domingo, abril 20, 2008

Poemas da Terra Nova III

Poderei escrever como se sentisse o que há pouco me fez pensar?
Como exprimi-lo sem que finja tê-lo simultaneamente no coração e no pensamento?
Agora que o encontrei, partiu;
Agora sinto-o; agora não,
e temo não sentir,
como se ausente de mim mesmo
pudesse deixar de existir,
apesar de vivo.
Não posso ficar na porta de embarque
- tenho de te cheirar, ó vida, como a uma grande maçã viçosa.
Estou a meio no retrato
com o mundo à minha volta,
mas não passo de um bichinho
com universos dentro de mim.

Nova Iorque, 19 de Abril de 2008, 17h42

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sexta-feira, abril 18, 2008

Poemas da Terra Nova II

Mixed foods; mixed tastes;
the salt and the bell peppers,
drawn in a piece of paper.

The hoods and the waste;
the spreading innocence of beggars,
pawns redeemed by hunger, misplaced.

Pawns of the hills,
children of the night,
forgotten sons of orgasmic chills,
orphans of their men-given rights.

San Francisco, April 17th, 2008
Photo: Ron Niebrugge

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quinta-feira, abril 17, 2008

Poemas da Terra Nova I

Néons imperativos rasgam o silêncio monocromático da noite. Supremo, jovem. Uma cerveja belga, rubi, fumo livre atrás de grades. Indecisos, cantores sem voz, poetas de rua, negros de latão, betão e esmola, contando verdes de dólar, que ser pobre aqui exige dotes de gestão, ainda que dormindo capitalmente no chão, como em Lisboa ou Praga, junto a uma porta morta, na rua, num relentado vão de escada. E as semelhanças não se quedam numa ponte, nem nas portas, nem nos latinos nomes, que o primeiro franciscano reconhecido - de Assis herdado epíteto - é neto de portuguesa, com ares de Carlos Paião.
S. Francisco, 16 de Abril de 2008
Foto: Ron Niebrugge

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