser
E se um dia eu olhar para trás
Quero poder dizer-te ao ouvido
Acredita que o que queres ser...
.
Serás um homem
Muito importante
Gravatas coloridas
E um bom falante
.
Serás o que todos querem ser
Se eu fosse homem queria ser mulher
.
Querias um carro ter
Passas o tempo a correr
Já não vês o sol nascer
O tempo que passo sem te ver...
.
O sol parece tão distante
A luz do sol é importante
O céu hoje está tão azul
E o meu novo fato importado de
.
Italian Wool (4 x)
.
Mas eu nem quero conquistar o sol
Eu quero é um lugar na empresa que me contratou
Eu quero ser (2 x) ... um robot (3 x)

n.b. - Italian Wool, música que constituía o reportório de Baby Jane, foi escrita, penso, em 1998 ou 97, e gravada em 1999. Música e letra da minha autoria, Italian Wool surge durante um período de adaptação à vida laboral, que, por motivos pessoais, me vi obrigado a abraçar cedo. Trabalhava então como arquivista da Companhia de Seguros Lusitânia... Os outros elementos da banda tiveram também, em 1999, afazeres que os desviaram do rumo que até então havia sido construído em conjunto, e vi-me forçado a gravar Italian Wool sozinho - com participações de Tiago "Carraça" (bateria), "Moisés" (teclas) e João Pestana (baixo) -, sob pena de nunca mais o fazer. A mistura é do João Martins, na desarrumada garagem do Carlos, dos "Beringelas". Gravei eu as vozes (e nunca cantei - a voz do Pinto é incomparável), as guitarras, partes de teclas e instrumentação adicional, além de ter produzido.
Mas não é por acaso que hoje publico aqui a letra de Italian Wool, embora sem música, por enquanto... O estimado leitor terá em breve uma surpresa audível. Com os meus cumprimentos e do Manuel Natário, a quem muito agradeço pela ajuda informática, simpatia e disponibilidade.

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segunda-feira, julho 18, 2005

Sonho Português (Baby Jane)

Esta é a história do nosso Portugal.
Para rimar, muito tradicional.
Ouçam bem e já vão perceber
O que este som vos pode fazer...

O que pode; o que pode fazer...
Vocês já vão ver o que vos pode fazer.

Já só há telefones de cartão
Quando eu só tenho moedas à mão.
Não se paga multa pelo lixo no chão
Mas tenho de limpar os presentes do meu cão,

Eu quero outra constituição
Para não ter de limpar os presentes do meu cão.

Tenho uma banda, não me deixam tocar;
Mulher e cinco filhos para sustentar.
Digam-me lá o que posso fazer,
A minha vida é uma miséria, nem tenho o que comer...

Eu não sei o que posso fazer...
Vou raptar o Presidente e do resgate comer.

Quando eu raptei o Presidente
Pudemos dar (2x), dar ao dente.
Fomos viver para o Palácio de Belém
Os cinco filhos, a mulher e a minha mãe.

Realizou-se o sonho português
Num país onde vencem dois ou três.
Eu e o Presidente ficámos unha com carne
Meteu uma cunha e hoje sou cantor de charme.

Sou, sou, sonho português (4x)


n.b. - Escrito num jardim hoje de inspiração zen, re-inaugurado por volta de 2000 pelo Dalai Lama, o "Sonho Português" data já de há talvez nove ou dez anos. Eu e o Saulo Mendes queríamos fazer uma brincadeira tendo como base musical o "Blue Suede Shoes", do Presley. Adaptámos a música aqui e acoli para vestir esta letra, que obedece à métrica do original, se a isso atentarem. Os Baby Jane (banda que ainda procuramos manter) tocaram-na durante algum tempo, até que o reportório se alargou e a tornou dispensável. Hoje publico aqui a letra... para mais tarde recordar.

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sábado, junho 04, 2005

Dia Final

A tua cor de sol
E os teus pés de areia
São o princípio e o final
De uma força que receia.

E foi ter-te tão perto
Que me fez deslumbrar
Quando o teu braço de ferro
Se deu a descambar.

- Temos o dia final
mas antes podemos ter o proveito –

Foi então que eu peguei
E te resolvi escrever
Mas tu nunca vais compreender. (2x)

Peço-te por favor,
Já que tu não me ouves,
Esta não é uma história de amor
Porque tu nunca me viste como eu te vi...

Sei que me não entendes.
Sei que quanto melhor te revelar
O meu mundo profundo,
O fundo do meu mar;
Os limos do meu poço,
O antro que é só meu,
(sendo, apesar de tudo, nosso)
Menos me entenderás...

- Temos o dia final
mas antes podemos ter o proveito –

- Temos o dia final
mas antes Temos de ter o proveito –

n.b. - "Dia Final" é a letra de uma música por mim composta em 1999, e gravada, pela primeira vez, creio que em 2001. Escrevi, de início, uma versão integralmente da minha autoria mas, alguns meses depois, ao ler e deliciar-me com a poesia de José Régio, deparei-me com uma passagem que assentava como uma luva no terceiro terço cantado da música. O referido trecho está assinalado a itálico. Trata-se do poema "Cartas de Amor", incluído na "Antologia Poética" do autor (Introdução e selecção de Eugénio Lisboa; Lisboa, Círculo de Leitores, 1993). Uma segunda interpretação de "Dia Final" está na forja, incluída - com mais nove outros temas -, na nova maquete de Baby Jane, que estará terminada em breve.

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