Se Eu Morrer Antes
de cientista louco cola-tudo
e não me despego,
faço do tempo que tenho pouco
quando só queria liberdade,
olhar perdidamente o infinito
e esquecer que o amor está em crise,
que a sociedade está em crise,
que o trabalho está em crise,
que a vida é uma brisa tão escassa
entre a A5 e o IC19
em hora de ponta.
Sinto-me flutuar agrilhoado
sem chegar com o nariz à tona,
junto ao lodo de um coração raso
onde vivi ausente
numa casa tão ampla
como um palácio de 400 euros
numa cidade provinciana.
É uma casa transparente aquela
onde no ar suspenderás os quadros
de um Neruda atlântico
cujo palácio se fez castelo
de areia.
Observarás as molduras do meu Adeus
como se visses areia feita água,
lembrando que ambas escorreram
por entre os teus dedos
de clepsidras e ampulhetas,
assinalando apenas o horário de expediente.
Se eu morrer antes, sobrevive-me.
Quanto tempo ainda nos resta?
Etiquetas: Poesia Cordiana