O Caderno de Corda cumpriu 19 anos em 2024 e cumprimo-los também nós, uma vez mais, à mesa, num ritual de fraternidade e memória. O Jantar aconteceu a 12 de Abril de 2024, como sempre no restaurante A Valenciana, pela quarta vez em data posterior à data tradicional (de 26 para 27 de Março), evitando o período de férias da Páscoa e garantindo a adesão do maior número de Confrades Cordianos. A escolha revelou-se acertada, como verificado pelo número recorde de presenças: 33 no total — 32 à mesa e um visitante preambular, Rui Martins (Fininho), que apareceu no rendez-vous e seguiu caminho para assistir a um concerto, mas não sem antes deixar comigo um presente de inestimável simbolismo: o disco “Gigaton”, dos Pearl Jam, lançado precisamente a 27 de março de 2020, data do aniversário do Caderno de Corda – disco que o Rui guardara na data de lançamento para, com efeitos pandémicos pelo meio, me dar antes tarde que nunca. Regista-se a importante oferta e o quase baptismo do Rui na liturgia cordiana. Mas as oferendas ao Vosso fiel escriba não se quedaram por aqui. O debutante Hugo Passos (Ken) marcou também a sua estreia com o mimo de uma garrafa de vinho tinto à chegada - lembrança significativa que merece uma nota de especial e sentido agradecimento.
Este ano há subtextos por (quase) desvelar. No passado recente, justificou-se o abrandamento das publicações no blogue com a empreitada de um romance distópico, um projeto de grande fôlego e escala que monopolizou milhares de horas livres. Mas, como os tempos, os ventos mudam e, como as palavras, adquirem novos significados, seguem novos fluxos e novos trilhos semióticos. O romance repousa com terra à vista e a atenção volta-se para a consubstanciação de um foco renovado que em 2025 se revelará. O Caderno de Corda está em marcha e o que aí vem não se cinge à celebração de um número redondo. Há algo mais. Algo que cresce e transborda…
Como sabemos e vimos sempre aprendendo, também a Amizade é transbordante, exponencial e contagiosa — prova disso são @s sublimes estreantes definitivamente incorporad@s na Confraria Cordiana. Nove debutantes tiveram assento à mesa em 2024 e, como é nosso apanágio, uma vez da Confraria, sempre da Confraria. Entre @s recém-chegad@s, destacam-se quatro infantas e infantes cordian@s, responsáveis pelo significativo e desejável decréscimo da média etária do grupo, garantindo que o futuro da Confraria se inscreve na nova geração: Isaac Graça, Beatriz Paiva, David Pina e Rafael Nunes, dignos titulares das insígnias de Infantes da Cordialidade.
Aos restantes (e insignes) estreantes — Sandra Rodríguez, Pedro Sequeira, José Manuel Couto, Hugo Passos e Miguel Barreiros Lopes (Miko) —, a certeza de que os regressos são esperados e os encontros são perenes, prolongando-se noutras mesas e noutras horas, mas sobretudo na memória do coração. Uma nota para a participação espontânea de José Manuel Couto, que, tendo ligações à Cruz Quebrada, tomou conhecimento do Caderno de Corda e d’O Jantar no ciberespaço e quis, de livre e independente vontade, partilhar connosco a companhia, histórias e a mesa. Mais uma honraria para o Caderno de Corda, que assim cumpre um dos seus primordiais desígnios: estabelecer pontes tangíveis para lá do algoritmo e do éter.
O peso da Loja Cruz Quebrada fez-se sentir sobremaneira, destacando-se a presença fortíssima da geração Y, com João Carlos, André Paiva, Bruno Tomás, Bruno Sardo e os recém-chegados Ken e Miko, faltando apenas o André Nobre para, pela primeira vez, reunir em bloco a Fraternitas CQY. Apesar da menor afluência da Loja Salesiana nesta edição d’O Jantar, a força dos cruz-quebradenses compensou e excedeu expectativas. Muitos dos salesianos, como globetrotters que são, espalharam-se pelo País e pelo mundo nesta data — ausências que foram notadas e sentidas.
Este foi também um Jantar marcado pela extraordinária ausência do Grão-Mestre Cordiano, Visconde do Reino de Maconge, Magnífico Provedor do Tesouro e Supremo Jurisconsulto César da Silveira, que tradicionalmente assume o exercício da verificação, consolidação e regularização das obrigações pecuniárias inerentes ao encerramento financeiro d’O Jantar, compreendendo o minucioso apuramento das despesas globais, a equitativa distribuição das responsabilidades contributivas dos convivas, a subsequente arrecadação dos montantes devidos e a aferição final da conformidade do saldo de contas, garantindo a plena solvência e a exatidão dos lançamentos, preservando ainda a dignidade e a integridade fiscal do conclave. Mesmo não estando, o Kaiser, habitual titular absoluto, merecia este parágrafo…
Mas a Confraria é caudalosa como o Tejo e, à bolina, o Grão-Mestre e Grande Inspector Cuteleiro João Carlos Graça tomou o leme de roda da tesouraria com inexcedível eficiência e visão organizativa, destacando ao serviço os Infantes na recolha de nomes para conferência da fatura final. A turma dos digestivos, como de costume, chegou-se à frente para os ajustes necessários e ficaram mais uma vez confirmadas as vantagens do banquete face ao consumo à carta – o banquete é mais farto, mais simples, mais certo e acaba mesmo por ficar mais em conta. Tudo correu bem assim.
Quanto a esta crónica, escrita e publicada tardiamente, deixada a marinar ao limite do aceitável, peca pela delonga mas também pela inevitável fragmentação da memória, no entanto preservada pelo registo fotográfico. Foi, aliás, devido ao grande investimento de tempo no trabalho e nos projectos em curso, e porque, fazendo jus aos anos recentes, a crónica d’O Jantar vem sendo acompanhada de um vídeo comemorativo, que a publicação se atrasou tanto. Na iminência do vigésimo aniversário do blogue, urgia publicar, quanto mais não fosse a crónica e as fotos, mas o advento das ferramentas de modelação de imagens com base em inteligência artificial espicaçou novas ideias.
Assim se produziu, ao som de “Silêncio (Estamos no Ar)”, o vídeo d'O Jantar comemorativo do 19.º aniversário do Caderno de Corda, que deve a sua existência, em grande medida, à presença devotada do Grão-Mestre, Guardião do Tombo e Venerável Cavaleiro Prismático Ricardo Pinto, cuja objectiva regista proverbialmente o evento. Todas as imagens resultam de fotos não editadas, algumas das quais foram posteriormente trabalhadas na plataforma Runway ML, aplicada à criação de vídeos com ferramentas baseadas em IA generativa. A edição foi realizada e concluída no software Movie Studio 15. De referir que as fotos serão publicadas brevemente nas páginas Facebook de Davi Reis (poesia e música) e do Caderno de Corda.
Ao décimo nono ano, lançando-se sobre fundações sólidas na antecâmara dos vinte anos, O Jantar reafirma-se como eixo de alinhamento que assegura um lugar e um tempo próprios, sempre inclusivos e exclusivos, abertos e livres para ser, estar, partilhar, comungar, recordar e reinventar. A cada ano a mesa cresce e a amizade expande-se por gerações numa espiral de continuidade. E porque a Amizade não desiste, o Caderno de Corda não verga e há muita estrada para andar, ficam suspensas no fino ar novidades para 2025, ano em que o Caderno de Corda celebra duas décadas de existência e pretende festejar como nunca. E há mais, algo que cresce no horizonte e se insinua nas entrelinhas. Algo que em breve terá nome, som, visão, alma e forma. O que será, a seu tempo.
Até lá, sigamos caminho.
No mesmo sítio, à mesma hora, previsivelmente em Abril.
Legenda aleatória: Hugo Dantas, Bruno Sardo, Hugo Simões, Pedro Sequeira, Bruno Tomás, João Trigo, Sara Matos, Carlota Amaral, João Graça, Isaac Graça, André Paiva, Beatriz Paiva, José Moreno, Ricardo Pinto, Sofia Damião, Beatriz Damião Pinto, Carolina Pinto, Rita Franchi, Rui Pedro Costa, Leonor Costa, Matilde Costa, Carlos Nunes, Rafael Nunes, José Manuel Couto, Hugo Passos (Ken), Miguel Barreiros Lopes (Miko) e Rui Jacinto. Os comensais Rui Pina, Sandra Rodríguez, David Pina, Ricardo Tomás e Rute Ferreira já se haviam ausentado à hora da foto de grupo. O Clã Franchi-Costa veio, como é já tradição, para nos dar o prazer da sua companhia. Um especial Abraço às Consorores e aos Confrades que não puderam marcar presença, mas que estiveram no nosso pensamento. E a foto emoldurada, de bónus:
Uma corrida de fundo.
Há 18 anos nenhum de nós imaginava que, um dia, estaríamos a celebrar o rito de
passagem do Caderno de Corda para a vida adulta, especialmente com tamanha
vivacidade e fulgor, à mesa, como inicialmente preconizado pelo Grão-Mestre
Gustavo Silva, patrono d'O Jantar. Na vida sucedem-se ritos e ciclos,
celebrações e reflexões sobre alegrias, conquistas e desafios, mas também sobre
fracassos, infortúnios e desventuras, as quais não há como enjeitar,
procurando-se seguir mais forte e sábio. No entanto, aqui, e por ocasião d’O
Jantar, temos refletido, vivido e cultivado sempre alegrias, e fazemos por que
perdurem.
O primeiro melhor amigo, a queda dos dentes de leite, o
primeiro dia de escola são marcos da infância, alguns dos quais partilhamos
entre nós em memórias ainda vívidas, porque pungentes e sentidas. Na
adolescência surge a ebulição hormonal, a rebeldia, a contestação aos valores
social e familiarmente estabelecidos, mas também o primeiro amor, o primeiro
beijo. Ainda assim, é, diz-se, a maioridade que representa a transição das
transições, com a entrada, por vezes forçada e prematura, na vida adulta.
Na idade adulta, ou idade da razão, são incrementadas, mais
sérias e mais definitivas as responsabilidades, assim como as consequências das
escolhas tomadas. Na maturidade, os sonhos tornam-se mais prementes e as opções
mais dificilmente reversíveis. A Liberdade de quem dispõe de autonomia não se
dissocia da responsabilidade pelo uso dessa mesma Liberdade. Tal consciência,
dotada de sabedoria, excede em muito o cumprimento de deveres e obrigações,
instigando os livres e autodeterminados a arpoar sonhos e a perseguir novas
aventuras e possibilidades de descoberta, em particular de si mesmos.
O autoconhecimento, que nos conduz a tomar um lugar próprio
no mundo – ou a sermos, nós próprios, um lugar -, beneficia do uso de saudável
disciplina, mas não necessariamente de disciplina formal, mecânica,
proficiente. Há, a montante, uma disciplina ontológica, se me permitem, que se
traduz em persistente resiliência e inabalável crença. O mantra: "Não
desistir." E assim se cumpriu, ao Anno XVIII, O Jantar; e assim Vos
escrevo de maturidade, não ousando dar lições de tal coisa a um cão de
companhia.
O Caderno de Corda e
o livro-eucalipto
Em boa verdade, a maturidade a que aludimos não será, na sua
génese e em teoria, relativa a uma pessoa, mas a um blogue que cumpriu 18 anos
e que, de há muito a esta parte, tem n'O Jantar anual de comemoração, que serve
de pretexto a muito mais do que apenas recordar escritos que nele se publicam,
o seu momento alto. Tal deve-se, nos últimos anos, à concentração de esforços
deste que humildemente Vos escreve na produção de uma obra literária que venha
a ser digna desse nome - um romance com laivos de distopia política como sempre
quis escrever e que, sendo uma empreitada quixotesca e de grande fôlego,
absorve as horas livres de criação, qual eucalipto, secando qualquer outra
veleidade criativa ou artística. Eis a razão (ou megalomania) primordial (e
ciclópica) por que o Caderno de Corda não tem publicado mais poesia, prosa ou
canções originais. Mas, se apontarmos ao Sol, talvez caiamos na Lua.
Novamente, a maturidade adverte-nos para que não se levantem
véus prematuramente, muito menos de obra inacabada. Ainda assim, em
perspectiva, pareceu-me apropriado utilizar uma impressão do referido trabalho
em curso (à data, cerca de 120 mil caracteres em 250 páginas A4, Times New
Roman, tamanho 12) para, através da consignação de folhas escolhidas por número
de página, munir os Confrades Cordianos de matéria a excisar para leitura de
trechos escolhidos e posterior criação de um vídeo comemorativo, como tem sido
apanágio do Caderno de Corda nas mais recentes edições d'O Jantar.
Simplificando, o vídeo resulta da escolha aleatória e da reorganização de trechos
extirpados de um epopeico romance distópico em moroso processo de composição,
mais uma vez com recurso a um intrincado mecanismo numerológico de cálculo por
página, a interpretação estética à luz da sequência de Fibonacci e a uma
avançada técnica de pot-pourri. Cada Consoror e cada Confrade escolheu
um número de página, um excerto e leu-o para a câmara.
Saiba-se que, quando Vos escrevi a quase totalidade desta
crónica, o vídeo ainda não estava sequer idealizado. Aliás, exceptuando o
presente parágrafo, tudo o resto foi escrito antes mesmo que todas as Consorores e todos os Confrades me remetessem os registos das suas leituras – aqueles de nós que não
chegaram a gravar na noite d’O Jantar. O último desses registos chegou apenas
há algumas semanas. A título de
curiosidade, escrevo-Vos todo este parágrafo, inserido a talho de foice após a conclusão
do vídeo, num apartamento em Marselha, junto ao Vieux Port, epicentro dos tumultos que
eclodiram por toda a França nos últimos dias, em resposta ao assassinato do
jovem Nahel, em Paris, às mãos da polícia. Ouvem-se as explosões e sente-se, por vezes, o cheiro a queimado e a gás pimenta sobreposto à lavanda marselhesa, seguindo-se um ligeiro ardor nos olhos. Fechamos as janelas. Os meliantes, muitos deles imberbes adolescentes, correm rua acima e gritam "Gucci, Gucci", mostrando os óculos e as malas a saque... Adiante, o vídeo é, como verão, composto em quatro actos, ao som de Richard
Wagner (prelúdio do primeiro acto da ópera “Lohengrin”), Dominic Muldowny (“The
Ministry of Truth” e “Winston's Diary, the Dream”, do álbum “Nineteen
Eighty-Four, The Music of Oceania”) e The Doors (“Riders on the Storm”, do
álbum “L.A. Woman”). A escolha de “Riders on the Storm” não é, no
entanto, minha, mas do Grão-Mestre César da Silveira, que, ao introduzir novos
elementos e uma outra abordagem, acabou por modelar e dar o tom para o trecho
final do vídeo. A quase totalidade das fotos é do Grão-Mestre Ricardo Pinto e
as ilustrações foram gentil e preciosamente cedidas pelo Irmão Cordiano e
Missionário da Arte e do Belo Nuno “Corado” Quaresma.
Quanto ao livro que, desejavelmente, concluirei no médio
prazo, posso dizer que se destina a leitores de todos os quadrantes, presentes
mas também - sei-o - futuros. Porque, como aqui se escrevia há um ano, «é certo
ser este o nosso tempo; o tempo para livres habitarmos a sua substância». E
nunca é tarde demais. Agora e sempre.
Anno XVIII - O Jantar
Portanto, alimentado de fraternidade, memória, sonho, futuro
e frango assado, O Jantar reuniu 25 à mesa no dia 25 de Março, casando números,
tal como, curiosamente, há um ano fomos 23 a 23 de Abril. Chegámos, no entanto,
a ser 30 Confrades no total, contando com a habitual e preambular presença do
clã Franchi-Costa (Leonor, Matilde, Rita e Rui Pedro) e, desta feita, também do
“padrinho” Joaquim Barbosa (Quim), que não ficou para jantar. Registe-se que,
ao décimo oitavo ano, este foi o terceiro jantar realizado em data discrepante
da data tradicional de 26 de Março, véspera do aniversário propriamente dito
(27 de Março), e o primeiro a antecipar-se à data.
Também antecipadamente, assim estava o Grão-Mestre João
Trigo à porta dianteira, onde esperou com estóica brandura e fraternal
compreensão. Uma buzinadela e um aceno à passagem, de carro; o estacionamento
apressado no parque e, passo rápido, os primeiros abraços, nas traseiras do
restaurante, a Hugo Dantas, André Nobre e André Paiva, que também já ali
aguardavam. Atravessámos A Valenciana por dentro e juntámo-nos ao Trigo,
heroicamente só na dianteira, para aquele abraço apertado, grato e reparador,
penitente pela delonga. Dali fomos para a Sala Fronteira, que a espaços
revelou-se demasiado quente, ruidosa e esconsa para o grupo, mas chegou à
conta, satisfatoriamente.
Mesa posta em “U” e acepipes na távola, foram entrando os
comensais. Rapidamente se formaram, grosso
modo, duas alas: a cruz-quebradense/dafundense e a salesiana, ambas
pontuadas aqui e ali por Consorores e Confrades Cordianos de outras paragens, e
alguns até de outras e de ambas, como é o curioso caso de Nuno “Corado”
Quaresma, Missionário da Arte e do Belo. “Sintonia sinérgica”, “convergência holística”,
“identificação simbiótica”, “assimilação integrativa” e “coerência
paradigmática” são todas expressões que, referindo-se a uma harmonia profunda,
colaborativa e produtiva, fértil, descrevem o modo como o já nosso genial
“Corado” corporiza um estado etéreo que flui alegre e fraternamente pelos
jantares cordianos. «Obrigado Meu Irmão pelo carinho e por estes momentos
mágicos de ligação com esta Rapaziada vibrante e cheia de boa energia. Que
possamos brindar muitas vezes nestes e noutros momentos de Criatividade, Amor e
Reencontro”, escreveu o Corado após O Jantar via chat.
Tivemos, mais uma vez, estreias sublimes que merecem
palavras especiais, como as das Infantas Rafaela Tomás, Daniela Tomás e Nicole
Araújo, que iluminaram a sala e os corações; do Confrade André Nobre,
primaveril e imune ao frescor da aragem, desejoso por dias mais longos e
luminosos, eternamente fascinado pela fulgência das ideias, e, por fim, da
maravilhosa Consoror Ana Rangel, cuja alegria e o brilho no olhar alumiam
candeias em olhos outros e tangem emoções francas. São lágrimas, senhor! De
alegria, concórdia e afetos partilhados, entretecidos. Registe-se, como é
práxis, que os estreantes selam com a sua inestimável presença a incorporação
definitiva na Confraria Cordiana. Repita-se: uma vez da Confraria, sempre da
Confraria.
Registamos também, como sói dizer-se nesta ocasião, notadas
ausências (eles sabem quem são) e o fenómeno dos globetrotters que, espalhados pelo mundo nesta data, não puderam
comparecer. Estamos gratos, no entanto, pelos que, against all odds, conseguiram estar e ser, um dos quais vindo de
uma regata no Tejo e outro do Porto, para dar os exemplos cabais dos Irmãos
Cordianos Quim e Piri, respectivamente. E já que estamos a mencionar
ex-Doroteias (Externato do Parque) que se conhecem desde os três anos, note-se
o desencontro, por pouco, do Quim e do Frederico Cruzeiro Costa (Fred), mas
também do Sérgio Miguel Ribeiro (Miguel), que esteve a uma unha de se estrear,
mas adoeceu e não pôde juntar-se ao quarteto do Externato do Parque, transitado
em bloco para as Oficinas de São José no ciclo preparatório.
Como disse o Irmão Fred à Ana no correr d’O Jantar, somos
corredores de fundo, e daí vem a expressão que enceta este texto. O meu querido
Fred teve de sair um pouco mais cedo para cumprir compromissos. À despedida,
nas traseiras do restaurante, onde eu e o Nobre fumávamos, tirou do bolso das
calças um olho turco em vidro que trouxe para oferecer a este Vosso escriba,
dizendo que me protegeria. Já falámos depois. No entanto, não lhe disse ainda
que a Rosarinho adorou o olho turco e adoptou-o mal o viu, mas que, sem incúria
dela, o olho se partiu alguns dias depois. Caiu no chão de mármore vitrificado,
deslizando do dorso da chave do aparador de entrada onde ela cuidadosamente o
pendurara. Chorou serenamente, interiorizando a perda e atribuindo-lhe
significado. Recolhemos os estilhaços e depositámo-los no lixo. Ficou
sensibilizada. E eu. Mas vim a saber mais tarde que, na cultura turca, se o
olho se partir terá cumprido a função de proteger os seus portadores, sendo que
o descarte respeitoso e correcto dos fragmentos prolonga a boa sorte e a
protecção.
Protegidos estaríamos também na presença do Grão-Mestre e
Grande Inspector Cuteleiro João Carlos Graça, que esteve num pacato
frente-a-frente com um seu velho amigo, o Grão-Mestre Hugo Dantas, acérrimo
arguidor de traquinagens, em particular daquelas executadas sobre a sua pessoa
enquanto dormita (recorde-se a despedida de solteiro do Pinto). Pois desta
feita o João guardou a despesa das travessuras da noite para o que Vos escreve:
já A Valenciana estava de portas fechadas e nós todos na rua quando descobri
ter no capuz alguma pequena cutelaria e o naipe completo de manteigas, patés e
queijos-creme que havia no restaurante, alguns encetados, já meio comidos. Mas
foram os garfos nos bolsos traseiros das calças que, durante o jantar, ao
sentar-me, agudamente me alertaram e indiciaram o mais que provável autor de
tão bicuda e, simultaneamente, substanciosa tropelia. Não havia dúvidas: também
a zombaria do couvert tinha a
inconfundível assinatura do Grande Inspector Cuteleiro.
Com o João esteve em peso a fraternidade da geração Y da
Loja Cruz Quebrada: João Carlos, André Paiva, André Nobre e Bruno Sardo. Para
representar integralmente a estreita irmandade faltaram apenas o Grão-Mestre
Bruno Tomás e o ainda candidato a confrade Miguel Lopes (Miko). Ambos
confirmaram a presença, mas, crê-se que por motivos relacionados com distúrbios
gastrointestinais, não puderam comparecer, lamentavelmente indispostos.
Sentimos as suas ausências. Não deixamos, nesta linha, de registar duplas épicas que se reintegram n’O Jantar como se o tempo por elas não passasse:
João Trigo e Dino; Pedro “Piri” Farinha e Miguel Guerreiro Pereira; Gustavo “KJ”
Silva e César “Kaiser” da Silveira; Ricardo Tomás e Ricardo Pinto e múltiplas
outras duplas de sonho e eternidade conjugáveis e intermutáveis, como Corado e
Jacinto, sendo que apenas o Corado compareceu este ano, apesar da ausência do
seu Irmão. Fazendo uso de ideias recorrentes nesta ocasião, e constatando que
este foi O Jantar mais concorrido de sempre, verificamos mais uma vez que a
Amizade que nos une é exponencial e contagiante, e as nossas vidas seriam menos
do que outras sem do outro a nossa parte.
Menos do que outra sem a Grã-Dama Rute Ferreira e, claro, o
Grão-Mestre e Venerável Cavaleiro Cordal Ricardo Tomás, que nos deu o
privilégio de conduzi-la até nós e que será, quiçá, fonte de inspiração
retroalimentada da sua própria musa. Foram dois os quadros de autor,
predominantemente azuis, mas tão terrenos quanto celestes, magníficos, que a
Rute trouxe propositadamente para ofertar à grata família do Vosso fiel
escrevente.
Menos do que outra sem o Grão-Mestre Cordiano, Visconde do
Reino de Maconge, Magnífico Provedor do Tesouro e Supremo Jurisconsulto César
da Silveira, que veio directo de dilecta almoçarada de convivas do Reino de
Maconge – um dia literalmente em cheio.
Menos do que outra sem o Grão-Mestre e Perene Patrono
Cordiano Gustavo Silva, que chegou mais tarde, cansado, de olhos a meia-haste,
fazendo lembrar os olhos de madrugada a jogar Premier Manager na Calçada de
Santo António, mas com a resiliência de sempre, apesar das cansativas tiradas
Lisboa-Porto. Saiu mais cedo, mas esteve bem presente.
Menos do que outra sem o Grão-Mestre, Guardião do Tombo e
Venerável Cavaleiro Prismático Ricardo Pinto, cuja óptica regista proverbial e
devotamente O Jantar, e cujo coração alumia e colora a noite escura. As fotos
são quase sempre dele, mas o Caderno de Corda e O Jantar são dele como meus,
nossos.
Menos do que outra, por fim, sem o Grão-Mestre e Venerável
Cavaleiro Congénito Ricardo Girão, à cabeceira oposta deste que Vos escreve,
ambos comunicantes pelo simples olhar e por feixes etéreos de sinusoidais
psiónicas no fino ar. Girão, o último dos moicanos a resistir à noite, depois
de debandado o derradeiro grupo de obstinados Confrades Cordianos, entre os
quais se incluíam Piri, Pereira, Dantas e Corado. No final dos finais, após
várias voltas e pit stops em Benfica,
a dupla Hugo-Girão encontrou finalmente uma roulotte
em Sete Rios… Uma garrafa de água! O nosso reino por uma garrafa de água! E uma
Coca-Cola. E uma imperial.
Prosaica, a imparável tendência inflacionária do preço d’O
Jantar, a estória da negociação do banquete, que afinal se revelava mais
vantajoso do que o consumo à carta, como acabou por acontecer, levando a turma
dos digestivos a chegar-se à frente, e a civilizada discussão sobre as contas
com a gerência. Concluiu-se que, afinal, teria sido melhor ficarmos pelo preço
fixo do banquete. Os amores da minha vida irão ao Jantar quando a Rosarinho se
sentar à mesa e comer tudo sozinha, autonomamente, com ambos os talheres…
Registe-se finalmente que o Vosso fiel escriba chegou a casa perto das sete da
manhã, silencioso mas com mundos ululantes no pensamento.
Este blogue é e
continuará a ser o meu fiel depositório criativo.
Em 2024, no mesmo
sítio, previsivelmente em Março.
Legenda aleatória: Hugo Dantas, Bruno Sardo, Hugo Simões,
Ricardo Pinto, Sofia Damião, Beatriz Damião Pinto, Ricardo Girão, César da
Silveira, Nuno “Corado” Quaresma, Miguel Pereira, Pedro Farinha, Nuno “Dino”
Rodrigues, Ana Rangel, João Trigo, Sara Matos, João Graça e André Paiva. Os
comensais Gustavo Silva, Frederico Costa, Rafaela Tomás, Daniela Tomás, Nicole
Araújo, Ricardo Tomás, Rute Ferreira e André Nobre já se haviam ausentado à
hora da foto de grupo ou não se encontravam naquele momento na sala. O Clã
Franchi-Costa veio, como é já tradição, para nos dar o prazer da sua companhia
antes e ao início d'O Jantar, tal como, desta vez, o Joaquim Barbosa. Um
especial Abraço aos Confrades e às Consorores que não puderam marcar presença,
mas que estiveram no nosso pensamento. E uma foto nocturna. de bónus:
Há um desígnio intraduzível que
nos move e que nos une. Há uma Verdade antiga e simples que todos trazemos a
pulsar no peito, aprisionada na garganta e no estômago; nos dentes e no sangue,
pela qual nos reconhecemos. São os nossos olhos de crianças que se vêem puros,
contendo ainda a reminiscência feliz de todos os sonhos do mundo. Está já ali,
adiante, ao virar da esquina, a confirmação indomável, primeva e fatal de tal desígnio,
tecido pela memória e encimado por um prolongado e amorável abraço de recreio que
nos prendeu para sempre. As nossas vidas seriam menos do que outras sem do
outro a nossa parte. Somos Irmãos e sabemo-lo.
Em 2022 o XVII Jantar Cordiano
aconteceu na antecâmara da celebração de Abril, realizando-se um dia após a
libertação legalista do grilhão icónico e paradigmático da pandemia – a máscara
– e na antevéspera da comemoração da madrugada mais clara; da alvorada da
Liberdade. Este foi justamente cognominado “O Jantar da Libertação” – libertação
simbólica de máscaras e recuperação plena do direito de reunião em convergência
de afectos, memórias e destinos, cujas rotas, enlaçadas, traçam o mapa partilhado
da nossa própria existência. Tal como em Abril de 1974 muitos detinham a
convicção de que tudo era possível, é certo ser este o nosso tempo; o tempo
para livres habitarmos a sua substância.
Ao décimo sétimo ano, conta-se o
terceiro jantar realizado em data posterior à data tradicional de 26 de Março,
véspera do aniversário propriamente dito (27 de Março). Motivo: a mãe de todas
as mudanças de casa no mesmo período, e já foram muitas. Há dois anos, aquando
do primeiro adiamento sob o jugo da pandemia, escrevia-se aqui que O Jantar se
realizaria “com estímulo e intensidade redobrados”. No ano seguinte – há um
ano, portanto -, e mantendo-se a vigência do cativeiro pandémico, elevou-se ao
quadrado a tenção. Verificamos, pois, que exponencial e contagiosa é a Amizade
– veja-se pelas estreias dos tão estimados Confrades Cordianos Joaquim Barbosa
(Quim), Pedro “Piri” Farinha e José Moreno (Zé). Uma vez da Confraria, sempre
da Confraria. Mas lembremos Pessoa: “Não o prazer, não a glória, não o poder: a
Liberdade, unicamente a Liberdade.” Cravos!, cravos para todos!
O Caderno de Corda não vergou e em
2022 fomos 23 à mesa no dia 23, um número bom e oportuno. Numerologia e
cabalística à parte, o simbolismo dos cravos dispensa explicações, mas exige
que se atribua ao Grão-Mestre Cordiano César da Silveira, Visconde do Reino de
Maconge, a ideia. Também por sua sugestão, O Jantar foi iniciado mais cedo do
que vinha sendo costume, por volta das 17 horas, configurando um lanche
ajantarado, espécie de high tea que
redundou num jantar tradicional. Em boa verdade, o Irmão César da Silveira
havia sugerido que o dia fosse dedicado quase por inteiro à comunhão cordiana,
iniciando-se ao almoço e prolongando-se pelo jantar e noite dentro. Tão
ambicioso fito exigiria, no entanto, esforços supletivos, nomeadamente
negociais e logísticos, que não puderam ser satisfeitos nesta jornada. Não
obstante, a concepção do insigne macongino estará, apesar do ousado intento, em
cima da mesa em cogitações futuras.
Cogitante estava, à chegada à
Valenciana, o Maestro António Victorino d’Almeida, a ler um livro… À porta, pontual
e espartano, o Grão-Mestre César da Silveira aguardava. Chegou então, segundos
antes deste que Vos escreve, o Comendador da Liberdade Miguel Leão Miranda.
Éramos três e, em pouco tempo, uma dezena. Saíam empíricas e entravam Confrades
a bom ritmo até que nos constituímos indomáveis 23, por momentos 27, abençoados
pela tradicional visita (fugaz!) do clã Franchi-Costa, que este ano não se deu
à chapa – leia-se “à lente” do Irmão, Grão-Mestre e Guardião do Tombo Ricardo
Pinto, que proverbialmente assume as despesas do registo fotográfico do
evento e assegura a operação logística inerente. Assinale-se também a criação à
mesa, no prosaico verso da ementa, do logograma do XVII Anno Cordiano pela mão
de Nuno Quaresma, Missionário da Arte e do Belo, apesar do militante ateísmo
optimista. Registamos também, como sempre, notadas ausências, desejados regressos
e estreias sublimes como a da Infanta Beatriz Damião Pinto, Guardiã da
Felicidade e da Alegria. O futuro é nosso.
Entre as estreias seniores notabiliza-se
um Abraço de intensidade cósmica, há muito adiado, que marca o reencontro com o
querido e eterno Irmão Quim, que se encontra a preparar o regresso da Polónia a
Portugal – o reencontro com parte tão significativa, profunda e primacial de
mim próprio. Já o mui querido “old chap”
Piri, após anos de conquista por essa Europa fora, radicou-se finalmente no
País, mas no Porto. Ainda assim, veio do Canadá de véspera e não falhou. Quim e
Piri, dois verdadeiros globetrotters,
dois brilhantes e queridos Amigos desde os três anos de idade. A distância
nunca será bastante para nos apartar. Last
but not least, o reencontro com o também mui querido Zé Moreno, cujo debute
reforça sobremaneira a Fraternidade Cordiana. As décadas parecem contrair-se ao
vê-lo e diluir-se assim que nos abraçamos de novo. Esta tríade de seniores selou
com a sua inestimável presença a incorporação definitiva na Confraria Cordiana.
Repita-se: uma vez da Confraria, sempre da Confraria.
Lunares, após O Jantar e de novo ao
desafio do Grão-Mestre César da Silveira, seis resistentes levaram a noite
cordiana a pé, da Valenciana ao Príncipe Real, onde o César se quedou por força
de um almoço familiar no dia seguinte. Os restantes cinco - Girão, Hugo, Sardo,
Jacinto e Corado - seguiram para o Bairro Alto e desaguaram perto das seis da
matina em Santos, na Merendeira. Pão com chouriço e caldo verde para forrar o
estômago e aconchegar o espírito. Eram sete da manhã quando este Vosso escriba
chegou a casa, depois de atravessar a lezíria com o Sol à direita, a romper o
horizonte, e o coração cheio, lamentando apenas não estar mais tempo com todos
e cada um. Subsiste, mais uma vez, a ideia de que o Caderno de Corda não
desiste porque a Amizade não desiste; nós não desistimos. O Caderno de Corda
não vergou. Enquanto houver estrada para andar.
Não se conclui o post sem antes explicar a opção pela
publicação das fotos em formato de vídeo, uma vez que o Blogspot (Blogger) não
possui em backoffice um widget que permita publicar, por
exemplo, uma galeria de fotos, pelo menos que se conheça. Tal poderá dever-se, em
parte, ao facto de que o Caderno de Corda nunca cedeu à actualização de templates, uma vez que perderia todas as
suas formatações originais em HTML autodidacta, o que também acabou por
conduzir o blogue a um beco escuro e fundo da Internet que o Google abandonou e
esqueceu. As fotos serão ainda posteriormente publicadas na página do Caderno
de Corda na rede social Facebook. A delonga na publicação deve-se, por sua vez,
ao facto de ter estado adoentado na semana seguinte, ao trabalho e, agora, ao
Covid. Sim, fui diagnosticado positivo pela primeira vez. Embora o texto tivesse
sido escrito logo após O Jantar, o vídeo tomou mais tempo do que o desejado.
Uma palavra final de especial
apreço e gratidão para o Irmão e Grão-Mestre Ricardo Tomás, que, uma semana
após O Jantar, sabendo da instalação de Internet deficiente e deficitária no
quartel-general cordiano, viajou de imediato da Margem Sul para Almeirim e não
apenas resolveu o problema, como otimizou todo o serviço. É graças a ele que os
posts comemorativos do XVII Aniversário
Cordiano finalmente Vos chegam pelo éter como se dançassem.
Este blogue é e continuará a ser
o meu fiel depositório criativo.
Em 2023, no mesmo sítio, previsivelmente
em Março.
Legenda aleatória: Rui Pina, João Barroso, Bruno
Sardo, Miguel Leão Miranda, Ricardo Girão, Pedro “Piri” Farinha, Carlos Nunes, José
Moreno, Nuno “Corado” Quaresma, João Trigo, Rui Jacinto, Rute Gil, Ricardo
Tomás, Bruno Tomás, Rute Ferreira, Miguel Pereira, Beatriz Pinto, Joaquim
Barbosa, Sofia Damião, Hugo Simões, Ricardo Pinto, César da Silveira e Carolina
Pinto. O Clã Franchi-Costa veio, como é já tradição, para nos dar o prazer da
sua companhia antes e ao início d'O Jantar. Um especial Abraço aos Confrades e às Consorores que, pela iniquidade da Vida, não puderam marcar presença, mas que estiveram no nosso pensamento.
Completa-se hoje uma semana que a minha mãe partiu, ainda não seriam sete da manhã de dia 12 de Setembro. A minha mãe está viva em mim. Ela é eu e eu sou ela, como sempre fomos, indissociáveis. Se sou Amor, carinho, ternura e compaixão, sou ela.
Marco a passagem desta semana sem adjectivos ou qualificativos, mas com uma canção que escrevi, compus, toquei, cantei e gravei chamada "Mãe", publicada no dia 5 de Maio de 2013 (dia da Mãe) no Caderno de Corda. A canção contou com a colaboração do meu querido amigo Sebastiano Ferranti, que tocou bateria, gravou, misturou e masterizou no seu estúdio caseiro. O baixo e as guitarras foram gravados por mim, em minha casa, num modesto gravador de quatro pistas.
Apesar destes e de outros factos, esta não é uma canção de dia da mãe e muito menos um tema de alegre exaltação à progenitora ou a uma qualquer efeméride que daí decorra. Em boa verdade, é uma canção que, perante medos, desesperanças, sofrimentos e solidões, clama pela mãe - a mãe de todas as mães, porventura o Eterno Feminino.
"Eterno Feminino" terão sido as últimas palavras de Goethe, no segundo Fausto, para designar a atracção que guia o desejo transcendente do homem. Curioso que eu tenha utilizado, na letra, ideias e palavras de Fausto (o Bordalo Dias), mas também de Jorge Palma e, muito especialmente, de José Mário Branco. Na ideia referida de Goethe, o feminino representa o desejo sublimado, o que é proclamado por um coro místico: "O Eterno Feminino atrai-nos para o Alto."
Em muitas cogitações filosóficas, antropológicas ou místicas, a mulher está mais ligada do que o homem à alma do mundo, às primeiras forças elementares, e é através dela que o homem comunga dessas forças, encontrando no Amor a grande força cósmica.
A Virgem-Mãe, Nossa Senhora, é uma encarnação evidente do tema. O Feminino autêntico e puro é, por excelência, uma energia luminosa e casta, portadora de coragem, de ideal e de bondade a que recorremos em oração e, amiúde, em desespero de causa, clamando pela mãe. Por vezes, escrevem-se canções com esse fito...
Para Jung, o feminino personifica as tendências psicológicas femininas na psique do homem, como, por exemplo, sentimentos e humores instáveis, intuições proféticas, sensibilidade face ao irracional, capacidade de amar, a faculdade de sentir a natureza e, finalmente, as relações com o inconsciente.
Se foi nisto que o Jorge Palma pensou quando escreveu, por exemplo, o refrão da "Canção de Lisboa", ou o Fausto, quando redigiu o poema da canção "Ó Mar", que obviamente inspira a segunda e a terceira estrofes, não faço ideia, mas certo é que o José Mário Branco tocou a ferida universal quando descambou num pranto doloroso à mãe já na parte final da épica canção "FMI", à qual roubei palavras que adaptei para a última estrofe e último refrão da minha canção "Mãe".
Compus e gravei esta canção para o meu pai quando era seu cuidador. O "Naninho" (como eu lhe chamava nestes últimos anos) acompanhou todo o processo, em casa comigo, ao longo de largas horas de prática e gravação, especialmente durante a noite. Apesar da demência, entoou a canção, bateu o pé e meneou a cabeça quando a masterizei e lha mostrei nos phones. Hoje, que o meu pai chegou à sua morada definitiva, divulgo pela segunda vez a canção que fiz só para ele em 2014. Devo ainda mencionar a colaboração do meu querido e velho amigo Nuno 'Dino' Rodrigues, que me recebeu em sua casa, no seu estúdio caseiro, para gravarmos o coro.
Pela segunda vez nos 14 anos de existência do Caderno de
Corda, O Jantar anual realizou-se em data posterior à data da celebração do
aniversário do blogue (27 de Março), uma vez que este vosso fiel escriba tinha
viagem marcada para estadia de uma semana em Fez, Marrocos – viagem que não se
concretizou por medida profiláctica, tendo em conta um súbito estado febril da
minha Rosarinho. Assim, foi definido inicialmente o dia 1 de Abril, de imediato
alterado para dia 2 de Abril para que o Grão-Mestre Cordiano Ricardo Pinto
pudesse estar presente, na companhia da querida Mestre Sofia Damião.
Como sempre no restaurante A Valenciana e dedicado aos
indefectíveis Irmãos cordianos e estimados leitores, O Jantar viu introduzidas algumas
novidades nesta edição, sendo certo que quase todas se consubstanciam no vídeo que
enceta o presente post e que introduz o novel poema “Quartus Decimus”. Aqui apresentado
em estreia absoluta, “Quartus Decimus” resulta da escolha aleatória e da reorganização
de versos extirpados do livro “Sétima-Feira” (2012).
Com recurso a um intrincado mecanismo numerológico de cálculo
por página e linha, a interpretação estética à luz da sequência de Fibonacci e
a uma avançada técnica de pot-pourri, “Quartus Decimus” é, em primeira análise,
formado pelos estimados confrades d’ O Jantar. Cada qual escolheu um número de
página, um número de linha e leu para a câmara o verso que lhe coube em sorte. Os
maestros da composição são, no entanto, John Cage (Sonata I) e Iannis Xenakis
(Pléiades). A câmara e parte significativa das fotos são do Grão-Mestre Ricardo
Pinto. Bem vistas as coisas, não precisei de fazer nada. Fizeram tudo por mim.
Eis o poema:
Quartus Decimus
Último e primeiro por Saturno,
o Grande Chef tem a mesa posta pelos seus criados,
apóstolos, anjos, autores do mais fantástico romance.
A voz, ao nascer, caminha sobre um espelho partido.
Um puto de boné do Benfica chuta torto
e a bola aloja-se debaixo do banco.
Os pássaros cantam no escuro
e sou uma espécie de capricho,
uma epiderme granítica de seixos
que escondera outra cidade.
Posso convocar dos confins subterrâneos
os átomos das pessoas desaparecidas.
A erva-moura tem dons de terapia.
Esperança é coisa com penas que canta sem palavras;
montar uma tenda junto à praia
e deixar ir o carro em ponto morto, ir,
e de nada me valia saber no exacto instante.
Tu sabes que um sorriso falso nos esmorece.
Se eu morrer antes, sobrevive-me.
Talvez o fim seja um começo.
O dinheiro continua a ser papel.
Além de notadas ausências – algumas das quais de última
hora, como a do Grão-Mestre João Trigo -, sublinhe-se a do Grão-Mestre João
Pimenta, que, este ano, apesar da permanência em Sines, quase teria marcado
presença em virtude do expectável nascimento da sua terceira filha por estes dias, em Lisboa,
mas tal acabou por não ser possível dada a fixação do dia do nascimento
para momento posterior, tendo o Pimenta regressado a Sines à data d’ O Jantar.
Podemos assim espalhar a feliz notícia em primeira mão do nascimento da doce Maria
Francisca Pimenta, mas no dia 8 de Abril de 2019 ao meio-dia.
No capítulo das estreias, contámos pela primeira vez com a
querida Inês Sampaio Soeiro e com o meu velho e talentosíssimo amigo "algarvio" Nuno “Corado” Quaresma, companheiro de aventuras incontáveis no final do século
passado em Armação de Pera, reencontrado casualmente por intermédio do amigo comum e Intendente Cordiano Rui
Jacinto. Uma vez da Confraria, sempre da Confraria.
No final da noite juntou-se
a nós o Mestre do Tabernáculo Rui Pina, saído de um dos muitos ensaios
pós-laborais da sua agenda, ainda a tempo de devorar um prego bem passado. Os
últimos cartuchos foram queimados no exterior, na companhia dos sublimes
comendadores da Loja Cruz Quebrada – Ricardo Tomás, Rui Pina, Hugo Dantas e
Ricardo Pinto.
Este blogue é e continuará a ser o meu fiel depositório
criativo.
Legenda aleatória: Gustavo Silva, Ricardo Pinto, Hugo Simões, César da Silveira, Miguel Leão Miranda, Rui Jacinto, João Barroso, Simone Palma Mezzomo, Inês Sampaio Soeiro, Nuno Quaresma (Corado), Miguel Pereira, Ricardo Tomás, Hugo Dantas e Sofia Damião. A
Rita Franchi, o Rui Pedro Costa e as suas
queridas meninas vieram, como vem sendo habitual, para nos dar o prazer da sua
companhia antes e ao início d' O Jantar. O Rui Pina chegou depois, ainda a tempo de desmanchar um prego.
A canção "Silêncio (Estamos no Ar)" foi apresentada AQUI, no Caderno de Corda, mais precisamente no dia 25 de Março de 2015. Hoje publico o videoclip possível, realizado por mim com recurso ao software Movie Studio 15, mais uma vez pejado de imagens ilicitamente obtidas do YouTube.
Compus, gravei, toquei, cantei, misturei e masterizei integralmente a música em casa (música, letra, baixo, guitarras, pandeireta, vozes, Stylophone e demais instrumentos) no gravador digital de oito pistas Boss BR-800. A bateria foi inteiramente tocada e programada na unidade de ritmo Boss DR-880. Todas as informações no post de lançamento da canção.
Hoje chegou, via Thomann (UPS, mais precisamente), o meu bandolim Ibanez M510E-BS e respectivos aprestos, com cordas Elixir Nanoweb (por colocar) e estojo Rockcase RC 10641 BCT. O post justifica-se em parte pela chegada do instrumento novo, mas mereceu, na verdade, a rara distinção de feitura de um pequeno vídeo pelo facto de ter sido hoje que, pela primeira vez na vida, toquei bandolim - no caso uma pequena amostra improvisada da canção "Rise", de Eddie Vedder, que, como os conhecedores se aperceberão, não apresenta esta estrutura exacta, sendo certo que "aprendi" a canção há pouco, pelo que não sei tocá-la do princípio ao fim de acordo com a estrutura completa e correcta, e de cabeça. De resto, desconhecia até a afinação do instrumento, sendo que o bandolim chegou muito desafinado e temo mesmo que possa estar desequilibrado, uma vez que não afina na perfeição ao longo do braço - algo que terei de verificar com quem de direito em breve. Como se pode ouvir nesta gravação, o instrumento está sempre ligeiramente desafinado, mas nada que eu pudesse fazer quanto a isso, pelo menos para já... Apenas para memória futura, com dedicatória especial ao meu Irmão Ricardo Pinto, que faz 39 anos hoje.
A canção "Universo de 1" foi apresentada AQUI, no Caderno de Corda, mais precisamente no dia 12 de Novembro de 2014. Hoje publico o videoclip possível, realizado por mim, mais uma vez pejado de imagens ilicitamente obtidas do YouTube. Não deixo, obviamente, de referir as fontes de que me abeberei, com todo o respeito:
Devo acrescentar que o videoclip que aqui se estreia foi realizado por mim em software gratuito. Compus, produzi, gravei, toquei, cantei, misturei e masterizei integralmente a música em casa (música, letra, baixo, guitarras, pandeireta e vozes) no gravador digital de oito pistas Boss BR-800. Todas as informações no post de lançamento da canção.
Videoclip de 'Filho da Minha Vontade (P'ra Lá dos Lençóis)'
A canção "Filho da Minha Vontade (P'ra Lá dos Lençóis)" foi apresentada AQUI, no Caderno de Corda, mais precisamente no dia 3 de Setembro de 2014. Hoje publico o videoclip possível, realizado por mim, mais uma vez pejado de imagens ilicitamente obtidas do YouTube. Não deixo, no entanto, de referir as fontes de que me abeberei, sendo que, na verdade, nem todos os links abaixo muniram de conteúdos este videoclip:
Devo acrescentar que o videoclip que aqui se estreia foi realizado por mim em software gratuito. Compus, gravei, toquei, cantei, misturei e masterizei integralmente a música em casa (música, letra, guitalele, guitarras, pandeireta, shaker e vozes) no gravador digital de oito pistas Boss BR-800. Todas as informações no post de lançamento da canção.
n. b. - Porque a audição da música é prejudicada pela qualidade inferior do som pós-upload no YouTube, segue abaixo um player que remete para a mesma, com melhor qualidade de audição, embora em MP3, é certo. Se o estimado leitor quiser pode, em local apropriado, e sem procurar muito, fazer o download desta e doutras canções.
Baby Jane nos Reis do Estúdio: todos os momentos mais relevantes
E aqui estão, finalmente, todos os vídeos que, no canal da casa, recordam a participação dos Baby Jane no programa da RTP1 Reis do Estúdio, gravado nos Estúdios 365 e emitido em 1997/98. Da primeira eliminatória, passando pela semi-final e fechando com a final, estão reunidos neste post, em dez vídeos, os momentos mais relevantes da participação dos Baby Jane ao longo de todo o programa. Mais uma vez, um agradecimento indispensável ao Dino Duarte, que, a partir da sua ilha da Madeira, teve a extrema gentileza de me disponibilizar, na íntegra, os programas em que os Baby Jane actuaram.
Baby Jane - entrevista com Ágata (Reis do Estúdio, 1.ª eliminatória)
"A Minha Casinha" (Xutos) por Ricardo Pinto (Baby Jane) - Reis do Estúdio, 1.ª eliminatória
Baby Jane - "Sol da Caparica" (Peste & Sida) - Reis do Estúdio, 1.ª eliminatória
Reis do Estúdio: Baby Jane vencem eliminatória
"A Minha Casinha" (Xutos) por Ricardo Pinto (Baby Jane) - semi-final de Reis do Estúdio
Baby Jane - "Impressões Digitais" (GNR) - semi-final de Reis do Estúdio
Reis do Estúdio: Baby Jane vencem semi-final
Finalíssima do programa Reis do Estúdio: apresentação das bandas
Baby Jane - "Playback" (Carlos Paião) - Final de Reis do Estúdio
Benfica - Olhanense, 28.ª jornada, época 2013/14. Vídeo gravado pouco depois do segundo golo do Benfica e de Lima no jogo. Quem não gosta de futebol é porque não nasceu do Benfica. Et Pluribus Unum.
Obrigado, Patrícia Nicolau e Miguel Dias Ferreira! À Benfica!
Explaining the usage of the 5 most important synthesis modules: Oscillator, Filter, Amplifier, Envelope, and LFO - Introduction to Music Production (Berklee College of Music), Assignment 6
Quarta apresentação no Prezi; sexta semana do curso "Introduction to
Music Production" (Berklee/Coursera), leccionado por Loudon Stearns. Uma
aula simplificada contendo explicações sobre a utilização complexa (!) dos cinco módulos de síntese mais importantes: oscilador, filtro, amplificaror, envelope e LFO. Let's keep on learning in the free world!
Demonstrating two of the three types of modulated short delay effects (flanger, phaser, chorus) on Boss BR-800 - Introduction to Music Production (Berklee College of Music), Assignment 5
Just for the record, este foi o resultado possível
do "assignment" da minha quinta semana do curso "Introduction to Music
Production" (Berklee/Coursera) - um dos vários cursos que tenho em...
curso, além de outros que já concretizei. Mais uma vez, recomendo
vivamente o Coursera.
This is my fifth assignment for the Introduction to Music Production
course, run by Berklee College of Music and Coursera, administred by the
Professor Loudon Stearns. I chose to elaborate on the topic
"Demonstrate two of the three types of modulated short delay effects
(flanger, phaser, chorus). Describe how they function and what they are
best used for. Be sure to describe the Delay Time, LFO, Feedback and
Dry/Wet sections". For that effect I used the Boss BR-800 8-track
digital recorder and the electro-acoustic Ibanez EWC30 guitar. Lacking
the time, I basically experimented with it in a very simplistic way.
Rock on. Let's keep on learning in the free world! :)
How to record an acoustic instrument with Boss Micro BR - Introduction to Music Production (Berklee College of Music), Assignment 1
Just for the record, este foi o resultado possível do "assignment" da minha primeira semana do curso "Introduction to Music Production" (Berklee/Coursera) - um dos vários cursos que tenho em... curso, além de outros que já concretizei. Mais uma vez, recomendo vivamente o Coursera.
This is my first assignment for the Introduction to Music Production course, held by the Berklee College of Music and Coursera, administred by the Professor Loudon Stearns. I chose to elaborate on the topic "How to Record an Acoustic Instrument". For that effect I used the Boss Micro BR portable fourt track digital recorder and the Yamaha GL1 Guitalele. Hope you enjoy. Let's keep on learning in the free world!
A canção "Liberdade É Escrever Canções" foi apresentada AQUI, no Caderno de Corda, mais precisamente no dia 14 de Junho de 2012. Hoje publico o videoclip possível, realizado por mim, pejadinho de imagens ilicitamente obtidas do YouTube. Não deixo, no entanto, de referir as fontes de que me abeberei, "com todo o respeito":
Devo acrescentar que o videoclip que aqui se estreia foi realizado por mim em software gratuito. Compus e gravei integralmente a música em casa (música, letra, harmónica, bateria programada, baixo, guitarras, vozes), à excepção do órgão, tocado por Moisés (Bernardo Rodrigues). Todas as informações no post de lançamento da canção.
n. b. - Porque a audição da música é prejudicada pela má qualidade do som pós-upload no YouTube, segue abaixo um player que remete para a mesma, com melhor qualidade de audição, embora num MP3 fraco, é certo. Se o estimado leitor quiser pode, em local apropriado, e sem procurar muito, fazer o download desta e doutras canções.
Baby Jane na final do programa Reis do Estúdio (RTP1, 1998)
Finalmente, chegou hoje ao YouTube, pela mão do Dino Duarte, a quem a banda agradece especialmente, o vídeo da actuação dos Baby Jane na final do programa Reis do Estúdio, emitido pela RTP em 1997/98. As actuações da eliminatória e da meia-final ganhas pela banda já haviam sido publicadas AQUI. Nesta final, os Baby Jane foram a última banda a subir ao palco, desta feita com 'Playback', de Carlos Paião.
A canção 'O que Há-de Vir' foi apresentada AQUI, no Caderno de Corda, mais precisamente no dia 27 de Novembro de 2011. Hoje publico o videoclip, realizado com recurso aos primeiros minutos de 'Bench', um vídeo original de Amzakei que se encontra completo no YouTube através do seguinte link:
"A park bench in Hackney, London, shot from spring to winter..." É assim que o autor descreve o seu vídeo. Pleno de simplicidade, e respeitando o conceito, não mexi no filme original. Apenas o cortei, uma vez chegado o fim da canção. O vídeo original dura 8 minutos e 13 segundos. O videoclip, realizado por mim em software gratuito, dura 5 minutos e 3 segundos.
A música foi composta e gravada integralmente em casa (música, letra, baixo, guitarras, vozes). Mais informações acerca da canção no seu post de lançamento.
n. b. - Porque a audição da música é prejudicada pela má qualidade do som pós-upload no YouTube, segue abaixo um player que remete para a mesma, com melhor qualidade de audição, embora num MP3 fraco, é certo. Se o estimado leitor quiser, pode, em local apropriado, e sem procurar muito, fazer o download desta e doutras canções.