Os cartoons que muitos ainda não viram
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Publico hoje os cartoons precisamente por e para aqueles que ainda os não viram. Para que saibam exactamente o que levou milhares de pessoas a odiar uma nação, confundida ignorantemente com um mero órgão de comunicação, suas editorias, seus criativos, seus cartoonistas (cartunistas, eu sei); para que possam, depois da reacção gerada, avaliar com conhecimento de causa, pensamento livre, o sucedido. Eu próprio, jornalista, produzo conteúdos. Sou o primeiro a editar-me, o censor-mor do reino do meu corpo, raiano do que em essência sou, e das palavras que a minha mão escreve. Eu não faria aqueles desenhos, mas aceito-os, como aceito a música do Nel Monteiro, igualmente blasfema para a Grande Música. Não os publicaria acaso fosse o editor do jornal Jyllands-Posten. Desconheço o que que se passou, naquele dia, naquela redacção, para que os cartoons se produzissem. Desconheço se influências exteriores houve para que se beliscasse uma zona tão sensível do mundo islâmico. Mas não posso aceitar que, em resultado dos desenhos, se peça a cabeça dos autores. Muito pior, menos posso aceitar que, depois de ver as suas embaixadas destruídas em actos de radicalismo grosseiro, fanatismo tresloucado, o povo ou o governo da Dinamarca deva um pedido de desculpas ao Islão (?!). Um assalto cobarde a uma embaixada é seguramente pior do que uma declaração de guerra. Não gostaria de ser dinamarquês num momento de tensão como este. Tal como os Taliban não têm domínio sobre os cartoonistas dinamarqueses, também o governo dinamarquês o não tem. É precisamente essa a beleza da coisa! Num rodapé noticioso li: «Taliban dão 100 quilos de ouro a quem matar autores dos cartoons.» O primeiro ministro dinamarquês, Anders Fogh Rasmussens, disse, no dia 3 de Fevereiro, a uma assembleia de diplomatas: «Deparamo-nos com um problema, que pode crescer a ponto de se tornar num problema global. Os cartoons foram agora republicados numa quantidade de jornais em toda a Europa e se os protestos nas ruas escalarem mais ainda, poderemos enfrentar repercussões imprevisíveis em todos os países afectados.» Na verdade, os radicais islâmicos fizeram de cartoons inofensivos sem carga noticiosa, sem força de notíca, referência jornalística ou importância, algo de publicação obrigatória. A Europa e o povo europeu não pode ser posto em xeque, sob ameaça de guerra ou sabe-se lá o quê, sem conhecer o motivo. E a Dinamarca não pode pedir desculpa pela emissão de uma opinião livre publicada num jornal europeu. Citando o manifesto Como Uma Liberdade, que circula na Internet, «tal será como pedir desculpa pela Magna Carta, por Erasmo, por Voltaire, por Giordano Bruno, por Galileu, pelo laicismo, pela Revolução Francesa, por Darwin, pelo socialismo, pelo Iluminismo, pela Reforma, pelo feminismo».
Em 1689, John Locke escrevia, na sua Carta sobre a Tolerância, que «a tolerância […] aplica-se ao exercício da liberdade, que não é licença para fazer tudo o que se deseja, mas o direito de obedecer à obrigação, essencial a cada homem, de realizar a sua natureza».
Deixo-vos os cartoons, divulgados aqui.
Etiquetas: 11 de Setembro, Cartoons, Censura, Conspiração, Hipertexto Vazante, História, Holocausto, Humor, Imagens e Afins, Imprensa, Terrorismo, Textos Alheios, Totalitarismos
1 Comments:
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