terça-feira, março 29, 2005

3

Temos uma noite para ouvir as cordas da nossa voz,
tocar na madeira formada nas tuas linhas de melodia.
Temos uma manhã para resistir ao peso dos nossos olhos,
tomarmos o café da paisagem e repeti-lo pela tarde.
Temos uma tarde para nos tocarmos de despedida,
e foi só ver-te partir.
Caramba, foi ver-te partir...

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segunda-feira, março 28, 2005

2

Ilumino as palavras.
Quadro branco, essência.
Invisíveis quadras.
Sem vértices, quatro cantos,
depois da ciência,
unidos, sem costura, mantos.
Mantos brancos, no quadro
que não tem cantos
nem tão pouco se desfez em quatro,
nem tão pouco se desfez em prantos...
no iluminar do seu próprio parto.
Zénite! Arte. Traços brancos
no branco, dependurado quarto,
onde na alva parede se baloiça o quadro
e o tempo,
no também inventado relógio de quartzo.
Pêndulo, atiro-te no espaço,
inicio uma nova odisseia;
Um ritmo, a síncope;
O bater de um coração;
O surgimento de uma ideia;
Atónito, rocambolesco, o épico;
O surgimento da nação;
Prosseguido progresso, frenético,
até à missa de réquiem,
o momento da final exaltação!
O retorno, anelar,
que nos une no princípio,
a comunhão.
O quadro era uma explosão solar.
Desígnios da arte de criar
A criação.

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domingo, março 27, 2005

1

Sou poeta dos quatro cantos.
Falo em nome de toda a espécie, meus irmãos.
Sou pretensão e me conhecem índios e pagãos.
Sou poeta dos quatro cantos;
a todos pertenço, todos mo devem.
Sou mestre de invenções descobertas,
o saturar dos tradicionais chavões.
Sou o poeta maravilhoso,
em todo o tempo do impregnado ócio;
sonolência diurna, indolência obtusa,
mancebo do capitão, que grita, abertos pulmões,
a terra nunca antes vista!
Eis a sapiência de concretizar ilusões.
Oásis, fronteira do milagre;
utopia, a razão das razões...
Somos pares incontestáveis
num qualquer mar de electrões.
Somos mais do que medidas as dimensões:
Depois do corpo, sensações!
Sou o poeta dos quatro cantos...
procuro o imo dos corações...
Chamou-lhe o poeta certa vez corações
por ter no peito uma acidez,
ora cáustica vontade,
para o bem ou a maldade.
Sou o tal poeta fantástico,
no silêncio protestando em previsão,
juntando ao código escolástico
a primazia do saber de geração;
fazendo versos de plástico,
pondo em formas a sensação.
Sou o poeta maravilhoso,
o mensageiro da luz,
um sujeito perigoso
pelo poder do que seduz.
O meu sonho foi fantasia,
a que me dei mais que ao corpo;
o meu corpo é a agonia
que não transparece o meu desgosto.
Sou o poeta perfeito
e não gosto do leitor,
pois crítico, terá despeito,
por eu dizer que sou melhor.
Por isso, eu sou o poeta exclamativo!
A questão metafísica,
a resposta interrogativa,
a ciência última e lírica.
Para que além de louco,
se relativize a minha palavra,
farei das palavras pouco
do que na verdade me vai na alma.

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