terça-feira, março 27, 2018

Anno XIII - O Jantar

Imagem gentilmente editada e cedida pelo Grão-Mestre Cordiano João Trigo, cujo número 4 é, nesta data, motivo memorável e de grande felicidade. Legenda aleatória: César da Silveira, Miguel Leão Miranda, João Barroso, Edgar Pombinho, Ricardo Girão, Mafalda Filipe, Ricardo Tomás, Rui Pina, Sara Matos, João Trigo, Bruno Oliveira, Gustavo Silva, Frederico Costa. A Rita Franchi, o Rui Pedro Costa (que não aparece neste quadro) e as suas queridas meninas vieram, como vem sendo habitual, para nos dar o prazer da sua companhia no pós-jantar.

Ao décimo terceiro anno de Caderno de Corda nada creio poder escrever que suplante o prévio ou que verdadeiramente acrescente ao que já debitei por esta data. Subsiste, no entanto, uma ideia - aliás, já antes também aventurada: que o Caderno de Corda não desiste; a Amizade não desiste; O Jantar não desiste. Nós não desistimos. 
E suspeito ser esse um dos efeitos mais marcantes do nosso encontro, enquanto, permitam-me, "houver estrada para andar". De facto, e isto é de relevar, ao invés de irmos perdendo gás com o passar dos anos, não esmorecemos; antes pelo contrário. Até o Caderno de Corda acelerou recentemente a frequência de publicação com alguns textos por que não crê passar vergonha. 
Pela minha parte, posso dizer-vos que chego sempre de coração cheio a casa, lamentando apenas não ter tido noites inteiras, consecutivas, em loop, deste 26 de Março para prolongar o nosso encontro a cada ano e estar mais tempo com todos e cada um. 
Obviamente convido, como sempre, os estimados leitores a visitar esta casa blogosférica, os arquivos, as canções caseiras e as não tão caseiras, e a forma inicial, espontânea, de muitos textos mais ou menos poéticos, alguns dos quais, polidos a posteriori, mais tarde redundaram em dois livros de poesia.
Em retrospectiva, e para aqueles cuja memória não abona ou que apenas recentemente tomam contacto com este blogue, O Jantar começou pela caixa de comentários de um post de título "Anno I - Exortação aos estimados leitores", publicado precisamente AQUI, que assim rezava (note-se que naquele tempo não havia Facebook): 
"O Caderno de Corda está, não tarda, a celebrar o primeiro ano de vida de publicação ininterrupta. Para a data (27 de Março), nada está previsto ser feito até ao momento. Serve este post para solicitar aos estimados leitores - assíduos e ocasionais - a participação, sugerindo, por exemplo, o que, nesse dia, gostariam de ver publicado, sendo certo que tudo é possível, desde que imaginável. Aceitam-se sugestões e até textos originais. Libertem-se e libertem também o Caderno de Corda do umbiguismo poético do Davi Reis, de que está refém. A caixa de comentários é toda vossa. Até à data referida não há impossíveis."
E na caixa de comentários respectiva lavraram-se 20 comentários, todos eles carinhosos e benfazejos, mas houve um que definiu em absoluto o que viria:
"Eu sugiro tudo o atrás sugerido... feito à mesa! Faz um jantar, abre as portas à mesa! Aquele Abraço 
Gustas 
domingo, março 19, 2006 1:35:00 da tarde"
O Kaiser não hesitou, levantou os 20 votos e assim foi. 

Este ano tivemos notadas ausências, mas também fantásticas estreias, entre as quais o Frederico Cruzeiro Costa, a querida Mafalda Filipe, o Edgar Pombinho e o Bruno Oliveira, todos amigos de longuíssima data. Como digo amiudadas vezes, uma vez da Confraria, sempre da Confraria.
Daqui em diante não mais teremos como fundo os azulejos verdes que caracterizavam de há muito as salas do restaurante A Valenciana, que entretanto foi totalmente remodelado, e fizeram-se progressos no que ao acerto de um preço fixo diz respeito. Já a especialidade dos rissóis ocos não fez adeptos entre os Comensais da Sala Marquês.
As ausências, como sempre, devidas a incontornáveis imprevistos de última hora, e outras, previstas, por motivos de força maior. É por isso que não dispenso a menção e Aquele Abraço ao meu Irmão Grão-Mestre Cordiano e fotógrafo oficial da Confraria Ricardo Pinto, que, apesar de ter uma festa de aniversário de que não podia nem queria perder pitada (uma festa que continuará a sobrepor-se ao Jantar nos anos vindouros), ainda telefonou na perspectiva de chegar tardiamente para o abraço, mas as portas já estavam fechadas e na rua estávamos apenas eu, o Ricardo Girão, a Mafalda, o Frederico Costa, o Ricardo Tomás e o Rui Pina a queimarmos os últimos cartuchos - cigarros e dedos de conversa. 
Também os Mestres Comensais João Pimenta, Carolina Pinto, Sofia Damião, João Carlos Graça, Bruno Tomás, Miguel Pereira, Hugo Dantas, Carlos Nunes e Nuno "Dino" Rodrigues foram lembrados, sendo que a permanência do João Pimenta em Sines e o horário de trabalho do Bruno Tomás impactam na trajectória do meu desejo de voltar a revê-los à mesa neste dia. Impactam na trajectória do meu desejo, leram bem.
A eles e aos Comensais Rui Almeida, Paulo Amaral, Bernardo "Moisés" Rodrigues, Patrícia Nicolau, Fernando e Joana, Jacinto e Simone, Bruno Sardo, André Paiva, Felipe Gomes (Félix), Vilma, Joana e Margarida, Rute, Paula, Aquele Abraço. 

A estes e a todos os futuros Comensais Cordianos. 

E repito (mais uma vez) a punch line de um post de há exactamente 12 anos, desta feita no primeiro ano abençoado pela presença da minha doce Rosarinho, Amor Maior, dirigindo um trecho retirado do poema "Setentrional", de Cesário Verde, aos amigos com quem jantei:

"(...) Quando ao nascer da aurora, unidos ambos
Num amor grande como um mar sem praias (...)"

Cesário Verde

Este blogue é e continuará a ser o meu fiel depositório criativo.

Como sempre nesta ocasião, o cabeçalho do Caderno de Corda encontra-se actualizado, podendo ler-se, no final da animação taylor made pelo realizador Tiago Pereira, Anno XIII.

Daqui a exactamente um ano, no mesmo sítio, à mesma hora.

ASSIM foi. Assim seja.

Links para posts análogos dos aniversários anteriores:

Etiquetas: , , , , , ,

domingo, março 11, 2018

Domingo Chuvoso, Dia de Reis

Deus, Pátria, Família;
Fado, Futebol, Fátima.
Acima da neblina
que esconde a deidade,
eis o proto-mito,
simples, humilde, porte negro
da altíssima nobreza da Mafalala
- pé descalço, bolas de trapos
chutadas pó adentro,
levitantes nas asas de anjos
feitos da terra vermelha dos heróis.
Daquém e dalém,
antípoda dos clichés.

Sonhada Mãe África
que da argila brota pérolas,
rapazes serenos de olhos atentos,
reluzentes, contendo o brilho de estrelas
e as próprias estrelas.
Pernas de Hércules,
destrezas de Ulisses,
pés com astúcias de mãos,
um joelho de Aquiles.

De Lourenço Marques colonial
renascia um grande Portugal,
das brumas da memória
dormentes na noite funda,
quente e húmida de Moçambique.

O mergulho na ruidosa e velhaca ideologia.
O menino tem frio.
Aquece-o uma roda de fogo
que o destina a flamejante pirotecnia
sobre as cabeças da gente.
Em Lisboa, quase clandestino,
fez a vontade à mãe
e ficou.

Nos olhos do Povo,
em despique com a gramática,
como um espelho,
Eusébio e Benfica
seriam palavra fundida,
uma parelha amorosa
que a semântica teme
e desdenha
na angústia dos 90 minutos
que dura a vida 
- e a eternidade.

Golo após golo,
com dignidade inigualável,
disparado o sonho da multidão
na ponta das chuteiras,
ousou sonhar também, sempre.
Que poeta portentoso dos relvados
vestiu a pele dos anónimos,
ébrios desgraçados,
e os fez grandes e felizes,
estraçalhando a pontapé
o espelho que une e separa
a razão do coração
num segundo fraccionado
pela parábola do seu drible.

Golo! Goolo! Gooolo!

Havia golos, orgasmos com asas,
silenciando o samba
por um fado negro de relâmpago;
havia abraços a adversários batidos
e lágrimas de brio
em homenagem à condição humana
no rosto da derrota.

Arrepiante, viu cair reis a seus pés.
Puskás, Gento, Kocsis, Crizbor, Pelé,
o semi-deus Di Stéfano
soçobraram ante o menino
que bailava para eles
sem oponentes nem inimigos,
com uma camisola por troféu.

Guardião de todos os símbolos,
foi estátua em vida;
metro de todas as medidas
no rectângulo de jogo,
curto para uma pantera
a transpirar savana.

Em recta, elipse, meia-lua,
escrito em constelações,
reinventa a velocidade,
o ritmo, a intensidade, a direcção.
Potência, explosão!
Uma lança no mundo,
rematado em jeito.

Arqueado, oscilam músculos,
ossos, tendões,
reconstituindo com minúcia
e impacto a ordem das coisas,
o Universo.

Santo rotundo de bronze
com honras de Panteão,
de todos um no onze contra onze,
homem todo coração,
em movimento feérico, bailado,
de torsos e pés enlaçados.

No final, corpo triunfante, deitado
como todos os homens,
sujeitos da gravidade,
e no Lumiar repousou sob chuva torrencial.
Alguns lhe ofereceram asas e flores de múltiplas cores.
Rubras, alvas, negras,
asas de fogo engomadas pela fantasia
e fecundas de imaginação,
da matéria densa dos sonhos
levados às suas costas.

Protagonista improvável de narrativa imperial,
Eusébio indizível, incorporado, inexprimível
- que “as lendas não têm ponto final” -,
é outra forma de dizer Benfica.

E por obras valorosas, incríveis,
Eusébio foi da lei da morte libertado
num domingo chuvoso, dia de reis.

Eusébio da Silva Ferreira

N.B. - Dedicado a Eusébio da Silva Ferreira, este poema foi escrito quase integralmente e na sua forma definitiva entre o dia do falecimento de Eusébio (5 de Janeiro de 2014), num domingo chuvoso, dia de reis, e o dia do seu funeral, a que compareci sob chuva torrencial. Não senti, no entanto, que o havia completado, e guardei-o. Entretanto, mudei de computador, mudei de casa... O poema ficou num Word esquecido até que foi recuperado de um disco rígido e de mim para mim recordado há cerca de um mês. Já não me lembrava da sua existência. O último quarto do poema foi escrito recentemente, numa qualquer noite deste mês. Agradeço ao Mestre António Simões, autor do livro "Eusébio como Nunca se Viu", pela amizade, pelo apoio, pelo olho crítico e pelas tão pertinentes sugestões após a leitura prévia do poema. Por fim, aquele abraço, o da Vitória, ao meu querido Irmão ilegítimo Gustavo Silva, com quem partilho o idealismo dos elevados princípios do puro benfiquismo e dessa memória pueril de dia de jogo, já que não o posso fazer com o meu pai. 

Etiquetas: , , , ,

sábado, março 10, 2018

Anno XIII - O Jantar (convocatória)

E à beira do seu 13.º aniversário, o Caderno de Corda vem proceder à convocatória formal para O Jantar, que se realiza invariavelmente no restaurante A Valenciana. Como sempre, a participação é livre e dedicada aos meus indefectíveis Irmãos cordianos, pensando também nos estimados leitores, fisicamente distantes, ou nem por isso. Note-se que O Jantar se realiza a dia 26 para que, a 27, dia de aniversário, este blogue se apresente devidamente engalanado e actualizado.

Etiquetas: , , ,