Não chores junto à minha campa.
Eu estava no teu sangue e no teu suor
antes mesmo de existires.
Sou o olho de cristal da lua
sobre um ramo de lento Outono em cinzas
cujo tronco percorria até ti;
até aos aromas de fogo e sangue
derramado ao largo de ilhas tuas
que desnortearam náufragos.
Uma estrada divergia em duas
e não pude viajar por ambas.
Se aos poucos deixares de me amar,
eu farei o mesmo.
Se, de súbito, me esqueceres,
não me procures.
Já te terei esquecido.
Mas se o teu amor existe,
em mim nada será extinto em olvido
e o meu amor alimentar-se-á do teu.
Não te amo excepto porque te amo,
e vou de amar a odiar-te
apenas porque és tu quem preenche
a medida desse amor mutante,
que não existe senão cego por ti.
Esperança é a coisa com penas
que também canta sem palavras,
como o vento sopra todas as noites
onde no esquecimento quedarei.
Não chores junto à minha campa.
Não vou estar lá.
Etiquetas: Poesia Cordiana